A Água

A água era um elemento estratégico sempre presente. Não só o abastecimento era uma preocupação diária, como a chuva era um constrangimento de respeito.

Na Vamba, a captação de água era feita num ribeiro, a cerca de 150 metros do destacamento, mas ao fundo de uma muito empinada rampa, que impossibilitava o trajecto durante horas depois de chover. Aconteceu, não sei a quem, arriscar, e uma secção foi "condenada" a dormir uma noite ao relento, a poucos metros da cama, para garantir a segurança do auto-tanque incapaz de subir no regresso.

A experiência serviu de emenda, e nunca mais ninguém arriscou desafiar a chuva.

Mas um dia...

- Meu alferes, não temos água!

Bonito serviço! Já não havia mesmo tempo, e a perspectiva de passar todo o resto do dia e noite a seco, naquele clima, era assustadora. Puxei pela cabeça, e tive uma ideia.

O auto - tanque foi levado para um espaço entre duas das barracas, e com uma telha de zinco que por ali andava, improvisou-se uma caleira que recolheria a água de uma da abas do telhado, encaminhando-a para a boca do tanque. Não era grande solução, mas como recurso sempre havia de recolher uns litros, o que era melhor que nada.

À hora prevista chegou o vendaval precursor da chuva, como era normal, e, apesar de bem abanado, o sistema por nós montado aguentou-se.

Agora a chuva.

Abençoada África! Alguma vez poderia imaginar que um telhado com menos de 6 metros quadrados, ao fim de 20 minutos de chuva conseguiria fazer deitar por fora um tanque de 1500 litros?

Mas fez!

Narrativa de Avelino Lopes