Olá, aluno(a)! Na lição anterior, falamos sobre as competências empreendedoras e, nesta, vamos continuar falando sobre empreender! O empreendedorismo tem sido incentivado em muitos países, isso porque ele possibilita transformações sociais como promover a melhoria da qualidade de vida, gerando ocupações para as pessoas, desenvolvimento regional e geração de oportunidades.
Não é raro conhecermos diversos empreendedores, como, por exemplo, o(a) dono(a) de uma mercearia ou padaria no bairro de nossa casa, uma costureira, alguém que representa uma marca de cosméticos... Todos eles são empreendedores, pois identificaram oportunidades de gerar lucro e abriram/começaram um negócio. Em todos esses casos, é possível perceber características de mentalidade empreendedora.
Nesta lição, vamos discutir quais são, portanto, os tipos de empreendedorismo que existem. Você terá a oportunidade de também se identificar com alguns tipos e analisar como eles podem impactar a sua realidade e a sua região.
Ao pensar na sua cidade, quais são alguns empreendimentos que vem à sua mente? Talvez, esteja sendo anunciado um novo bairro, que tem vários terrenos à venda, por exemplo. Isso é um exemplo de empreendedorismo. Contudo, este seria apenas mais um dos vários empreendimentos desse tipo.
No entanto, imagine que, além de ser uma venda de terrenos, o empreendedor diz que o bairro terá uma área verde em que cada morador terá direito a plantar e cuidar de uma árvore. Além disso, o próprio bairro vai gerar a sua energia por meio de uma fazenda solar. Isso criaria uma diferenciação em relação a outros bairros, não é? Talvez ele até conseguiria vender os terrenos por um valor maior em vista dessas iniciativas.
Dessa maneira, começamos a entender que há formas diferentes de empreender. Pode-se empreender de uma forma mais tradicional, com pouca inovação ou diferenciação. Mas pode-se, também, apresentar mais criatividade, alinhar a algumas questões sociais ou ambientais, por exemplo.
Conforme dissemos anteriormente, há várias maneiras de empreender. Pode-se empreender mais tradicionalmente ou com mais inovação e criatividade. E, também, pode-se empreender pensando em aspectos sociais. Falaremos sobre isso mais à frente. No entanto, seria interessante já conhecermos uma iniciativa de um dos tipos de empreendedorismo: o empreendedorismo social.
Neste tipo de empreendedorismo, todo o dinheiro investido retorna para gerar mais negócios e ampliar o impacto que este pode gerar na vida das pessoas e na região em que ele atuar.
Um dos maiores nomes desse tipo de empreendedorismo é Muhammad Yunus, nascido em 1940 em Bangladesh. Ele tem formação como economista e em 2006 foi vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Ele empreende bastante em negócios sociais. Podemos citar dois negócios.
Negócio 1: Grameen Bank - oferece ativamente microcrédito para milhões de famílias. Já emprestou sem garantias para mais de 6 milhões de pessoas e mesmo assim é o banco com menor taxa de inadimplência do mundo.
Negócio 2: Grameen Danone - em parceria com a Danone, foi criado um iogurte com os nutrientes necessários para que uma criança, ao ingerir dois por semana, não fique desnutrida. Os iogurtes são fabricados em uma vila que emprega as pessoas, e são vendidos por pessoas que antes eram mendigos.
Interessante, não é mesmo? E esse é apenas um dos tipos de empreendedorismo! Ficou curioso para conhecer os outros tipos?
De acordo com Dornelas (2007), não existe um único tipo de empreendedor ou um modelo padrão que possa ser identificado. É bastante comum uma pessoa, ao ser solicitada a dar um exemplo de empreendedor, lembrar-se daqueles mais famosos. Mas a pergunta seguinte é: será que a pessoa nasce com as características ou pode se preparar para ser empreendedor? E, será que a influência da família pode ajudar ou prejudicar no processo?
Dornelas (2007) apresenta oito possíveis tipos de empreendedores baseado em uma pesquisa que realizou, sendo eles: Empreendedor Nato (Mitológico), Empreendedor que Aprende (Inesperado), Empreendedor Serial (Cria Novos Negócios), Empreendedor Corporativo, Empreendedor Social, Empreendedor por Necessidade, Empreendedor Herdeiro (Sucessão Familiar) e o Empreendedor “Normal” (Planejado). Veja a seguir as características de cada um dos tipos mencionado:
Tipo 1 — O Empreendedor Nato (Mitológico)
São pessoas amplamente conhecidas e possuem histórias de muita persistência. São indivíduos que, na maioria das vezes, criaram grandes impérios, grandes negócios que anteriormente ninguém imaginaria, dada sua situação social ou as oportunidades que tinham. Possuem como características estar à frente dos outros, com uma visão de futuro, otimismo e com alto comprometimento em realizar o que imaginam e sonham. Exemplos: Bill Gates, Andrew Carnegie, Sílvio Santos, Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) etc. (DORNELAS, 2007).
Tipo 2 — O Empreendedor que Aprende (Inesperado)
Esse tipo de empreendedor é muito comum, usualmente é uma pessoa que, quando menos espera, se depara com uma oportunidade de trabalho e decide mudar o que fazia da vida para administrar seu próprio negócio, sendo que talvez ele nunca pensou em ser empresário, mas sim em trabalhar como funcionário de uma grande corporação, uma multinacional, talvez. O momento gatilho ocorre quando alguém o convida para ingressar em uma empresa ou quando ele mesmo percebe que pode criar seu próprio negócio. Geralmente, leva tempo para tomar a decisão de mudança, pois para ele isso representa um grande risco, algo que ele nunca gostou que acontecesse. Ele, então, nessa nova jornada, precisa aprender a lidar com novas situações (DORNELAS, 2007).
Tipo 3 — O Empreendedor Serial (Cria Novos Negócios)
Este não se contenta apenas em ter um negócio, mas ele é apaixonado pelo processo e pelos riscos de empreender. Em sua visão, toda ideia tem potencial e ele vai ficar à frente dela até que se torne um grande negócio. Tem ainda a característica de ser alguém dinâmico, que gosta de ser desafiado e, ainda, aprecia e deseja sempre assumir uma postura de executivo para a liderança de grandes equipes. Gosta de pessoas e de ter controle em tudo que acontece, além de sempre se fazer presente em eventos e associações. É hábil em criar, escolher e gerenciar equipes. Por meio de sua energia na condução do negócio, consegue sempre motivar as pessoas, buscar recursos e fazer a empresa funcionar. Entretanto, sua maior habilidade está em acreditar nas oportunidades e não ter medo do trabalho que isso pode dar. Por não temer o risco, pode estar em vários negócios ao mesmo tempo e isso pode gerar alguns insucessos em sua trajetória. Mas ele encara isso como aprendizado para o próximo negócio (DORNELAS, 2007).
Tipo 4 — O Empreendedor Corporativo
Toda organização tem uma necessidade, se ela deseja sobreviver, e neste respeito estão também as grandes organizações: renovação, inovação e criação de novos negócios. Neste perfil, encontramos pessoas com muitas competências, capazes de ter um alto rendimento e visão gerencial, bem como eficazes em utilizar ferramentas administrativas. O trabalho sempre é orientado para os resultados. Por meio dessas características, são pessoas que não têm medo de assumir riscos e lidar com a falta de autonomia. O resultado disso é o amadurecimento em conseguir ser um bom negociador, um bom comunicador e defensor de suas ideias. Isso permite que eles sejam pessoas que possuem facilidade em aumentar sua rede de contatos. Além disso, funcionam muito bem por meio de programas de recompensas e de desafios para geração de resultados organizacionais (DORNELAS, 2007).
Tipo 5 — O Empreendedor Social
A missão de vida do empreendedor social é erigir um mundo melhor para as pessoas. Ele está envolvido em causas humanitárias com um compromisso único. Ele tem uma vontade enorme de mudar o mundo criando oportunidades para quem não tem acesso a elas. Suas características são semelhantes às de outros empreendedores, mas o que os diferencia é sua autorrealização ao ver seus projetos valerem a pena para os outros, menos para eles mesmos. Os empreendedores sociais são um fenômeno mundial e, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, desempenham um papel social de extrema importância, pois preenchem as lacunas deixadas pelas autoridades com suas atividades e as organizações que criam. Entre todos os tipos de empreendedores, este é o único em que não há tentativa de desenvolver ativos financeiros. Ou seja, seus objetivos não visam ganhar dinheiro para si mesmo, ele gosta de compartilhar seus recursos e contribuir para o desenvolvimento das pessoas. Este foi o tipo de empreendedor apresentado no case desta lição (DORNELAS, 2007).
Tipo 6 — O Empreendedor por Necessidade
Este tipo de empreendedor vê na criação do seu próprio negócio a única saída para sua situação. Ele, geralmente, está sem outra alternativa. Na maioria das vezes, ele não consegue mais se recolocar no mercado de trabalho ou foi demitido. Não é uma regra, mas, em geral, ele inicia sua caminhada por meio de negócios informais, realizando tarefas mais simples, prestando serviços e conseguindo como resultado pouco retorno financeiro. Este acaba sendo um problema social para os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, porque embora seja louvável a iniciativa, o esforço em trabalhar e procurar por meios distintos a sua sobrevivência e geração de renda, não há uma contribuição para o desenvolvimento econômico. Isso porque eles ficam meio que escondidos dos programas governamentais, pois não têm acesso à possibilidade de obtenção de recursos, aos programas educacionais e às condições mínimas para empreender de maneira estruturada, correta e com maiores chances de o negócio sobreviver. Suas iniciativas, na maioria dos casos, são simples, quase sem inovações e não há contribuição com impostos e outras taxas (DORNELAS, 2007).
Tipo 7 — O Empreendedor Herdeiro (Sucessão Familiar)
A grande questão neste tipo de empreendedorismo é conseguir dar continuidade ao legado da família. As empresas familiares existem em todo o mundo, e em muitos casos tem se perpetuado o negócio e em outros têm até mesmo expandido. É verdade que há também casos de insucesso. O desafio principal aqui é multiplicar o patrimônio existente, o que não é fácil. Por quê? Muitas vezes o herdeiro tem que lidar com determinadas características do antecessor que são difíceis. Por exemplo, muitos têm o pensamento de que se o negócio sobreviveu tantos anos, não é necessário investir em uma tecnologia ou inovação. Contudo, eles esquecem que o mundo hoje é globalizado e que ele concorre com empresas que estão do outro lado do mundo. Esse aspecto é fundamental para se buscar equilíbrio no negócio. Deve-se valorizar as características que fizeram o negócio sobreviver talvez por mais de 30, 40 ou 50 anos, mas deve-se também pensar em como o negócio vai se manter e o que é preciso fazer hoje para que o negócio continue existindo daqui 10, 20 ou 100 anos. Em geral, o empreendedor herdeiro aprende com exemplos da sua própria família e, aos poucos, ele vai ocupando um espaço que antes seus parentes utilizavam (DORNELAS, 2007).
Tipo 8 — O “Normal” (Planejado)
De acordo com Dornelas (2007), o planejamento é uma atividade muito recomendada por qualquer livro de empreendedorismo. Embora ela não seja uma prática do dia a dia da maioria dos brasileiros (gostamos mais de executar e colocar a “mão na massa”), ela é extremamente importante, pois tem a capacidade de aumentar a possibilidade de um empreendimento ser mais bem-sucedido, por ter condições de gerar e garantir mais e melhores resultados. Assim, este empreendedor “normal” é suscetível a conseguir diminuir a possibilidade de um risco tornar-se realidade, definir com mais clareza e certeza as próximas etapas de crescimento ou investimento de seu negócio, estabelecer uma visão de futuro e trabalhar por meio de metas e objetivos. Dornelas (2007, p. 32) define o “Normal” do ponto de vista do que se espera de um empreendedor, mas não necessariamente do que se encontra nas estatísticas gerais sobre a criação de negócios (a maioria dos empreendedores ainda não se encaixa na categoria “normal”).
Após conhecer os tipos de empreendedorismo, é possível perceber que eles têm muito a ver com o ambiente que a pessoa nasce e cresce. Isso também explica que o empreendedorismo tem muito a ver com o indivíduo em si. Mesmo famílias empreendedoras muitas vezes são surpreendidas por pessoas que não desejam continuar com o negócio existente. Isso indica que as características individuais estarão muito presentes nas escolhas que cada um faz em relação ao tipo de empreendedor.
Neste sentido, você como futuro(a) técnico(a) de desenvolvimento de sistemas pode perceber que, independentemente do tipo de empreendedor que você mais se identifique, as características serão bastante úteis ao exercer sua profissão. Pois é uma profissão que precisa do risco, crença, persistência e inovação constante.
Você como um(a) técnico(a) em Análise e Projeto de Sistemas pode se deparar com algumas oportunidades de empreender no decorrer de sua vida profissional. Considere que você já finalizou o curso e percebe uma oportunidade no mercado para empreender. Com o conhecimento adquirido nesta lição, você será capaz de conhecer suas competências e verificar se está, ou precisa estar, desenvolvendo outras.
Um empreendedor pode se inspirar em outros empreendedores de sucesso ou com uma história de superação. Você já tem sua inspiração?
Pensando em alguns possíveis negócios que você conhece, procure sempre classificar a que tipo de empreendedor um negócio mais se encaixaria. Isso com certeza ajuda a perceber possíveis oportunidades de negócio. No Quadro 1, procure listar algum negócio ligado à área de tecnologia que você poderia criar com a ideia do empreendedorismo social. Pense, também, em quais características, você como empreendedor social precisaria desenvolver:
Clique aqui, teste seus conhecimentos sobre esta lição e confirme sua participação nesta disciplina!
DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.