Agosto

 31/08 - Bayrisch-Polka

Quantas variantes tem a “Bayrisch-Polka”?

De modo direto, é possível dizer que a “Polca Bávara” tem muitas variantes. Ela é descrita como austríaca; pois apesar de sua base ser a tradicional “Boarische” alpina e estar intimamente ligada ao sul da Alemanha, ela ganhou “sotaques” e foi variada na Áustria. Ela também teria ligação estrutural com as “Rheinländer”.

Karl Horak, em seu livro “Tiroler Volkstanzbuch”, trouxe 9 diferentes opções de “Bayrisch-Polka”, recolhidas na Áustria: Erl, Thiersee, Gallzein bei Schwaz, Vögelsberg bei Wattens, Sarntal, Virgen in Osttirol e Kals in Osttirol. Provavelmente muitas outras existem ou existiram, inclusive tendo outros nomes.

Segundo Horak, a “Bayrisch-Polka” tradicional segue 4 compassos básicos: o par dá um contrapasso para separar-se, outro para novamente juntar-se e, nos dois compassos finais, em posição fechada (Geschlossene Fassung) giram duas vezes. É repetida a sequência tantas vezes quanto a música permitir.

O que se visualiza é que em cada versão da “Polca Bávara” ou é alterada uma figura existente ou uma nova é acrescida; contudo, mantém-se a lógica básica. A maioria das variantes utiliza os mesmos 4 compassos originais em uma sequência coreográfica, mas isso não é uma regra: também pode ser formada por múltiplos de 4.

Mas a pergunta se mantém: quantas variantes tem a “Bayrisch-Polka”? Não se tem uma resposta, pelo menos nesse momento. Se for considerado que essa dança pode já ser uma variante da “Boarische” e, por sua vez, uma subárea da “Rheinländer”, isso faz o cálculo se tornar mais complexo.

Quem sabe a real questão não seja o volume de parentes que uma dança tenha e sim considerar que a cultura popular seja uma grande rede de conexões. Tanto a “Bayrisch-Polka” quanto outras são partes de um grande todo. O importante é saber que tudo está, de alguma forma interligado… só ainda não sabemos como. É o mistério da origem das tradições.

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 30/08 - Almelose Kermis

“Almelose Kermis” é uma dança de Kerb?

Um dos festejos mais tradicionais nas comunidades alemãs no Brasil é o “Kerb”. Geralmente, ele é uma festa em comemoração à consagração da igreja (nas comunidades luteranas) ou ao padroeiro (nas comunidades católicas) - contudo, podem existir algumas variações.

A palavra “Kerb” tem origem no termo “Kirchweihe” ou “Kirchenweihe” (consagração da igreja), mesma origem do termo “quermesse”, em língua portuguesa. Nos Países Baixos, é comum encontrar a quermesse com o nome de “Kermis”. Lá, uma festa bastante antiga e conhecida é a quermesse de Almelo, cidade localizada a 10 km da fronteira com a Alemanha. Originalmente, ela era realizada no outono e durava dois dias. A primeira edição foi em 1346. Isso mesmo! Há quase 700 anos.

Em Almelo, as festividades iniciavam com uma celebração religiosa e, na sequência, o toque dos sinos sinalizava a abertura da feira da cidade. O “Kermis” em Almelo sempre foi uma grande festa popular. No início do século XX, ele durava quatro dias: a terça-feira era para as crianças, a quarta-feira para os mais velhos, a quinta-feira para os agricultores e os camponeses e o último dia foi para os mais velhos.

Em toda a região próxima de Almelo, era comum que as festas iniciassem com uma determinada dança que animasse todos a participar. Uma delas era a “Almelose Kirmestanz”. Quando tocavam os primeiros acordes, ninguém ficava parado, todos iam para a pista dar início ao baile.

Mas então, ela é uma dança de “Kerb” ou não?

Possivelmente, a “Almelose Kermis”, assim como outras, fazia parte do repertório das diferentes festividades da região. Estima-se que sua origem seja a própria quermesse de Almelo, a qual, reflete a alegria e a popularidade do festejo na própria dança.

Em 2023, a festa em Almelo ocorre entre os dias 5 e 10 de setembro, de terça a domingo. Que tal conhecer de perto essa festa tão especial?

E como eram as festas de Kerb na sua cidade? Compartilhe conosco nos comentários!

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 29/08 - Knopfloch

A “Knopfloch” é uma dança inglesa?

Nem todas as danças apreciadas pelos alemães são da Alemanha. Por sinal, é muito comum que algumas coreografias e músicas tenham ultrapassado suas fronteiras nacionais, se espalhando por outras nações. É o exemplo da “Knopfloch”.

Traduzindo o nome em alemão se teria “Casa de Botão”. Provavelmente assim a chamaram porque a dança tem movimentos que são comparáveis à costura. De toda forma, trata-se de uma hipótese.

Internacionalmente ela é conhecida como “Durham Reel”. Sua origem é popularmente atribuída à Inglaterra, como aconteceu com outras tantas coreografias em fileiras. O nome confirmaria essa informação, pois faz referência a uma cidade no norte do país, Durham. Já “Reel” seria um tipo de dança típica com melodia rápida, muito popular na Grã Bretanha e Irlanda.

Há registros da “Durham Reel” em publicações do início do século XX. A londrina “Five popular country dances”, de Arnold Foster, de 1933, é considerada a primeira. Já o “The Country Dance Book” também teria sua descrição.

Uma apostila de 1971, ligada à comunidade judaica norte-americana, aponta que a Sra Violet Orde teria recolhido essa dança em Durham. Segundo essa fonte, outras versões dela poderiam ser encontradas em Goathland, North Yorkshire e Idmunbeyer in Durham: ela mudaria de aldeia para aldeia - o que irritaria aos que gostam de coreografias “imutáveis”.    

Uma curiosidade: um clube de danças típicas de 1947, nos EUA, - “UNH's folk dance club” da “University of New Hampshire”, se assumiu com o nome de “Durham Reel”. Dentro de seu repertório já constaram títulos como “Weggis”, da Suíça, “Puttjenter”, da Alemanha, e “Oxdansen”, da Suécia.

O exemplo da “Knopfloch” / “Durham Reel” mostra que as danças populares não se prendem a endereços, idiomas ou credos. Elas se movimentam com o trânsito das informações e das pessoas. São conexões vivas de culturas, mesmo antes de existir a Internet.

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 28/08 - Hahn im Korbe

A “Hahn im Korbe” se dança dentro do galinheiro?

O que será que Anna Helms e Julius Blasche pensaram quando publicaram a dança “Hahn im Korbe”? Depois de quase um século, sobraram poucas informações sobre como ela surgiu; contudo, por algumas pistas encontradas em livros e partituras, pode-se fazer algumas especulações.

Segundo Michael Krumm, esse “Korbe” ou “Korb” “refere-se a gaiolas de ráfia/fibras trançadas nas quais costumavam transportar frangos para o mercado. Na maioria das vezes, havia somente galinhas no cesto, mas, de vez em quando, também tinha um galo no meio”, o “Hahn im Korbe”. Desta forma, a expressão quer destacar quando há somente um rapaz em um ambiente com muitas damas.

Muitas comunidades de língua alemã fizeram ou fazem uso dessa frase popular. Ela poderia ser comparada a ideia de “um homem no harém”, contudo com certo tom satírico. Ela deu título a cartões postais, lojas - inclusive de venda de frangos assados -, livros, audiovisuais, marca de cigarro, entre outras… inclusive ao nome desta dança.

Tratando da dança, suas fontes mais conhecidas são o “Bunte Tänze 4”, de Anna Helms e Julius Blasche, de 1928, e “Die Tanzkette”, de 1953, no qual, a descrição da criação de Anna Helms é republicada. Ela, apontada como uma “Tanzspiel” - uma espécie de brincadeira -, seria dançada por 6 damas (com a possibilidade de 8) e um rapaz. É composta por 6 partes, somando teatralidade e bom humor.

Pelo que consta na partitura, a melodia é provavelmente popular, recolhida de comunidades suábias. Já a coreografia é uma criação da Anna Helms e deve ter sido trabalhada no “Geestländer Tanzkreise”.

Vê se que, mesmo na construção coreográfica no contexto das danças populares, há um amplo diálogo entre tradições, narrativas e entretenimento. Sem motivação, não há manutenção de identidades. Nesse sentido, Anna Helms fez um ótimo trabalho, inspirando ainda hoje gerações de dançarinos.  

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 27/08 - Unspunnen Mazurka

A “Unspunnen Mazurka” foi coreografada no Brasil?

Na Suíça, em Interlaken, surgiu em 1805 uma grande festa: a “Unspunnenfest”. Contou com atividades de música, tiro, arremesso “de pedra”, entre outras. Foi um sucesso! Sua segunda edição foi em 1808. Hoje, ela ocorre a cada 12 anos.

Contam que desde o princípio a família de Walter Balmer participou da Unspunnenfest. Quando se aproximou a edição do ano de 1968, dizem que ele já estava pensando em fazer uma nova composição para a festa. Teria surgido ali a melodia da “Unspunnen Mazurka”... mas ela não foi apresentada ao público.

Quase 50 anos depois, em 2016, a coordenação do evento e a Schweizerischen Trachtenvereinigung - Federação Suíça de Trajes Típicos - organizaram um concurso para dar uma coreografia à música composta por Walter Balmer. As sugestões para a nova dança deveriam vir anônimas, permitindo uma escolha imparcial do júri especializado. E assim foi feito.

E você sabe de onde veio a coreografia vencedora? Do Brasil! Foi criada pelo “Volkstanzgruppe Johannetertal”, de Picada Café-RS. Vocês conseguem imaginar o rosto desses jurados ao descobrirem isso? Provavelmente quem ficou mais surpreso com a notícia foi o seu compositor: “até hoje, não sei dizer exatamente como eles chegaram lá”, disse Walter Balmer, na época com 71 anos.

E não bastou ganhar: o “Johannetertal” conseguiu se organizar, batalhou para juntar recursos e foi para a Unspunnenfest de 2017. Em frente ao grande público presente, os dançarinos mostraram “ao vivo e a cores” a sua “Unspunnen Mazurka”. Como resultado, foram ovacionados pelos presentes, em uma cena emocionante… com direito à sambinha.

Segundo Christoph Wyss, pesquisador da história da festa, “as Unspunnenfeste abrangem costumes e tradições de toda a Suíça. Tal como há mais de duzentos anos, o festival promove a compreensão e a tolerância mútuas.” O que vemos agora é que nessa cultura helvética também há um pouquinho da alegria teuto-brasileira.

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 26/08 - Der Freischütz

Por que a Freischütz foi proibida?

No ano de 1821, estreou em Berlim a ópera chamada “Der Freischütz”, conhecida em português como “O Franco-Atirador”. Contudo, um “Freischütz” não é apenas alguém com uma mira certeira, mas sim alguém que faz uso de uma munição especial, geralmente recebida a partir de um pacto sobrenatural. Essa munição fará com que o atirador sempre acerte o seu alvo de forma precisa. Porém, esse pacto pode ter consequências terríveis, como visto na ópera citada.

Até onde se sabe, a dança “Freischütz” não tem relação com a ópera. Assim, já podemos descartar a hipótese, de ela ter sido proibida por ter dançarinos armados e em posse de munição, digamos, especial.

A dança foi registrada pelo professor Otto Ilmbrecht e publicada no ano de 1937. Ele a encontrou nas regiões de Schaumburg-Lippe e Minden, com algumas pequenas variações. Na sua descrição, algo chama a atenção e a destaca entre as demais Volkstänze:

“Quando os dançarinos estão animados ou são ovacionados pelos espectadores, na terceira figura, os dois rapazes correm o mais rápido que podem, fazendo com que as moças percam o chão sob os seus pés. Então, como resultado, elas flutuam horizontalmente. A moça deve segurar o pescoço do rapaz com firmeza com as duas mãos. É considerado um sinal de destreza quando as moças flutuam para cima e para baixo em linhas onduladas, balançando.”

E que perigo isso! Essa juventude com certeza estava perdida. Por isso, a polícia da época precisou intervir e proibir temporariamente a execução da figura.

Por causa dela, a dança também foi conhecida como “Slüürdanz”, nomeada a partir do verbo “schlüren”, do dialeto vestfaliano, com o significado de “carregar”, “arrastar”. Afinal, é a dança em que as moças são carregadas, praticamente arrastadas!

Assim, está resolvido o mistério! Hoje, ela não precisa mais ser proibida, pois os dançarinos agem como verdadeiros “Freischützen”, executando sua tarefa com precisão.

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 25/08 - Ahrntaler Ländler

A “Ahrntaler Ländler” veio de um vale mal assombrado?

É sabido que no norte da Itália há várias comunidades de língua alemã e também muitas danças típicas. No vale do rio Ahr não é diferente. O que muitos desconhecem é que lá, no Ahrntal, também existem muitas narrativas horripilantes. Um escritor, Konrad Steger, buscou recolher essas histórias e trazê-las a público.

Aparecem em narrativas coletadas por Steger a figura do “diabo”, que supostamente teria ido algumas vezes ao Ahrntal. Contam que em uma de suas visitas “o canhoto” arrancou, na localidade de St. Jakob, uma enorme pedra e atirou contra um pároco e seus coroinhas, que estavam a caminho de dar os “últimos sacramentos” a uma senhora. Todos se salvaram, pela graça de Deus, mas as garras do “demônio” teriam ficado marcadas num rochedo.

Em outros relatos aparecem lutas onde o “capeta” esteve presente, tendo artimanhas para enganar os aldeões. Já uma narrativa destaca que tremores ocorreram no Ahrntal, sacudindo panelas e frigideiras, em decorrência de gritos horrendos do “pestilento”.

E esses fenômenos sobrenaturais influenciaram a “Ahrntaler Ländler”? Provavelmente não. Contudo, suas figuras teriam sido registradas por 1940 em eventos de St.Jakob, St.Peter e Prettau - mesmos locais citados em muitas das narrativas catalogadas por Steger. Seria mera casualidade?

O que se pode dizer é que a “Ahrntaler Ländler” ganhou admiradores e é hoje dançada tanto na Áustria como no sul da Alemanha, transpondo as barreiras naturais do seu vale de origem. Será que esse sucesso veio com uma ajudinha do “tinhoso”? Claro que não! Isso é só uma brincadeira… ou será que não?

Se você quer conhecer mais sobre o Ahrntal e suas narrativas, pode visitar essa bela região ou ler alguns dos trabalhos de Konrad Steger. Além de textos de ficção, ele publicou “Als noch Kartoffelfeuer brannten” e “Als wir noch Kinder waren”, ambos sobre a história do Vale do Ahr.

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 24/08 - Feuerfest

A “Feuerfest” é a dança nacional da Boêmia?

Algumas polcas e valsas famosas, com destaque às compostas pela família Strauss, ganharam visibilidade internacional. Por sua estrutura complexa e simultaneamente cativante, caíram no gosto também de coreógrafos, tanto de ballet quanto de danças populares.

Uma dessas composições, que atualmente está presente junto a muitos grupos de danças típicas alemãs no Brasil, é a “Feuerfest”, de Josef Strauss, referenciado como irmão do conhecido “Rei da Valsa” Johann Strauss. Mesmo ela não sendo uma melodia tradicional, assim como a coreografia, acabou caindo no gosto de muitas “Volkstanzgruppen”.

A “Feuerfest - Polka Française op.269” não faz referência a uma festa ou festival do fogo, mas sim a “resistente ao fogo”, já que o termo “fest” também quer dizer “firme”. Franz von Wertheim teria encomendado-a em 1869 a Josef Strauss para comemorar a feitura de seu cofre de número 20.000. Diziam que Wertheim colocava seus cofres em fogueiras, para provar que eram imunes às chamas.

Já a coreografia teria uma fonte bem distinta. De acordo com Walter Bucksch, haveria uma pluralidade de versões, inclusive para ballet. Contudo, ele encontrou muitos vídeos dela que seguem a base da descrição de 1984 de Richard Powers, que lecionava danças na Universidade de Stanford, nos EUA.

Powers, por sua vez, relatou em um texto de título “Bohemian National Polka”, que usou a estrutura da polca “Nasim Devam”, do tcheco František Bonuš, para sua “Feuerfest”. Provavelmente é dessa fonte que ela passou a ser conhecida como “Polca Nacional da Boêmia”, já que a música em si não tem vínculos com os tchecos.

Assim, a composição de um austríaco para um fabricante de cofres acabou coreografada por um norte-americano que, por sua vez, se inspirou em uma dança de um tcheco. Para deixá-la mais interessante, se conclui a história dizendo “que ela ficou popular no Brasil pelas mãos de grupos de danças alemãs”. Para que facilitar, se pode complicar?

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https://youtu.be/tXi0m4E53Kg e da “Nasim Devam” em https://youtu.be/g59BiUx3IKU .

 23/08 - Selker Bayrisch

A “Selker Bayrisch” é da Baviera ou da Alta Áustria?

No sul da Alemanha e norte da Áustria, se popularizou um estilo de danças e músicas que ficaram conhecidas como “Bávara”. Em alemão, é a “Bayerische” ou, em dialetos locais, “Boarische”, assim como outras variantes gráficas. É similar ao  adjetivo “bávaro” ou “bávara”, que é dado a pessoas ou elementos ligados ao Estado Livre da Baviera. Esse é o maior Estado alemão, que faz divisa com Áustria e República Tcheca.

Uma típica “Boarische” é dançada em pares, podendo ou não estarem em um círculo. É comum ter duas partes: a primeira, em quatro compassos, na qual as duplas soltam-se as mãos, cada um dá dois passos laterais, separando-se, e mais dois se juntando; a segunda é quando, no mesmo período, giram juntos em posição convencional. Podem também agregar batidas de pés.

Mesmo sendo a formação base, esta permite muitos improvisos. Esta dança é executada como uma divertida brincadeira entre os presentes, podendo, inclusive, gerar certa competição, querendo mostrar quais duplas tem mais vitalidade.

Em alguns locais, variantes dessa dança acabaram se enraizando junto à comunidade, tornando-se típicas. Internamente, mantinham o nome genérico “Boarische”, mas para quem via de fora, a coreografia e a melodia ganhavam uma nova denominação. Segundo Walter Bucksch, quando se dança uma “Boarische” somada a palmas, ela ganha o nome de “Tuschboarische” ou “Tuschbairische”. A “Selker Bayrisch”, a “Bávara de Selker”, está nesse contexto.

A cerca de 20 quilômetro de Linz, na Áustria, existe uma localidade de nome Selker. Lá, essa variante da “Boarische” com palmas se tornou popular, ganhando novas figuras, sendo conhecida por “Tuschbairisch” ou “Selker Bayrisch”. Assim, seria uma bávara austríaca? Na prática, sim. De toda forma, é preciso lembrar que as manifestações culturais não se limitam a fronteiras físicas: elas mantêm um diálogo amplo e duradouro. Ainda bem!

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a danca em https://youtu.be/LZwdd_ezZh4 . Acompanhe nossas redes sociais e escute o Boletim Der Hut às quintas-feiras, 20h, em www.imperial.fm.br .

 22/08 - Kirmstrick

Na “Kirmstrick”, os pares se curvam?

Em algumas danças, há polêmicas quando os pares realizam movimentos exagerados, como braços muito erguidos, posturas tortas e joelhos dobrados demais. Qual o limite entre o excesso e a correta execução de uma figura?

Na “Kirmstrick”, é convencional que os pares realizam passos em que eles se curvam ou abaixam, sendo sua principal característica. Mas por qual razão? O motivo dessa postura, provavelmente deve-se ao tema da dança. Segundo fontes, o termo “Kirm” ou “Kiam” estão ligados a “Kiepe”, que é uma grande cesta de galhos de salgueiro, vime ou outra fibra natural. Para facilitar o transporte, eram acrescidas alças, geralmente feitas de cordas trançadas - o que provavelmente seja o “strick” -, para levá-la nas costas, como uma mochila.

É natural que alguém, ao carregar algo pesado, caminhe com os joelhos mais dobrados ou com o dorso mais arqueado. O andar curvado, como se carregasse um grande cesto lotado nas costas, explicaria essa postura.

Via essa perspectiva, não seria exagero se curvar bem na “Kirmstrick”, imitando o carregar da “Kiepe”. Uma teatralização adequada, por sinal, tornaria mais explícito o seu contexto, deixando claro ao público que não se trata de um excesso na forma como ela é dançada. Além disso, de acordo com a vitalidade dos participantes, também é agregado um tom festivo ao movimento, deixando-o mais intenso.

Desta forma, vemos que a “Kirmstrick” é mais um exemplo de dança camponesa que carrega em si características do dia a dia no ambiente rural. São detalhes como estes que representam o esforço do trabalhador do campo e que guardam valiosas informações de outrora. Em muitos casos, músicas e coreografias podem atuar como museus vivos das comunidades.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e conheca a “Kirmstrick” em https://youtu.be/tsBGhMtq4v8 . Escute nosso Boletim Der Hut todas as quintas-feiras, às 20h, em www.imperial.fm.br e acompanhe as nossas redes sociais.

 21/08 - Föhringer Kontra

Como a Föhringer Kontra foi preservada?

Anna Helms foi uma das responsáveis por registrar dezenas, senão centenas de danças típicas no norte da Alemanha. Em um de seus relatos, ela conta como chegou às da Ilha de Föhr nas primeiras décadas do século XX:

“Nós também passamos pela Ilha de Föhr para procurar algumas danças junto aos moradores. Muitos desconfiavam de nós: o que o pessoal da cidade quer com nossas danças? Mas nenhuma delas sabia nos dizer algo sobre as danças.

Assim, ficamos esperando o próximo barco à vapor para ir embora de Föhr. Em um banco, estava sentado um velho senhor. Me sentei perto dele e logo começamos a conversar. Quando perguntei se ele conhecia alguma dança antiga, ele me respondeu cordialmente: ‘Antigamente, vivia um velho músico aqui na ilha. Ele sempre tocava seu clarinete para os demais dançarem. Hoje, ele já é falecido, mas sua filha ainda vive e ela gosta muito de dançar. Vá até a casa da velha Ingred. Nesse horário, ela ainda está na rua com seu carrinho de verduras; mas se você descer por esse atalho aqui em frente, provavelmente vai encontrá-la em frente ao comércio para o qual ela vende frutas.’

Rapidamente seguimos as orientações do velho senhor e encontramos a Ingred. Ela não aparentava estar tão desconfiada como os demais. Como estava trabalhando, combinamos de nos encontrar na casa dela.

Ela nos recebeu vestindo o traje de Föhr. Prontamente, começou a tocar as melodias de sua juventude que ganhavam vida novamente. Ao mesmo tempo, ela mostrava como era cada dança. Ela nos puxava para cá e para lá para que tomássemos posição e pudéssemos imaginar os demais pares da quadrilha. Ela era tão rápida que quase não conseguíamos acompanhar. Mas tomamos nota de tudo.”

Possivelmente, a quadrilha citada é a Föhringer Kontra, uma contradança da cidade de Wyk, na Ilha de Föhr, publicada em 1918. Graças ao trabalho incansável de Anna Helms, acompanhada de Julius Blasche, muitas danças foram preservadas.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a danca a partir do minuto 3 do vídeo https://youtu.be/KqjbgCu6USo . Nos escute em www.imperial.fm.br às quintas-feiras, às 20h, e nas redes sociais do Der Hut.

 20/08 - Sonderburger Doppelquadrille

“Sonderburger Doppelquadrille” é alemã ou dinamarquesa?

A grande popularidade da “Sonderburger Doppelquadrille” não se deve apenas à dança ser relativamente simples, mas também à música que vai direto do ouvido ao coração.

Alguns registros indicam que ela era uma dança social surgida entre 1800 e 1820. Sua formação em colunas indica a possibilidade de ter uma origem comum com outras semelhantes. Contudo, o fato de ela ser em oito pares a torna muito distinta.

A propósito, lá em Sønderborg, na Dinamarca, ela é conhecida apenas como “Dobbelt Kvadrille”. Faz sentido, não é?

Mas será que ela é uma dança dinamarquesa?

Alguns pesquisadores alemães indicam que a dança é alemã, pois Sønderborg pertenceu à Alemanha de 1864 a 1920. Da mesma forma, pesquisadores dinamarqueses afirmam que algumas danças de Schleswig são dinamarquesas, pois a área pertencia à Dinamarca até 1864.

Com a volta da região ao domínio dinamarquês em 1920, muitos moradores de lá e região optaram por se mudar para Hamburgo. Lá, formaram a sociedade dinamarquesa Sønderborg. Foi ali que, alguns anos depois, Anna Helms conheceu a dança “Dobbelt Kvadrille”, publicada por ela em 1928 na Alemanha. Um impresso dinamarquês dela surgiu apenas em 1934.

Então, ela é uma dança alemã?

Bem, outro elemento que temos é o compositor. H. C. Lumbye, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca, que fez a melodia em 1861. Porém, ele não a compôs para a dança, contudo para outra finalidade. Mais tarde, músicos de Sønderborg a “emprestaram” para a “Dobbelt Kvadrille”. É interessante observar que, antes disso, outra música era usada para a coreografia.

Agora sim, a dança é dinamarquesa! É isso?

Ainda não há consenso. Para alguns, é uma dança dinamarquesa, pois Sønderborg fica na Dinamarca. Para outros, é uma dança alemã, pois Sønderborg pertenceu à Alemanha e, com o tempo, ela se espalhou pelo norte do país.

E para você, ela é dinamarquesa ou alemã? Conte aí nos comentários!

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja o Gartenstadt, de Blumenau-SC, com a dança em https://youtu.be/wzEUcNDNIjU . Escute o Boletim Der Hut toda a quinta-feira, às 20h, no www.imperial.fm.br e curta nossas redes sociais.

 19/08 - Polsterltanz

Na “Polsterltanz”, os dançarinos ajoelham no travesseiro?

A “Polsterltanz” - “Dança da Almofada” -, também chamada em alguns locais de “Kissentanz”, é encontrada em muitas partes do mundo, assim como as com pau de fitas, arcos, espadas, varas, entre outras. Sua lógica padrão traz bases coreográficas muito similares, mesmo em continentes distintos.

Ela é uma dança de roda, na qual uma pessoa de fora, trazendo uma almofada, entra e anda no círculo. Depois, ela escolhe um dos presentes e coloca o estofado a sua frente, sobre o qual, ambos se ajoelham. Sob o olhar de todos, os dois se beijam e dançam juntos no centro.

Há versões em que todos os participantes ficam do início ao fim da dança. Noutras, ocorre como uma brincadeira eliminatória, quando, ao final, sobra somente uma pessoa. Por não ser para palco, era muito executada em festividades - como noivados e casamentos.

Mas se um não quiser beijar o outro? Daí, de surpresa, pode-se trocar de lugar com alguém da roda. Ou, quando a almofada é posta no chão, podem roubá-la. Por isso, nessas danças, é preciso pensar e agir rápido, já que ela pode ter muitos improvisos.

A “Polsterltanz” foi registrada em muitas regiões de língua alemã da Áustria, da República Tcheca, da Alemanha, entre outras. Jakob Gauermann, em uma pintura de nome “Polsterltanz am Grundlsee”, datado de 1821, retrata essa dança no Salzkammergut. Em outros pontos da Europa, pode-se ainda hoje vê-la.

E ela pode ser feita sem o estofado? Isso também acontece. Na Ilha da Madeira - com o “Baile da Viuvinha” - e no Arquipélago dos Açores - com o “Pai do Ladrão”-, ambos territórios portugueses, são vistos alguns exemplos similares às “Polsterltänze”, mas sem almofadas. No Brasil, a “Dança da Vassoura” também faz papel parecido.

Esse estilo de danças são verdadeiros jogos para encontrar relacionamentos. Em tempos em que o contato dos jovens era “controlado” pela comunidade, qualquer momento de aproximação deveria ser bem aproveitado. E mesmo em tempos de tecnologias avançadas, essas tradições podem ainda fazer sucesso.  

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja uma “Polsterltanz” em https://youtu.be/tVBEok8iNwE .

 18/08 - il sot da la quatter pêra

“il sot da la quatter pêra”: da corte francesa para um vale na Suíça?

Contam que o jovem Martin Peiderpadrotsch de Schmidi von Grün-Eg de Fettan im Engadina, um mercenário suíço, teria servido como tenente no regimento de Salis na França. Depois de retornar a Graubünden, sua terra de origem, ele escreveu um livro volumoso em reto-românico, idioma local. Ali relatou sua história em território francês, compreendendo o período de 1773 a 1777. Ao final desta publicação ele incluiu a descrição de 20 quadrilhas, danças que ele havia lá presenciado.

A motivação para escrever o livro no vilarejo provavelmente veio por ter tempo livre - somado à impaciência dos moradores com ele, pois achavam que sua conversa os distraíam do trabalho. Ele não se fazia uma figura muito popular na região.

A dança “il sot da la quatter pêra” - “a dança dos quatro pares” - não faz parte dessas 20 coreografias… e nem a música tem influência francesa. Por mais que Martin desejasse dançar suas quadrilhas com o círculo das pessoas mais importantes de Engadin, isso não aconteceu. A população local, vendo a publicação do jovem, acabou criando sua própria quadrilha em estilo parecido, mas ao invés de instrumentos, eles cantavam uma canção em seu dialeto romanche-ladino. Isso aconteceu por mera birra? Não se sabe a real resposta.

O texto da música trata, em princípio, de uma menina que está com raiva por ter perdido o seu amor - provavelmente para uma concorrente. No fim ela volta a ter uma vida feliz: “hoje eu quero ser feliz e dancar”. E termina com “o que eu quero eu pego” e “cada um encontra o seu par”.

Todo o ano, no dia 6 de janeiro, no “bal da Babanîa” - no qual somente solteiros podem participar - um verdadeiro desfile de pretendentes -, a “il sot da la quatter pêra” é lá realizada Im Dorf Ardez, no Engadin. Todo o salão canta junto,... porém dançar somente quatro pares podem: é tradição que sejam os mais jovens da festa.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/ouBJ3YRW2ZA . Nos acompanhe nas redes sociais e escute nosso “Boletim Der Hut” todas as quintas-feiras às 20h, em www.imperial.fm.br .

 17/08 - Agattanz

A “Agattanz” é uma antiga dança de casamento?

Como identificar uma dança como antiga ou nova? Trata-se de um trabalho quase de detetive. Vejamos o exemplo da “Agattanz”, que foi recolhida na primeira metade do século XX na Áustria.

Primeiro passo: essa dança foi vista uma única vez? Não! Foi registrada em diferentes momentos, assim como em distintas localidades alpinas. Um dos relatos dela, segundo Karl Horak, é dos anos 1930 de uma festividade de casamento em Thiersee, no Tirol. Na região de Salzburg, também foi encontrada coreografia similar.

Segundo passo: sua estrutura é típica? Sim! A “Agattanz” apresenta elementos de tradições antigas. Sequências e melodias muito similares foram relatadas anteriormente em festas de carnaval, com rapazes mascarados. “Schwerttänze” - Danças de Espadas - e outras “Kettentänze” - de Correntes - têm bases comuns a ela. É recorrente na cultura popular haver uma lógica geral que guia muitas das manifestações da comunidade.

Terceiro passo: a coreografia é fácil de ser retransmitida? Esta é uma questão relativa. É certo que melodias simples e danças curtas - que se repetem -, tinham mais chance de memorização. Por outro lado, algumas presentes em rituais sazonais eram mais arrojadas, mas usando figuras já conhecidas, o que ajudava a serem recordadas. Vemos na “Agattanz” a presença de túneis e caracóis, como aparecem nas “Auftänze”, por exemplo; ou círculos duplos e o baixar dos homens, encontrados nas “Mühlräder”; ou nós e fileiras recorrentes nas “Reiftänze”.  

Há outras “pistas” para a datação de uma dança, como elementos da melodia, formação de pares, sequência de figuras, teatralidade, entre outras, igualmente aplicáveis à “Agattanz”. De toda forma, mais do que uma tradição encontrada em um casamento, ela é um indício plural da cultura da comunidade, expondo suas pontes com outros locais e tradições. Pode-se ver muito mais numa dança do que sua mera execução estética.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a “Agattanz” em https://youtu.be/j8TIzYiZpK4 . Acompanhe nossas redes sociais e o "Boletim Der Hut" na Imperial FM, às quintas-feiras, 20 horas, 104,5 ou no www.imperial.fm.br .

 16/08 - Schneidertanz

“Schneidertanz” é uma dança em homenagem ao alfaiate?

A “Schneidertanz” - ou “Sniderdanz” em Plattdeutsch - é uma dança camponesa que representa o trabalho artesanal do alfaiate. Nela, podemos ver a caracterização de alguns elementos deste ofício, como botar o fio na agulha e o ato de costurar. Em toda a Alemanha, existem diferentes coreografias que trazem esse artesão como personagem principal.

Nas pequenas aldeias, o alfaiate era visto como alguém que passava fome. Como ele não estava acostumado com o trabalho braçal do campo, todos zombavam dele, porque ele só tinha sopa de batata para comer, de segunda a segunda. Claro que ele não gostava e logo ficava emburrado.

Em alemão, o equivalente para emburrado pode ser “bockig”, palavra que vem de “Bock”, bode. Por isso, na canção que acompanha a dança, o pobre coitado é chamado de “Ziegenbock”.

Na dança, não apenas os versos da canção fazem graça com o alfaiate, mas também os dançarinos. Todos os cumprimentos são executados com a “graça” um pouco exagerada dos bodes: as cabeças se batem levemente e as pernas são levantadas para trás. Uma figura engraçada que trás muita diversão a todos.

Todos esses elementos foram registrados pela professora Marie Peters, responsável por recolher diferentes danças na região de Mecklenburg. Posteriormente, durante o período da Alemanha Oriental, foi realizado um trabalho coreográfico preparando a dança para destacar tanto a versão tradicional dela quanto uma versão que ressalta a importância do trabalho do alfaiate.

Compare conosco as duas versões: https://youtu.be/G6SDnMin17o . A primeira representa a dança como foi registrada por Marie Peters e a segunda a versão coreografada para representar o alfaiate em ação.

De qual você gostou mais? Conte aí para nós!

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz. Acompanhe-nos nas nossas redes sociais e escute o “Boletim Der Hur” na Imperial FM, 104,5 FM ou em www.imperial.fm.br .

 15/08 - Mexikanischer Walzer

A “Mexikanischer Walzer” é do México?

Muitas danças têm em seus nomes designações de locais. Algumas fazem referência ao seu ponto de origem; já outras buscam dizer que seguem um “estilo” ligado a uma determinada região ou país. Em qual delas se encaixa a “Mexikanischer Walzer”?

Vejamos. A melodia “Mexikanischer Walzer” é um trecho da tradicional “La Chiapaneca”, dança típica ligada à cultura do sul do México, em especial à cidade de Chiapa de Corzo. Fontes apontam que essa música é da primeira metade do século XX e do mesmo período vem também uma base coreográfica para ela e uma releitura das indumentárias locais, caracterizadas por grandes saias floridas.

Observando os movimentos dessa dança no México, é característico dela o tremular das saias das damas, os giros e o bater de palmas. É comum ver somente mulheres apresentando-a, o que se justificaria pelo próprio título “La Chiapaneca” - às moças da cidade de Chiapa. Mesmo que a melodia seja em ritmo ternário, não se vê a realização do passo de valsa propriamente dito.

Já a “Mexikanischer Walzer” agrega homens, tira o foco do movimento intenso das saias delas e dá destaque ao valsar dos pares. Isso poderia ser tanto uma variante mexicana feita para casais, transmitida e difundida no exterior, quanto uma adaptação promovida fora do país. Algumas partituras registram ser dos EUA. Na publicação de Christoph e Michael Well eles explicitamente dizem que ela não é original do México.

Assim, pode-se pressupor o seguinte: a “Mexikanischer Walzer” é inspirada na “La Chiapaneca”, usando inclusive parte da sua melodia, contudo não parece ser realmente mexicana. Se for uma criação de lá, provavelmente será de fora de Chiapa de Corzo, já que as lógicas coreográficas delas não se combinam. De toda forma, ainda há chances de aparecerem novidades sobre ela. É bom considerar que “as aparências podem enganar”.

Quer saber mais? Veja o vídeo da “La Chiapaneca” em https://youtu.be/TNZLOKsLcMs e compare com o da “Mexikanischer Walzer” em https://youtu.be/XeXYdUvYQzo . Acompanhe nossas redes sociais e o "Boletim Der Hut" na Imperial FM, às quintas-feiras, 20 horas, 104,5 ou no www.imperial.fm.br .

 14/08 - Chiemgauer Dreher

Na “Chiemgauer Dreher” tem Schuhplattler?

Uma realidade bastante comum na Baviera, no sul da Alemanha, é o acréscimo de sapateados a danças típicas pré-existentes. Esta é uma tendência geralmente vista em “Trachtenverein” - Associações de Trajados - que tem a tradição de manter viva a “Schuhplattler”.

Na região do Chiemgau, na Alemanha e que faz fronteira com a Áustria, isso não é diferente. Lá a melodia do seu típico giro, o “Chiemgauer Dreher”, também adicionou o sapateado bávaro. O mesmo é possível ver com a “Kreuzpolka”, “Sterntanz”, “Kronentanz”, “Sternpolka”, entre outras.

A “Chiemgauer Dreher”, também chamada de “Kittl auf”, originalmente é bastante simples: nos primeiros dois compassos o rapaz conduz a dama a dar um giro completo para a direita, ele fazendo, ao final desse movimento, uma batida de pé direito no chão; na sequência o mesmo ocorre para o sentido invertido. A conclusão é com o casal, em posição convencional, realizando o par dois giros, retornando à formação inicial. Toda ela acontece em apenas oito compassos, reiniciando-a quantas vezes os músicos repetirem a melodia.

Essas ampliações de “Schuhplattler” acontecem geralmente após a música ser tocada uma ou duas vezes completa. Assim, não há uma mudança efetiva na coreografia tradicional: usam, sim, da repetição da melodia delas para fazerem o sapateado. Por outro lado, a postura usual dos dançarinos, reta e firme, se mantém durante a execução de toda a dança.

Não se pode dizer que é certo ou errado incluir a “Schuhplattler” nessas danças, já que o fazem em coreografias que estão dentro de um mesmo contexto regional, além de, efetivamente, não alterarem a estrutura básica delas. O que se verifica é a construção de composições que “atualizam” os símbolos locais, dando nova vitalidade às tradições - que são vivas nas comunidades. E nesse sentido é importante lembrar: o costume se mantém em uso se há interessados nele.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a

“Chiemgauer Dreher” com Schuhplattler + Kreuzpolka:

https://youtu.be/oeC8l0OoQKI . Veja nossas redes sociais e escute o “Boletim Der Hur” na Imperial FM, 104,5 FM ou em www.imperial.fm.br .

 13/08 - Treskowitzer Menuett

A “Treskowitzer Menuett” é uma dança da fidalguia?

Algumas formações coreográficas que eram tradicionais da aristocracia centro-europeia, por ironia, sobreviveram com o passar dos séculos, em comunidades rurais do leste. Minuetos são exemplos disso: mesmo historicamente sendo danças da nobreza, em Treskowitz - localidade tcheca hoje chamada de Troskitovic -, por exemplo, eles ficaram conhecidos como “Bauernmenuett”, por serem de camponeses.

Como era muito comum que os fidalgos de localidades pequenas e distantes imitassem seus coirmãos das grandes cortes - como Paris, Berlim e Praga -, isso levou hábitos culturais destes para fora dos grandes centros urbanos. Não tardou para que os camponeses, vendo a aristocracia, buscassem copiar tais manifestações.

Claro que em um movimento de cópias a partir de outras cópias, houve uma gradual mutação dos conteúdos. Com os minuetos não foi diferente. Mesmo que as danças cortesãs contrastassem com as campesinas, ocorreu nesse trânsito uma simplificação das melodias e passos, aproximando os dois estilos. Houve casos também onde o povo parodiava seus nobres.

Refletindo sobre a “Treskowitzer Menuett”, ela apresenta posturas mais delicadas do que normalmente seriam feitas pelos camponeses, assim como mantém formações de quatro pares - Quadrille - também convencionais neste contexto. De toda forma, não se pode dizer que há somente uma possibilidade de dançá-la, já que relatos trazem variações de sua coreografia, com mudança de passos e ritmo.

Assim, observa-se que, em muitos casos, é nas localidades interioranas que se pode encontrar antigos indícios das tradições da corte, mesmo sendo um espaço rural. Mudadas ou ajustadas, elas ainda trazem pistas de como era o peculiar ambiente da fidalguia européia. De toda maneira, é importante ressaltar que também nelas se manteve viva a cultura popular. Uma ponte entre duas realidades distintas.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da “Treskowitzer Menuett” em https://youtu.be/cclfvZr-olA e nos acompanhe nas redes sociais do Der Hut e escute nosso programa de Rádio às quintas-feiras à noite, 20 horas, em www.imperial.fm.br.

 12/08 - Tschu tschu wa

“Tschu tschu wa” é uma dança ou uma brincadeira?

É interessante observar como as brincadeiras infantis acabam rodando o mundo. Ainda mais hoje com as mídias sociais. Uma delas que é encontrada em vários idiomas é chamada em português de “Tchutchuá”.

Claro que, em alemão, também temos a versão chamada “Tschu tschu wa”. Porém, hoje, vamos falar de uma versão escrita e gravada pelo músico alemão Volker Rosin. Com mais de cinquenta obras lançadas, entre CDs, DVDs e Musicais, ele é hoje uma das principais referências para músicas e composições infantis na Alemanha.

A partir da brincadeira Tchutchuá, ele criou uma nova composição: “Tschu tschu wa - Die Eisenbahn”, ligando a brincadeira ao trem de ferro.

Que tal aproveitar essa brincadeira tão conhecida para trabalhar a língua alemã e o movimento com as crianças? A partir dessa canção infantil, podemos fazer uma dança cheia de movimentos e diversão!

Nela, todas as crianças andam com o trem de ferro. A cada sequência, mais um novo elemento é adicionado, como se fosse uma das etapas da viagem e todos precisam repetir os gestos!

Primeiro, antes de entrar no veículo, todos representam as rodas pequenas do trem; depois, as rodas maiores do trem. Em seguida, todos cumprimentam o cobrador, que, em alemão, é chamado de “Schaffner”, e mostram a ele sua passagem. Já durante a viagem, todos passam por altos montes, que não são para os bem pequenos! Todos abanam e, de repente, todos param! O que será que aconteceu? Ah, é só uma das paradas do trem… e a viagem continua!

Todos os trechos são ligados pelo refrão “Tschu tschu wa” e pelo apito tão tradicional do trem de ferro.

Que tal embarcar nessa viagem tão especial com os pequenos? Acompanhe o vídeo animado da música “Tschu tschu wa - Die Eisenbahn”: https://youtu.be/67-QX_6LnC4

Você conhece alguma canção com “trem de ferro” em português? Conta para nós nos comentários!

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 11/08 - Maike

Na “Maike” o nome faz referência a uma dama ou a um cavalheiro?

O professor Otto Ilmbrecht registrou duas variações da dança Maike. Uma delas em um livro de danças da Vestfália e outra em um de Bückeburg. Apesar de ser a mesma dança, ambas se diferenciam um pouco na melodia e na coreografia. Mas o principal é que as duas variações apresentam a moça como figura central.

Apesar de muitos acharem que “Maike” seria um nome feminino, ela é, na verdade, a palavra em dialeto vestfaliano para “moça” ou “menina”. Em uma das publicações, a dança foi chamada de “Maike, wutt du noch nich up“, primeiro verso da canção associada à dança.

Vamos conhecer um pouco mais sobre essa moça da canção?

O verso que dá início à dança nos apresenta: “Menina, você não quer levantar e ordenhar sua vaca? O pastor leva (o rebanho de gado) para a aldeia, chama e você sempre dorme.” Percebe-se que é, de certa forma, uma canção de brincadeira, uma “Scherzlied”. Na dança, nenhuma das dançarinas representa essa moça, mas, entre os camponeses, era sabido que, aquela que era preguiçosa, não arranjaria um bom casamento e, na época, as canções populares ajudavam a lembrar e a perpetuar isso.

Apesar da canção dizer indiretamente que a moça é preguiçosa, a dança “Maike” cumpre o seu papel dando às damas um lugar de destaque positivo. A figura em que elas são deixadas ao meio da roda pelos seus pares não deve ser vista como um abandono, mas sim, o momento em que elas estão no centro das atenções, afinal, o interior de uma quadrilha é um palco, um lugar de honra. Quem está ali se encontra em uma posição especial e é o destaque dos acontecimentos.

“Maike” é um dos mais belos exemplares da dança popular da Vestfália, a qual, segundo o professor Otto Ilmbrecht, faz com que todo o comedimento e a retração, características comuns entre os vestfalianos, sejam superados. Nada mais justo do que enaltecer o importante papel desempenhado pelas moças.

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 10/08 - Die Räder vom Bus

“Die Räder vom Bus” é uma dança típica?

Em português, “Die Räder vom Bus” significa “as rodas do ônibus”. Seu ritmo parece ser bastante conhecido, não é? Ela foi escrita em língua inglesa pela americana Verna Hills e publicada em dezembro de 1937, com o nome “The Bus” - o ônibus -, mas, com o tempo, passou a ser conhecida por “The Wheels on the Bus”.

Mas como essa canção infantil chegou até os grupos de danças no Brasil?

Pois bem, primeiro, ela passou pela Alemanha. O músico britânico-alemão Robert Metcalf a traduziu e a lançou em seu CD “Robert feiert Geburtstag” em 1995. Por ter um ritmo cativante e uma letra fácil, a canção acabou se tornando muito popular entre as crianças.

Mas ela é uma dança típica?

Não, ela é uma canção infantil bastante popular. Contudo, mesmo não sendo uma dança típica, com seu ritmo alegre e seus movimentos simples, ela nos permite trabalhar diversos aspectos com os pequenos: como o idioma e a interculturalidade - sendo muito boa também para as aulas de língua alemã!

Na parte do idioma, o vocabulário é simples e as repetições permitem a introdução e a fixação de palavras e de pequenas expressões. Já em relação à interculturalidade, pode ser abordada a presença do ônibus na rotina diária das crianças. Tanto no Brasil quanto na Alemanha, é comum ir de ônibus até a escola. Então, por que não comparar como é o deslocamento para a escola no Brasil e na Alemanha?

“Die Räder vom Bus” é com certeza uma possibilidade de trazer a dança e o movimento para o dia-a-dia das crianças. Com algumas diferenças de versão, são representadas algumas situações:

- A porta do ônibus abre e fecha;

- A roda do ônibus gira;

- O limpador de para-brisa em ação;

- O barulho da buzina;

- O motorista controlando a passagem;

- As pessoas conversando;

- As crianças fazendo bagunça;

- Os bebês dormindo.

Para as crianças, é muito mais do que apenas uma música, é uma verdadeira viagem de ônibus através da dança.

E você como vai/ia para a escola? Conta aí!

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 09/08 -Schwedische-Quadrille

A “Schwedische-Quadrille” é uma herança sueca na Alemanha?

Você sabia que algumas regiões do norte da Alemanha já estiveram sob domínio sueco? E não foi por pouco tempo! Entre os séculos XVII e XIX, parte do estado de Mecklenburg-Vorpommern pertenceu ao reino sueco.

Hoje, é muito comum encontrar no norte da Alemanha a expressão “Alter Schwede”. Mas, de onde ela surgiu e o que ela significa? Após a Guerra dos Trinta Anos (século XVII), experientes soldados suecos foram trazidos para ensinar os soldados de Brandenburgo. Aos poucos, eles passaram a ser chamados de os velhos suecos, ou seja, “die alten Schweden”. Com o tempo, a expressão “Alter Schwede” passou a ser usada para expressar surpresa, sendo esse um de seus usos.

Também, na dança, ficaram resquícios da presença sueca na região. Uma delas é a “Schwedische-Quadrille”. Possivelmente, ela possa ter surgido a partir de alguma dança que chegou com os suecos. Algumas versões apresentam ela para quatro  e outras para oito pares.

Outra variação que, aparentemente, não tem relação com os suecos é a canção que acompanha uma das partes da dança. Em um registro, aparece o seguinte texto:

“Schenk mir deine Liebe

und dein treues Herz

ganz aus freiem Triebe

und nicht zum bloßen Scherz.”

Cuja tradução livre seria:

“Me dê de presente o seu amor

e o seu fiel coração

totalmente por livre vontade

e não por pura brincadeira.”

Já um outro registro apresenta a seguinte canção:

“Kennst du die Liebe,

kennst du den Schmerz?

Kennst du mein’n Wilhelm

und sein treues Herz?”

Tradução:

“Você conhece o amor,

você conhece a dor?

Você conhece o meu Guilherme

e seu coração puro?”

Seria esse Wilhelm (Guilherme, em português) algum sueco que ficou pela região? Infelizmente, isso é apenas especulação. Possivelmente, o nome Wilhelm foi escolhido apenas por rimar melhor com a palavra “Liebe”.

De qual canção você mais gostou? Conta aí pra nós! E que tal, na próxima vez que você dançar a “Schwedische-Quadrille”, cantar também a canção?

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 08/08 - Jägermarsch

Na “Jägermarsch” os rapazes fazem gestos obscenos?

Com certeza não! Na “Jägermarsch” - uma dança tradicional do sul da Alemanha, Áustria, norte da Itália e Boêmia - as figuras são até bastante “comportadas” - mesmo que, muitas vezes, os camponeses não o fossem. Mas de onde vem esse rumor?

Primeiramente é importante destacar que a “Marcha do Caçador” - “Jägermarsch” - faz parte de um conjunto conhecido como “Marsch-Walzer”, que nada mais são do que danças que somam uma metade do tempo de marcha e outra de valsa. Estão entre elas a “Sautanz”, “Dürrwanger Liebe”, “Schweinerner”, “Bauern-Francaise”, “Gänsemarsch”, “Schützenmarsch”, “Burgenländische Quadrille”, entre outras.

Na “Jägermarsch” descrita por Karl Horak, por exemplo, os pares marcham no círculo nos primeiros 8 compassos. Depois, se separam, formando dois círculos concêntricos: rapazes por dentro - batendo palmas -, seguindo no sentido anti-horário, e moças por fora, em direção contrária. Após esse período podem se formar novas duplas e estas valsam por 16 compassos. Mas onde existiria obscenidade aqui?

A questão não está na coreografia, mas em um gesto substitutivo às palmas dos rapazes: nesta outra opção eles batem a palma da mão direita sobre a esquerda fechada. O mesmo aparece em outras danças, a exemplo da teatrada “Holzhacker”. Se para a cultura alpina este movimento pode imitar o som desencontrado dos tiros das espingardas, dando sentido ao nome “Jägermarsch”, para o espectador desavisado isso pareceria um gesto rude e de cunho sexual.

Assim, ela não tem nenhuma intenção de ser imoral: é uma interpretação equivocada. Isto ocorre exatamente na falta de compreensão de uma cultura. E por um segmento da população não compreender esses gestos eles devem ser banidos da “Jägermarsch”? Provavelmente não, por mais que poucos dançarinos os usem. De toda forma, é importante haver esclarecimentos… ninguém quer ganhar a fama indevida de obsceno.

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 07/08 - Wolgaster

A Wolgaster é uma dança típica ou uma brincadeira?

Na antiga Pomerânia, em dia de festa, uma multidão se encontrava à tarde na praça. De longe, era possível ouvir os músicos: o baixo, o violino, o clarinete e o trompete. As crianças corriam e brincavam no gramado e os adultos se encontravam em grandes mesas para animadas conversas durante o café da tarde.

Eis que, após o intervalo de uma dança, alguns dos que estavam sentados se levantavam e uma moeda era lançada sobre a mesa dos músicos. Esse era o sinal para tocarem a próxima dança: a de Wolgast.

Em grupos de quatro pares e com muita postura e graça, aqueles homens e mulheres se deslocavam em círculo para a esquerda e para a direita. Dois pares formavam uma torre, enquanto que os outros dois homens giravam graciosamente suas damas pela cintura e as conduziam através das torres.

Porém, parecia que a música trazia à lembrança daquelas mulheres algumas travessuras juvenis. Aparentemente, passar apenas uma vez pelas torres não bastava para elas: queriam atravessar novamente e mostrar para os rapazes que elas conseguiriam fazê-lo sozinhas. Eis que então, após os giros, elas passavam novamente pelas torres, voltando a sua posição inicial. Surpresos, percebiam que, para eles, restara apenas uma torre para a passagem. Assim, os dois grandalhões precisavam se espremer naquele pequeno espaço para voltar para suas damas.

Claro que eles não deixariam por isso. Na próxima figura, ao cruzar com o próximo par, os rapazes rapidamente procuravam a mão da outra moça para formar uma pequena corrente. E ao voltarem aos seus lugares, era possível ver em seus rostos um grande sorriso com a expressão: “Vocês sabem brincar! Mas nós também sabemos!”.

Ao descrever a dança “Wolgaster”, originária da pequena localidade pomerana de Wolgast, no norte da Alemanha, o professor Willi Schultz mostra exatamente o que é a dança típica: um momento de diversão, brincadeira e interação entre os dançarinos.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo do Gartenstadt, de Blumenau-SC, em https://youtu.be/QXk4nv-AlAE . Visite as redes sociais do Der Hut e acompanhe nosso programa de rádio.

 06/08 - Schlamperer

A “Schlamperer” é uma nova dança da Francônia?

Contam de modo anedótico que, se perguntado a alguém da Francônia - região que fica dentro do Estado Livre da Baviera - se este é bávaro, de pronto ele responderia: “não, sou francônio”. Seria o bairrismo.

Foi buscando fomentar essa identidade regional que teria nascido a coreografia da “Schlamperer”. Segundo artigo de Heidi Christ, o Prof. Hans Beier estava na Baixa Francônia nos anos 1950 quando iniciou atividades com o “Volkstanzkreis Aschfeld” e se deparou com a ausência de danças da região.

Beier teria procurado bibliografias e só encontrado de outros locais. Ao contatar a Frankenbund - Liga da Francônia - para pedir publicações sobre Volkstänze regionais, veio uma contraproposta: se ele mesmo poderia escrever algo, já que eles não o tinham. Assim, o professor começou a juntar conteúdos para fazer seu próprio impresso.

Ele recebeu materiais encaminhados por parte da Liga e dados coletados por Hellmuth Hingkeldey. O problema é que mesmo assim as informações seguiam sendo insuficientes. O que fazer? A solução encontrada por Beier foi criar novas danças.

Neste contexto que nasceu a coreografia da “Schlamperer”: Beier teria recebido da Bayerischen Rundfunk - Rádio Bávara -, via Josef Ulsame, material de músicas típicas. Sobre isso, o professor escreveu em 13 de setembro de 1955 à Ulsamer: “O número de danças da Francônia é extremamente baixo. Portanto, desenvolvemos novas [...] para algumas melodias da Francônia que você indicou... A melodia [da “Schlamperer”] causou grande entusiasmo e eu ficaria muito grato a você por melodias semelhantes.”

Assim, em 1957, quando Hans Beier e a Frankenbund publicaram a “Fränkische Tänze” lá estava a “Schlamperer”. Hoje, é uma das mais destacadas danças regionais da Francônia, trazendo também a público sua letra divertida “Mei Schatz, des is a Schlamperer, / dra-diri-di-ru-la-la-la-la”. Quem escuta fica instigado a dançar e a cantar… tanto francônios quanto bávaros.

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 05/08 - Die goldene Brücke

“Die goldene Brücke” é uma dança ou uma brincadeira?

Duas crianças combinam: “Qual fruta você quer ser? Eu quero ser pêra! Eu quero ser maçã!". E, por fim, mais uma decisão: “Você quer ser anjinho ou diabinho?” Depois de tudo acertado, elas se dão as mãos e formam uma ponte. As demais crianças, formam uma fila e passam por baixo. Enquanto isso, todos cantam alguns versos.

Em determinado momento, a dupla que forma a ponte baixa os braços, prendendo um dos participantes. Daí a criança precisa definir qual fruta quer: pêra ou maçã? Conforme a escolha, ela vai para trás de um da dupla e forma uma fila. A brincadeira continua até todos serem pegos.

Por fim, é revelado quem são os anjinhos e quem são os diabinhos. Então, todos os diabinhos saem correndo para caçar os anjinhos, terminando a brincadeira quando todos foram caçados.

Será que isso se passa na Alemanha ou no Brasil?

Com variações em relação à forma de jogar e também à canção, brincadeiras semelhantes a essa são encontradas não só no Brasil e na Alemanha, mas também em outros países.

A descrição acima foi feita a partir da “Passa passará” encontrada em partes do Rio Grande do Sul, mas ela é bem parecida com a alemã “Die goldene Brücke”.

Na “Passa passará”, encontramos esse texto entre algumas variações:

Passa passará

Quem de trás ficará

Seu Martim Pescador

Dá licença de eu passar.

O primeiro, o segundo,

O terceiro, eu vou pegar.

Já na “Die goldene Brücke”, uma das variações apresenta a seguinte canção:

Ziehe durch, ziehe durch

Durch die goldne Brücke

Sie ist entzwei, sie ist entzwei

Wolln sie wieder flicken

Der erste, der zweite

Der dritte muss gefangen sein

Mas é apenas uma brincadeira ou também uma dança? A princípio, é uma brincadeira que é acompanhada de uma canção infantil. Mas, se ela é divertida e todos gostam, é isso que importa.

Conta aí pra nós que outras brincadeiras você conhece! E que tal retomarmos elas com nossos pequenos?

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a “Die goldene Brücke” em https://youtu.be/EI9XuP2l6MY , a  “Passa passará” em https://youtu.be/J7epApBldpI e a “Bom barqueiro” em https://youtu.be/JEeqoFhWtic .

 04/08 - Zillertaler Hochzeitsmarsch

“Zillertaler Hochzeitsmarsch” é pseudo-típica?

Você conhece a “Marcha do Casamento do Vale do Ziller”? Se não reconhece o nome, quem sabe tenha escutado ela como “Dança do Emagrecimento”? Pode parecer estranho, contudo a “Zillertaler Hochzeitsmarsch” já foi - ou ainda é - chamada assim por bandas brasileiras de música alemã. Mas qual sua história e coreografia?

Mesmo sendo antiga, a música da “Zillertaler Hochzeitsmarsch” chegou às paradas de sucesso nos anos 1980 pelas mãos da banda “Zillertaler Schürzenjäger”. Na interpretação deles, ela parece mais uma polca do que realmente uma marcha. Sua coreografia é “moderna”, desse mesmo período, e teria sido feita para atender aos shows do conjunto.

Contam que a melodia dela já transitava, provavelmente desde o século XIX, de modo itinerante, com músicos do Zillertal, região do Tirol austríaco. Por certo tempo teria sido chamada de “Zillertaler Tramplan”, do francês “Polka tremblante” - “Polca trêmula”. O cantor Rolf-Dietmar Schuster, nos anos 1970, lançou “Loß mer jet no Neppes jon” que é incrivelmente parecida com a hoje “Zillertaler Hochzeitsmarsch”. Como ela não tinha um nome oficial, também pode ter sido gravada com outros títulos e ter caído no esquecimento.

E por qual motivo a coreografia é dita “pseudo-típica”? Ganhou esse adjetivo, pois suas figuras não seguem uma estrutura tradicional de dança típica, mesmo que traga algumas formações características. Outro ponto que a diferencia das Volkstänze é a métrica da melodia e sua interpretação em ritmo mais “pop” - ao estilo “Schlager”.

Seria uma questão de tempo para ela se tornar uma dança típica? Nem tudo se resolve esperando… De toda forma, sua fama e popularidade pelo menos já a garantem entre os símbolos das tradições austríacas contemporâneas. Agora é saber como ela será vista no futuro… Pior do que ser associada ao emagrecimento, como acontece no presente, não pode ficar.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a dança com o Zillertaler Schürzenjäger em  https://youtu.be/mXpgqh_SROE . E acompanhe o Boletim Der Hut nas Redes Sociais e na rádio, às quintas-feiras às 20h: www.imperial.fm.br 

 03/08 - Es geht eine Zipfelmütz

“Es geht eine Zipfelmütz” é a dança da carapuça?

Canções e brincadeiras de roda são muito comuns entre diversos povos. Dificilmente, consegue-se identificar o momento exato em que a brincadeira surgiu e qual variação é a original. De qualquer forma, o mais importante é que essas canções contribuem muito para o desenvolvimento das crianças, seja na parte motora, linguística, social ou cultural.

Entre as canções de roda em língua alemã é encontrada a “Es geht eine Zipfelmütz”. Ela é bastante conhecida entre as crianças e apresenta semelhanças com outra cantiga de roda chamada “Es tanzt ein Bi-Ba-Butzemann”. Como exposto acima, é difícil dizer se uma originou a outra ou se ambas têm alguma origem comum.

Como é tradicional em brincadeiras de roda, a própria canção vai dizendo às crianças o que elas devem fazer. Tudo começa com uma delas no centro do círculo representando a “Zipfelmütze” - a carapuça - e os demais cantam que “uma carapuça está andando na roda”.

Na sequência, são cantados alguns números. Os versos podem variar, conforme a versão da canção. Em uma delas, as crianças entoam: “Três vezes três é nove, cada um canta o seu; Vinte é duas vezes dez, a carapuça fica parada, fica parada, fica parada”.

É na terceira parte que a “carapuça” escolhe uma nova criança ou para lhe fazer companhia no centro do círculo ou para substituí-la: “Ela se sacode, ela se chacoalha, ela joga as pernas pra trás de si, ela bate palmas, nós dois somos parentes”. E começa tudo de novo.

É interessante observar que, entre as brincadeiras infantis em língua alemã, existem outras canções que apresentam a carapuça como elemento. E no folclore brasileiro, você conhece algum personagem que usa carapuça? Escreva aí nos comentários, essa é fácil!

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja uma versão da música em https://youtu.be/wj1KOIoKdHo .

 02/08 - Hulaner

A “Hulaner” é a dança dos lanceiros?

Algumas tradições têm sua origem imprecisa, mas isso não as impede de contarem histórias bem preciosas. Um exemplo disto é a “Hulaner”, que é atribuída a diferentes locais e tem no nome uma rica narrativa.

Uma versão da “Hulaner” foi registrada nas proximidades da nascente do rio Oder, no território tcheco. Lá também seria chamada de “Schwingtanz” - “Dança do balanço [da perna]”, sendo vista na Morávia do Norte, no Kuhländchen e no Odergebirge. Já outra variante dela apareceu a quase 560 km daquele ponto, no Kärnten austríaco, como “Soldaten-Landler” - “Landler dos Soldados”. Assim como estaria presente na “Suábia Turca”, área da atual Hungria. Elas se parecem e tem ligação…

Já o nome “Hulaner” viria de “Ulan”/ “Ulaner” / “Uhlanen” / “Ułani”, designação dada a cavaleiros armados com lanças. Seriam derivados da palavra turca “oğlan”, que quer dizer "jovem". Esses soldados teriam se estruturado lentamente a partir do século XVII em áreas da atual Polônia. Há ainda registros da atuação deles na Primeira Guerra Mundial, como uma espécie de infantaria.

E existe uma letra para a melodia da dança. Será que ela fala de campanhas militares ou bravura dos cavaleiros?

O texto, em tradução livre, diz: “Pule duas vezes, gire duas vezes, assim dançamos nós dois a Hulan. A minha mãe traz o bolo para dentro, e nós o comemos juntos. / O bolo eu nunca mais como contigo, ele esfria-me muito os pés. Para minha querida alegro-me mil vezes mais, isso provavelmente nunca mais vai me irritar.” Mesmo que a letra possa ter outros sentidos regionais, com certeza não se parece nem um pouco com um conto de fadas e seus cavaleiros valentes.

E para complicar um pouco mais, as coreografias da “Hulaner” se parecem em demasia com a “Familienwalzer”, muito presente na Dinamarca. Como explicar essas pontes culturais entre locais tão distantes? Acreditar que os lanceiros espalharam essa dança parece improvável - por mais que esses muitos quilômetros de distância possam ter sido cruzados a cavalo… mesmo sem lanças.  

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja uma versão da Hulaner em https://youtu.be/veMalY0astc .

 01/08 - Dr. Seppel

A letra de qual música os suíços sabem melhor: o Hino Nacional ou a Dr Seppel?

Resposta: hino nacional suíço. Este tem suas próprias estrofes em alemão, francês, italiano e reto-românico - ou seja, todas as quatro línguas nacionais da Suíça -, cantadas com a mesma melodia. No feriado nacional de 1º de agosto, alguns suíços fazem uso de uma camiseta com o texto escrito de cabeça para baixo: então você pode ler a letra olhando da barriga até o peito.

Já do “Seppel”, a maioria das pessoas sabe pouco mais do que uma linha: "Dr. Seppel isch en brave Maa" - “Dr. Seppel é um homem bom”. E fica nisso. Seria um dialeto difícil? Mesmo sendo uma música famosa, o texto não é lá muito cantado… pois é desconhecido para a imensa maioria - por mais irônico que isso possa parecer.

A melodia é atribuída a Dominik Kürzi, supostamente de 1845. O texto da “Kapelle Druosbärg-Büeblä” é provavelmente o mais original - https://youtu.be/ObcLymCecFE . Mas existem algumas variantes da letra circulando, também de cantores pop. Como acontece tradicionalmente nas canções populares, o que é cantado também muda com o passar do tempo, sendo adaptado aos acontecimentos atuais e ao “espírito do momento”.

A música de Seppel tem mais de 100 anos, já a coreografia só foi criada em 1970, por Martin Hotz. De toda forma, todos os grupos de dança típicas da Suíça a têm em seu repertório… e ela não pode faltar em nenhum festival de Volkstänze helvéticas.

Visto desta forma, por ser muito famosa, ela definitivamente pode ser comparada à dança “Der Nagelschmied”: todo mundo a conhece. Por outro lado, ao contrário desta - em que vários locais fora da Suíça erroneamente reivindicam ela para si - ninguém questiona a nacionalidade da Seppel. Provavelmente seja por causa do texto… que não se consegue cantar.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a danca em https://youtu.be/krRHj3MZqe4 e escute a versão moderna da canção em  https://youtu.be/oHj83sd6yOY . Siga nossas publicações nas redes sociais do Boletim Der Hut e nosso programa de rádio todas as quintas-feiras, às 20h: www.imperial.fm.br .