* PÁGINAS de ANGOLA

ERNESTO LARA FILHO

 Picada de marimbondoJunto da mandioqueiraperto do muro de adobevi surgir um marimbondoVinha zunindocazuza!Vinha zunindocazuza!Era uma tarde em Janeirotinha flores nas acáciastinha abelhas nos jardinse vento nas casuarinas,quando vi o marimbondovinha voando e zunindovinha zunindo e voando!Cazuza!Marimbondomordeu tua filha no olho!Cazuza!Marimbondofoi branco que inventou...

Através de uma escrita eufemística e caracterizada por uma simbiose do português padrão e do português dos musseques, Ernesto Lara Filho vai construindo um edifício literário, assente nas traves mestras da angolanidade, enquanto produto de uma cultura viva e que vive das tradições africanas.


O reconhecimento da sua obra é consagrado pela presença de muitos dos seus textos em diversas antologias literárias, publicadas entre 1957 e 1976, entre as quais destacamos Antologia da Poesia Angolana (1957); O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar,1961-1971 (1971) e No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa (1976).

Poeta co-fundador da União dos Escritores Angolanos, escreveu os seguintes títulos: Picada de Marimbondo (1961); O Canto de Martrindinde e Outros Poemas Feitos no Puto (1964); Seripipi na Gaiola (1970); O Canto de Martrindinde (compilação das três obras anteriores, 1974).

As suas crónicas jornalísticas foram compiladas em 1990 sob o título Crónicas da Roda Gigante .

Um brutal acidente de viação, no Huambo, roubou-lhe a vida a 7 de Fevereiro de 1977.

Como referenciar este artigo:

Ernesto Lara Filho. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-03-11].

Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$ernesto-lara-filho>.

... a VIDA não é um filme... não podemos voltar atrás!...

Panorama da Rádio Angolana 

por: Carlos Moutinho


A iniciativa da Rádio Angolana deve-se, sem dúvida, aos Rádios Clubes que cobrem inteiramente a Província. Indicamo-los seguidamente por ordem de importância, quer no que se refere a instalações, quer no aspecto de programação: Rádio Clube de Angola, em Luanda, do Huambo em Nova Lisboa, de Benguela, de Moçâmedes, da Huila, em Sá da Bandeira, do Quanza Sul, em Novo Redondo, de Malange, do Congo Português, em Carmona, de Moxico, no Luso, do Sul de Angola, no Lobito, do Bié, em Silva Porto e de Cabinda.

        Em Luanda, há mais duas Emissoras: a Emissora Católica de Angola e a Emissora Oficial de Angola.

        Este quantitativo de emissoras (a que há a juntar ainda a Rádio Diamang, privativa da Companhia de Diamantes e que se destina ao recreio e cultura do seu pessoal na Lunda) dá imediatamente uma ideia do valor potencial da rádio angolana.

         Os Rádio Clubes, que são emissoras locais subsidiadas pelo Governo da Província, por outras entidades locais e pela cotização dos seus associados, estão autorizados a fazer publicidade radiofónica. Aliás - dadas as distâncias dos centros mais populacionais - a rádio tem bastante mais interesse do que o jornal. Enquanto que a notícia do Jornal de Luana chega sempre com um atraso, a rádio oferece aos ouvintes noticiários actualizados. Daí ser a publicidade radiofónica a que atinge maiores cifras nos orçamentos dos comerciantes e industriais.

          A emissora oficial dispõe de um razoável quadro de locutores e de uma boa discoteca.

          


A Emissora Católica de Angola - Rádio Ecclesia - (também autorizada a fazer publicidade) recebe donativos dos católicos.

          De um modo geral - e dado o bairrismo das gentes de Angola - os habitantes de cada cidade ouvem o Rádio Clube local. Recentemente - e através do Plano de Radiodifusão de Angola - o Governo da Província cedeu a todos os rádio clubes emissores de onda média de 1kw. Dada a boa audibilidade da onda média o ouvinte prefere-a, sem dúvida.

A Emissora Oficial de Angola está entretanto a edificar um bom centro emissor, perto de Luanda,  que será servido por emissores de 10 KW (já instalados) e de maior potência (a instalar brevemente) de modo a cobrir toda a Província e territórios vizinhos.

           Foi também superiormente autorizada a funcionar a Rádio Comercial de Angola (em Sá da Bandeira) que vai realizar programas em língua inglesa destinados ao Sudoeste africano, e está pedida autorização para a instalação em Luanda da 1ª Emissora Comercial da Capital: "A VOZ DE LUANDA". Espera-se que esta autorização seja concedida brevemente, de modo a nova emissora começar a ser ouvida no fim do 1º semestre deste ano.

           Assim, amparada pelo Governo da Província e auxiliada pelos comerciantes que vêem na rádio enorme força de publicidade aos produtos que vendem, a Rádio Particular de Angola está cumprindo a sua missão.

           Quanto à rádio oficial espera-se que da sua recentemente decretada passagem para o CITA, resulte uma apreciável melhoria de programação. E isso representará, sem dúvida, apreciável vantagem para o ouvinte angolano.

Carlos Moutinho –1964 Rádio Ecclesia – “memories” – 1954/1975

ALDA LARA

 

Alda Lara, seu nome completo, Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, nasceu em Benguela, Angola, a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe a 30 de Janeiro de 1962. Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Ainda muito nova vai para Lisboa onde concluiu o 7.º ano do Liceu. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última.
 Biografia de Alda LaraObras de Alda LaraTestamentoPresença africanaAnúncioPrelúdioRondaPoemas que eu escrevi na areiaRumoNoiteEm Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira, actual Lubango, instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais e revistas, incluindo a Mensagem (CEI).
Da sua obra poética destacamos «Poemas» (1966, Sá de Bandeira, Publicações Imbondeiro), «Poesia» (1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos), «Poemas» (1984, Porto, Vertente Ltda, poemas completos).

Presença AfricanaE apesar de tudo,ainda sou a mesma!Livre e esguia,filha eterna de quanta rebeldiame sagrou.Mãe-África!Mãe forte da floresta e do deserto,ainda sou,a irmã-mulherde tudo o que em ti vibrapuro e incerto!...- A dos coqueiros,de cabeleiras verdese corpos arrojadossobre o azul...A do dendémnascendo dos abraçosdas palmeiras...A do sol bom,mordendoo chão das Ingombotas...A das acácias rubras,salpicando de sangue as avenidas,longas e floridas...Sim!, ainda sou a mesma.- A do amor transbordandopelos carregadores do caissuados e confusos,pelos bairros imundos e dormentes(Rua 11...Rua 11...)pelos negros meninosde barriga inchadae olhos fundos...Sem dores nem alegrias,de tronco nu e musculoso,a raça escreve a prumo,a força destes dias...E eu revendo aindae sempre, nela,aquelalonga historia inconseqüente...Terra!Minha, eternamente...Terra das acácias,dos dongos,dos cólios baloiçando,mansamente... mansamente!...Terra!Ainda sou a mesma!Ainda soua que num canto novo,pura e livre,me levanto,ao aceno do teu Povo!...

 

 
PRELÚDIO "Mãe negra"Pela estrada desce a noiteMãe-Negra, desce com ela…Nem buganvílias vermelhas,nem vestidinhos de folhos,nem brincadeiras de guisos,nas suas mãos apertadas.Só duas lágrimas grossas,em duas faces cansadas.Mãe-Negra tem voz de vento,voz de silêncio batendonas folhas do cajueiro…Tem voz de noite, descendo,de mansinho, pela estrada…Que é feito desses meninosque gostava de embalar?…Que é feito desses meninosque ela ajudou a criar?…Quem ouve agora as históriasque costumava contar?…Mãe-Negra não sabe nada…Mas ai de quem sabe tudo,como eu sei tudoMãe-Negra!…Os teus meninos cresceram,e esqueceram as históriasque costumavas contar…Muitos partiram p’ra longe,quem sabe se hão-de voltar!…Só tu ficaste esperando,mãos cruzadas no regaço,bem quieta bem calada.É a tua a voz deste vento,desta saudade descendo,de mansinho pela estrada.



 TESTAMENTO  * À prostituta mais novaDo bairro mais velho e escuro,Deixo os meus brincos, lavradosEm cristal, límpido e puro...E àquela virgem esquecidaRapariga sem ternura,Sonhamdo algures uma lenda,Deixo o meu vestido branco,O meu vestido de noiva,Todo tecido de renda...Este meu rosário antigoOfereço-o àquele amigoQue não acredita em Deus...E os livros, rosários meusDas contas de outro sofrer,São para os homens humildes,Que nunca souberam ler.Quanto aos meus poemas loucos,Esses, que são de dorSincera e desordenada...Esses, que são de esperança,Desesperada mas firme,Deixo-os a ti, meu amor...Para que, na paz da hora,Em que a minha alma venhaBeijar de longe os teus olhos,Vás por essa noite fora...Com passos feitos de lua,Oferecê-los às criançasQue encontrares em cada rua...

Índice de poemasPAULO DE CARVALHO em "MÃE NEGRA"http://www.youtube.com/watch?v=O2WwaO2owlQ






"O GRANDE POEMA""Este é o poema que eu escreviPara as crianças da minha terra !...Para as crianças negras,e brancas,e mestiças,sem distinção de cor...comungando o Amorque as unirá...Este é o poema que eu escrevi a sonhar...de olhos perdidos no mar,que me separa delas...O poema que eu escrevi a sorrir...a gritar confianças desmedidasnas ânsias partidas...quebradas...como velas de naufrágio !...O poema que eu escrevi a soluçar,sobre os livrosonde não encontreipara os sonhos resposta um dia !..."

* * *


 

ELEUTÉRIO SANCHES

Nasceu em Luanda em 1935 Faleceu em Lisboa - Dezº 2016.

Trabalhou durante 10 anos como monitor de Pintura no Sector de Terapêutica Ocupacional do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, interessando-se desde então pela pintura psicopatológica.
Está representado em inúmeras coleções particulares (nacionais e internacionais) e em museus: Angola, Moçambique, Brasil (Rio de Janeiro), USA (Jacksonville, noutros organismos particulares e oficiais, nomeadamente no Banco de Angola, em Luanda, Banco Nacional Ultramarino e União de Bancos, ambos em Lisboa, Embaixada da República Popular de Angola, em Lisboa e  Residência do Embaixador, Embaixada da Rep. P. Angola da Etiópia, em Addis-Abeba, Delegação da TAAG, em Lisboa, Banco de Fomento e Exterior e Banco da Agricultura, ambos em Lisboa.

https://www.youtube.com/watch?v=q38JjDi3W1Y&feature=youtu.be 
https://youtu.be/q38JjDi3W1Y
Entre 1960 e 1965, participa em exposições coletivas, em Luanda, no Museu de Angola, Palácio do Comércio, Associação dos Naturais de Angola e na Sociedade Cultural de Angola.
Canção escrita e cantada porEleutério Sanches, em 1950 e,dedicada à tia Chica CaioióNa quindinha da tia Chica CaioióTinha doce, doce, docinha…A quindumba da tia Chica CaioióEra branca, branca, branquinha…Saudosa tia Chica CaioióCom seus cabelos brancos de Vovó!A moringa da tia Chica CaioióEra nova, nova, novinha…A cubata da tia Chica CaioióEra velha, velha, velhinha…Saudosa tia Chica CaioióCom seus cabelos brancos de Vovó!A quimdumba da tia Chica CaioióEra branca, branca, branquinha…A mão grande da tia Chica CaioióEra negra, negra, negrinha…Saudosa tia Chica CaioióCom seus cabelos brancos de VovóAi! Saudade! Saudadinha!

Eleutério Sanches

Citado no Dicionário de Michael Tannock _ Portuguese 20th Century Artists _ a Biographical Phillmore & Co Ltd. _ Shopwyke Hall Chichester, West Sussex, England. Citado na Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira da Verbo _ Volume 1991.
“Num percurso de mais de 40 anos ligados ao mundo das artes, Eleutério Sanches, universalizou a sua obra, tendo contribuído de forma incansável para o desenvolvimento cultural de Angola”, lê-se no documento.Em 1962, ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), onde concluiu a licenciatura em pintura. Durante dez anos, exerceu o cargo de monitor de pintura no Departamento de Ergoterapia do Hospital Júlio de Matos em Lisboa.Foi professor de Artes Plásticas - Oficina de Artes no Ensino Secundário Oficial. O seu nome está inscrito na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura Verbo. 
É licenciado em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

MARIA ELVIRA BENTO 

Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008A CANÇÃO DA MINHA VIDA

 

Foram anos e anos de fascinação, de memórias, de dores terríveis, de alegrias imensas. Foram transformações, lutas, mudanças constantes num transbordar de vitalidade ou numa serenidade inspiradora capaz de iluminar pensamentos e ambições. Foram medos negativos que tolheram gestos e palavras treinadas que nunca foram ditas. Foram confissões em surdina que perderam o vigor. Enfraqueci e contemplei, com o sabor mágico do encanto, do deslumbramento, o sonho, de olhar e sorrir como se a fonte de inspiração fosse magnífica e fizesse de mim sábia num universo revitalizador. Tornei-me aliada da minha própria existência no desfilar dos meus dias.

Transcendi-me. Quebrei grilhetas, agitei emoções adormecidas em silêncios vigorosos, doloridos, que me agitaram, engrandeceram e deixaram transbordante de vitalidade e grandeza. Vivi em permanente estado de desassossego. Dediquei-me a causas. Procurei cumprir objectivos. Com harmonia, em desamor, em lassidão. Fui agressiva, obsessiva, doce, serena, silenciosa, autêntica. Envolvi-me em mantos de luz, de audácia.Tomei as rédeas da vida e apelei ao meu poder. Desafiei e desafiei-me. Esperei.

 Amei e desamei. Amei em esperança, em desespero, em fascínio. 

Amei silenciosa em cada manhã por acontecer.

 Deambulei por montes e vales, andei mil quilómetros a cada segundo, percorri estradas que não eram minhas, caí em precipícios medonhos.

Saltei obstáculos mortíferos. Defendi o meu tempo e os meus anseios e, quando me sentia vazia, corria ao sabor do vento para lhe escutar os sussurros e sentir as brisas. Chorei e desisti em fugas de solidão e de amor. Fiquei exausta, esgotada, desanimada, esquecida. Foram viagens gratificantes, esplendorosas, por caminhos de medo e união que, por vezes, conduziam à esperança, à sabedoria e à renovação. Levantei-me sempre que caí, mesmo que o trilho de lama ou de pedras já me tivesse ferido os pés, mesmo que a densidade da mata já me tivesse rasgado, dilacerado. Atormentada no círculo do silêncio respondi, sempre, ao milagre, ao mistério da vida que me amparava, rodeava e protegia. Confesso que vivi e enfrentei desertos, oásis e ilhas paradisíacas ao som constante de uma melodia que encheu a minha vida. Foram anos sucessivos com ela no coração, fazendo de mim o barco que contornava a costa, ao som do eco do farol e da sua luz. Fui dependente da sua harmonia. Escutava-a quando queria e mesmo quando a rejeitava. Ela era o sinal de trânsito da minha existência.

Foi o despertador sem horas das minhas alvoradas Foi demais e foi bom. Foi motivador e desesperante. Foi tudo e continua a ser o que já foi e, assim, será... Concerto para Uma Voz, foi a canção da minha vida. Tudo girou em torno dela (como é possível!). A primeira vez que tomei contacto com esse 45 rotações foi em Luanda, na Rádio Ecclésia, quando necessitava de um indicativo para um novo programa. Seria a queridíssima Ana Maria Bello Marques a descobri-lo. Escutei-o e, no mesmo instante, fiquei no mais exaltante e indelével estado de deslumbramento. Acabei por o usar frequentemente e o curioso (ou seria provocação?) da vida é que o viria a encontrar ao longa do exercício da minha profissão (é uma história demasiado longa para contar).

Concerto para uma Voz foi composto por Saint Preux, em 1969. Tinha 19 anos. Danielle Licari interpretava-o tão bem que arrepiava.

-Dabadá, dabadabadabadá-dabadabá. Badaba badabada badaba uabididaba. Badabada ahhhhh... badabadaba uabididaba

Nunca ouvi mais do que isto e, como bastou!

Conheci a Ana Maria (na foto ao lado de José Gaia, já falecido, numa festa na Restinga, nos anos 70, creio. Eu, olho-a com a ternura que sempre lhe dediquei e dedico) quando comecei a trabalhar como locutora e produtora na Rádio ECCLESIA, em Luanda e, recordo perfeitamente que o seu sorriso doce foi a particularidade que logo me fascinou. Depois, o timbre de voz: melodioso, sereno, uma dicção perfeita. A Ana era a locutora oficial da estação e para lá de admirar o seu vincado profissionalismo com que desempenhava as suas funções admirava a permanente capacidade de se dar aos outros, sempre pronta a ajudar nas nos momentos mais atrapalhados ou os mais novos que ainda não dominavam com segurança as dificuldades (e os fascínios) de trabalhar num estação de rádio. Além disso, havia outra particularidade na Ana que me encantava: a maneira profissional mas carinhosa como trabalhava com o Diretor de Produção da Rádio ECCLESIA , o nosso Belo Marques. Quem passou por lá sente que o Belo é eternamente nosso. Eram casados, formavam um casal perfeito, daqueles que só se conhece no cinema, nos romances. Jovens, enamorados e felizes. É assim que os recordo. E, afinal, é assim que eles continuam a ser.

A saída de Luanda afastou colegas e amigos. Cada um foi para qualquer parte do mundo e os anos acabaram por esbater um pouco as memórias passadas, embora elas permanecessem guardadas num arquivo seguro. Não há muito tempo, depois de décadas de ausência, através da Net, encontrei-me com a Ana Maria (ou vice-versa, já não sei bem) e aí, a emoção explodiu de alegria. Com direito a lágrimas e tudo. A partir daí os encontros informáticos tornaram-se constantes e aquela distância, aquele afastamento, aquela saudade foram mitigadas. Foi muito bom. O Belo Marques não está totalmente bem de saúde e a Ana é a enfermeira atenta de noite e de dia, ao lado do marido a quem continua a admirar. Há dias, encontrei no Youtube algo que me sensibilizou muito e, correndo o risco de não lhe agradar por tornar público este seu trabalho, arrisco. Tantos são os anos que vivem juntos, tantas são as dificuldades que em conjunto, vencem diariamente, e aquele amor e admiração que se evidenciava na Rádio ECCLESIA, nos anos 70, continua vivo. Que maravilha. Que lição de vida, Ana.

 

 ...quando, numa busca no GOOGLE, um "carinho/surpresa" de uma Amiga [MARIA ELVIRA BENTO] -

nos dá "força" e, continuamos...................

Peço desculpa por esta "vaidade"... - ana -

 

Terça-feira, 1 de Dezembro de 2009

ANA MARIA BELO MARQUES - O SORRISO MAIS DOCE DA RÁDIO ECCLÉSIA


Alice Cruz 

Jornalista e Locutora 

Angola e Portugal


Maria ALICE Amorim CRUZ, nasceu na Póvoa de Varzim, a 30-01-1940, e faleceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vítima de um atropelamento, próximo de Sobral de Monte Agraço, a 10-06-1994. Partiu muito cedo para Angola com os pais. Tinha apenas 9 anos de idade quando participou num programa infantil na Rádio Clube de Angola a dizer um poema de Fernando Pessoa. A seguir vieram a Rádio Ecclesia e logo depois a Emissora Oficial de Angola.

O destino de Alice Cruz estava marcado quando em 1963, recebeu o convite da RTP, para fazer Televisão. Estreou-se em 1970, com Ana Zanatti e Linda Bruingel em “A Hora de Almoço”, um programa de informação com rubricas recreativas e de divulgação.





Dois anos depois apresentava “Domingo à Noite”, gravado no Teatro Maria Matos, com números musicais, bailado e números de humor. Ao seu lado estiveram nomes já formados como Henrique Mendes, Eládio Clímaco e Maria Margarida. Ainda em 1972, apresentou, com Carlos Cruz, o Festival RTP da Canção.


Em 1973 foi a vez de um programa de entrevistas chamado “No tempo em que você nasceu”, ao lado de Artur Agostinho. Outros programas a que o nome de Alice Cruz ficou ligado, foram, por exemplo, “Sete Folhas”, apresentação da programação semanal ao fim da tarde dos Sábados; “Directíssimo”, “Pontos cde Vista”; “Jogos Sem Fronteiras”, e, vários concursos.


Para além da televisão, Alice Cruz também colaborou com os Parodiantes de Lisboa, com a Antena 1 onde apresentou Felizmente há Domingos, com o jornal Tal & Qual onde assinava a rubrica «Querida Alice» e, de 1988 a Maio de 1991 acumulou as funções de Locutora com as de Directora da revista feminina Guia.

O seu nome faz parte da Toponímia de: Cascais (Freguesia de São Domingos de Rana); Lisboa (Freguesia de São Domingos de Benfica, Edital de 17-02-1995); Odivelas; Póvoa de Varzim.

Fonte: “Revista Tempo Livre”, (Fundação Inatel, Junho de 2012, Pág. 47)

Fonte: “Câmara Municipal de Lisboa – Toponímia de Lisboa”

A minha homenagem ao Sr. Belo Marques, pela alta dignidade com que sempre desempenhou esse lugar. Tive a honra de ter trabalhado sob as suas orientações, ao longo de mais de 5 anos. Um forte abraço e os m/ votos de saúde!

E é curioso: este poste surge por ocasião dos 75 anos da Renascença, onde BELO MARQUES ingressou em 1976 para desempenhar as mesmas funções ao longo de vários anos. Aí, na Renascença, de novo tive a sorte de o encontrar e de o ter como colega de trabalho ao longo de mais de 12 anos!

More information about Samuel Ornelas de Castro

http://www.facebook.com/samuelornelas


http://wwwhttps://www.youtube.com/watch?

Carregado a 10/05/2010 _ Rádio ECCLESIA_ Amigos para Sempre... e os que já partiram (???!!!).

Para "ELES" o nosso pensamento.................

Na morte de Martinho de CastroPublicado a 14/12/2001 CondolênciasAo tomar conhecimento da morte do jornalista Martinho de Castro, o Sindicato dos Jornalistas dirigiu a sua filha (e também jornalista) Fátima de Azevedo, um telegrama de condolências.Nota de condolências telegrafada à jornalista Fátima Azevedo, filha de Martinho de Castro:
O Sindicato dos Jornalistas vem manifestar-lhe o mais profundo pesar pela morte de Martinho de Castro, jornalista de uma integridade exemplar desde os primórdios da sua actividade profissional, n’«O Apostolado» e n’«O Comércio», em Luanda, até aos derradeiros momentos da sua criatividade como editorialista do «Diário de Notícias», em Lisboa, depois de ter desempenhado funções da maior responsabilidade em jornais como «A Luta», «Portugal Hoje» e «Correio da Manhã».Cientes de que, como filha dilecta de Martinho de Castro, saberá honrar a sua memória na profissão de jornalista que igualmente abraçou, pedimos-lhe que seja intérprete das nossas condolências junto dos outros membros da família enlutada, em especial junto da viúva, D. Maria Manuela.* * *

Sara Chaves

 “A rádio foi crucial para o êxito do 25 de Abril”

De:_Ana Medina Cabeças 01-08-2014
No ano em que se comemoram os 40 anos do 25 de Abril, Sara Chaves, cantora e uma das primeiras locutoras da Emissora Oficial de Angola, recorda o seu trajeto na rádio e conta como esta contribuiu para o sucesso da "Revolução dos Cravos”, em 1974.Nasceu a 5 de maio de 1932, no Soyo, antigo Santo António do Zaire, em Angola. Desde muito cedo revelou gosto pela música. Que artistas ou autores a influenciaram na sua caminhada pelo mundo da música?Francamente, acho que foi o cinema que me influenciou. Os artistas de cinema, principalmente. Havia em Luanda, num largo ao ar livre, todas as noites, um cinema ambulante. Os meus pais levavam-me muitas vezes ao cinema, a ver filmes de desenhos animados, musicais, que eu adorava e aos quais dava sempre preferência. Adorava ver a Charlie Temple, uma artista de palmo e meio, de sete ou oito anos, americana. Ela dançava, cantava ao microfone e usava uns caracóis, uns canudos, com muito fixador. As minhas amigas e as miúdas dessa idade copiavam a Charlie Temple, porque gostavam muito dos caracóis dela. Penso que essa artista e outras, como Deanna Durbin ou Judy Garland, mãe de Liza Minnelli, influenciaram-me muito. Eu queria ser como elas. Para além de cantora, foi uma das primeiras locutoras da Emissora Oficial de Angola. Quando e como foi o seu primeiro contato com um microfone?Foi no Rádio Clube de Angola, numa emissão infantil. Tive que ser submetida a testes. Fui chumbada no primeiro teste e no segundo. Não levava a canção bem ensaiada e só ao terceiro é que fui apurada. Então, entrei nessa emissão. Eu nem queria acreditar. Era a realização de um sonho, cantar na rádio! Às vezes, costumava dizer (e a minha mãe fartava-se de rir com isso) que os bebés quando nascem, choram, e eu, quando nasci, parece que nasci a cantar, talvez uma música de Carmen Miranda que cantava muito em pequena, com três anos: "Mamã eu quero, mamã eu quero, mamã eu quero mamar, dá-me a chupeta, dá-me a chupeta, dá-me a chupeta para o bebé não chorar.”Trabalhou no Rádio Clube de Angola. Como foi essa estreia?A estreia deixou-me muito feliz. Quando terminou o programa, comecei a ficar um bocadinho nervosa, com medo, porque tinha entrado nessa emissão à revelia dos meus pais. Não lhes tinha dito que andava a ensaiar e que ia cantar na emissão do Rádio Clube. Quando cheguei a casa, contaram-me que a vizinha do rés-do-chão chamou pela minha mãe e perguntou: "Então, a sua filha está a cantar na rádio? A senhora não está a ouvir?” A minha mãe perguntou: "Na rádio? Não, a minha filha não está nada a cantar na rádio! Está ali a estudar na casa de uma amiga, a Magda Borges.” E a senhora: "Está? Então ligue para o Rádio Clube e vai ouvir onde ela está!” A minha mãe e o meu pai só tomaram conhecimento dessa atuação nessa altura. Quando cheguei a casa, fiquei muito feliz. O meu pai abraçou-me e a minha mãe deu-me os parabéns. As pessoas na rua, os meus colegas do liceu, toda a gente me felicitou. Aí vi que o poder da rádio, das ondas hertzianas, tinha dado a conhecer, em Luanda, uma pequena cantora chamada Sara Chaves.Na época, as músicas que ouvíamos na rádio eram todas gravadas em estúdio. Como era ser cantora de rádio?Era cantar exclusivamente para a rádio. Cantar exclusivamente para os ouvintes que, em casa, escutavam a rádio. Tinha uma preparação prévia na rádio, com ensaios, com um dirigente. Na Emissora Oficial de Angola havia um centro/escola de preparação de artistas da rádio que foi, durante muito tempo, dirigido pelo célebre cantor português Luís Piçarra. Os jovens eram ensaiados, preparados e chamavam-se, depois, artistas da rádio. Eram recrutados para espetáculos da própria emissora, os chamados "Serões para Trabalhadores”. Enquanto atuassem na rádio e estivessem nesse centro de preparação eram artistas de rádio. Percurso pelo mundo da música.Já em adulta começou a cantar composições angolanas. A partir de então, a caminhada pelos sons da sua terra nunca mais parou. Foi o princípio de uma viragem na sua carreira?


NÃO HOUVE DOMINGO

Emílio Guilherme


É verdade, houve realmente uma viragem no meu reportório. Até aí, era muito influenciada pela música portuguesa. Cantava as músicas que ouvia na rádio de Portugal, na Emissora Nacional portuguesa. Cantava também muita música brasileira, música espanhola… Em determinada altura, ouvi Eleutério Sanches, um poeta, pintor, um rapaz com muito talento, e fiquei apaixonada por uma canção chamada "Canção do Subúrbio”. Uma canção sempre atual que nos mostrava um postal evocativo dos subúrbios de Luanda. Uma canção lindíssima, maravilhosa. Comecei a pensar: afinal, tenho cantado toda a minha carreira, desde miúda, música que não é da minha terra! A partir da "Canção do Subúrbio”, comecei a descobrir outros compositores angolanos e dediquei-me a essa música. Acho que nunca mais cantei música portuguesa.Mais tarde, assumiu a responsabilidade do sector musical da Emissora Oficial de Angola. O que tinha a seu cargo?Era um contato diário com música. Havia música clássica que era transmitida numa determinada onda e havia música ligeira. O setor tinha cinco assistentes musicais. Eu, pouco mais ou menos, tinha que dar instruções para elaborarem as rubricas dos programas com uma certa lógica. O setor musical tinha a seu cargo todos os espetáculos que a emissora organizava e todos os programas musicais. Para além disso, também dirigia e organizava os serões para trabalhadores, espetáculos de variedades de música ligeira. Tinha sempre a preocupação de escolher os melhores artistas.
O reconhecimento efetivo do talento de Sara Chaves chegou quando ganhou o Prémio de Interpretação no Festival da Canção de Luanda, com a famosa "Maria Provocação”. As recordações são ainda intensas?Ganhei o prémio de interpretação, cantando uma música que foi desclassificada. Não tem lógica nenhuma, mas vou explicar o que aconteceu. A canção foi incluída nas músicas concorrentes a esse festival. Chegou a minha vez, fui anunciada e cantei a canção. O público levantou-se a aplaudir. Aquela canção era uma "pedrinha no charco”, falava da prostituição. Era um tema tabu. Todos sabiam que existia, mas ninguém se referia a isso. A letra é de Ana Maria de Mascarenhas, compositora angolana que ainda hoje compõe, e de Adelino Tavares da Silva, jornalista português, que escreveu músicas fantásticas de "sabor angolano”. Essa música não foi incluída. Quando foram conhecidos os resultados do festival, ficámos a saber que "Maria Provocação” fora desclassificada. Foi uma surpresa muito grande, porque a música agradou ao público. Pensámos que o tema havia tido influência nessa desclassificação, porque ofendia a moral burguesa desse tempo. Disseram-nos também que foi desclassificada porque o conjunto N’gola Ritmos, os instrumentos do conjunto, não estavam integrados na orquestra. Foi um caso muito discutido. Apesar de tudo, "Maria Provocação” foi a música que ficou. Ainda hoje se canta e se recorda em Angola. Já estive em Angola duas vezes depois da independência e fui obrigada a ir ao palco cantar a "Maria Provocação”.40.º aniversário da "Revolução dos Cravos”Este ano faz 40 anos que a "Revolução dos Cravos” se deu, a 25 de Abril de 1974. Quais as mudanças mais evidentes no mundo da rádio?A rádio foi crucial para o êxito do 25 de Abril. As principais mudanças relacionam-se sobretudo com liberdade de expressão e nacionalização das rádios em Portugal.Em Outubro de 1975, veio para Portugal. Porquê?Vim para Portugal porque, depois de 1975, o clima de insegurança era enorme. No bairro onde eu morava, um bairro suburbano, viam-se caixotes e carros a arder. Um dia invadiram-me a casa, à procura de armas. Não podíamos lá estar. Com dois filhos, ir trabalhar e deixar os miúdos em casa era muito perigoso e preocupante. Resolvemos vir, mas sempre com a ideia de voltar. Para trás, ficaram muitos anos de vida, numa terra que me é muito querida. Deixei a vida artística. Deixei os vestidos à Belita Palma, uma grande amiga, vocalista da banda N’gola Ritmos. Deixei tudo o que restou de uma vida feita de trabalho, de muito amor à terra.* * * *

Emílio Guilherme

NÃO HOUVE DOMINGO

Hirto num tempo foraSou hora imóvelPernas quebradasCorpo que sofre silêncios de festas!Sei que na metade de mimSou nada de multidão,Porque só, submerso,Esfomeado de palavras,... Mudo, quieto,Na hora parada,Passo por um dia pardo,Sem gente viva, ninguém.É domingo, e neste domingo,Penso, para o alto,Tudo igual à nuvem brancaTudo igual à terra cinzentaEstranha, desconfortável!E pairando sobre o dia-nãoCaiem-me os braços, dormentes,

Para um encontro impossívelSem entrevista marcada!Logo, pergunto ao dia, a ninguém,Se tenho alguém mais alémSe há bulício nos parques,Se tenho rostos nas ruas, jardins,No alcatrão da cidade…Mas o dia sai mudo, calado,Porque não ando, não ando,Porque não disparo, paro…E assim, quieto, pode a alma voarNavegar universos de sonhoDizer-me que hoje é domingoCiciar-me que vá com o ventoDizer-me que o dia é movimentoMas eu não vou, não vou!Filosofo que andar por aí,Andar, só por andar,É solidão,É nada que só se enche aquiQue só pinga devagar aqui,Na folha branca de um poema!  (In AFIEI AS MÃOS E OS OLHOS: VI! - poemas de juventude)Postado_ 07/07/2013

O Padre Carlos Estermann foi um etnólogo e antropólogo missionário que estudou as etnias do sul e sudoeste de Angola. O Padre Estermann nasceu em Illfurth, no Alto Reno, região da Alsácia, na França em 1896. Morreu em Angola em 1976. 

Estermann combateu ao serviço do exército alemão na Primeira Guerra Mundial (1914-18) como auxiliar nos serviços de saúde. Ferido, foi feito prisioneiro de guerra, e levado para recuperar dos ferimentos em Manchester, Reino Unido. Depois da guerra, entre 1919 e 1923 completou os estudos de filosofia em Knechtsteden, na Alemanha, e estudou teologia no Seminaire des Missions (da Congregação do Espírito Santo) de Chevilly-Larue em Paris. 

Após completar os estudos, Estermann foi enviado para Angola, concluindo primeiro um curto estágio em Lisboa. Chega a Angola em 1924 e inicia sua actuação como missionário espiritano[1] no sudoeste do território. 

Em 1933 foi nomeado superior das missões da Huíla e vigário geral da Chela. Nesse período, construiu inúmeros edifícios nas missões pelas quais era responsável e fundou diversos colégios[2]


Estermann optou por viver o resto da sua vida em Angola, vindo a falecer em 1976.