Night-club

Tratava-se, obviamente, de... mais quartel, sem civis (nem machos, quanto mais mulheres...), onde, no fim do serviço, se jogava (como na messe ou na cantina) e se bebia (bebida da tropa, como na messe ou na cantina). Qual o interesse, então?

Obviamente... nenhum. Apenas o aspecto pouco convencional, contrastando com a austeridade fria do aquartelamento, permitia fugazmente a sensação de estar fora dali, a viver momentos de ilusória liberdade.

Aberto a todos, o espaço compensava também um pouco das distâncias que os postos, responsabilidades e instalações separadas forçavam.

Durante a nossa estadia, viveu-se mais o espaço fora e à volta da palhota que dentro. Vários militares usaram aquele espaço para criar hortas, e algumas alfaces comemos, lá produzidas. Tomateiros evoluiam com grande rapidez, mas a violência das chuvas arrasava tudo.

Por falar em chuva nunca me hei-de esquecer de uma sensação única, quando jogávamos futebol. Sabíamos que vinha aí a chuva, mas não esperávamos uma desconcertante surpresa - de repente, no horizonte, apareceu uma massa castanha, em turbilhão, avançando rápida e ameaçadora.

A única forma que encontro de descrever a sensação que tivemos foi a de uma formiga que vê um cilindro da estrada a avançar na sua direcção.

Entreolhámo-nos rapidamente, e, sem uma palavra, "demos à sola".

Ninguém se preocupou com a palhota, nem com nada, a lei foi fugir a sete pés (pelo menos) para debaixo de telha.

Ainda nem todos o tinham conseguido quando o tal "cilindro" invadiu a parada - tratava-se de um turbilhão de terra, arrastado pelo vendaval à frente da chuva, que em segundos fez cair a noite.

À frente vinha a bola, que, na aflição todos esqueceram, e que um, mais afoito, placou numa rápida corrida à rua.

A cena não se repetiu, e a palhota sobreviveu. Quanto às hortas...