AMOSTRAGENS DE ESPÉCIMES E
RESOLUÇÃO TAXONÔMICA

Os conceitos de espécie têm constituído um tema de intensa discussão, o que levou a controvérsias em relação às definições de categorias, métodos para a inferência, e número de espécies (Queiroz 1998, 2005, 2007). Apesar disso, a maioria dos conceitos de espécie concorda, fundamentalmente, que espécies, para organismos sexuados, são linhagens unificadas pela reprodução sexual ou fluxo gênico entre suas partes constituintes (Queiroz 1998; Wiens e Servedio 2000). 

Para estudos de taxonomia, a presença de caracteres diagnósticos, aqueles que ocorrem em frequências diferentes entre duas supostas espécies, são evidências de fluxo gênico reduzido ou ausente, indicando separação da linhagem. A presença de caracteres diagnósticos, portanto, é o critério que será utilizado aqui para a delimitação das espécies.

Serão analisadas as peles depositadas nas principais coleções brasileiras, europeias e norte-americanas, incluindo os tipos ainda existentes de todos os táxons descritos. Caracteres da morfologia externa comumente utilizados para a diagnose dos táxons serão observados para cada exemplar de ave ou mamífero capturado, que serão também fotografados em detalhes e terão a vocalização gravada (no caso das aves). Quando houver indícios de divergência, espécimes serão coletados para estudos detalhados

Os dados obtidos serão contrastados com as descrições originais de cada um dos táxons (e seus tipos), permitindo dessa maneira estabelecer a identidade de cada pele, bem como determinar sinonímias taxonômicas. A distribuição geográfica de cada táxon será determinada a partir das coordenadas geográficas das localidades de coleta indicadas para cada pele analisada. 

Todo o material coletado será depositado na coleção ornitológica e mastozoológica do MZUSP. Este projeto já conta com a aprovação do Comitê de Ética no Uso de Animais, emitido pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, além da licença de coleta de material emitida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 

Análises moleculares serão feitas utilizando-se amostras de sangue ou de tecidos já depositados em museus, sequências de DNA disponíveis no GenBank, referencias para a análise das amostras de sangue obtidas durante as campanhas de campo do presente projeto. Os sequenciamentos de DNA serão realizados não apenas para organismos crípticos como morcegos e roedores, mas também para espécies comuns, de ampla distribuição geográfica, para que as divergências em relação a outros Centros de Endemismos possa ser testada. A princípio, o foco será sobre o COI1 (Citocromo C oxidase 1) do DNA mitocondrial (barcode), mas outros genes informativos também poderão ser utilizados nos diferentes grupos de organismos. 

Para as reações de PCR (Polymerase Chain Reaction), serão utilizados primers disponíveis na literatura para grupos filogeneticamente próximos (Irestedt et al. 2002, Belmonte-Lopes et al. 2012, Isler et al. 2014) e adaptações serão realizadas quando necessário. Os produtos de PCR serão sequenciados comercialmente em sequenciador automático; antes do envio para sequenciamento, os produtos de PCR serão purificados. As sequências serão alinhadas utilizando-se software específico e os sítios polimórficos serão identificados manualmente. As filogenias serão obtidas utilizando-se o método de máxima verossimilhança (Drumond et al. 2012). Os modelos evolutivos de cada gene serão inferidos utilizando-se jModel-Test (Posada 2008) através do critério de AIC (Akaike 1973).


Responsáveis: Luís Fábio Silveira e Ana Paula Carmignotto.