Conto de Natal

O Natal de 1973 em Quiximba foi animado. O pessoal organizou uma festa na cantina, que teve a assistir toda a sociedade civil (sim, toda mesmo, até porque não era muita - o chefe de posto, o cantineiro e a mulher de um deles, não sei qual).

Decorria o espectáculo com entusiamo quando, de um dos postos de reforço, rebentam tiros. Nós sabíamos que "os turras" escolhiam estes momentos para pregar as suas partidas, e aí estava, o primeiro ataque ao quartel.

Enquanto os civis se encolhiam nas suas orações, todo o pessoal saltou para as armas, e caiu nas trincheiras em torno do quartel, pronto para responder aos agressores.

Os oficiais assumiram o controle dos vários sectores, e, sendo o meu pessoal a estar de serviço, lá fui ao posto donde tinham partido os tiros.

Era o cabo Duarte, julgo eu, o homem em serviço que disparou, pelo que, conhecendo a sua imaginação e desenrascanço, quando ele me relatou que tinha visto movimento no arame, do lado de lá do campo de futebol, a grande distância, me ocorreu que se tratasse de mera vingança por não poder estar na festa. De qualquer forma, o capitão mandou sair o piquete, e um jeep percorreu o perímetro.

Não era invenção - no local indicado, presas no arame, estavam umas cartucheiras. Não foi difícil descobrir a quem faltavam as cartucheiras - um soldado africano, também do nosso grupo, tinha resolvido ir à sanzala para outras celebrações, não contava com a atenção do vigilante, e, com o susto, não acredito que tenha tido grande sucesso nas "comemorações" que procurava, até porque as buscas imediatas o aconselharam, prudentemente, a regressar.

Estava já tudo de regresso à cantina, para acabar a festa estragada, quando da trincheira junto da cozinha salta um homem em grande gritaria - tratava-se do Couto, o cozinheiro, que, por azar, tomara posição em cima dum ninho de quissondo, a terrível formiga africana, e estava há longos minutos a ser... comido vivo e em silênco.

(Narrativa de Avelino Lopes)

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