Eu sei que prometo sempre escrever para breve mas depois isso nunca acontece. Mais de um mês passou desde que escrevi o primeiro texto desta saga. A ver se me organizo melhor e se vos consigo dar notícias mais amiúde.
As primeiras semanas de reconhecimento do terreno já lá vão. Há muitas coisas que já são rotina, outras às quais nos estamos a tentar adaptar e ainda outras que não eram realidade no primeiro texto mas que o são agora. Vamos lá por partes para ver se me faço entender.
Comecemos pelo apartamento: o tópico que tem suscitado maior curiosidade. Tinha dito que já tínhamos elegido um e que o que mais desejávamos era passar o Natal na nossa casinha “nova”. O nosso apartamento semi-novo passou a ser nosso dia 8 de dezembro, precisamente um mês depois de cá termos chegado. Podia discorrer aqui sobre todo o processo de busca de casa, as visitas aos 3784 apartamentos (com dois atrelados menores e rabugentos) tentando seguir todos os protocolos de segurança; podia falar sobre o facto de termos visitado este precisamente no dia em que foi colocado no mercado do arrendamento e numa altura em que o desespero já se começava a instalar aqui nesta que vos escreve; podia até mencionar ao de leve todos os trâmites legais, as 50 mil assinaturas necessárias e as respetivas fotocópias mas vocês não estão interessados nisso. Olhem… nem eu, que isso são coisas muito aborrecidas de se saber. Sendo assim, posso referir que é um duplex com quartos suficientes para nós e um quarto de hóspedes para quem quiser arriscar e vir visitar-nos. Eu dizia-vos para virem já mas o Perú fechou fronteiras aos voos europeus por isso deixem-se estar aí mais algum tempo que isto do Covid está para durar e a vacina por cá parece que não vai chegar tão cedo. Mas voltando ao que interessa… o apartamento conta ainda com um belo terraço, zona de churrasco e piscina (as más línguas dirão que é apenas uma “banheira”) e uma vista fabulosa dos distritos costeiros de Lima, desde Magdalena del Mar até Chorrillos. Fica numa zona bastante bem localizada, a 3 minutos a pé de um parque e a 5 do mar e também temos vizinhos VIP como as Embaixadas da Rússia, Suíça, Malásia, Costa Rica, India, República Dominicana e outras. Não me posso queixar de nada, a não ser do nosso contentor ainda não ter chegado com toda a nossa vida embalada em 60 e tal caixas. Mas até isso faz parte do processo e dou por mim surpreendida com a minha capacidade de adaptação e a, sempre renovada, paciência para lidar com atrasos e viver uma vida de campismo entre paredes.
Morar tão perto do mar traz vantagens e desvantagens. Em Lima as desvantagens prendem-se com o manto de nevoeiro que todos os dias nos envolve ao acordarmos. Durante boa parte da manhã o sol tem muita dificuldade em dar um ar de sua graça e há dias, como o de hoje, em que esse manto teima em manter-se o dia todo. À medida que nos afastamos da costa conseguimos disfrutar do sol mas para isso é preciso fazer muitos quilómetros, de carro, e viver numa zona totalmente diferente, perto das montanhas e, consequentemente, longe do trabalho dele e da escola dos garotos. Como tal, ficar aqui também tem o seu lado positivo. Posso caminhar junto ao mar todos os dias se quiser e posso voltar a sentir o cheirinho do mar bem cedo quando abro as janelas de casa para arejar…coisa impensável de ser fazer em Jacarta sob pena de ser consumida viva por milhares de mosquitos e levar com níveis elevados de poluição pelas narinas adentro.
E por falar em caminhadas, desengane-se quem pensa que estou aqui uma atleta de primeira e “elegantérrima”. Sim, é verdade que tenho aproveitado para caminhar bastante (outra coisa que não podia fazer em Jacarta com medo de ser abalroada por motos e carros, atirada para dentro dos esgotos a céu aberto ou mesmo derreter debaixo das altas temperaturas). As caminhadas têm-me permitido conhecer muitas ruas bonitas e muitos parques, são ótimas para desanuviar e apreciar o mar e a vida. E, além de tudo isso, têm também servido para equilibrar o consumo excessivo de comidas deliciosas.
A comida peruana é mesmo uma maravilha e eu sou uma gulosa curiosa que tem que experimentar de tudo. O meu amor pelo ceviche e o lomo saltado continua mas desde o meu último texto descobri outras iguarias não menos deliciosas: causa, chicharron, pollo a la brasa, tiradito, tequeños de queso, picarones e suspiro a la limeña. A lista é grande e nem sequer estou a incluir bebidas. As minhas favoritas até agora são a chicha morada e o pisco sour.
Por falar em comida, eu já vos contei que há bacalhau, certo? Este Natal consegui, apesar de longe, cumprir a tradição de família do belo bacalhau na Noite de Consoada. Não faltou (quase) nada e tudo feito por mim! É certo que a nossa árvore de Natal tinha cerca de 30 cm mas ainda assim conseguimos comprar um belo presépio com motivos da região de Cusco (Perú) onde não há o burro, a vaca ou as ovelhas mas há duas alpacas fofinhas a aquecer as palhinhas do Menino Jesus. Foi um Natal diferente, sem o resto da família por perto mas estou muito grata por poder fazer o nosso primeiro Natal em Lima, na nossa casa e com saúde.
Antes do Natal ainda tivemos oportunidade de ir passar uns dias à Costa Norte do Perú, mais precisamente a Máncora. Pois que esta região não é Bali, isso eu já sabia. Não me desiludiu pois até não ia a contar com grandes praias mas gostei bastante da maior parte das coisas que vi. Gostei de todas as comidas que experimentei, gostei de poder relaxar e ler o meu livrinho, de apanhar Vitamina D, de fazer longas caminhadas na areia e de não ter que ouvir as marteladas das obras em nossa casa. Desiludiu-me bastante o lixo que encontrámos na berma da Panamericana Norte – a autoestrada que liga Lima à fronteira com o Equador. No percurso de cerca de 1h que fizemos de carro desde o aeroporto de Talara até ao nosso hotel não havia quilómetro que não tivesse lixo…e muito. É de lamentar.
De resto, por cá tudo o que é destino turístico ainda continua a meio gás. Em Máncora (e nas vilas vizinhas) vimos hotéis fechados e outros em renovações, poucos turistas e pouca oferta de atividades devido à fraca procura.
Vamos então a outras novidades/curiosidades:
- Já tenho bicicleta. É certo que ainda mal andei com ela e quem a tem usado para pequenos percursos é o marido, mas já a tenho. Cadeado comprado, campainha no sítio…só falta comprar o capacete. Lima está a apostar forte nas ciclovias como já vos tinha referido por isso não vai haver desculpas quando uma delas até passa mesmo à porta de nossa casa.
- Gosto muito da amabilidade e simpatia dos peruanos. Ele é o polícia na rua, é a empregada do supermercado, o porteiro do prédio, a varredora da avenida ou até a vizinha que anda a passear o cão. Todos nos cumprimentam com um sorriso e sem de seguida fazerem 50 mil perguntas sobre a nossa vida pessoal.
Só há uma coisa que ainda não entendi muito bem. Muitos me confundem por peruana. Dizem que tenho pinta de peruana mas depois quando me ouvem a falar “portunhol” já acham que sou brasileira. A sério, senhores? Honestamente?
E pronto, as atualizações já vão longas e devem estar fartos de me aturar. Vão lá dizer adeus a 2020 e sejam muito felizes em 2021. Até breve!