Eternamente reconhecido

Depois de "consertar" a mão partida chegou a hora de regressar de Luanda, à unidade. Teria que apanhar o MVL para Aldeia Viçosa, e daí uma escolta para Santa Isabel, mas alguns amigos, bons conhecedores dos meandros da guerra, alertaram-me que, com jeito (e talvez qualquer coisa mais) se conseguia um lugar no Nordatlas, que regularmente rumava ao Negage, poupando o frete de um dia na estrada. Era complicado, tinha-se que "dar a volta" ao tipo que no quartel general organizava os transportes, o que podia significar ter que usar alguns... argumentos.

Nunca fui do estilo de comprar favores, mas não havia nada a perder, e... lá fui.

- Está tudo cheio".

Foi a esperada forma com que o sargento me recebeu, mas não desanimei:

- O senhor veja lá se pode fazer alguma coisa, eu ficava-lhe profundamente agradecido... às vezes há desistências, e se fosse possível, poderia contar com a minha maior gratidão.

- Volte amanhã, que eu vou ver.

E no dia seguinte lá estava a boa nova:

- Meu alferes, teve muita sorte, mas nem sonha o que me custou inventar-lhe este lugarzinho - houve um major que desistiu, e eu tinha seis pessoas em lista de espera, veja bem.

- Oh nosso primeiro, abençoado seja (e o bilhetinho a passar-me para a mão) e tal como lhe disse pode contar com a minha maior gratidão. Nunca esquecerei o seu esforço, e se um dia precisar de ir para os lados de Santa Isabel, pode contar com todo o meu apoio.

Não sei se, a esta hora já fechou a boca...

Narrativa de Avelino Lopes