Uma UFPR em construção

Texto disponível em: BURMESTER, A.M. de O. (org)... [et al.]. Universidade Federal do Paraná: 90 anos em construção. Curitiba: Editora UFPR, 2002. 112 p.

Disponível na Biblioteca Ciência e Tecnologia – Campus Centro Politécnico – sob o código 378.8161 U58

“Passaram-se dois anos e, em 1911, a Lei Rivadávia libera o ensino superior no Brasil. Nessa época, o diretor da Escola Republicana, Prof. Fernando Moreira, vai ao Rio de Janeiro e, em audiência com o ministro Rivadávia, observa que a criação de uma universidade no Paraná é possível, desde que houvesse recursos financeiros. As primeiras tentativas para levantamento de fundos falam, mas o grupo de interessados na criação da universidade amplia-se e, em novembro de 1912, dois grupos distintos, um liderado por Victor Ferreira do Amaral e outro por Nilo Cairo, juntam-se para criar a Universidade do Paraná, que segundo jornal da época formaria ‘o homem que sabe em oposição ao homem que finge saber.’” (BURMESTER, 2002, p.9)

“Em abril de 1914, o prédio já estava muito adiantado e podia abrigar as salas de aula, mas apesar de insistentes pedidos feitos pelos estudantes para mudar para a nova sede, que tinha melhores condições de ensino que as instalações antigas da Rua Comendador Araújo, Dr. Victor insistia em inaugurá-lo somente depois de totalmente pronto. Aí, neste momento, começa o movimento estudantil desta Universidade. Os alunos simulam um princípio de incêndio e quando revoa o grito de FOGO, FOGO, os estudantes saem imediatamente à rua carregando os móveis na cabeça, e no dia 12 de abril de 1914 a cidade assiste a um espetáculo pitoresco: os estudantes numa longa fila indiana, com o mobiliário na cabeça, fazendo a mudança de sua escola!” (BURMESTER, 2002, p. 10-11)

“Finalmente, em 6 de junho de 1946, é reconhecida oficialmente a Universidade do Paraná, com Dr. Victor Ferreira do Amaral mantido simbolicamente no cargo de reitor. Em março de 1950 é federalizada, tornando-se o que é hoje, a Universidade Federal do Paraná. No fim dos anos cinqüenta, começa um movimento para significativa ampliação da Universidade sob o comendo do reitor da época, Prof. Flávio Suplicy de Lacerda. É construído o Centro Politécnico, o Hospital de Clínicas, o complexo da Reitoria e tantas outras obras, que tornaram a UFPR uma das maiores instituições de ensino superior do país.” (BURMESTER, 2002, p. 12)

“Outro problema a enfrentar é a falta de integração entre as universidades do Estado. É necessário resgatar o quer está escrito de nosso prédio histórico: UNIVERSIDADE DO PARANÁ. Afinal, esta é uma universidade de todos os paranaenses e deve se comportar desta forma, fazendo intercâmbio efetivo com outras instituições do estado, especialmente as Universidades Estaduais. O ensino, a pesquisa e a extensão são indissociáveis e não tem cabimento cada instituição “inventar a sua própria roda”, se podemos fazer uma rede acadêmica de ajuda mútua.” (BURMESTER, 2002, p. 14)

“A escolha desta data [19 de dezembro] não foi acidental. Havia a intenção de identificar claramente a Universidade e o Estado. Nas palavras de Victor do Amaral, o dia 19 de dezembro que “representava a  emancipação política do Estado, devia também simbolizar a sua emancipação intelectual.” [...] A nossa Instituição era, portanto, de início, pessoa jurídica de direito privado. Contudo, recebeu, de imediato, apoio do governo do Estado e da Prefeitura de Curitiba. O primeiro fez uma doação em dinheiro para o patrimônio da Universidade e a segunda doou o terreno onde hoje encontra-se o Edifício Central, cuja pedra fundamental foi lançada em 30 de agosto de 1913.” (BURMESTER, 2002, p. 19)

“A perspectiva  imediata era a de fechamento da nossa Universidade: Curitiba não tinha cem mil habitantes e os cursos funcionavam havia apenas três anos. Houve, no entanto, vários esforços no sentido de manter a Universidade funcionando. Políticos paranaenses tentaram, no Congresso Nacional, modificar a Lei; Nilo Cairo obteve licença para um recenseamento da população de Curitiba;Victor do Amaral fez ingentes contactos com o presidente do Conselho Superior de Ensino, Brasílio Machado, que fora presidente da Província do Paraná. Nada, porém, surtiu efeito positivo. Em 1918, então, o Conselho da Universidade resolveu desmembrá-la em três faculdades autônomas – Medicina, Direito e Engenharia – com vistas à sua equiparação. Permaneceram elas, contudo, congregadas na Federação das Faculdades Superiores do Paraná, sob direção administrativa única e ocupando em conjunto o Edifício Central, que, chamado, então, de Palácio da Luz, ostentava, em seu frontão, o nome Universidade do Paraná, até hoje ali gravado. E continuava-se a reconhecer Victor do Amaral, diretor da Faculdade de Medicina, como o reitor da Instituição. O desmembramento formal não implicou, portanto, no desaparecimento do espírito de Universidade.” (BURMESTER, 2002, p. 21)

“Novamente o governo do Estado veio em auxílio da Instituição, fazendo-lhe uma doação com vistas À criação de um fundo universitário. A Prefeitura municipal, por sua vez, doou nova área à Universidade, onde hoje está instalado o campus Jardim das Américas. [...] Quanto à sua base física, vale registrar que na década de 1950 a Universidade remodelou e ampliou o Edifício Central (1955), construiu o conjunto da Reitoria (1956-58), o Hospital de Clínicas (1960) e o Centro Politécnico (inaugurado em 1961). Nesses dez anos  que seguiram a federalização,a Universidade pôde, portanto, expandir significativamente sua base física, o que lhe permitiu também progressivamente, a ampliação substancial de seu corpo discente e da oferta de cursos, seja de graduação, seja de pós-graduação (iniciada esta com o mestrado de Bioquímica em 1965).” (BURMESTER, 2002, p.22)

“Nesse sentido, o processo foi particularmente traumático [reforma universitária do regime militar] para as instituições mais antigas. No nosso caso, a situação foi ainda mais grave, porque submeteu-se a Universidade a duas reformas no espaço de três anos. Num primeiro momento (1969/70), estruturou-se um organograma com Institutos Básicos e Faculdades profissionalizantes, no qual se preservavam órgãos colegiados fundamentalmente acadêmicos (ao estilo das velhas congregações das antigas Faculdades. Mal se iniciou, porém, a implantação das alterações, houve uma espécie de intervenção branca do Ministério da Educação ao não aprovar o novo Regimento da Instituição, obrigando a Universidade a apresentar um segundo projeto de reforma (1973) que reduziu a estrutura a oito Setores e definiu uma estrutura administrativa rígida, excessivamente centralizada e de caráter fundamentalmente burocrático e não acadêmico.” (BURMESTER, 2002, p. 24)

“O Centro Politécnico, por ser outro dos complexos que por suas dimensões e modernidade marcaram a cidade com o crescente prestígio da tecnologia.” (BURMESTER, 2002, p. 28)

“E, no entanto, a modernidade tecnológica reagia eficientemente: dos 97 matriculados para o primeiro ano letivo, o de 1913, 32 estavam no curso de engenharia. Já em 1914, a Engenharia estava funcionado no edifício da Praça Santos Andrade, juntamente com os demais cursos iniciais da Universidade. Foi dos primeiros a sentir a necessidade de espaço para expansão: houve  aumento da ala da rua XV de Novembro em 1925e novamente em 1946, prolongando-se esta obra até 1954. Ao fim de cada etapa, constatava-se a necessidade de mais espaço. Área parecia que jamais seria o problema nos 500.000 metros quadrados doados pela Prefeitura Municipal à Universidade. O local já estava consignado desde o Plano Agache, em 1943: a perfeita circularidade da mais externa das vias de contorno revista era quebrada pela designação “Cidade Universitária”. E, no entanto, já na década de 50,  percebia-se que a área não comportaria a integralidade das instalações necessárias à Universidade, sendo então feita a opção por instalar aí apenas as engenharias, sob a designação de “Centro Politécnico”. A mudança ocorre em 1961, “após três anos de trabalho ininterrupto”, segundo o Prof. Ildefonso Puppi. O constante desdobramento dos cursos, em vista das novas áreas de pesquisa e ensino, levou à construção de muitos edifícios não previstos originalmente, o que comprometeu a unidade do conjunto. O projeto do Centro Politécnico é atribuído a Rubens Meister – a comissão de projeto e gerenciamento do complexo tinha também os nomes dos professores Paulo Augusto Wendler, Ralph Jorge Leitner e Samuel Chamecki. A mesma comissão que, pouco após a instalação da Escola de Engenharia no Centro Politécnico, iria agenciar a criação do curso de Arquitetura e Urbanismo.” (BURMESTER, 2002, p. 68)

“Ao longo de quatro décadas, o Centro Politécnico foi a área preferencial de expansão da UFPR. Independente do acerto ou equívoco dessa atitude – e das circunstâncias  que a ela levaram -, acumularam-se construções no campus, algumas bastante precárias.” (BURMESTER, 2002, p. 69)

“[...] A Reforma Universitária reorganiza e renomeia toda a estrutura, introduzindo os Setores que agrupam Departamentos. O atual Setor de Ciências Exatas reúne cursos originários da Universidade do Paraná e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – tendo funcionado durante alguns anos no edifício da Santos Andrade e outros no antigo Colégio Santa Maria. O seu caráter de fornecedor de disciplinas básicas, principalmente a cursos instalados no Centro Politécnico, fez com que para aí fosse levado em 1996. O edifício foi projetado por arquitetos de Mato Grosso do Sul visando À construção em Goiás e, como não poderia deixar de ser,é totalmente inadequado para Curitiba.” (BURMESTER, 2002, p. 70)

“Não se espera que a Universidade, como instituição, estacione – o que seria a única justificativa para praticar arquiteturas passadas. Assim, a diversidade das construções feitas ao longo de quarenta anos no campus, é muito mais o improviso em algumas adaptações tornadas necessárias com a crescente complexidade das instalações.” (BURMESTER, 2002, p. 71)