Terminou a aventura no Peru. Ao fim de quatro anos e meio encerrámos um dos capítulos mais interessantes desta vida de expatriados. Vamos a caminho de Portugal para abraçar família e amigos, mas uma parte do meu coração ficou na América Latina e já sonha com o regresso.
Lima nunca esteve nos planos, mas o desejo de um dia viver algures na América Latina esteve sempre ali à espreita. Quando nos foi dada essa oportunidade, abraçámos uma vez mais a mudança e, terminada que está esta aventura, há alguns pontos que quero realçar.
Em primeiro lugar, posso afirmar que dois dos meus principais objetivos foram cumpridos durantes estes últimos quatro anos:
Melhorei o meu “portunhol” (eheheheh)
Explorei o Peru como queria e como ele merece
O povo português tem uma capacidade maravilhosa de se adaptar e de se aproximar de outros povos. Aprender novas línguas não é um "bicho de sete cabeças" para nós. Podemos não falar bem, mas desenrascamos conversas. Chegamos a Espanha e automaticamente acionamos o "portunhol". Quantos espanhóis ouviram vocês a fazer o oposto? Daí que, como bons portugueses que somos, chegámos a Lima e acionámos o nosso "portunhol" e isso levou-nos a fazer amizades bonitas e a ultrapassar imensos obstáculos. Do Chile ao México, de Espanha às nossas empregadas (amigas) venezoelanas, os nossos amigos foram os nossos professores diariamente. Não há melhor maneira de aprender uma língua.
Vivemos ao máximo este destino sonhado por tantos por esse mundo fora. Milhões de turistas chegam ao Peru anualmente para descobrir a sua beleza e cultura e experimentar a sua comida deliciosa. Nós fomos os sortudos que vivemos isso tudo durante quatro anos. Conhecemos várias regiões do país, explorámos a costa, a serra, a selva e o deserto. Fomos de Punta Sal (bem ao norte) até ao Vale do Colca (no sul) e passámos por Puno, Arequipa, Cusco e o Vale Sagrado dos Incas, Oxapampa, Lunahuaná, Ica, Paracas, Pisco, Nazca, a Cordilheira Branca (Huaraz) e, por fim, a Amazónia. Se podíamos ter explorado mais? Com certeza! Pessoalmente teria adorado repetir alguns destinos (sobretudo o Vale Sagrado), mas a América é tão extensa e o apelo de outros países maravilhosos sobrepôs-se. Ficaram vários objetivos por cumprir em termos de viagens, mas isso só reforça a vontade de um dia regressar e continuar a explorar aquela parte do mundo. Ficou por visitar o Equador, por exemplo, a Ilha de Páscoa no Chile, revisitar o Brasil, explorar a Nicarágua, as Honduras, a Venezuela, etc. Ainda assim, conseguimos passar 3 semanas na Colombia, desfrutámos da beleza natural da Costa Rica e da Bolívia, explorámos as praias de Aruba, passeámos pelo Uruguai, calcorreámos o "Casco Viejo" da Cidade do Panamá e surpreendemo-nos com a Guatemala. E, sobretudo, vivemos intensamente a Patagónia, um dos meus lugares favoritos em todo o mundo.
Peru nem sempre foi um destino fácil. Lima, “la gris”, cobriu-nos o espírito com o seu manto cinzento e deitou-nos abaixo algumas vezes mas, juntos, conseguimos dar a volta por cima. O trânsito caótico e a sensação de inseguridade, os desafios pessoais e profissionais, desgastaram-nos, é certo, mas com a ajuda da família e de bons amigos (longe e perto), demos a volta por cima e saímos fortalecidos e unidos. Conseguimos não ter acidentes de viação nem ser assaltados (uma sorte considerando o estado atual da capital peruana), mas tivemos de despedir-nos da nossa Miquinhas - companheira de 18 anos - o momento mais negro da nossa passagem por Lima.
Felizmente o saldo desta aventura é bastante positivo. Nós e os nossos filhos fizemos amigos para a vida e estamos mais do que preparados para os próximos desafios. A bagagem emocional e as aprendizagens que acumulámos ao longo destes anos que temos estado a viver fora prepararam-nos bem para o que o futuro nos reserva. A partir daqui a família divide-se: Addis Ababa e Sydney, estamos prontos para as novas aventuras!