Janeiro

31/01 - Lach-Quadrille

Na Lach-Quadrille, a música pode dar risada?

Com certeza quem dança a Lach-Quadrille pode rir muito, principalmente por ela ser alegre e ainda mais se estiver bem acompanhado. Mas é possível sua melodia imitar uma risada? Sim, pelo menos ela tenta. Na Alemanha existe essa coreografia de quatro pares que recebeu o nome a partir da característica de sua música. Na segunda parte da Lach-Quadrille, a “Quadrilha da Risada”, o compositor procurou imitar um riso a partir da combinação de colcheias. O resultado ficou divertido. Só não se sabe se os supostos pais da dança estão rindo assim.

Existe um problema quanto à origem da Lach-Quadrille. Ela é atribuída por muitas fontes ao território de Mark, no Estado alemão do Brandenburg (como se vê na coletânea “Schurt den Redel ut: Märkische Völkslieder und Volkstänze” de 1952, organizado por Herbert Oetke), contudo há quem diga que é da Nordrhein-Westfalen, do outro lado do país. Ou será que ela seria pomerana, já que consta também entre as seleções de lá? E tem quem diga que é uma melodia vinda dos Estados Unidos da América. Como saber? Provavelmente necessitarão, neste caso, de um teste de DNA da “criança”. Uma pesquisa cultural dessas provavelmente levará um certo tempo para ser feita. Mas não tem problema, vamos esperar, pois “quem ri por último ri melhor”.

Quer saber mais: culturaalema.com.br/tanz ou escute a melodia em https://www.youtube.com/watch?v=teHKs2yIWOU.

30/01 - Landskrona

Landskrona, da Suécia, é uma dança desleixada?

Dançar para muitos tem o objetivo de entreter, independente de ser bonita ou feia; para outros é uma forma de se mostrar para a sociedade, sendo uma bela oportunidade de encontrar o seu par perfeito em uma festa ou baile. É inegavelmente um elemento da cultura das comunidades. Segundo a associação “Svenska Folkdansrigen”, responsável pela organização da dança típicas na Suécia, possivelmente, as pessoas sempre dançaram, sendo uma parte importante para interação quando querem brincar e se divertir.

Mas uma dança pode ser desleixada? Segundo o professor e pesquisador sueco Bengt Martinsson, na década de 1950, o ritmo da dança Landskrona era muito rápido e ela ficava com uma aparência “desleixada”. Desleixado é, segundo os dicionários, algo considerado sem cuidado, feita com desatenção, desorganizado. Com certeza não combinaria com a cidade homônima de Landskrona, que fica na costa da província histórica da Escânia - não por acaso a coreografia também é chamada em sueco de Skånsk kadrilj, em alemão Scanian Quadrille, ou “Quadrilha Escaniana”. Mesmo tendo uma aparência terrível, vista pelos mais tradicionais, ela sempre era dançada, sendo indispensável para os jovens. Assim, a comunidade escaniana achou a solução para o problema: deixar a música mais lenta, permitindo que a quadrilha fosse melhor executada.

Assim, a Landskrona atualmente consegue agradar à maioria: segue sendo divertida e rápida, contudo não tão ligeira a ponto de ficar desleixada.

É uma bela dança que, com o tempo, foi agregando figuras e é indispensável dentro do repertório típico da Suécia. Quem sabe ela apareça um dia desses sendo dançada dentro de uma das lojas do Ikea? Essa grande rede moveleira sueca, que tem como característica ter móveis fáceis de montar, sempre se mostrou apaixonada pelas tradições do seu país, pela agilidade… e pela organização - desleixada não!

Veja os vídeos dessa dança: https://youtu.be/H3jR3arOhgk e https://youtu.be/aVdFUGKkObI .

E um pouco sobre a cidade: https://www.youtube.com/watch?v=X-7YPc0dGYY.

29/01 - Flachsernten

Flachsernten é uma dança para arranjar namorados?

Encontrar um par nem sempre foi uma tarefa fácil, ou alguns diriam que sempre é algo difícil. Imagine então como faziam no norte da Alemanha para encontrar um namorado? Muitos moravam em pequenos vilarejos, com poucas pessoas, onde todos se conheciam… e ao mesmo tempo não se tinha intimidade - já que sempre um pai, mãe ou avós estavam na vigia. Devia ser algo complicado.

De toda forma, existiam algumas oportunidades que aproximavam rapazes e moças. Uma das mais comuns era a sala de fiar, a Spinnstube: após o período da colheita do linho, o Flachsernte, nas noites de inverno, as meninas se revezavam para se reunir na casa de uma amiga e girar as rodas de fiar ou desamarrar novamente o linho. A supervisão da mãe e os antigos costumes se combinavam para garantir que todas as meninas fiassem o máximo possível em uma noite. Caso uma ou outra relutasse em pegar a roca, as demais a provocavam com canções.

Enquanto isso, os rapazes vinham visitar as fiandeiras. Eles assistiam ao trabalho, fumavam e contavam histórias, faziam charadas ou cantavam músicas com as damas. Quando o trabalho estava no fim, as rodas eram colocadas de lado e rapazes e moças se juntavam para seguirem cantando, brincar e dançar.

Assim, a Flachsernten não é uma coreografia de namoro, contudo apresenta esse contexto da colheita do linho, que muitos relacionam aos bons momentos desses encontros na sala das rocas de fiar. Bom, agora, se essa era a melhor forma de se arranjar um namoro, já não sabemos. Entretanto, se as famílias seguiram se multiplicando, provavelmente mostrou-se um modo eficaz.

Quer saber mais? Veja em culturaalema.com.br/tanz . Conheça também informações sobre o contexto do plantio, colheita, preparo, fiação e tear do linho na região de Lausitz - Brandenburg: https://youtu.be/ojAAAczmrZU . Escute uma canção sobre esse tema: https://youtu.be/lL2-2Tuhqck . E veja a a Flachsernten: https://youtu.be/qwzBrv4znuo.

28/01 - Chiberli

A Chiberli vem de onde?

No mundo das tradições populares algumas respostas podem ser fáceis de dar, mas nem sempre dizem muita coisa. A Chiberli, também escrita Chibberli, Schibberli ou De Schibberl, é uma dança de Luxemburgo. Mas há muito mais a se contar: como os luxemburgueses residem entre a França, a Bélgica e a Alemanha, sua cultura agrega muitos aspectos do que está no entorno e esta coreografia assimila muito disso, como apresentou Tom Weber em um artigo.

Vejamos a relação francesa: Chiberli é um nome alternativo para Soyotte, coreografia muito difundida nas regiões de Lorraine e Champagne. Na França, acredita-se que a dança pode ter algo a ver com o comércio de madeira, já que soyotte é uma palavra no dialeto local dos vosges e significa “serra”. De acordo com essa teoria, o vaivém da sua primeira figura imitaria um movimento de serrar. Já se observar pela tradição alemã, acredita-se que a Chiberli teria surgido da Wechselhüpftänze, que seria também a origem de uma série de outras danças reservadas às mulheres e realizadas como uma espécie de ritual de fertilidade.

Então, é o movimento da serra ou dança da fertilidade? Vamos fazer uma enquete? Com certeza são explicações um tanto diferentes… contudo se formos escutar atentamente à melodia dela, pode-se perceber que é um tanto parecida a Hakke Tonne / Göös op de Deel presentes nos Países Baixos e no norte da Alemanha… ou a segunda parte lembra variantes da Ruscher, como a Herr Schmidt. Isto mostra os múltiplos diálogos vividos nesta zona de fronteiras e, ao mesmo tempo, de encontros sociais.

Assim, quando fores a Luxemburgo lembre-se dessa pluralidade, seja na musicalidade, seja nas coreografias, seja na gastronomia, seja nos nomes das ruas ou principalmente no modo de falar: embora o idioma oficial seja o luxemburguês, tanto o francês quanto o alemão também presentes no dia a dia as pessoas, sendo inclusive usados para questões administrativas e judiciais.

Conheça a dança através dos vídeos https://youtu.be/rp_LNPoZD6k e

https://youtu.be/9_xNAsntDeY

27/01 - In jungen Jahren

A “In jungen Jahren” era dançada sem música?

Em algumas localidades, antigamente, não havia músicos. Eles passavam de vila em vila nas épocas de festa e eram contratados pela comunidade. Enquanto as festas não chegavam, os jovens e os adultos, de alguma forma, queriam se divertir e dançar. Para isso, eles costumavam cantar algumas canções que serviam de música para suas danças.

Esse é o caso da dança “In jungen Jahren”, da localidade de Keitum, na ilha de Sylt, ao norte da Alemanha. Por ser bastante isolada, antigamente, os moradores de Keitum precisavam criar possibilidades de diversão. Para uma de suas danças, eles cantavam duas estrofes de uma canção bastante conhecida na época: “Wohlan, die Zeit ist kommen” (Bem, chegou a hora). Com isso, a dança acabou ficando conhecida pelo primeiro verso da primeira estrofe “In jungen Jahren”.

“Em meus anos mais jovens / eu sempre quero ser engraçado / eu não quero poupar nenhum cruzador / ele deve estar bêbado;

Apenas vá você, eu tenho minha parte / Eu te amo só de brincadeira / Eu já posso viver sem você / Eu já posso ficar sem você.”

Assim, essa coreografia tinha música cantada, mas não tocada por instrumentos. Contudo, vai saber se junto com os cantores alguém fazia uma percussão com uma toco de madeira ou batia na mesa? No Brasil, com certeza, iriam no mínimo incluir o sonzinho de uma caixinha de fósforos.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz Ou conheca também essa canção com a estrofe, do Rundfunk-Jugendchor Wernigerode: https://youtu.be/HgA0DMvsUWU

26/01 - Schiebetanz

Stadtpfeifer resgataram a Schiebetanz?

Antigamente, até mesmo as pequenas localidades de língua alemã tinham seu Stadtpfeifer. Em alemão “Stadt” quer dizer cidade e “Pfeifer” está ligado ao flautista, tocador de pífaro, assobiadores e, no contexto do medievo, músico em geral. Era, inclusive, uma profissão, formando as Guildas - associações de ofício Tendo muitos deles vários aprendizes, chegavam a formar literalmente uma banda municipal. Era comum que, para festas, as comunidades contratassem dois deles - o famoso “flauta e tambor” - ou um conjunto completo - tudo conforme o dinheiro disponível permitisse. Na Pomerânia, por exemplo, essa tradição persistiu ao tempo, estando viva ainda no século XX, quando inclusive acompanhavam a realização das dança típicas.

Esse contato íntimo com a comunidade fazia desses Stadtpfeifer conhecedores natos dos costumes locais, inclusive sabiam as coreografias feitas junto às canções. Também existiam nos vilarejos os que eram amadores, que aprendiam a tocar instrumentos com seus próprios familiares - uma tradição que imigrou para muitas colônias alemãs no Brasil. Em sua maioria artesãos ou agricultores, tinham na música um hobby, o que não os impedia de receberem algumas gorjetas. Sendo requisitados para os momentos festivos locais, sabiam quais eram os gostos de cada um e também quais “hits” se faziam mais populares, para não deixar o povo sentado.

Mas, afinal, foram esses Stadtpfeifer que coletaram a “Schiebetanz”? Não, ela foi registrada pelo professor Willi Schultz há mais de 100 anos; contudo isso só foi possível com a ativa colaboração desses antigos “Stadtpfeifer” pomeranos: eles contaram a ele o que lembravam da coreografia e o que tocavam de cor. É a importância desses Dorfmusikanten na manutenção da memória coletiva, preservando, mesmo sem se darem conta, a história viva das comunidades.

Quer saber mais? Veja no site culturaalema.com.br/tanz

25/01 - Topporzer Kreuzpolka

De onde vem a Topporzer Kreuzpolka?

É tradicional na Baviera, no sul da Alemanha, e no Tirol, na Áustria, terem bailes de Volkstänze, danças típicas, nos quais um casal conduz a festa ensinando as coreografias aos demais. Grande parte do público não faz parte de grupos específicos: estão lá para se divertirem através das tradições. E, nessas confraternizações, geralmente tem a Topporzer Kreuzpolka.

Mas por qual motivo essa dança eslovena está nos eventos alemães e austríacos? Sim, ela é da Eslováquia e foi registrada no livro “Volkstänze aus der Slowakei” por Karl Horak e Karl Schwartz. Contudo, é importante ver que Toporec, local de origem da música, tem uma “ilha linguística alemã” nos Cárpatos, também chamada de Topporz. Assim, a “Polca Cruzada de Topporz” tem uma ligação identitária com as demais “primas” Kreuzpolka austríacas, alemãs, boêmias e italianas.

Desta forma, não é estranho que essa “parente eslovena” esteja dentro dos salões de baile dos países vizinhos. É como nos Encontros de Família, festas em que você acha que todos os parentes vieram do mesmo lugar e, quando se vê, cada um vem de um ponto distinto, mesmo tendo ligações consanguíneas. A vida é assim, repleta de pontes sócio-culturais.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . E se quiser ver algumas curiosidades, veja esse trabalho de Stop Motion onde os bonequinhos de Lego dançam a Toppozer Kreuzpolka: https://youtu.be/85bsZ65Lasc , e aqui os amigos do Blumenauer Volkstanzgruppe apresentando essa mesma coreografia: https://youtu.be/JaXK66-uUS4

24/01 - Gelbzahn

Gelbzahn faz referência aos dentes amarelos?

Já ouviu falar de “telefone sem fio”? Uma informação é passada de uma pessoa para a outra, tendo essa ação repetida várias vezes: no final a mensagem transmitida sai bem diferente daquela que iniciou o percurso. Isso acontece no dia a dia também, com lendas, narrativas, músicas, coreografias e com algumas expressões. Vai ao encontro do “quem conta um conto aumenta um ponto”.

E uma dança típica também teria no nome esse equívoco comunicacional? Gelbzahn pode ser um exemplo disso, já que é improvável que ela tenha sido batizada propositalmente de “Dentes Amarelos”. Infelizmente não se tem mais como perguntar aos autores - a coreografia é de Ludwig Burkhardt e música de Heinrich Dieckelmann, ambos falecidos e o material foi publicado no “Jungmöhl - Niederdeutsche Volkstänze der Gegenwart” de 1928. Assim, restam as deduções ou os boatos. Dizem que, na verdade, Gelbzahn seria uma corruptela de “Geld zahlen”, que em português se traduziria como “pagar em ou com dinheiro”. Com certeza é uma versão mais interessante do que tratar da cor da dentição de alguém - provavelmente também mais honrosa. De toda forma, como o tempo segue seu destino, que outras variantes desse nome poderão surgir? Ou quais outras explicações podem aparecer? Pelo menos se espera que, neste “telefone sem fio” da vida, não apareça nenhuma cárie nessa história ou alguém com sorriso amarelo.

23/01 - Mühlrad

Como surgiu a Mühlrad, a dança do Roda do Moinho?

Primeiramente, existem muitas danças com essa característica na Europa, como na Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, territórios da antiga Boêmia (atual República Tcheca), Dinamarca, entre outras. Das Mühlradl, Müllertanz, Radbohren, Radnabenbohrer são algumas delas, ligadas à roda que movimenta o moinho d'água. Não foi coreografada por uma pessoa somente e sim sua estrutura surgiu espontaneamente dentro das comunidades em suas festas e rituais. Essas coreografias se formaram de somas de figuras já existentes de outras danças populares com um objetivo comum: imitar a roda do moinho d'água, peça importantíssima na sobrevivência dos vilarejos, muito popular, pois movimentava o mecanismo da moenda de farinhas. Mesmo sendo danças independentes, sem uma surgir da outra, elas têm uma motivação comum que as interliga, já que a lógica mecânica do moinho era tradicional em diferentes locais.

A roda de quatro aros é um exemplo de figura que foi incorporada: oito (8) pessoas dançam e (4) delas, intercaladas, se penduram, ficando o corpo alinhado ao chão; essas batem os pés ou calcanhares para marcar o tempo da música, imitando o som da moenda. Outra cópia é a roda que parece como uma engrenagem, que era já conhecida desde a Idade Média de danças masculinas, como que formasse um sol. Outras partes são típicas nas marchas de abertura ou de fechamento de festas, com filas, círculos, divisão de pares ou giros em diversas formações. Tudo acabava embalado pelas melodias locais, muitas vezes sendo genéricas: usava-se a música que a banda sabia tocar.

Como uma forma de interpretação teatral, há comunidades que a apresentam usando roupas e toucas de trabalho na moenda, entrando no palco carregando sacos de farinha nas costas, relacionando diretamente ao dia a dia do moleiro. Com o tempo, passou a representar uma profissão e ganhar particularidades. Um elemento aparenta ter nascido com esse tipo de dança: a batida dos pés no tempo da moenda, marcado de forma visual e sonora essa histórica tradição.

22/01 - Bunt Schört

“Bunt Schört” é um traje ou uma dança pomerana?

Existem diversos trajes de diferentes regiões da Pomerânia. Infelizmente restam apenas poucos registros sobre os trajes dos camponeses, pescadores e artesãos pomeranos. De toda forma, o que resistiu ao tempo nos mostra a riqueza cultural que existiu na Pomerânia, atualmente território que fica parte na Alemanha, parte na Polônia. Exemplo disso são os trajes de pescador da ilha de Rügen, do produtor de trigo de Pyritz e do camponês de Jamund.

E, afinal, o que é a “Bunt Schört”? Mesmo que o nome queira dizer “avental colorido”, ela é uma dança recolhida nos arredores de Stettin, cidade que era com moradores de língua alemã e polonesa e que hoje está na atual Polônia. A música e coreografia fazem menção tanto à beleza dos trajes pomeranos quanto à alegria que eles tinham nas festividades. Para essa melodia, existe uma canção que diz:

“Dance comigo, dance comigo, eu tenho um

avental colorido. / Por mim tudo bem, por mim tudo bem, o meu é de cambraia. / Dance comigo, dance comigo, eu tenho um avental colorido. / Não solte, não solte, até o avental ter buracos.”

Na prática não existem limites claros entre elementos de uma identidade, mantendo uma conversa constante entre suas muitas partes, seja na musicalidade, seja nas letras que são cantadas, seja nas vestimentas que se utilizam, sejam nos hábitos do cotidiano. A vida não é dividida em pedacinhos.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz.

21/01 - Hermsdorfer Dreikehr

Onde fica Hermsdorf, da Hermsdorfer Dreikehr?

Entre 1945 e 1989, a cidade de Berlim, assim como toda a Alemanha, estava dividida em duas: a Oriental e a Ocidental. Após a 2ª Guerra Mundial, apesar de destruída, a cidade foi um dos principais centros de resgate das tradições no país. Para muitos, a dança permitiu deixar para trás as lembranças ruins do período dos conflitos: um incentivo para uma nova e positiva normalidade.

Com isso, muitas novas coreografias foram criadas com base nas antigas danças típicas. Uma delas é a“Hermsdorfer Dreikehr”, de 1965, feita pelo professor Volkhardt Jähnert. “Hermsdorf” nada mais é do que um bairro ao norte de Berlim - antiga área Ocidental -, onde fica a Georg-Herwegh-Oberschule, escola na qual foi dado o primeiro passo para a criação de um dos primeiros grupos de danças típicas de Berlim que ainda em atividade, o Volkstanzkreis Reinickendorf.

Ainda hoje a moderna capital alemã é um grande polo de cultural, com teatros, escolas de artes, museus e uma enorme pluralidade de tradições, além de inúmeras inovações: o que você procurar, Berlim têm. .

20/01 - Pfälzer Tanzfolge

Onde fica o Pfalz, origem da Pfälzer Tanzfolge?

Já ouviu falar do Rio Reno? Da vitivinicultura alemã? De antigos castelos que servem de mirante a vales? Todas essas perguntas estão relacionadas a uma região de nome Pfalz, ou em português Palatinado, também denominado regionalmente de Unterpfalz. É de lá que vem um Potpourri de danças que ganhou o nome de Pfälzer Tanzfolge.

O grande problema é um estrangeiro conseguir entender onde fica o Palatinado. Ele está no Estado da Rheinland-Pfalz (Renânia-Palatinado), que compõem mais de um quarto do território, na parte mais ao sul. É dividido em Westpfalz, Nordpfalz, Vorderpfalz, Südpfalz. Fica na divisa da França com a Alemanha e tem uma rica história de disputas territoriais e trânsito de militares.

Para ajudar na localização vamos fazer uma experiência: se você sair de Paris, na França, em linha reta (alguns dirão que é uma parábola) até Nüremberg, obrigatoriamente passará pelo Palatinado. Ou o mesmo vale se você sair do aeroporto de Frankfurt em direção à Luxemburgo. Mas se ainda está difícil de achar, a melhor solução é pegar um mapa ou mesmo usar aplicativos especializados. E se tiver tempo, pode procurar a origem das danças de uma dessa Tanzfolge: Pfälzer Ländler, Altpfälzer Bauerntanz, Altpälzer Schleifer, Dritthalb e Schustertanz.

19/01 - Der Bartschrapertanz

A Bartschrapertanz é um teatro dançado ou uma dança teatralizada?

Hoje, é comemorado o Dia do Barbeiro no Brasil, uma arte antiga e repleta de técnica. Já atuaram como cirurgiões e dentistas, tendo em suas lâminas a solução para muitos problemas extra os capilares. De toda forma, é no trato do cabelo, da barba e do bigode o seu destaque, o que mantém o ofício vivo na atualidade. E, fazendo referência a essa profissão, existem várias expressões artísticas famosas, como a ópera "O Barbeiro de Sevilha" e o musical e livro tétrico "Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da rua Fleet".

Nas tradições de comunidades de língua alemã, a barbearia também está presente. Pode-se vê-la com bom humor na Der Barbiertanz, igualmente chamada de Der Bartschrapertanz ou Balwierertanz. Algumas fontes descrevem-na como uma "Spiel", brincadeira, já que representa cenas satíricas conduzidas pela música, como um sketch teatral. No interior da antiga Pomerânia, por exemplo, onde os casamentos duravam mais dias, em meio ao baile havia uma pausa e três mascarados entravam na pista: um sentava em uma cadeira e dois passavam espuma e o barbeavam. Contam que um da dupla que saísse do ritmo ou fizesse o passo errado seria o próximo a sentar na cadeira de barbeiro. Uma forma divertida de entreter a comunidade e manter as tradições.

Assim, a Bartschrapertanz é sim uma dança e também um teatro-bufo, tendo música e passos ritmados. Ela brinda a todos com genuínos traços de arte popular e dá o reconhecimento a essa profissão secular. E essa arte segue viva para a alegria daqueles que prezam por um bom corte de cabelo ou um cuidadoso aparo da barba, algo que nos últimos anos voltou à moda.

18/01 - Dreirunden

O que significa Dreirunden?

Muitas vezes, espera-se que uma dança típica tenha uma história interessante por trás. Contudo, especialmente as quadrilhas - formadas de quatro pares -, são simples e sua origem também é bastante comum - uma vez que surgiram com o intuito de divertir: o mais importante era dançar. É o caso da “Dreirunden” e seu nome significa “três rodadas”, ou seja, com três repetições. Assim, ficava fácil pedir para a banda, em uma festa, tocar a música das “três rodadas”. E, para diferenciar de outras danças com três repetições, ela acabou sendo conhecida como “Pommersche Dreirunden” - “a pomerana de três rodadas”.

Para que complicar, não é? Vambora dançar!

Quer saber mais? Entre no site https://www.culturaalema.com.br/tanz

17/01 - Egerländer Polka

Egerländer Polka é a Polca do Egerland, mas onde fica esse lugar?

Um território onde se compôs muitas polcas é o da antiga Boêmia, estando grande parte dentro do que hoje é a República Tcheca. Lá está uma região que, em especial, é relacionada à música e a prósperas cidades: o Egerland. Seu nome está ligado ao rio Eger, um afluente do Elba, que passa da Alemanha para o lado tcheco. E não são apenas as águas que unem os dois países, pois existiam íntimas relações culturais entre os povos dessa fronteira, com destaque aos do Oberpfalz e da Francônia, sendo até 1945 a língua alemã fluente em ambos os lados. Em dialeto, a área era chamada de Eghaland e seu nome tcheco é Chebsko.

Um ponto é importante destacar: depois da Segunda Guerra Mundial, a população que falava alemão do Egerland foi obrigada, devido a tratados internacionais, a deixar a região e migrar para a Alemanha ou Áustria, ficando lá só as comunidades de idioma tcheco. Isso gerou um forte espírito identitário junto aos deportados, que trouxeram a público seus trajes típicos, danças e canções. Assim, não só foram preservadas músicas de lá, como também muitas novas foram criadas em lado alemão, a exemplo de muitas Egerländer Polkas. É destaque nesse cenário o famoso Ernst Mosch e seu conjunto Original Egerländer Musikanten. Assim, falar em uma Egerländer Polka é um tanto vago, pois não existe uma, e sim, várias. No seu modo de dançar é característico um passo em que a perna dobra o joelho um pouco mais do que nas demais polcas, deixando a panturrilha quase junto à coxa.

Agora você sabe onde fica o Egerland, na atual República Tcheca, contudo os descendentes dos Egerländer estão espalhados pelo mundo, com a maioria hoje residindo na Baviera.

Quer saber mais sobre danças e suas comunidades, acesse o nosso site: culturaalema.com.br/tanz

16/01 - Marienfrieder

Ao dançar a Marienfrieder, é necessário pagar direitos autorais?

É comum se dizer que melodias e coreografias populares, chamadas por muitos de folclóricas, são livres de taxas ou custas. A justificativa é que, em função de terem uma origem coletiva, do povo, elas pertenceriam a toda sociedade. Mas esta é uma meia verdade. Conteúdos registrados pelos autores junto a órgãos de proteção de direitos autorais podem sim ser taxados, seguindo regras regionais ou internacionais. Assim, nem tudo que você escuta ou vê pode ser simplesmente usado em público, mesmo que isso não represente lucro financeiro.

Vejamos o exemplo da Marienfrieder, uma dança bastante difundida entre os grupos culturais do sul da Alemanha, com coreografia de Günter Bernert e música de Emmi Swiersy de Lausitz. Segundo registros, a melodia está protegida pelas regras de direitos autorais, com fiscalização e cobrança de órgãos como o GEMA - Gesellschaft für musikalische Aufführungs- und mechanische Vervielfältigungsrechte (Alemanha), o AKM - Staatlich genehmigte Gesellschaft der Autoren, Komponisten und Musikverleger, reg. Genossenschaft mbH. (Áustria) e o ECAD - Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Brasil). As normativas garantem aos detentores dos direitos autorais o recebimento de royalties até 70 anos após o falecimento do compositor. Dando um exemplo, se um autor morreu em 1980, sua produção estaria protegida até 2050.

E respondendo diretamente à pergunta inicial: no caso da Marienfrieder, não é preciso pagar direitos autorais para dança-la, desde que a mesma seja apresentada em ambiente doméstico, que é considerado de uso privado; ou utilizar outro áudio, que não seja aquele de Emmi Swiersy, que é protegido e gera taxação.

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15/01 - D' schö Marie

“D schee Marie” é uma música machista?

Tem um famoso ditado que diz “Beleza não põe a mesa”, por mais que outros digam que “a beleza não traz o pão, mas ajuda bastante a alcançar o padeiro”. Provavelmente a Maria desta dança do sul da Alemanha e Áustria não teria destaque se não fosse pela sua estética: “Ai que linda, ai que linda, ai que linda és tu Maria, da cabeça ao joelho, nunca vi nada tão lindo”, diz a letra da música. Quem sabe se fosse hoje, no politicamente correto, a música diria “Que inteligente é a Maria” ou “Que competente é a Maria”. Já Hermann Derschmidt traz uma segunda estrofe onde os focos são os atributos do rapaz com barriga de tanquinho, bonito e atraente. Será que era um camponês musculoso do trabalho da lenha… ou já tinha “malhação” naquele tempo para ser um burguês pouco dado ao serviço? Provavelmente não. É importante lembrar que o conceito de beleza varia no passar dos séculos. De toda forma, não se pode chamar uma música de machista ou feminista só pelo motivo do texto destacar a aparência das pessoas, sejam homens, sejam mulheres. É importante contextualizar cada coisa frente à sua realidade histórica: cada momento tem sua própria estética e seus valores.

14/01 - Cylinder Kontra

A Cylinder Kontra dinamarquesa vem da ilha irmã de Rügen?

Sim, mesmo não sendo no mesmo país. A ilha de Møn, na Dinamarca, é considerada a irmã mais nova da ilha de Rügen, a maior ilha da Alemanha. Ambas estão situadas no mar Báltico (Ostsee), há uma distância de cerca de 60 km pelo mar.

Mas o que as torna irmãs? Não há nenhum acordo entre países ou pactos internacionais. É o aspecto geológico que as conecta, pois ambas surgiram a partir de movimentos de placas tectônicas, há cerca de 70 milhões de anos. E como duas irmãs, elas têm similaridades estéticas, sendo ambas adornadas pelas suas conhecidas falésias de giz.

Por outro lado, Møn e Rügen são culturalmente bastante diferentes. Mesmo próximas quanto à distância, uma população tem raízes dinamarquesas e a outra germânica. Assim, não busque comparar a Cylinder Kontra, tradicional dança em Møn - que leva esse nome pelas formações cilíndricas que aparece em sua coreografia - com a Schüddel de Büx de Rügen. Assim como nos irmãos consanguíneos, os gênios podem ser muito diferentes.

13/01 - Fröhlicher Kreis

A dança Fröhlicher Kreis é a mesma que a Circassian Circle?

A questão poderia ser respondida com o famoso “Jein”, unindo o Sim (Ja) com o Não (Nein). Uma é o Círculo Feliz em alemão, outra é o Círculo Circassiano, em inglês. E a Circassian Big Circle e a Circassian Circle são a mesma coisa? Também é uma boa pergunta, pois são bem parecidas. Popularmente essas três são consideradas sinônimas, mesmo não sendo iguais. O que pode-se dizer com certeza é que há muitas coreografias com diferentes melodias que se assemelham à Circassian Circle. Os registros mais antigos dela são de países de língua inglesa (algumas fontes dizem ser da Escócia, outras da Inglaterra, outras da Irlanda). Nos EUA teria uma versão chamada Großer Atlantik (estranhamente escrita em alemão, com algumas descrições destacando que é alemã e que não tem o círculo característico). Já Walter Bucksch comenta que "A Fröhliche Kreis é uma dança comunitária com mudança de parceiros, que foi exibida pela primeira vez em sua nova forma em 1938 em Graz”, ligando ela à Circassian Circle. Pelo visto as informações aparecem um tanto vagas. Em todos os casos, se vê uma semente comum: não são idênticas, mas com certeza tem parentesco próximo. E ela realmente vem dos circassianos, grupo étnico que vem da região do norte do Cáucaso, bem longe da Grã Bretanha? Aí, provavelmente, nem um exame de DNA pode nos ajudar a descobrir.

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12/01 - Dreihdans

Dreihdans é para três ou seis pares?

Em língua alemã, existe uma expressão que diz “Aller guten Dinge sind drei”, que todas as coisas boas são três. Geralmente, ela é usada para indicar que algo está sendo feito pela terceira vez e, assim, dá-se a conotação de que agora vai dar certo, já que todas as coisas boas são três. Expressões semelhantes com o número três também aparecem em outros idiomas. Língua inglesa: third time's a charm; francês: jamais deux sans trois; italiano: Non c’è due senza tre.

O número três aparece em diferentes culturas ao redor do mundo e com diferentes significados.Seja em religiões ou na mitologia, seja em contos literários, o número três está em nosso dia-a-dia, mesmo que passe despercebido: reticências, santíssima trindade, três desejos.

Nesse caminho existe a Dreihdans, uma dança originalmente para três pares, escrita por Richard Pinkepank, de Hamburgo. Parece ser uma opção bastante auspiciosa. Com a autorização da família de Pinkepank e como seu trabalho de conclusão de formação de coordenadora, Helma Boltze (também de Hamburgo) realizou a pesquisa e a reescrita das coreografias de Pinkepank. Com a gravação musical de Martin Ströfer, ela possibilitou que essas danças estivessem novamente acessíveis à sociedade. Hoje, em alguns grupos, encontram-se variações da dança para seis pares, contudo não podemos nos esquecer que “aller guten Dinge sind drei” (todas as coisas boas são três).

11/01 - Zillertaler Ländler

O que é o Zillertal, da Zillertaler Ländler?

O Zillertal é um famoso vale do Tirol, na Áustria, que recebe esse nome em função do rio Ziller (Tal em alemão é Vale). Hoje é ponto de turismo intenso, com destaque ao de inverno, com grandes redes de hotéis e aconchegantes instalações em meio aos picos nevados. Além das belezas naturais dos Alpes, a região tem destaque pelas tradições, lindos trajes típicos e muitos personagens lendários, além de famosos conjuntos musicais, como o Zillertaler Schürzenjäger e o Die Mayrhofner - nome relacionado com o município de Mayrhofen no Zillertal.

Já a Zillertaler Ländler é uma das muitas variantes de ländlers tirolesas. Ländler é um ritmo ternário “primo” da valsa, popular nas regiões alpinas e áreas próximas. Esta versão foi apresentada por Heinrich Klausner de Ginzling em 1943 e, segundo Karl Horak, provavelmente ela tenha feito parte das figuras da Ahrntaler Bauern - dança do Vale vizinho.

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10/01 - Rutscher

Qual a origem da dança Rutscher?

Na Alemanha é tradicional antes do Ano Novo se desejar “Einen guten Rutsch ins neue Jahr”, que em tradução livre seria “Uma boa escorregada para o Ano Novo”. Rutsch, assim, quer dizer em português escorregar, deslizar. Mas essa dança não tem nenhuma relação com o Ano Novo - foi somente um exemplo. O nome vem do movimento que a dança faz, por sua vez inspirado em outro evento do ano agrícola: o preparo da palha.

A palha precisa ser cortada e preparada, principalmente para estocá-la para o período do inverno. Assim, a coreografia da dança Rutscher faz referência ao trabalho do cortador de palha, comparando os movimentos à máquina de corte (a “Strohschneider”) e ao amarrar o feno. Quem a vê de fora percebe seus passos saltitantes, e o entrelaçamento das mãos, como que uma grande tesoura.

Variantes da Rutscher existem em muitos locais, como em muitas regiões da Alemanha (como na Floresta Negra e Turíngia), na antiga Boêmia (atual República Tcheca), na Áustria, na Itália, entre outras, assumindo diferentes figuras e nomes („Rutsch hin, rutsch her“, „Herr Schmied“, „Wechselhupf“, „Hühnerscharre“, „Rutscher“ e também “Strohschneider”). Mas cuidado: se a escorregada for muito grande, você se machucará, não podendo nem trabalhar com a palha, nem fazer grandes festas no Reveillon.

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O “Uma Dança por Dia” é um projeto com coordenação de Christine Roll, Denis Gerson Simões e Helder John, em parceria com a FECCAB e o Boletim Der Hut.

09/01 - Der Hinggi

Der Hinggi: uma manca na Unspunnenfest?

Na língua portuguesa existem muitas palavras que eram usadas de modo inadequado para com os deficientes físicos. Uma delas é “rengo”, que quer dizer, segundo o dicionário Priberam, “do homem e do cavalo que coxeia de uma perna”, um manco, alguém torto. Na Suíça existe uma dança que tem um nome um tanto parecido “Der Hinggi” (der Hinkende), que em tradução livre seria “O Rengo”. Contam que sua autora, Annelies Änis, estava com a perna engessada ao criar a música e só conseguia dançar mancando, o que teria inspirado o nome. E a coreografia não ficou restrita a ela: foi feita para a Unspunnenfest de 1968, uma festa que ocorre a cada 12 anos na turística cidade alpina de Interlaken, desde 1805. Assim, com perna engessada ou não, provavelmente Annelies não podia esperar estar “fit” para aprontar sua coreografia, pois aguardar mais de uma década para a próxima Unspunnenfest seria ter paciência demais. Vemos, assim, que os nomes das danças nascem das situações mais inesperadas.

E uma novidade: em breve teremos o Quiz sobre os primeiros conteúdos publicados no Projeto. Veja em https://www.culturaalema.com.br/tanz, com colaboração de Felix Mugwyler.

08/01 - Bruder Lustig

Bruder Lustig: uma dança ou um conto de fadas?

A resposta é “os dois”. Para quem gosta de tradições alemãs é bem possível que conheça uma dança típica de nome Bruder Lustig, composta em Berlim (Berlim-Steglitz), na década de 1920 por Otto Abel, no contexto do Movimento Jovem/Jugendbewegung. Esta soma alegres partes com pulos, xotes e valsas. O que muitos podem não saber é que Abel pode ter se inspirado em um conto de mesmo nome recolhido pelos famosos Irmãos Grimm: Bruder Lustig.

“O Irmão Folgazão", como foi traduzido para a língua portuguesa, conta a história de um soldado que foi aposentado do exército após o fim da guerra e que, por ser muito alegre, era chamado de Folgazão (sinônimo de brincalhão, alegre, que gosta de brincar). Após um encontro com São Pedro, que estava disfarçado, passa por diversas provações e aventuras, vendo milagres e recebendo uma mochila mágica - que o possibilita, após a morte, com uma boa estratégia, entrar no Reino do Céu. Uma história cheia de reviravoltas e perspicácia do personagem principal, nem um pouco santo.

Observando a dança, é interessante perceber que Bruder Lustig foi composta após a Primeira Guerra Mundial, em 1926, em um contexto parecido com essa história dos Grimm, com muitos ex-soldados andarilhos na Alemanha, pedindo esmolas de vila em vila. Outra similaridade é que se pode comparar a estrutura da coreografia com a jornada de Folgazão: na primeira parte é mais sóbria, como o caminhante humilde, "irmão de coração” de São Pedro; na segunda é mais saltitante, como suas aventuras, inclusive lembrando o trecho onde ele encontra “nove demônios que, fazendo uma roda, dançavam em volta dele” pulando. Assim, Bruder Lustig é um dos exemplos onde a literatura popular se manifesta de forma plural, além dos textos e dos livros.

Quer saber mais? Leia o Conto dos Irmãos Grimm e outras informações sobre o Jugendbewegung. Veja em nosso site links e demais dados: culturaalema.com.br/tanz

07/01 - Jiffy Mixer

Jiffy Mixer é uma dança alemã?

Se fosse feita essa pergunta a um estranho, que nada conhece de coreografias típicas, contudo sabe minimamente sobre o idioma alemão, provavelmente acertaria essa resposta: não, ela é norte-americana. Segundo fontes, ela foi coreografada por Jerry e Kathy Helt e seria assim batizada por causa de uma mistura de pão de milho chamada Jiffy Mix. Então, qual o motivo dela estar entre as danças apreciadas nos países de língua alemã e presente em coletâneas típicas alemãs? Daí se tem uma questão histórica que não é complicada de entender: principalmente após a II Guerra Mundial a entrada de produtos culturais dos Aliados, com destaque aos EUA, cresceu na Alemanha, muitos se tornando populares e se fixando nas tradições locais. Isso aconteceu não só com danças - como se pode ver com a própria Sternpolka -, mas também com muitas palavras estrangeiras, com hábitos alimentares e músicas - como se vê com a Happy Birthday to You cantada em inglês. Novos olhares que se fixaram com o tempo e se sobrepuseram aos próprios modismos locais.

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06/01 - Kikeriki

A palavra Kikeriki está escrita em qual idioma ou dialeto?

Mesmo que esta dança faça parte de várias comunidades de língua alemã, o nome Kikeriki não está escrito em um idioma específico: é uma onomatopéia (Lautmalerei, em alemão) do som do cantar do galo. Se fosse interpretado em uma língua latina provavelmente seria representado por Cocoricó. Contudo, se essa resposta não for suficiente, a solução é chamar a dança pelo outro nome que ela tem: Gickerl-Polka. Neste caso, é fácil dizer que se trata de um dialeto bávaro ou alpino, sendo traduzido como “Polca do Galo”. Em ambos os casos, temos um galináceo no centro das atenções. E, falando em linguagens, quem quiser pode dançar e cantar a Kikeriki, pois, além da coreografia, ela possui uma porção de letras e variantes para o canto e a coreografia. Como na pergunta “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” também aqui pode-se trazer a mesma indagação: qual é mais antiga, a canção ou a forma de dançar? Acredita-se que seja a primeira, a música, pela pluralidade de textos e sua abrangência, presente nos países da tríplice fronteira - Alemanha, Áustria e Suíça) e amplamente difundida entre as crianças.

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05/01 - Bauernhochtid

Bauernhochtid: um casamento camponês no inverno?

Quem escolheria se casar num período de frio e com chance de chuvas geladas ou neve? Geralmente “quem precisa” - como diz o ditado “manda quem pode e obedece quem precisa”. Mesmo que maio seja o mês preferido pelos casais europeus para realizarem suas núpcias, no auge dos campos floridos e do clima agradável, para os camponeses da Pomerânia isso nem sempre era possível. Os meses de primavera, verão e outono eram, para a maior parte deles, o momento de mais trabalho, tendo que toda a família priorizar o cultivo do campo e a colheita. Além do mais, o casamento dos camponeses pomeranos costumava levar meses para ser preparado, afinal, os animais precisavam ser engordados, os alimentos estocados e as decorações ritualísticas produzidas. Quem iria organizar tudo se todos estavam muito ocupados com os deveres da terra? Desta forma, sobrava o tempo do inverno para as festividades - o que também garantia despensas cheias e fartura para o casório, com muita diversão. Provavelmente quem dança a coreografia da Bauernhochtid não conhece esses detalhes, por mais que possa, logo na introdução, ter um “frio na espinha”.

Quer saber mais detalhes sobre essa coreografia coletada por Willi Schulz na região da Pomerânia? Entre em nosso site culturaalema.com.br/tanz

04/01 - Lüsener Deutscher

Lüsener Deutscher tem relação com os alemães em Portugal?

Tentar traduzir de modo apressado alguns nomes de danças típicas pode causar alguns equívocos bem interessantes. Esse é um bom exemplo, já que a dança Lüsener Deutscher destaca as comunidades de língua alemã de Lüsen/Losen, uma localidade nas montanhas italianas no Südtirol/Alto Ádige onde é forte a cultura tirolesa/austríaca. Em toda a região, se pode conhecer vilarejos que intercalam pontos de maioria de idioma alemão e de maioria italiano (não por acaso os nomes das cidades e distritos aparecem de modo bilíngue). Nessa coreografia, registrada em 1941, se pode ver figuras tradicionais do Tirol, além de uma variação simples de Schuhplattler (sapateado) alpino. Assim, cuidado para não “confundir alhos com bugalhos” - como diz o ditado português: “Lüsener” é o que é de Lüsen; “Lusitaner” é o que está relacionado à Lusitânia, antigo nome de Portugal. E para não deixar dúvidas: Lüsener Deutscher não tem nadinha de portuguesa.

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03/01 - Jungsächsisch

Jungsächsisch: um amor adolescente do Siebenbürgen?

A Transilvânia (Siebenbürgen) ficou conhecida mundialmente pelas suas histórias. Esta dança, escrita por Karl e Hanna Scheiner em 1880 na região de Schäßburg, onde residem os Saxões dos Siebenbürgen, foi inspirada em uma canção romena; mas não espere encontrar um Drácula: “era uma vez uma moça honesta, a mais bela de toda a região. Todos os rapazes estavam apaixonados por ela. Porém, ela estava apaixonada apenas por um deles. Quando esse rapaz a pediu em casamento, a moça hesitou e, por ser muito nova, pediu que a mãe não a obrigasse a casar. A mãe, apesar de sentir muito, já que esse seria o casal mais bonito da região, consentiu e disse que não iria obrigar a filha a se casar, que a deixaria escolher o seu marido. Prontamente, a moça mudou de ideia e aceitou se casar com o rapaz, pois não tinha como enganar seus sentimentos”. Se o casal “viveu feliz para sempre” ou se sentiu numa história de terror, não sabemos; o que podemos afirmar é que a música e a coreografia da dança se popularizaram na região e, hoje, consta em vários livros de danças. Jungsächsisch quer dizer “Jovem Saxão”, também sendo o nome de um traje típico daquela área.

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02/01 - Münchner Polka

Onde surgiu a Münchner Polka?

Sabe quando um nome te diz uma informação equivocada? Esse é o exemplo perfeito: por mais estranho que seja, o que se sabe com certeza é que a “Polca de Munique” não nasceu em Munique. Ela veio provavelmente da Floresta da Boêmia, no lado tcheco, ou da Floresta da Baviera, no lado alemão (um faz divisa com o outro). Também aparece essa dança no repertório de várias regiões austríacas ou no estado alemão de Baden-Württemberg. Por qual motivo a Münchner Polka não veio da capital bávara? Provavelmente as pessoas do interior acreditavam que a coreografia e a música se pareciam com o que era visto em Munique: “essa é uma polca de Munique”, provavelmente disseram, e o nome pegou - um fenômeno mais comum do que parece. Hoje, ela está presente nas grandes festividades muniquenses, como nos bailes típicos da cidade e no famoso Kochelball.

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01/01 - Auftanz

Quando e onde surgiu a Polonaise?

Quando a dança de abertura em forma de fila surgiu é uma pergunta tão difícil de responder quanto o “onde” isso aconteceu. Tem vários nomes, sendo popular Polonaise ( “A Polonesa”) - dado na França - ou Auftanz (Dança de Abertura) - nas comunidades de língua alemã. Já algumas fontes dizem que a coreografia nasceu no século XV, outras XVI, mas provavelmente foi bem antes. É um tipo de coreografia que imita os hábitos da comunidade: se sabe que em muitas culturas seguir os músicos em uma procissão é bastante popular. Pode se ver isso nas antigas festas onde acontecem desfiles (andar todos em uma fila), ou na corte (onde passeando pelo salão os nobres eram apresentados aos convidados), ou no caminho das pessoas de um ponto “A” para um “B” em um ritual (da igreja para o salão de festas na Quermesse/Kerb, por exemplo). O que muda de um local para outro é o ritmo das melodias e a sequência de figuras.
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