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Traduzir MICHAEL POLANYI

Acerca deste programa 

Eduardo Beira

1. As origens do interesse pela obra de Michael Polanyi

    Comecei a interessar-me por Michael Polanyi em meados da década anterior. Recordo-me que, logo no início da década, ao retomar as lides académicas, desta vez na Universidade do Minho, descobri as primeiras referencias a Michael Polanyi, que nos despertaram curiosidade e interesse. 

    O estudo do livro, já clássico, de Nelson e Winter (An evolutionary theory of economic change, Harvard University Press, 1982) foi um deles, em especial a inspiração que estes autores encontraram na obra de Polanyi acerca de competências hábeis, rotinas e aprendizagem, conceitos fundamentais da aproximação evolutiva à economia. 

    Outra referencia foi um nórdico muito conhecido (Karl Erik Sveiby) na literatura de "Knowledge Management", e que por sua vez colheu inspiração em Polanyi para a escrita da sua tese e depois para a sua bem sucedida prática de consultadoria. 

    Mandei vir os primeiros livros de Michael Polanyi, em segunda mão. Fui lendo alguma coisa deles, esporadicamente. No Verão de 2005 tentei começar a ler Personal Knowledge, durante as férias no Alto Douro e nos banhos diários nas termas de Carlão - terei lido então a parte Um e alguma coisa da parte Dois da obra. Descobri que Polanyi não se lê: descobre-se - e que isso nem sempre é fácil. Tal como Polanyi teorizou sobre o processo de intimação para a descoberta, eu fui descobrindo a intimação do pensamento de Polanyi.

    Nas secções seguintes passa-se em revista a evolução deste programa de trabalho

2. A fase inicial: experimentar com a tradução de alguns alguns ensaios

    Primeiro aventurei-me a traduzir uns ensaios de Polanyi. Escolhi começar por alguns ensaios posteriores à publicação de Personal Knowledge (1958), e que refinavam as ideias aí exploradas, em especial sobre a estrutura e implicações do conhecer tácito. Fui dando a forma preliminar de "working papers" às traduções. O primeiro "working paper", de 2009 (WP84), foi a tradução do ensaio "The tacit knowing: its bearing on some problems of philosophy" (1962), a que se seguiu  "Knowing and being" (1961) (WP85). 

    Na altura, ainda chegamos a considerar a ideia de traduzir Personal Knowledge, mas abandonamos rapidamente a ideia, perante a dimensão e a dificuldade do empreendimento. Mesmo assim traduzimos algumas páginas dessa obra, incluindo os dois prefácios (da edição original (1958) e da edição Torchbook (1964)). Essa colectânea de traduções de prefácios, introduções e sumários de vários capítulos de Personal Knowledge foi, nesse  ano de 2009, organizada como um outro working paper (WP86), com o título de "Sobre o conhecer pessoal (extractos)".

3. O programa inicial: dois livros e duas coletâneas

    Tendo começado por soçobrar perante as dificuldades de traduzir Personal Knowledge, acabei por me virar para The tacit dimension (1968), a partir de 2007. Era um volume pequeno, pouco mais de cento e vinte páginas de pequeno formato, logo parecia acessível. A realidade foi um pouco diferente - mas o projeto lá foi avançando e, por finais de 2008, tinha uma primeira versão da tradução. Dei-lhe, como habitualmente, a  forma preliminar de working paper (WP91) (*). Logo a seguir peguei na tradução de The study of man (1959), um outro pequeno livro, que o próprio Polanyi considerou ser uma introdução e um sumário de Personal Knowledge, assim como a extensão da teoria do conhecimento pessoal ao estudo do próprio homem em sociedade (historiografia). 

    Depois de muitas hesitações e de múltiplas correções, revisões e (re)leituras dos textos, publicamos estes dois livros, como edições académicas, em 2010 (ver aqui e aqui). A autorização de John Polanyi, filho de Michael Polanyi, e o estímulo e boa vontade de Phil Mullins, que foi presidente da The Polanyi Society e era então editor de Tradition and Discovery, foram incentivos importantes.

    Entretanto fomos traduzindo vários outros ensaios, com o objetivo de organizar duas colectâneas de textos traduzidos de Polanyi. Numa, Ciência e Tecnologia, planeou-se reunir vários ensaios sobre as temáticas da organização e da filosofia da ciência e da tecnologia, então motivados pelas necessidades da nossa cadeira sobre Inovação, para alunos dos cursos de doutoramento da Escola de Engenharia da Universidade do Minho . Com esse objetivo traduziram-se algumas secções do capítulo 6 (Paixões intelectuais) de Personal Knowledge, sobre ciência, tecnologia e matemática (WP112).  Na outra colectânea, com o título previsto Conhecer e descobrir, planeou-se reunir os  ensaios complementares sobre a filosofia do conhecimento tácito. As traduções ficaram feitas, mas a publicação de ambos os livros foi aguardando pela conclusão da revisão e por eventuais notas complementares.  

4. Os livros da fase "económica" de Polanyi - e o filme.

    Viramos entretanto a nossa atenção para os anos 30, para a fase economista de Polanyi, e traduzimos primeiro os vários ensaios (WP94, WP109,WP113, WP114)  que deram origem ao livro The contempt of freedom (1940), e depois traduzimos o esquecido livro Full employment and free trade (1945) (WP115), a que associamos depois um especial interesse na digitalização e recuperação do filme Unemployment and money (1940) e documentos associados, tendo-se traduzido vários deles e organizado uma primeira versão de uma página web ligada ao sítio da The Polanyi Society (ver aqui) onde se inclui a visualização do filme e vários documentos associados. Note-se que o filme de Polanyi estava "desaparecido", não sendo visualizado há décadas. . 

    Fizemos, na altura, várias visitas às colecções especiais da Regenstein Library (na Universidade de Chicago), onde se encontra grande parte do espólio documental de Polanyi, e onde existe uma cópia em celulóide do filme. Essas visitas foram instrumentais para aguçar ainda mais o interesse pelo autor e pela sua obra. Agradece-se a simpatia e disponibilidade do respetivo pessoal. A digitalização da cópia existente na Regenstein Library, que nós promovemos, permitiu-nos apresentar o filme na conferencia anual da The Polanyi Society, em Chicago (2012). Entretanto as primeiras versões das traduções daqueles dois livros foram ficando na gaveta, a aguardar revisão

5. Extensão do programa inicial

    Em Outubro de 2012 decidimos traduzir Meaning (1975), o último livro de Polanyi, escrito com a colaboração com Harry Prosch, que há muito nos desfiava. Uma primeira versão da tradução ficou completa em menos de três meses, mas ficou também a aguardar revisão. Com a experiência já acumulada de traduzir Polanyi, e com a familiaridade entretanto adquirida com a sua obra e ideias, a tarefa acabou por ser mais rápida do que se tinha antecipado.

    No início de Dezembro de 2012 foi quase natural voltar a Personal Knowledge e considerar seriamente a sua tradução integral. Afinal de contas ninguém que se interesse pela filosofia polanyiana pode ser indiferente ao desafio da sua obra mestra e mais completa. E um projeto de tradução da obra de Polanyi ficaria sempre incompleto sem esta obra. Para além de que traduzir uma das obras de filosofia mais marcantes do século vinte é, por si, um desafio estimulante. Polanyi falaria aqui, e com propriedade, de "paixões intelectuais". Na altura estimamos poder completar uma primeira versão da tradução em meados de 2013 e de ter o livro fechado antes do fim desse ano, o que aconteceu. 

    A oportunidade de lançar a iniciativa "Grandes pensadores e grandes pensamentos sobre ciência e tecnologia" durante o congresso ALTEC2013, que teve lugar em Outubro de 2013 no Porto (ver aqui), justificou um esforço suplementar publicar a tradução de Personal Knowledge (aqui) a tempo de aí fazer a sua apresentação - assim como da colectânea Ciência e Tecnologia (aqui).

    Chegados a este ponto, faltava traduzir duas obras de Polanyi:  Science, Faith and Technology e The Logic of Liberty. Esta última obra foi traduzida para brasileiro nos anos sessenta, tendo sido a única obra de Polanyi anteriormente traduzida para português. Decidimos por isso não a incluir neste projeto. Aproveitamos o verão de 2014, no Douro, para traduzir Science, Faith and Technology, que foi publicado já em 2015, com um prefácio de João Álvaro Carvalho (ver aqui).

    Voltando ao filme de Polanyi, durante o verão de 2015 reviu-se e expandiu-se a página web sobre o filme de Polanyi (ver aqui). Disponibilizaram-se legendas em três línguas (inglês, português e húngaro) assim como documentação nova (WP130, WP131, WP132, WP133) ou revista (WP121b, WP128 ) sobre o filme. Em setembro de 2015 fomos convidados para falar num seminário em Budapeste sobre os 75 anos do filme de Polanyi, onde também se apresentou a nova versão da página web sobre o filme (ver aqui). Foi também disponibilizada a transcrição completa de uma terceira conferencia importante de Polanyi em 1937, não publicada até agora (WP134).

    Entretanto foi possível organizar um livro de ensaios sobre Michael Polanyi a partir das intervenções na sessão promovida no ALTEC2013, editado por mim e por Manuel Heitor. O livro Ciência, Sociedade e Tecnologia: ensaios sobre Michael Polanyi (aqui) inclui ensaios de Manuel Heitor, meu, Phil Mullins (traduzido por mim), Miguel Panão, Tiago Brandão e Carolina Bagatolli. Trata-se, quanto julgamos saber, do primeiro livro escrito em português sobre a obra de Michael Polanyi. O livro foi apresentado por Tiago Brandão no ALTEC2015 (em Porto Alegre, Brasil).

6. Ponto de situação atual

    O ponto de situação atual é tentar publicar as traduções de Meaning, The Contempt of Freedom e de Full Employment and Free Trade o mais rápido possível, acabando a sua revisão e respetivas notas introdutórias. Talvez seja possivel publicar as duas primeiras obras até final de 2015 e a terceira até final do primeiro trimestre do próximo ano. A ver vamos.

    Para completar o programa original do projeto faltará uma das duas colectâneas inicialmente previstas, Conhecer e descobrir. Os ensaios a incluir estão todos traduzidos, faltando apenas a revisão final de alguns - e a eventual negociação dos direitos. Este é um ponto difícil de entender: o custo pedido pelos editores para os direitos dos vários ensaios a incluir é bem superior ao total dos direitos de todos os livros de Polanyi que traduzimos, o que não faz qualquer sentido!

Candal, V. N. Gaia, 6 a 12 de dezembro de 2012. Revisto e atualizado em outubro de 2015.

Eduardo Beira

Última atualização: 21 outubro 2015. Versão anterior (2012): aqui.

See here for english version of the previous version of this page: Translating MICHAEL POLANYI (2012)

(*) Links para os vários WPs e outros materiais nossos sobre Polanyi estão disponíveis aqui.  Mais informação sobre o autor e sua atividade académica (EB), aqui.