Olá, estudante, bem-vindo a mais uma lição! Atualmente, todos são desafiados (empresas e empreendedores) a lidar com incertezas. A cada dia, o mundo globalizado acelera ainda mais a velocidade das informações e fica mais difícil encontrar maneiras, métodos e ferramentas para auxiliarem nos negócios. Para ampliar essa discussão, veremos nesta lição a metodologia Design Thinking (DT). Ela é interessante, porque aborda como a inovação pode fazer parte de qualquer tipo de negócio e, assim, proporcionar uma transformação para o ambiente que a utilizou. Ao final desta lição, tenho certeza de que você poderá pensar em vários cenários em que o DT poderá auxiliar.
O DT funciona a partir da opinião e contribuições das pessoas, e esse é um aspecto bastante importante, você sabe por quê? Bom, a resposta para isso encontramos ao pensar que somente o ser humano possui algo muito importante para a resolução de um desafio ou problema: a criatividade. Neste tipo de metodologia, os problemas são encarados como dores reais, de pessoas reais, que precisam ser solucionadas. Por exemplo, talvez você não se lembre, mas alguns anos atrás para você assistir um filme era necessário alugar uma fita de vídeo ou um DVD. Contudo, para isso, era necessário primeiramente que você tivesse, além da televisão, um aparelho de videocassete ou aparelho de DVD. Tendo os equipamentos, depois você precisaria ir até uma locadora de filmes, fazer um cadastro, escolher o filme que queria (muitas vezes tendo que deixar seu nome na lista de espera), pagar pela locação e se deslocar para casa. Depois disso tudo, você tinha um tempo, geralmente de 24 horas ou 48 horas, a depender do filme, para assisti-lo e devolvê-lo na locadora, sendo necessário pagar uma multa caso atrasasse a entrega. Era um trabalho enorme assistir um filme, você concorda? Isso sem contar que, às vezes, depois de tudo isso, ao chegar em casa e colocar o filme para rodar, o filme era ruim!
Todos esses processos levavam tempo, agora imagine como era para uma pessoa que morava longe de uma locadora de filmes. Agora compare tudo isso com as plataformas de filmes em que é pago mensalmente um valor fixo para assistir quantas séries e filmes você quiser, ou aquelas plataformas em que é possível alugar o filme on-line. Você concorda que agora é muito mais simples para se assistir um filme? Se pensarmos em pessoas que moram em locais distantes da cidade, você consegue perceber que agora elas conseguem ter acesso de forma muito mais rápida e simples aos filmes? Isso só foi possível porque em algum momento foram observadas as “dores” das pessoas que locavam filmes e, com isso, criaram uma solução! Muitas empresas tomam decisões levando em conta apenas o que pensam ser melhor para elas (no ambiente interno) e não por pensar nos clientes (ambiente externo) e isso é um erro, pois, muitas vezes, pensar no que o cliente precisa, é garantir a sobrevivência da empresa no mercado. Se observarmos, no caso das locadoras de filmes, algumas ainda existem, mas a maioria acabou fechando, pois os clientes encontraram a “solução de seus problemas” nas plataformas do tipo streaming.
O DT tem sido usado por muitas empresas e pessoas porque, de fato, ele tem excelentes resultados em propor novos produtos e ideias que solucionam dores reais de pessoas reais. O avanço da tecnologia é algo extremamente importante, bem como a sua popularização, no entanto, ela traz outro desafio: a criação de problemas que anteriormente não existiam. Isso pode ser visto, por exemplo, com a mudança de comportamento das pessoas à medida que uma nova tecnologia ou dispositivo se populariza.
Veja o caso da música. A maneira de consumir música alterou-se completamente nos últimos tempos. Não precisamos ir tão longe, basta pensarmos que anteriormente para consumir música você precisava comprar um CD de seu artista favorito que possuía de 10 a 12 músicas. E muitas vezes, você gostava de apenas uma. Hoje, você ouve a música que você quiser, por serviços de streaming. Todas essas mudanças tiveram um único objetivo: melhorar o negócio de música para o cliente final.
A principal razão para um negócio sobreviver está ligada à sua capacidade de inovação. Quando uma empresa não consegue acompanhar as tendências tecnológicas por meio do lançamento de novos produtos que realmente estejam de acordo com as necessidades das pessoas, ela muito provavelmente será substituída por outra que conseguir fazer isso, como é o caso das locadoras de filmes que falamos anteriormente.
São vários os exemplos relacionados a isso. Pense, por exemplo, em uma das grandes marcas que dominaram o mundo (chegou a ter metade do mercado mundial) em relação a aparelhos celulares: Nokia. Essa empresa amplamente dominou o mercado com aparelhos de fácil uso, duráveis e que atendiam ao que as pessoas precisavam. Entretanto, ela não se atentou que a concorrência estava trabalhando em projetos que mudariam por completo o mercado: os chamados smartphones.
Se quiser saber um pouco mais, procure pelas reportagens de alguns anos atrás que trata do momento em que outra gigante, a Microsoft, comprou a linha de celulares da Nokia .
Hoje, sabemos que nem mesmo após a compra da Nokia pela Microsoft foi suficiente para a volta da empresa em termos de manter competitividade no mercado. Isso somente demonstra como é importante a inovação fazer parte do cotidiano das empresas.
O Manual de Oslo (1997, p. 5) diz que: “Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios…”.
Mas o que é necessário para conseguir inovar? Muitas vezes cometemos um grave erro aqui: já queremos dar a solução ou imaginamos ter a solução pronta antes de entender realmente qual é o problema ou a dor existente. Assim, o primeiro passo é identificar o problema. Depois disso, precisamos ter o momento de gerar e pensar em ideias/soluções. Algo importante nesse segundo passo é não desprezar nenhum tipo de ideia. A seguir, é preciso tirar da cabeça e do papel: implementar a solução de maneira que seja viável economicamente e como negócio e possível de ser realizada.
As empresas ou empreendedores que conseguem realizar o que foi dito no parágrafo anterior de maneira mais rápida geralmente conseguem manter-se mais tempo liderando o mercado. Note que a concorrência cada vez mais é global, o que impacta diretamente a velocidade da inovação e que obriga as empresas a darem respostas imediatas não somente para o agora, mas também para o futuro, propondo sempre mudanças e gerando um diferencial competitivo.
É justamente para auxiliar o processo de inovação que o Design Thinking (DT) passou a ser adotado por empresas do mundo todo. É uma maneira de fazer com que a estratégia do negócio seja considerada ao mesmo tempo em que potencialmente tem o poder de causar impacto nas pessoas, pois considera, e muito, o que as pessoas precisam e o que elas pensam e sonham.
Brown e Katz (2010) citam várias pessoas que, ao longo da história, embora não soubessem do método, utilizavam em suas inovações e em seu trabalho os mesmos conceitos que o DT utiliza hoje. Como, então, uma empresa poderia começar a utilizar o DT no seu processo de inovação? De acordo com Brown e Katz (2010), isso é possível por:
Comece pelo começo: Envolva as pessoas desde o início do processo.
Ser humano no centro: ao final, um produto ou um serviço sempre será utilizado por uma pessoa, por isso, além de pensar em tecnologia e inovação, não deixe de lado o que as pessoas são, como se comportam e quais são seus desejos e sonhos.
Teste, teste e teste: tente ter vários protótipos ao longo do projeto, isso auxilia em criar perspectivas e certezas ao longo do processo.
Procure ajuda: não fique refém apenas das pessoas da empresa que você trabalha ou possui, tente expandir seu círculo de pessoas e de interessados, inclua-os no projeto.
Se for caro ou complexo, distribua em fases: embora o DT seja fluido, veloz, nem sempre isso acontece em relação à ideia ser aceita no mercado. Muitas vezes, para que um serviço ou produto chegue ao mercado com o potencial que queremos, vai exigir um grande capital (dinheiro). Nesses casos, você pode quebrar em várias fases o seu projeto e, assim, a exigência financeira fica menor a cada fase. O mesmo princípio se aplica a projetos complexos demais ou que necessitam da construção de tecnologias.
Equipes multidisciplinares: embora determinados projetos necessitem de pessoas com habilidades específicas, é importante ter o envolvimento de pessoas de várias áreas de formação, pois permite conhecer o problema sob vários ângulos.
Uma explicação sobre o que é o Design Thinking deve incluir conceitos como Desejabilidade, Viabilidade e Possibilidade. Esses conceitos estão ligados à perspectiva de “mergulhar” na Necessidade do Usuário, do design de produtos e soluções com criatividade.
Ademais, aspectos como Oportunidades, Brainstorming e Formatação da Ideia não podem ser esquecidos. Podemos dizer, então, que o DT pode ser explicado como a união entre o que as pessoas desejam, com a tecnologia que pode tornar o projeto possível e com a formatação para se tornar um negócio viável.
Para que esse tripé – pessoas, tecnologia e negócio – de fato aconteça e, assim, gere a inovação desejada, Brown e Katz (2010) explicam que é primordial entender a dor ou problema. Então, uma vez que isso esteja claro, é hora de criar potenciais soluções e escolher uma delas.
Além disso, é essencial pensar em 3 processos: inspiração, ideação e implementação. Perceba, porém, que o processo não precisa ser linear. De acordo com o que já apresentamos, o processo de prototipação, por exemplo, pode ser feito em cada um dos processos.
O processo de DT é bastante simples, mas ele deve ser bastante intenso. Vamos explicar cada um deles, de acordo com Vianna (2012):
Imersão: o objetivo é entender o contexto do problema, buscando sempre abordar quem vai utilizar potencialmente a solução ou serviço, bem como o cliente. Ela deve ser dividida em dois momentos: (1) preliminar e (2) profundidade. No momento chamado preliminar, a ideia é simplesmente apresentar o problema em linhas gerais e começar a pensar nos possíveis objetivos e limitações que o projeto deve ter. Uma vez que isso esteja estabelecido é hora do segundo momento que é a imersão em profundidade. Esse momento deve buscar e identificar comportamentos e necessidades. Isso pode ser feito por meio de entrevistas, fotografias e até mesmo observação. Ainda na Imersão há a análise e síntese que deve ser feita em relação às informações que você conseguiu. Pode-se utilizar ferramentas com objetivo de gerar insights (intuição), como: Cartões de Insight, Diagrama de afinidades e Mapa Conceitual.
Ideação: essa fase busca a geração de ideias de acordo com os insights da fase anterior. Algumas ferramentas que podem ajudar são: Brainstorming, Workshop de Cocriação, Matriz de posicionamento. As ideias devem ser avaliadas pelos clientes, utilizando, por exemplo, prototipações.
Prototipação: essa fase busca validar as ideias. Contudo, perceba no desenho que há no alto setas que indicam retroalimentação. Isso indica que é permitido prototipar a qualquer instante. Não é necessário finalizar obrigatoriamente as duas fases anteriores para daí construir um protótipo. Um protótipo é o mesmo que transformar uma ideia em algo físico, ele deve diminuir as incertezas.
Imagine que a prefeitura quer otimizar o transporte escolar, e você precisa desenvolver uma solução de transporte para a sua cidade. Atualmente, a prefeitura está recebendo muitas reclamações do transporte escolar referente aos atrasos, áreas que não são cobertas e alto consumo de combustível.
Com isso, a prefeitura contratou a sua empresa para desenvolver um software com o intuito de gerenciar o transporte escolar: desde a solicitação dos alunos até o próprio monitoramento deles por GPS da localização do ônibus. Isso ajudaria a saber em quanto tempo o ônibus levará para chegar. A primeira reação que temos em uma solicitação assim é a de começar a desenvolver o software, não é?
Entretanto, isso poderia fazer com que a ferramenta não resolvesse todos os problemas que a prefeitura, os usuários e os clientes (alunos) possuem. Para isso, o DT poderia auxiliar na construção dessa ferramenta. Pense em como as fases de Imersão, Ideação e Prototipação poderiam auxiliar no processo de construção da ferramenta.
Neste caso, do aplicativo para o transporte escolar, na fase da Imersão, poderia haver um momento de contato com os pais e responsáveis dos alunos, com os motoristas dos ônibus e/ou com a prefeitura, pois esse é o momento de buscar e identificar a real necessidade das pessoas que irão estar com o aplicativo todos os dias. Na fase da Ideação, seria o momento de começar a criar ideias para atender as necessidades que foram identificadas na etapa anterior. E por último, na fase de Prototipação, seria o momento de validar essas ideias que surgiram, para assim, de fato, fazer o aplicativo.
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BROWN, T., KATZ, B. Design Thinking. Uma Metodologia Poderosa Para Decretar o Fim das Velhas Ideias. Rio de Janeiro: Campus, 2010.
MANUAL DE OSLO. Manual de Oslo: Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3. ed. [S. l.]: OECD, 1997.
VIANNA, M. et al. Design Thinking: inovação em negócios. MJV press, 2012. Disponível em: http://livrodesignthinking.com.br/. Acesso em: 4 jan. 2022.