A bazooka vazia

Estávamos de saída para uma operação de seis dias a dois grupos, e poucos quilómetros depois das viaturas entrarem no mato, o capitão, que seguia no veículo à minha frente, mandou parar e fez-me um sinal que interpretei como "dois veados".

Era normal, naquelas operações, caçar, garantindo uns grelhados no mato, mas, logo à saída, era prematuro, pelo que lhe fiz sinal que não ligasse e prosseguisse.

Ele insistiu, apeei-me e fui falar-lhe, tendo então percebido que eram "dois gajos" e não dois veados. Mandou-me enviar uma secção atrás deles, pelo que chamei o cabo Duarte e a sua secção, e fiz eu próprio a perseguição. O grupo formou em linha a meu lado, e avançámos com cautela.

Havia, de facto, alguns galhos cortados e sinais de passagem, mas, numa zona de mato aberto, a fuga era fácil, e, seguramente, eles já iriam longe, pelo que, ao fim de algumas centenas de metros, mandei regressar.

Ao voltar para trás, o Duarte, que levava a bazooka, virou-a, e pude notar que... estava vazia. Perguntei-lhe porque não colocara a granada, e a resposta foi... à Duarte:

- Oh meu alferes, não tive tempo, mas eu tive sempre o cuidado de levar a bazooka apontada para baixo, e se eles lá estivessem bastava verem o tubo para se entregarem borrados de medo.

(Narrativa de Avelino Lopes)

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