Falando sobre Arte

Tenho me dedicado a postar imagens de pinturas praticamente esquecidas, não apenas pelo grande público, mas também pela crítica e os professores de Arte e de História.

Pedro Weingartner 1853-1929 Fundo de quintal em Bento Gonçalves 1913

Imagem: Pedro Weingartner (1853-1929), Fundo de quintal em Bento Gonçalves

Estou postando todos estes artistas e todas estas obras porque nosso povo carece de memória e de costume de frequentar espaços culturais e artísticos. Isto nos faz diferentes dos vizinhos argentinos e uruguaios, por exemplo.

Na Argentina e no Uruguai, para citar apenas realidades que eu conheço bem, não se destruíram boas construções e nem se descartaram quadros e estátuas apenas porque “saíram de moda”…

Estão lá, até hoje, enfeitando Buenos Aires e Montevidéu, tanto as magníficas construções de inspiração francesa do início do século XX, quanto as estátuas, fontes e monumentos. Os artistas anteriores ao modernismo continuam a ser expostos e reverenciados nos Museus.

Monumento ao I° Centenário da Independência da Argentina, na Av. Libertador

No Brasil, ao contrário, que tem São Paulo como modelo, isto não acontece. Como bem escreveu Benedito Lima de Toledo, em São Paulo: três cidades em um século:

“A cidade de São Paulo é um palimpsesto – um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova, de qualidade literária inferior, no geral. Uma cidade reconstruída duas vezes sobre si mesma no último século. Uma cidade capaz de gerar um parque como o Anhangabaú, um dos mais belos centros de cidade das Américas, para destruí-lo em poucas décadas, e sem necessidade, apenas por imediatismo e imprevidência. Capaz de criar uma Avenida Paulista, única por sua posição na cidade e insubstituível em sua elegância, para aos poucos destruí-la minuciosa e repassadamente. E, sem remorso.”

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Ao contrário do nazismo alemão, que fez da arte moderna a “arte degenerada” e a proscreveu, nós brasileiros agimos da mesma maneira em relação ao pré-moderno, à arte da tradição.

Já até passou da hora de recuperar para a memória da cultura brasileira estes artistas e esta arte, para preencher lacunas na nossa história.

A modernidade e a Pós-Modernidade, em nosso país, instauraram um apagamento da memória em relação à arte da tradição, inclusive a Arquitetura, a qual passou a ser chamada, pejorativamente, de “Acadêmica”.

As pessoas ligadas à cultura no Brasil se comportam, ensinam e conversam como se a arte brasileira se iniciasse no Modernismo.

O Modernismo pode (e deve) ser usado como um referencial, mas, certamente, não é o ponto de chegada e nem muito menos o de partida.

Já existia vida inteligente no país antes da Exposição de Anita Malfatti de 1917. Certamente já existiam tanto a arte quanto os artistas antes de 1922. Já existia criatividade, competência técnica e beleza!

Fez-se tábula rasa em relação às diferenças fundamentais que existem entre neoclássicos, românticos e realistas/naturalistas, como se a arte do século XIX e início do século XX fosse toda ela idêntica, calcada na cópia, na perícia técnica e isenta de criatividade.

Levada à extremos, esta ideia e esta postura levaram a verdadeiros absurdos, como por exemplo a demolição, sem motivo algum, do Palácio Monroe.

Não há mais tempo para salvar o Palácio Monroe, derrubado sem motivo em 1976. Mas podemos salvar o Palácio de São Cristóvão!

Imagem relacionada

Imagem: Óléo sobre tela de José Ferreira de 1974. Fonte da imagem: Flickr

Hoje, passado quase um século do início do Modernismo em nosso país, felizmente, podemos tentar recuperar o que sobrou da arte da tradição. É esta a arte que serve perfeitamente como memória e como registro do seu tempo, como documento de época.

Não precisamos esquecer ou desprestigiar Tarsila do Amaral para aprendermos a revalorizar Pedro Weingartner.

Está na hora de somar, e não subtrair, multiplicar, e não dividir.

Num momento crítico, como o que estamos passando, já que estamos em uma das encruzilhadas da história, havemos de fortalecer a nossa cultura, para que nada se perca.

***Aproveito para socializar 2 álbuns públicos, postados no Facebook, sobre o tema:

***Pintores Pré-Modernos Brasileiros

***Pintores Pré-Modernos Estrangeiros