Formandos

Mensagem aos Formandos:

Cheguei à FESB – que ainda nem era conhecida por FESB, mas sim por FACILE – em 1995 e, desde então, tenho me sentido parte desta instituição, que se orgulha em ser uma espécie de “grande família feliz”.

Como em toda família, não estamos isentos das pequenas rusgas domésticas, alegrias e tristezas, renovação e transformação. Muitos dos antigos colegas se foram, outros chegaram, houve tempos de vacas gordas e tempos de vacas magras. A vida e a história seguiram o seu curso natural.

Por várias vezes me coube o papel de fazer esta fala aos formandos, como paraninfo ou professor homenageado, e pude então me utilizar de citações de grandes mestres como Paulo Freire e Rubem Alves. Lembro-me de ter citado Rubem Alves, ao dizer que “a educação é uma atividade criadora que traz à existência aquilo que não existe.”

Não me lembro em qual contexto a citação estava inserida, mas, de qualquer forma, ela é sempre válida.

Como professor de História da Arte, citei também vários artistas-teóricos, como Kandinsky que disse que “a arte é a expressão exterior de um conteúdo interior”.

Já disse também, aos formandos de outros tempos, que a teoria sem a prática é estéril e, em contrapartida, a prática sem a teoria é burra.

Hoje, queridos formandos, podem ficar tranqüilos que seu professor não irá lhes ministrar uma aula, citar educadores ou artistas.

Procurarei falar diretamente ao coração de vocês, de pessoa para pessoa.

De todas as turmas que eu acompanhei, do ingresso na faculdade à formatura, esta, para mim, se destaca – com merecido louvor – por não ter caído no tédio existencial ao terceiro ano, no desânimo.

Pelo contrário, após terem vivido intensamente o segundo ano – quando puderam passar um dia todo na Associação Douglas Andreani, convivendo com arte-educadores de primeira linha – passaram ao terceiro ainda animados, a tal ponto que me motivaram a desenvolver com vocês experiências com instalações e interferências, além da arte cinética.

No ano de 2008, pela primeira vez, o terceiro ano brilho soberano na SEMACC, com trabalhos contemporâneos e arrojados. Foi a SEMACC mais leve e menos “acadêmica” que pude ajudar a montar, desde que estou na FESB. Todos se empenharam e todos trabalharam.

Foi maravilhoso trabalhar com um terceiro ano que não perdeu tempo e nem gastou energia inutilmente, com brigas que não levam a nada, não perdeu aulas por conta de se preparar para a formatura, e nem se arvoraram o supra-sumo da sabedoria humana por estarem se formando.

Mesmo os alunos menos participativos, também chamados “turistas”, foram sempre bem aceitos pelo grupo, a tal ponto que suas omissões sempre foram supridas pela interação das colegas.

Esta atitude da classe, de suprir omissões demonstra que, além da tolerância – atributo básico do respeito à diversidade e, portanto, da inclusão – havia uma grande e fraterna solidariedade, misturada a grandes doses de humildade.

A humildade, e não a arrogância, é pré-requisito da sabedoria, pois o homem verdadeiramente sábio se assume como em construção, aprendendo algo novo a cada dia.

Nenhum de nós está pronto, acabado... É depois de formados, ao longo da vida profissional, que se dá a maior parte da nossa aquisição e produção de conhecimento. A nós educadores, cabe preparar o solo e plantar a semente. A vida, através das condições que cada uma delas atravessar, é que se encarregará de nos dar árvores frondosas e frutíferas, arbustos cheios de flores, ou cactos cheios de espinhos.

É este o meu desejo para vocês, todos vocês, que se tornem árvores frondosas ou arbustos floridos, que se encham de flores e de frutos e que estas flores e estes frutos sejam capazes de atrair aves e borboletas, trazendo beleza e produtividade ao mundo.

Nunca se esqueçam que, mesmo quando a vida for dura, cheia de cobranças, há um ensinamento a ser retirado de cada situação, pois, como disse um velho professor, “só se atiram pedras em árvores que produzem frutos.”

Sejam felizes e produtivos!

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