Bolívia
(parte I)
(parte I)
Vais à Bolívia? Porquê? Não tem nada interessante para conhecer. A sério? Não preferes ir a outro sítio? Não preferes ir a Miami? Eu sempre que posso vou a Miami. Vais fazer o quê em La Paz? Não há nada para ver lá.
Estas (e outras semelhantes) foram algumas das reações que escutei quando disse que ia visitar a Bolívia. E por isso, surgem duas dúvidas: por que motivo há este preconceito em relação à Bolívia; e será que vale mesmo a pena visitar a Bolívia? Bem, na minha cabeça nunca houve qualquer dúvida, mas hoje a minha missão é mostrar-vos que vale realmente a pena conhecer este país.
Factos:
A Bolívia encontra-se na América do Sul, não tem litoral e faz fronteira com cinco países: Peru, Chile, Argentina, Paraguai e Brasil. Na Bolívia vivem cerca de 12 milhões de pessoas que se concentram, maioritariamente, em 3 grandes cidades: Santa Cruz de la Sierra, La Paz e Sucre. É um país com duas capitais. A capital constitucional (estabelecida na Constituição do país) é Sucre e aí se concentra o poder judicial; a capital administrativa é La Paz e é sede governamental e capital cultural. A moeda oficial é o “boliviano” e os idiomas oficiais são (à semelhança do Peru): Castelhano, Quechua e Aimara.
Neste país há de tudo, para todos os gostos. A diversidade geográfica é impressionante: a Cordilheira dos Andes com os seus picos nevados, a floresta amazónica, os desertos, os vulcões, os lagos e o planalto andino. A juntar à diversidade geográfica, a diversidade da fauna e flora fazem da Bolívia um dos 8 países mais ricos do mundo em biodiversidade. Este facto impressiona ainda mais se pensarmos que no seu território existem 7 biomas, 36 regiões ecológicas e 205 ecossistemas. E quando estamos perante um país assim, só podemos pensar em mil e um motivos válidos para o visitar.
Regime de entrada:
Para entrar na Bolívia os portugueses necessitam de passaporte válido por seis meses ou mais e não necessitam de visto para estadias curtas de turismo. Existe risco de malária, dengue e febre amarela nas zonas tropicais. As autoridades bolivianas exigem a apresentação da vacinação da febre amarela se vierem de um país de risco. No nosso caso, como vivemos no Peru, tivemos que fazer a vacinação mas nunca nos foi pedido o certificado.
Viajámos de Lima a La Paz num voo noturno (o único voo diário que fa z esta rota) e chegámos a La Paz, de manhã cedinho (6 da manhã), ao Aeroporto Internacional El Alto que fica a 4061 metros acima do nível do mar e a cerca de 18 km da capital. De acordo com a Wikipedia (vale o que vale, gente!), este é o quinto aeroporto mais alto do mundo. E sentiu-se! Sentiu-se, logo à chegada, a dor de cabeça a formar, a respiração a alterar e o cansaço imenso…e acreditem que não era só por não termos dormido (quase) nada. O mal de altura é real, senhores, e eu sofro imenso de cada vez que me meto nestas aventuras nas alturas. Mas adiante…
Depois de arranjarmos internet móvel, rumámos ao nosso hotel e tivemos a sorte de nos terem oferecido “early check-in”, que veio mesmo a calhar. Duas horitas de sono, 3 chás de coca e uma dificuldade imensa para abrir os olhos depois, saímos do hotel decididos a explorar La Paz…a pé! Contra todas as recomendações porque nas primeiras horas os esforços são de evitar para não piorar os efeitos do mal de altura. Mas vão lá explicar isso ao meu querido marido! Ainda assim, e devagarinho, fomos subindo a avenida em direção ao centro e, aos poucos, explorando a cidade.
Primeiras impressões da cidade, perguntam vocês? Pois bem, a cidade vista do avião (e na viagem do aeroporto até à parte central) impressiona pela sua dimensão, pela construção das suas casas e a disposição dos seus bairros, ao longo dos vales que a compõem, sempre com o Nevado Illimani (6438 m) a supervisionar lá de longe. As famílias mais abastadas vivem na zona mais baixa e na zona mais moderna (a sul), ao passo que as pessoas com menos rendimentos vivem nas zonas mais altas em casas de tijolo, de deficiente construção que, na maioria dos casos, não são pintadas.
A cidade fica a 3650 m e por isso ganhou o título de metrópole mais alta do mundo. La Paz de pacífica só tem mesmo o nome. Sendo uma capital e, ainda por cima uma mega metrópole, é caótica e ruidosa mas tem alguns atrativos que valem a pena visitar. E não é, de todo, perigosa. Há que ter os cuidados típicos de quem anda numa grande cidade, mas a Bolívia é considerada um dos países mais seguros da América Latina por isso não há mesmo motivos para não visitar. Ainda assim, convém ter cuidados, sobretudo com o trânsito que prima pela desorganização e pelo desrespeito pelos peões e pelas regras.
La Paz: o que visitar?
A zona do centro histórico vale a pena explorar, sempre a pé, para não perder os pequenos recantos encantadores que se encontram por lá. Por aí vão encontrar vários museus interessantes (Museu Nacional de Etnografia e Folclore, Museu Nacional de Arte, Museu de Instrumentos Musicais da Bolívia, Museu da Coca, etc), galerias de arte (sobretudo na Calle Jaén), a Plaza Metropolitana Murillo (onde se concentram vários edifícios governamentais e a Catedral Metropolitana), a Plaza Mayor de San Francisco (com a sua bonita Basílica) e o Mercado de Bruxas que também fica lá perto. Sobre este último, preciso de falar mais um bocadinho porque a mim me pareceu mais uma “tourist trap” do que outra coisa qualquer. Supõe-se que se trata de um mercado de rua onde se vendem poções, ervas e outros elementos místicos como os “animalitos” (animais pequenos - lhamas, sapos, serpentes, tartarugas - que, à partida, morreram de causas naturais, que são preservados e usados para decoração, em festivais e rituais vários). No entanto, nós andámos por lá a deambular e vimos apenas 2 lojas com este tipo de artigos. As restantes só vendiam os típicos “souvenirs” para turistas.
Claro está que não visitámos todos estes lugares no pouco tempo que tivemos para conhecer La Paz, mas ainda assim aqui vos deixo estas recomendações. De igual modo, há outros locais/atividades que gostaria de destacar:
Um saltinho à “estrada da morte” (assim denominada pela quantidade de acidentes mortais que nela se deram) para um pouco de turismo de aventura. Hoje em dia esta estrada está fechada à circulação rodoviária e serve para várias atividades, nomeadamente descer de bicicleta os seus mais de 3 km. Se desconhecem e querem ficar a conhecer um pouco mais sobre esta famosa estrada, em tempos conhecida como a mais perigosa do mundo, podem ler este artigo super interessante https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/vert-tra-61345406.amp
Percorrer o sistema de teleférico mais alto do mundo devia estar na vossa lista de atividades imperdíveis em La Paz. Bom para descansar as pernas depois de tanta caminhada, bom porque é um sistema que abrange as cidades de La Paz e El Alto, bom porque se consegue uma excelente panorâmica de toda a cidade e bom porque é de uso fácil e barato. Para mais informações podem aceder a este link https://www.miteleferico.bo/nuestras-lineas/
Visitar o Valle de la Luna, na zona sul da cidade. Trata-se de uma área protegida que foi batizada pelo próprio Neil Armstrong (para quem não sabe, foi o primeiro homem a pisar a superfície lunar) que ao ver a paisagem a considerou muito parecida à Lua. De facto, foi uma paisagem surreal e “de outro mundo” aquela que vimos e recomendamos muito a visita. Os bilhetes custam €2 (adultos) e €0.15 (crianças).
Alojamento:
Para as duas noites que passámos em La Paz escolhemos ficar alojados no Ritz Apart Hotel na zona de Sopocachi. De fácil acesso para quem vem de/vai para o aeroporto. Não sendo um hotel extraordinário, cumpriu as suas funções, boa relação qualidade/preço e bem localizado.
Alimentação:
Sempre que viajámos para algum país desconhecido, fazemos questão de provar a culinária local porque acreditámos que também é uma excelente forma de conhecer um país. A Bolívia, ainda que não seja famosa por nenhum prato em especial, tem algumas iguarias que provámos (e outras que não tivemos oportunidade de provar) e sobre as quais tenho de vos falar. Para começar, as "salteñas" e as "tucumanas": duas comidas de rua, parecidas com as nossas empadas. As "salteñas" são tipicamente bolivianas e têm normalmente recheio de carne de vaca ou frango, ovo cozido, batata, ervilhas, azeitonas e um molho picante. As "tucumanas" são uma importação da vizinha Argentina e são geralmente mais pequenas, menos suculentas e o seu recheio também é ligeiramente diferente: carne de vaca, cebola, cominhos e pimenta moída. Ambas valem a pena!
Outro prato típico é a "sopa de maní": uma sopa contundente cujo ingrediente principal é o amendoim. Sabiam que o amendoim foi inicialmente cultivado na América do Sul e só nos séculos XVI e XVII é que foi levado para África e para a Europa pelos portugueses e espanhóis? Pois bem, esta sopa é bem nutritiva e ótima para aqueles dias de frio em que tudo o que queremos é uma sopinha reconfortante, senão vejam a lista de ingredientes: carne de vaca com osso, ervilhas, cebola, tomate, alho, salsa, batata, massa e, claro está, amendoim.
Por último, mencionar a cerveja boliviana - Huari - que nos pareceu bastante boa também.
Curiosidades sobre a Bolívia:
tem a maior percentagem de população indígena da América do Sul (62% da população);
as lhamas servem como animal de carga e também para comer;
o animal nacional é o condor andino;
em La Paz encontram-se o campo de golf e o campo de futebol profissionais a maior altitude do mundo;
possui o maior depósito de lítio a nível mundial;
o "cholita" é o chapéu símbolo da cultura boliviana;
produz coca em quantidades industriais; a folha é usada de forma tradicional para combater o mal de altura, sobretudo em chás, mas é também usada de forma ilegal para obter cocaína;
o senado aprovou a "Lei da Mãe Terra" (em 2012), declarando a Natureza um ser vivo dinâmico, que deve ser cuidado e preservado por todos; esta lei "confere à Terra o caráter de sujeito coletivo de interesse público, a fim de garantir os seus direitos"(https://proximofuturo.gulbenkian.pt/observatorio/pachamama-a-lei-da-mae-terra)
Muito mais há para falar sobre a Bolívia, em geral, e sobre a nossa viagem, em particular, por isso fiquem atentos à segunda parte deste texto que irá ser publicada brevemente. Aí poderão encontrar todas as informações úteis sobre o Salar de uyuni e a Reserva Natural Eduardo Avaroa.