Novo texto, atrasadíssimo como sempre, mas desta vez tenho uma excelente desculpa: contentor! Aquilo por que tanto aguardei, ao longo de quase quatro meses, chegou finalmente.
Ainda a equipa de Jacarta estava a embalar as nossas coisas e eu já estava com saudades delas. Seria de esperar que a minha paciência já estivesse bem oleada e treinada para suportar estes meses de espera mas vai-se a ver e não – um redondo Não! Várias foram as vezes que desesperei com os atrasos e as desculpas. Pelo menos não andou perdido algures no Oceano Pacífico como acontece a muita boa gente. Chegou tudo bem acomodado e intacto, à exceção de uma travessa de barro já velhota…paz à sua alma!
Enfim, quatro meses depois de termos cá chegado, posso dizer que tenho a casa organizada e já sabe a lar e não apenas a uma casa que se arranjou por tempo determinado…e ficou prontinha mesmo a tempo do início das aulas.
Pois é, semana passada começaram as aulas. Aqui o ano letivo vai de março a dezembro e divide-se em bimestres. Para já o que se sabe com certeza é que o primeiro bimestre (março a inícios de maio) será totalmente online. A partir daí só Nosso Senhor saberá. Na verdade, a decisão de retomar as aulas presenciais ou, pelo menos, num sistema híbrido, depende de muitos fatores externos às escolas em si, nomeadamente: plano de vacinação (muitos professores recusam-se a ir trabalhar presencialmente sem terem sido vacinados), número de casos Covid, condições sanitárias nas escolas (para receber os alunos e staff) e o governo que estará a comandar o país nessa altura (sabendo que em abril há eleições gerais). Basicamente é esperar para ver as cenas dos próximos capítulos.
Quanto às aulas em si, os miúdos não estão encantados por ter aulas online novamente (lembro que andamos nesta vida desde 16 de março de 2020), mas aqui a mãe está contente por vê-los com uma rotina diária mais estruturada - que não tinham desde que entraram em “modo férias” a meios de dezembro. Apesar de toda a frustração associada a tê-los em casa e ao facto de não poderem brincar presencialmente com outros miúdos, prefiro não desanimar e pensar que, apesar de tudo, são felizes. Não é a situação ideal, é verdade; há miúdos noutras zonas do mundo que podem ir à escola, é verdade; mas também é verdade que há muita criança por esse mundo fora que não tem acesso a nada, que não tem acesso a água potável, luz, cuidados primários de saúde, quanto mais internet, computador ou aulas online. Crianças espalhadas pelo mundo e aqui tão perto de casa. Não é preciso andar mais de meia hora de carro para encontrar casos desses no Peru, crianças esquecidas nesta pandemia. Por isso, quando me sinto mais frustrada com tudo isto, penso nessas crianças e digo sempre aos meus que devem estar gratos por poderem continuar a aprender, por continuarem a ter uma casa, saúde e família. Uma grande lição de vida…
Paralelamente às aulas em casa, lá fora a vida anda aos soluços. Ora entramos em confinamento, ora entramos em “desconfinamento”, ora podemos sair aos domingos, ora não podemos sequer pôr os pezinhos fora de casa aos domingos. O Peru tem sido dos países com maior dificuldade em lutar contra o novo vírus. Há falta de profissionais de saúde (muitos morreram infetados), há falta de camas, falta de oxigénio, falta de dinheiro para fazer face às despesas inerentes ao combate à pandemia e para ajudar quem perdeu emprego, casa e uma fonte de rendimento que lhe permita pôr comida na mesa todos os dias. O cenário não é único a nível mundial mas há agora nova esperança com a chegada dos primeiros lotes de vacinas. Pessoal de saúde, militares, polícias e bombeiros já estão a ser vacinados. Ontem começaram a vacinar os +80.
“Covids” à parte, continuamos sem carro. Acho que já vos disse que está escolhido e até pago…O que é que falta, perguntam vocês?! Então, já deviam saber…faltam as 358 assinaturas e respetivas 1074 fotocópias para dar o ato de compra como concluído e legal. Enfim…😶😶
À falta de carro, temos usado a bicicleta para dar umas voltas. A ciclovia que passa em frente a nossa casa está prontinha. Já dei umas voltas com a minha bicicleta nova e sinto-me cada vez mais confiante para enfrentar outros ciclistas e manobrar ao pé de carros e pessoas. Também estive um bocadito parada em termos de caminhadas mas retomei a sério esta semana. Está na hora de abater uns quilitos extra e ocupar as primeiras horas da manhã. E depois…com este cenário magnífico mesmo à porta de casa, é um crime não sair e aproveitar o sol. Só de pensar que daqui a pouco ele se vai e só volta lá para outubro outra vez...não é ao acaso que Lima é conhecida como “la gris”, ou seja, “a cinzenta”. Um facto comprovado e com uma explicação científica que prometo explicar-vos no próximo texto. Para já eu sei que vocês querem mesmo é espreitar a casa nova, certo?
Et voilà! Um cheirinho do nosso cantinho limenho.