TESTEMUNHOS - 01

 

 Rádio Ecclesia Emissora Católica d'Angola

 

 

 Rádio Ecclesia "memories" 1970

 

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     CAFÉ  da  NOITE 

         

... Seria necessário recuar até 1963. Mais exactamente ao dia 11 de Novembro. Nessa data foi apresentado o nº 1 do programa  "Café  da  Noite". Era também o começo de uma organização que havia de crescer a par e passo com a RE-Emissora Católica de Angola. A  aceitação dispensada pelo público ao pequeno programa (meia hora de duração) impôs, desde logo, a necessidade de o ampliar, ampliando  também os horários da ECA. Mas nem tudo foi fácil  e rápido. Dois anos de consumiram nesse trabalho árduo de apetrechar instalações e congregar toda a equipa que é hoje, sem dúvida, a maior de Angola no âmbito das organizações privadas.

 

Os "Estúdios Norte", definitivamente instalados, iniciaram a sua actividade em Junho de 1965. Os seus programas, além da ECA, surgem com agrado  certo em todas as emissoras da rede provincial.

 

 


Sem pretensões de popularidade, abominando o sensacionalismo, "Café da Noite" é essencialmente uma companhia ao serão. A música em todas as suas facetas, os temas profundos de uma discussão permanentemente incentivada e mantida e opinião própria, grangearam-lhe um dos maiores auditórios radiofónicos de Angola.

É o mais antigo programa diário de Angola.

Além dos emissores da Rádio Ecclesia é apresentado também  pelo Rádio Clube de Huambo, de Nova Lisboa e Rádio Clube de Benguela.

 

A sua apresentação e elaboração está a cargo de Sebastião Coelho, Maria Dinah e Norberto de Castro. Entre os colaboradores permanentes outro nome de prestígio na Rádio Angolana: Artur Peres.

Para além dos nomes já referidos surgem ainda os técnicos João Canedo e António Aragão.

 

O nível atingido pelos programas com a assinatura dos Estúdios Norte grangeou-lhe, além além do interesse do público rádio-ouvinte, alguns dos mais altos galardões destinados à Radiodifusão, nomeadamente:

 

Grande Prémio da R. de Angola___1º prémio de Composição , 1968; Concurso de Radiodifusão da Cidade de Luanda; 1º prémio de Reportagem em 1967 e 2º prémio de Reportagem em 1968; prémio Álvaro de Carvalho, o mais alto galardão da Rádio Angolana, em 1970.

 

Sebastião Coelho (falecido)            

  /ProgªCafé da Noite

 

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Rádio Ecclesia "memories" 1970 

COTEP  

 

Eram três em 1962: 

José Maria Pinto de Almeida (Zé Maria), 

Ilídio Resende e Anabela. Anabela abandonou, tornando-se hospedeira da TAP. O Programa estava então no Rádio Clube de Angola e ia para o ar três vezes por semana.         

Depois, novas vozes foram surgindo, novas substituições se registaram. O programa foi ganhando popularidade junto dos ouvintes.                         


 

 

José Maria Pinto d'Almeida (Zé Maria) - Ilídio ResendeMaria Cristiana - Pires - Carlos Barreto RamosPrograma     "LUANDA  / ........."

Em 1963 passou a irradiar diariamante. No ano seguinte, transferiu-se para a Rádio Ecclesia - Emissora Católica de Angola, onde ainda hoje se mantém. Há 8 anos eram três. Eram jovens e inexperientes. Entusiasmo sobrava-lhes, é certo, mas as dificuldades a vencer eram também enormes. Uma vez na Emissora Católica, as dificuldades venceram-se e o entusiasmo mantém-se. Hoje, "LUANDA 70" é um Programa em permanente crescimento. Eles não pararam; aprenderam como tirar partido das espantosas possibilidades  da Rádio; sabem que é preciso estar lá, bem em cima dos acontecimentos. Foi assim que já conseguiram alguns dos maiores êxitos da Rádio em Angola e alguns mesmo à escala nacional. 

Hoje, reportagens directas dos principais acontecimentos, em qualquer ponto do globo, são frequentes aos microfones de Rádio Ecclesia para o Programa "Luanda 70".                              

Dispõe de estúdio próprio. Um estúdio equipado com a mais moderna aparelhagem.

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O Programa "Luanda 70" de Rádio Ecclesia, sempre em cima dos acontecimentos mundiais, fez: ___ Um apontamento com o Dr.Christien Bernard sobre o primeiro transplante de coração.

___ A Reportagem ao vivo da guerra do Vietnam.

___ A Reportagem ao vivo da guerra dos 6 dias de Israel.

___ A cobertura do Rallye de Monte Carlo nos anos de 1968 - 69 - 70.

___ A transmissão directa dos festivais da Eurovisão em 1968 e 1969.

___ A cobertura dos Rallyes da TAP, com enviados especiais em 1969 e 1970.

___ A transmissão dos festejos carnavalescos do Rio de Janeiro-Brasil em 1970 em colaboração com a Rádio Globo.

___ A transmissão do Campeonato Mundial de Futebol do México, em colaboração com a Rádio Globo do Brasil.

___ A cobertura dos dois últimos Festivais Internacionais da Canção do Rio de Janeiro, sendo enviados em 1969 - José Maria e Ilídio Resende, e em 1970, Henrique Cardão.

___ A cobertura das 24 horas de "le Mans", desde 1968.

___ A Reportagem directa da "Apollo 11". Para tanto, enviou a Houston-USA o Director do Observatório Astronómico da Mulemba, Bettencourt Faria e o locutor Luís Pereira Venâncio.

Saliente-se que foi a única Emissora Portuguesa a estar presente no acontecimento.

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Rádio Ecclesia - "memories" 1970

 

 Bem haja,

Pe. JOSÉ MARIA 

 Lisboa , 19 de Julho de 1994. 

   Domingos Neves   (fal.) 

 

Clicando na foto, obtém o tamanho natural.

Deus chamou-o para junto de Si em terras bem distantes daquela que ele tanto amou: ANGOLA.

O meu testemunho vai para a sua evangelização o que soube fazer da melhor forma na "sua" Rádio Ecclesia.

Foi o Pe. José Maria Pereira a apadrinhar o meu ingresso na Rádio. Quando lhe pedi para me deixar estagiar na Emissora Católica como operador de som, logo me respondeu: "sta bem" Neves, podes começar quando quiseres. Mas, uma coisa te peço: "aprende bem".

A sua personalidade marcou-me para toda a vida, e a sua figura de sacerdote piedoso e trabalhador, não será esquecida, creio bem, por nenhum dos seus ex-colaboradores. Era um homem de grande fé e quando desencadeava actividades junto dos seus "carolas" fazia-o com a maior esperança num bom êxito, o que sempre acontecia.

Na Emissora Católica de Angola o trabalho era desempenhado por todos com a maior alegria, e sem indisciplinas. Numa palavra: era um excelente condutor de homens.

Nas conferências que dava, quando solicitado pela comunicação social, ficava sempre bem patente o seu grande amor à Emissora e às gentes de Angola.

Pela "sua" Rádio Ecclesia passaram nomes "sonantes", como o da já falecida Alice Cruz, Fellner Rollins, Rui Romano, Álvaro da Fonseca, Sebastião Coelho, José Maria, Brandão Lucas, João Canedo, Belo Marques, Inocêncio Pereira, Brazão Gil, Rui Branco, Carlos Blanco, Maria Manuela Bajouca, Maria Dinah, Pereira Venâncio, Sansão Coelho,Ana Maria Belo Marques e muitos outros, que enumerá-los tornar-se-ia para o leitor fastidioso.

O Pe. José Maria foi sempre para mim um segundo pai, um mestre, um guia e um conselheiro.

Presidiu à celebração do meu casamento e interessou-se sempre pela minha família.

Lá do alto, meu caro Pe. José Maria, pede por nós a Deus, para seguirmos as tuas directrizes neste mundo, onde te continuamos a lembrar com saudades. Obrigado.

Quando deixei Luanda, em 1974, ficou lá parte das minhas emoções e afectos.

ESTE TEXTO É DEDICADO À ANGOLA QUE ADOPTEI COMO SE FOSSE MINHA:

Adeus Baía

... O navio estava encostado ao cais, ao sabor de um doce ondular, e aguardava o final de tarde daquele estio de Dezembro. O crepúsculo de um horizonte rosa e azul. O adorno de um bombordo romântico e nostálgico. Regular, cadenciado, constante.

O cais, ali a meus pés, estava cheio de uma multidão receosa da anunciada partida. Silenciosa, palpitante, frágil.

Para trás iam ficar uma meia dúzia de anos cheios da doce imaturidade da adolescência e o fulgor maior de idade. Uma juventude marcada pelas sebentas, livros e cábulas. As primeiras cartas de amor, os bailaricos, a barba imberbe, a voz grave. A Universidade.

Ela, tantas vezes escondida no anfiteatro, brilhante nas suas histórias, contos e cartas, era o rosto de um coração livre, generoso, quente.

O amor translúcido, titubeante, intelectual, literário, exalava o cheiro de cravos vermelhos e o arrepio da Vila Morena. Esboçava-se o calor da amizade, o desejo do primeiro beijo, as mãos suadas entrelaçadas.

Fora necessário marcar a viagem, para os lábios pronunciarem uma relação tardia mas serena e antes platónica.

Lá estava ela frente para o navio, em pé naquele porto banhado pelas águas da baía e costas feitas ao oceano.

O adeus foi molhado por lágrimas tímidas, teimosas, escorrendo por uma alma iluminada pelas luzes da cidade já longínqua. Era hora do jantar e a rádio começara a perder sinal.

Nasceu a ansiedade das primeiras cartas, os desabafos na ponta da caneta, o deslindar de sonhos incompletos, a certeza de um Inverno frio e chuvoso.

E Depois do Adeus era a senha para o inevitável reencontro. Imprevisto. Inesperado. Caloroso.

Um ano depois. O beijo adiado. Adiável. Intoleravelmente desejado.

Júlio Carvalhal