Depois de explorar La Paz, fizemos um voo doméstico de 1 hora até Uyuni. A cidade é ponto de partida para se visitar o local mais turístico, mais famoso e procurado da Bolívia - o Salar de Uyuni. No entanto, se não quiserem apanhar voo, se tiverem tempo e/ou preferirem poupar um pouco no orçamento, podem chegar a Uyuni de outras formas:
Os autocarros são o meio mais procurado, sobretudo os que fazem a viagem de noite e vos deixam na cidade de Uyuni a tempo de começar o vosso tour pelo Salar.
O comboio também é uma opção viável, no entanto, se optarem pelo comboio têm obrigatoriamente de apanhar um autocarro que vos leve de La Paz até Oruro e daí apanhar um táxi até à estação de comboios e seguir de comboio até Uyuni. Não sendo a opção mais rápida, mais fácil nem a mais barata, vence as outras em termos da beleza que se vê pelo caminho.
Uma vez que Uyuni não tem grandes motivos de visita, assim que chegámos dirigimo-nos de táxi até ao escritório do nosso guia turístico que nos ia acompanhar nos próximos dias. A lista de opções de visita do Salar é bastante alargada. Nós optámos por uma tour de 3 dias que nos levaria pelo Salar e pela Reserva Natural Eduardo Avaroa.
Este foi o tour que escolhemos através da plataforma GetYourGuide e que aconselho que marquem com alguma antecedência:
Porquê uma visita ao Salar de Uyuni?
Pois bem, a resposta é muito simples. Este salar é “só” o maior e mais alto deserto de sal do mundo (localizado a 3650 m). Com mais de 10 500 km² de superfície, surgiu depois de um lago pré histórico que existia no local ter secado completamente. Querem uma razão (ainda) melhor do que esta? Também tenho. É uma paisagem absolutamente única que todos deviam ter a oportunidade de ver uma vez na vida. Uma experiência extraordinária, mesmo! Vale a pena cada cêntimo gasto…e não foram poucos!
Tour do Salar dia #1:
Saímos por volta das 10h30, num jeep 4x4 (que partilhámos com um jovem casal belga) em direção à primeira paragem do dia - cemitério de comboios - com um pequeno desvio no caminho para abastecimento de alimentos/bebidas (incluídas no preço da tour). O cemitério de comboios é paragem obrigatória para qualquer tour do Salar. O espaço encontra-se a poucos quilómetros do centro de Uyuni e é o maior cemitério do género em todo o mundo com dezenas de vagões e locomotivas (alguns que datam do final do século XIX). Foi desativado a meio do século XX.
De seguida, parámos na povoação de Colchani para conhecer de perto como funciona o processo de produção de sal e seguimos em direção ao Salar propriamente dito. A paisagem muda e, de repente, só se vê branco à nossa volta. Custa acreditar que em poucos minutos passámos de uma povoação poeirenta para o meio de um deserto branco onde o olho ingénuo do turista se sente perdido. Fizemos uma curta paragem junto ao primeiro hotel de sal alguma vez construído dentro do Salar (entretanto desativado) e que fica junto ao “Dakar Monument”. Tirámos fotos e deambulámos pelo espaço. Sabiam que o Rally Dakar passou 5 vezes pela Bolívia, entre 2014 e 2018?
Depois parámos no meio do nada para tirar algumas das fotos mais fixes que temos desta viagem. Tirando proveito do cenário branco à nossa volta, brincámos com a perspetiva e a linha do horizonte. Digam lá, qual gostam mais?
A viagem seguiu em direção à “Isla Incahuasi” (ilha Casa do Inca) - um monte repleto de cactos (alguns chegam a atingir os 12 metros) - no meio do deserto de sal. Pessoalmente, esta “ilha” foi o ponto alto deste primeiro dia de tour porque me fascina particularmente aquele tipo de paisagem.
Com o pôr do sol a aproximar-se, seguimos até um labirinto construído em sal e divertimo-nos à procura da saída, tomámos um vinho tinto boliviano, comemos uns frutos secos e assistimos a um lindo pôr do sol no Salar. Que momento inesquecível!
O primeiro dia deste tour estava quase a chegar ao fim. Andámos mais uns quilómetros até à “guesthouse” onde íamos passar essa noite. Depois de nos instalarmos e jantarmos, estava na hora de tentar descansar pois o dia tinha sido bem preenchido.
Tour do Salar dia #2:
Depois de uma noite mal dormida e um pequeno almoço reconfortante, deixámos o Salar para trás e seguimos viagem em busca de novas paisagens. Primeiro fizemos uma paragem técnica para nos abastecermos de snacks e rebuçados de coca (para amenizar o mal de altura) e aproveitámos para conhecer melhor o grão andino que nos últimos anos tem cruzado fronteiras e conquistado meio mundo. Refiro-me, claro está, à quinoa. A primeira visita programada deste dia era o Mirador do Vulcão Ollagüe (4200 m) e pelo caminho encontrámos muitas lhamas e um caminho de ferro (muito perto da fronteira com o Chile) que ainda hoje é utilizado pelas companhias mineiras que operam na área. Parámos cerca de meia hora no mirador, o suficiente para: ir ao wc, tirar fotos, comprar uma sandes de carne de lhama, fazer uma pequena caminhada pela zona e descobrir as “llaretas”. As llaretas (yaretas ou “azorrella compacta”) são uns “brócolos gigantes” (a imagem mais perfeita para vos explicar é esta!), uma planta nativa das regiões andinas, que cresce em zonas muito altas e que os locais usam, por exemplo, no fogo que fazem para assar carne.
Uns quilómetros mais à frente encontrámos a primeira lagoa das muitas que ainda íamos ter oportunidade de ver nesta viagem. A Laguna Cañapa (4140 m) tem cerca de 1,42 Km² e nela se juntam muitos flamingos, muitos mesmo. Maravilhosos e livres, sem serem incomodados pela presença humana. Que visão!
Depois da Cañapa, mais uma lagoa - Laguna Hedionda - famosa pelas suas cores surreais, pelas centenas de flamingos e pelo cheiro que é, lá está, hediondo (devido às altas concentrações de enxofre). Foi ali que parámos para esticar as pernas, apreciar a paisagem e almoçar.
A viagem seguiu em busca de mais paisagens maravilhosas. Primeira paragem pós almoço: Laguna Honda (4114 m) e os seus belíssimos tons de azul, rodeada de picos nevados. A caminho da última lagoa do dia - Laguna Colorada - (já dentro da Reserva Natural Eduardo Avaroa) ainda tivemos tempo de conhecer as “vizcachas”: uma espécie que pertence à família das chinchilas mas que mais se parece com um coelho. Super energéticas, fotogénicas e sempre prontas para comer.
Pudemos ainda conhecer a famosa “árvore de pedra” e outras formações rochosas esculpidas pela erosão. Em pleno deserto de Siloli, dentro da Reserva Natural, encontra-se então a famosa “árvore”, declarada património natural da Bolívia. Com cerca de 7 metros de altura, esta rocha vulcânica tem sido esculpida ao longo dos séculos graças à ação do vento que traz consigo areias e partículas de sal. Hoje em dia, este lugar é paragem obrigatória em qualquer tour do Salar de Uyuni que dure mais do que um dia. O deserto de Siloli, muito semelhante ao deserto de Atacama do outro lado da fronteira (Chile), é um dos mais áridos do mundo. A paisagem é simplesmente fascinante e mágica.
A Laguna Colorada (4278 m), ali bem perto, é outra paisagem indescritível e, acreditem, começam-me a faltar adjetivos para descrever as paisagens do planalto andino boliviano. O nome “colorada” advém dos seus tons vermelhos/acastanhados, fruto dos sedimentos encontrados nas suas águas.
Final do segundo dia da tour. Ficámos alojados em mais uma “guesthouse” bastante básica: sem aquecimento, casa de banho partilhada e sem eletricidade a partir das 20h. Pelo menos tínhamos água, tínhamos comida, tínhamos sacos-cama e cobertores pesadíssimos para nos aquecermos. No meu caso, tive também muitas dificuldades em descansar devido ao mal de altura. Para terem noção, o simples facto de me mover na cama me deixava sem ar e tive que dormir quase sentada.
Recomendações:
A melhor altura para visitar o Salar não existe, isto é, podem optar por ir na época seca (abril a novembro) ou durante os meses de maior precipitação (dezembro a fevereiro). A diferença está naquilo que vão encontrar: por um lado, um salar espelhado devido às chuvas permite fotos ainda mais bonitas; por outro lado, o excesso de chuva pode impedir-vos de aceder a determinadas zonas do Parque Natural Eduardo Avaroa.
Façam a consulta do viajante se forem para zonas tropicais ou se nunca estiveram a grande altitude. A presença de dengue na Bolívia é bem real e o mal de altura não é para ser encarado de ânimo leve.
Não tomem água da torneira em nenhuma parte do país pois não é potável.
O balanço final desta aventura por terras bolivianas é muito positivo. Foram 5 dias bem preenchidos, cubrimos muitos quilómetros e aprendemos bastante. Temos perfeita consciência que vimos apenas uma ínfima parte de tudo o que a Bolívia tem para oferecer ao viajante/turista. O pouco que vimos, no entanto, conquistou-nos. A Bolívia é um dos destinos mais autênticos, exóticos e baratos da América do Sul, com uma rica herança cultural mas, ao mesmo tempo, subvalorizado em termos turísticos.
Pessoalmente vim de lá com uma missão muito especial: divulgar a Bolívia e os seus encantos aos meus contactos. Se eu conseguir convencer, nem que seja uma pessoa, que vale a pena conhecer este país, já sinto que valeu o esforço de escrever estes textos. Aliás, a reação de muitas pessoas às minhas publicações nas redes sociais só veio comprovar o que eu já pensava: a maioria nunca ponderou conhecer a Bolívia, mas depois de ver as minhas fotos/vídeos, ficou com vontade de viajar até lá.