Olá a todos desde Lima, Peru.
Cumpriu-se o sonho de um dia viver na América do Sul. Depois de termos visitado o Brasil há 15 anos, de termos tido em cima da mesa possibilidades como Colômbia, Chile e Equador, quis o destino que o Peru fosse a nossa casa para os próximos 4 anos. Alguns de vocês já sabem o quanto ficámos felizes com a notícia. Depois de 2 anos, 3 meses e 7 dias a viver em Jacarta, esta mudança de ares está a saber muito bem.
Chegámos há 16 dias, num domingo de sol, após 48h de viagem desde o outro lado do mundo. Ainda em Jacarta estivemos por um triz de não embarcar porque à última da hora, em pleno check-in, descobrimos que necessitávamos de vistos ESTA para entrar em espaço norte-americano. Sim, viajantes frequentes que somos, devíamos saber que isso era necessário mas nunca pensei que o fosse porque íamos estar apenas em trânsito no aeroporto JFK em Nova Iorque. Foi todo um filme triste e desesperado que podia ter corrido pior. Assim à boa maneira de filme de Hollywood, cinco minutos antes de o check-in fechar, recebemos os nossos vistos e pudemos seguir viagem.
Depois de uma viagem de 9h10m de Jacarta para Doha, outra de 14h10m de Doha para Nova Iorque, mais uma de 10h25m de Nova Iorque para São Paulo (Brasil) e finalmente a última de 5h de São Paulo para Lima (sem contar com as horas de espera entre voos nos diferentes aeroportos) … chegámos rotos mas tão felizes por termos conseguido cá chegar que, em vez de cairmos na cama, saímos para conhecer e sentir o vibrar da cidade. Caminhámos imenso a pé para desenferrujar as articulações, fizemos um piquenique improvisado junto ao Oceano Pacífico e abrimos uma garrafinha especial para comemorar a ocasião.
Os últimos 15 dias têm sido passados a conhecer o distrito de San Isidro e um pouquinho de Miraflores também. Estamos alojados temporariamente em San Isidro numa zona residencial muito tranquila e bonita. Temos vários parques a poucos minutos a pé, as ruas têm passeios e a temperatura lá fora tem estado nuns agradáveis 21°C.
Após visitar mais de meia centena de apartamentos, lá conseguimos eleger um. Acho que tem tudo o que queríamos e estamos muito entusiasmados. A ver se conseguimos mudar antes do Natal.
Quem também já se mudou e juntou a nós em Lima foi a nossa Miquinhas. Mais um processo duro, de muito stress envolvido, mas eu decidi arquivar esse episódio na minha memória. Interessa que ela já cá está, bem de saúde e a família junta novamente.
O trabalho dele (a razão pela qual cá estamos) está a correr bem, dentro do que seria expectável. Por causa da Covid-19 o país está a meio gás e lá no trabalho não é diferente. Para já o trabalho é sobretudo feito online.
Primeiras impressões:
- Lima não é só San Isidro e Miraflores. Para lá da “bolha expat” em que vivemos há uma cidade gigantesca e muito menos agradável. Há bairros sociais, há bairros de lata que rivalizam com algumas favelas brasileiras, há crime e muita pobreza. Há um país a lutar por sobrevivência após meses de confinamento.
- Por cá imperam os papéis. Não me parece que o país esteja equipado com meios para se tornar mais amigo do ambiente num futuro próximo. Para qualquer coisa oficial são precisos 30 papéis, outras 40 fotocópias e mais 60 assinaturas.
- O peruano adora o seu cão. Que bela mudança de ares depois de Jacarta onde raramente se viam cães. Por aqui há cães de todos os tamanhos e raças a passear nas ruas e nos parques. E os donos são super cuidadosos pois limpam sempre os cocós dos seus amiguitos.
- Há bacalhau!! Ó-Meu-Deus! Há bacalhau! E a prova é que hoje mesmo fiz um bacalhau à espanhola que estava delicioso. Eheheheh E também há cabrito, frango com aspeto saudável, peixe, queijo fresco, salsichas e fiambre de porcos verdadeiros (!!), chouriço e tostas portuguesas. Também ouvi dizer que há pastéis de nata, pão com chouriço, broas de milho e Bolo-rei mas ainda não consegui confirmar! A ver se no próximo texto já temos mais novidades gastronómicas para vocês.
- San Isidro (e outros distritos) tem ciclovias (ou estão em fase de construção). Parece que é desta que vou começar a dar uso à bicicleta que ainda não comprei! A dele e as dos miúdos vêm a caminho (no contentor) mas a minha era tão velhinha que vou ter direito a uma nova. O problema é que as bicicletas por cá estão a modos que quase esgotadas. Aguardemos.
- Os parques. Eu sei que já mencionei aqui os parques mas nunca é demais. Parques + ausência de mosquitos + ausência de poluição é aquela fórmula de sucesso garantido. Como não gostar?
- O trânsito. Dizem que é caótico. Dos piores do mundo. Que ainda não vimos nada porque o país ainda está a meio gás, muitos negócios fechados, miúdos sem ir à escola, etc e tal. Eu não sei. Vou esperar para ver porque para já isto está a parecer-me muito pacífico.
- Lima é mundialmente famosa pelo seu manto de neblina que a cobre uma boa parte do ano. Confesso que não estava à espera de encontrar tantos dias de sol seguidos,
mas ainda bem que o astro rei aí anda sem vergonhas.
- Ceviche e lomo saltado. Os únicos dois pratos tipicamente peruanos que comemos até agora. Não está fácil ir aos restaurantes quando há uma regra que impede menores de 12 anos de os frequentar. Não contem a ninguém mas conseguimos, ainda assim, ir a dois e almoçar em família mas tiveram que nos pôr numa zona afastada, num deles ao ar livre e no outro junto a uma janela e num piso onde não se encontrava mais nenhum cliente. Enfim...é o que é, são as regras. Por muito que não concordemos, pouco podemos fazer.
- Os peruanos são lutadores. Em duas semanas já deu para ver muito do carácter guerreiro deste povo. No dia seguinte à nossa chegada houve um suposto “golpe de estado”. Há quem lhe dê outra nome mas interessa é que percebam a ideia. Pois que o povo não se calou nem se deixou ficar a ver no que ia dar o novo executivo. Meteu pés ao caminho e foi reclamar. Uma semana de protestos culminaram em dois mortos e dezenas de feridos mas o executivo vigente saiu e quem lá está agora agrada ao povo e tudo voltou à normalidade até às eleições - que serão em abril do próximo ano.
- Passarinhos e esquilos. Como é que eu me ia esquecendo de vos contar que há imensos pássaros de cores giras e esquilos curiosos a atravessar os cabos elétricos?
E, pronto, o primeiro texto deste novo blog aqui está. À semelhança dos anteriores, fico a aguardar as vossas dúvidas e comentários.
Sejam bem-vindos! Gosto muito de vos ter desse lado.
Até breve.