João Habitualmente

Textos (mais ou menos) poéticos, translucidos e transmontanos


Eduardo Beira

Fotografias transmontanas (mais ou menos) (ir)reais 


Uma antologia de textos transmontanos por João Habitualmente ilustrada com fotografias de Eduardo Beira


Em formato 21x24 cm, 174 páginas. Com 20 fotografias a cores e 60 a preto e branco.
Junho de 2024


ÍNDICE  (pdf)
Em itálico, o texto que suscitou a fotografia

ANEXO (pdf)
Notas de contexto sobre as fotografias

NOVA EDIÇÃO em novo formato!


Apresentação em Areias
(Carraazeda de Ansiães)

Imagens do dia 25 de fevereiro, pelas 15:00 horas, quando os autores estiveram na Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Areias (em Carrazeda de Ansiães) a conversar sobre o nosso livro “Lugares primordiais”, uma antologia ilustrada de textos largamente inspirados pela vivência dos autores na pequena aldeia de Areias - com as suas pessoas, os seus animais, as suas pedras e as suas paisagens inspiradoras. Alguns dos textos do livro foram mesmo inspirados por personagens e histórias da aldeia.
A Associação das Areias fica na Rua da Escola nº 95 - como o nome indica, no edifício da antiga escola, onde a mãe do João Habitualmente - e sogra do fotógrafo - foi uma professora primária muito popular em finais dos anos 30 do século passado.

Reportagem pelo canaln.tv (de Mirandela):
(também aqui)


Sobre esta sessão, João Habitualmente comentou no seu Facebook (28 de fevereiro):

Qual é a diferença entre um profeta e um poeta? É que o primeiro não pode sê-lo na sua própria  terra, mas o poeta pode. Foi o que aconteceu este fim de semana: eu e Eduardo Beira, o escritor e o fotógrafo, acompanhados por Leonor Beira, estivemos a dinamizar uma tarde de leituras e conversa na Associação Cultural e Recreativa das Areias. Funciona no edifício que já foi a escola primária onde minha mãe foi professora. A respiração solar destes lugares deixou marca em muito do que escrevo. No último domingo chegou a vez de ir devolver às gentes desta pequena aldeia do planalto de Carrazeda de Ansiães o produto literário do que aqui fui colhendo: “Lugares primordiais com planalto e mar ao fundo”, álbum com fotografias de Eduardo Beira, algumas com mais de quarenta anos, e textos que aparecem em vários dos meus livros. Casa cheia, alguns dos presentes inspiraram figuras que aparecem na minha escrita, sobretudo nos contos. Casa cheia e muitos afetos, numa pequena aldeia do interior transmontano. Os palcos não têm tamanho, quem faz os palcos são as pessoas.

Os autores

O escritor

João Habitualmente

Nasceu no Porto em data incerta, aí por volta de 1980, quando descobriu que escrevia poesia e outras coisas. O nascimento terá ocorrido cerca de vinte anos depois da criatura que lhe alberga o heterónimo. Publicou o primeiro livro de poesia em 1995 (Agradecemos / Os sons parados) e o mais recente foi em 2022 (Estátuas na praça). Em 2019 foi publicada uma antologia do seu trabalho poético (Um dia tudo isto será meu). Obras suas têm sido incluídas em várias coletâneas literárias. Para além de poesia tem publicado conto, microficção e diário.

A criatura que lhe alberga o heterónimo é Luís Fernandes, filho de famílias transmontanas, onde continua a ter uma casa (em Areias). Profissionalmente é psicólogo e professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

O fotógrafo

Eduardo Beira

Faz fotografias desde 1970 e até agora não se cansou de fotografar as pedras e as terras do planalto onde tem uma casa (em Areias). Sempre sonhou que um dia será fotógrafo e ainda não perdeu a esperança. Publicou dois albuns com fotografias do Alto Douro e textos de terceiros: TUA. Colectânea literária: o vale, o rio e a linha férrea (2013) e mais recentemente UMA COMUNIDADE VIVA (Carrazeda, anos 1950-60). Da névoa do tempo à magia da criação (2023). Também um ensaio fotográfico “Mais de um século depois ...” no livro “A linha do Tua, 1887 e as fotografis de E. Biel” (2014).

Engenheiro químico (pouco praticante) desde 1974, foi gestor e administrador de empresas durante mais de vinte anos, depois de uma primeira carreira académica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Regressou à vida académica como professor convidado na Escola de Engenharia da U. Minho (2000-2012), onde foi professor associado e professor no programa MIT.Portugal. 

Coordenou o programa internacional e multidisciplinar FOZTUA (2010-2015) sobre o vale do Tua. Tradutor e editor de obras dos filósofos Michael Polanyi e Andrew Feenberg.

Mais aqui


(Algumas) fotografias do livro

Introduções ao livro

Primavers agora / Sol nos muros

Introdução 

Os meus lugares

João Habitualmente


Quem somos? Pergunta que carregamos toda a vida. Podemos resignar-nos e dizer: somos quem somos. Ou então: somos assim porque somos. Uma espécie de autoevidência sem passado nem futuro – eu sou eu e sou como sou. Ser seria um sítio redondo, sempre em redor de si próprio, sempre às voltas consigo mesmo. Filosofia e ciência não se conformaram com esta passividade e repõem permanentemente a questão: quem somos? A literatura, não formulando explicitamente a questão, é a arte de lhe ir respondendo. E responde?, podem legitimamente desconfiar filósofos e cientistas, podemos legitimamente desconfiar todos. Responde, mas não tem de provar nada – eis a sua liberdade.

Somos como somos porque fomos tomando uma forma. As formas precisam de formas - digamos antes de moldes, porque as palavras homógrafas às vezes confundem. O primeiro dos moldes é o útero – a vida intrauterina, onde já se esboçam registos sensoriais de um ser ainda às escuras no tépido banho amniótico. O parto atira-nos depois para o mundo. Nascemos necessariamente nalgum lugar. Crescemos necessariamente em algum lugar, andamos pela vida de lugar em lugar. Num mundo que se desmaterializa à velocidade da revolução digital, há algo que ainda não cedeu à voragem do virtual: o chão em que aprendemos a caminhar, os muros donde formamos os primeiros saltos, as árvores onde exercitamos a milenar à habilidade primática do trepar. Fazemos-nos de encontro ao mundo, lugar de relvas e durezas, de cheiros e pores-do-sol, de insetos e noites de lua cheia. É de tudo isto que se nutre a alma que vai enchendo o corpo. E por isso somos sempre de um lugar, mesmo que não saibamos como foram os primeiros, porque a memória que em adulto manejamos é posterior a isso.

Os textos deste livro são os destes lugares primordiais. Os meus lugares, aqueles que se fazem presentes quando escrevo. E vêm sem que chame por eles. O que é matriz é discreto, trabalha nas profundezas como um magma. E o magma, quando sobe, faz-se granito. Há-o por toda a superfície transmontana: ora no redondo dos cabeços, ora na planura dos lagedos, ora nas paredes verticais das escarpas. Pelo meio deste mar de pedra foi-se depositando sedimento, nasceram plantas, vieram gentes. Um dia cheguei eu. Quando a escrita me chamou dei por mim a notar que estava plena destes sítios. Testemunham-no os textos escolhidos para este livro. No exercício de os identificar no meio de quanto já escrevi dei-me conta de que não estão só nos poemas, mas também na micro-ficção, no registo diarístico e no conto. As imagens de Eduardo Beira – que também interveio na seleção dos textos – dialogam com eles. E acredito que o diálogo seja intenso e crie novos sentidos: não posso já ver as imagens, mas bem me lembro, dos tempos em que via, do poder do seu olhar através da máquina fotográfica para fixar a vida a acontecer e a multiplicidade do real.

Meus pais levaram-me todos os verões às vastidões do planalto onde tinham nascido

As fotografias deste livro pretendem ilustrar, de alguma forma, palavras selecionadas do texto associado. Essa associação pode ser mais ou menos realista, factual nalguns casos ou mais abstrata noutros casos, mas as fotografias selecionadas têm todas em comum o facto de serem imagens do planalto transmontano, mais concretamente do vale do Tua, sendo que a maioria das fotografias foram mesmo capatadas na aldeia de Areias, ou na sua periferia, no decurso das últimas décadas. Areias é uma pequena aldeia proxima de Carrazeda de Ansiães onde o escritor e o fotografo têm raizes comuns. O escritor é cunhado do fotógrafo que, por sua vez, é casado com uma irmã do poeta e lá por essas terras alto durienses têm partilhado territórios com espaços próximos e têm vivido óbvias comunalidades familiares. 

É nessa pequena aldeia que o escritor diz encontrar as “os meus lugares, aqueles que se fazem presentes quando escrevo” e é também por esses sítios que o fotografo tem recolhido imagens ao longo dos últimos cinquenta anos, desde que aí arribou pela primeira vez em pleno ano da revolução dos cravos. Algumas das imagens associadas ao último conto do livro são mesmo históricas, no sentido em que ilustram a aldeia (e algumas das suas personagens) nas décadas dos anos 80 e 90, o contexto em que o escritor foi elaborando os seus lugares “primordiais” no meio do “mar de pedra” transmontano. 

Se algumas das fotografias podem ser consideradas como “históricas”, para acompanhar um conto mais ou menos auto biográfico do escritor (sobre o “filósofo” Desidério), outras ilustram associações desse espaço transmontano com os textos. É claro que essas associações procuram descobrir sentidos (ou significados) diferentes por esforços diferentes da imaginação e da intuição, mas que são (porventura) suscetíveis de potencial racionalização “a posteriori”. Entre os significados descobertos pelo escritor (no seu texto original), pelo fotógrafo (nas imagens associadas) e pelo leitor final há certamente oportunidades de significados “perdidos na tradução”, num diálogo em que os atores procuram descobrir pontas soltas entre potenciais incomensurabilidades e descobrir e valorizar terrenos comuns que nascem das palavras etéreas, imprecisas, equívocas e subtis dos textos (poéticos ou mais ou menos poéticos).

Acontece que, como é sabido, o escritor é invisual desde há cerca de trinta anos, depois de já ter visto e habitado esses “lugares primordiais”, que tem continuado a visitar e habitar. Conheceu (em tempos) as imagens (e as paisagens) que usa nas suas palavras, o que abre um espaço comum com o fotografo que tem vivido alguns desses espaços, mas partilhando espaços visuais assíncronos e porventura até mesmo pouco comensuráveis: o invisual que agora "vê" (e que diz mesmo algures que  "prende o olhar") pelas imagens antes vividas mas entretanto (re)transformadas pela imaginação com base na experiencia entretanto vivida e "visualmente" transmitida por terceiros, principalmente através de palavras, mas não só. O diálogo ficará mais complicado, mas não impossível. 

As imagens não foram criadas de raiz para ilustrar passagens específicas dos textos, as quais aparecem assinaladas no próprio texto, em itálico, assim como legendas de cada imagem. As fotografias foram suscitadas pelos trechos dos textos que interpelaram o fotografo que, por sua vez,  as escolheu entre os milhares de imagens que registou na região, em especial nas ultimas duas ou três décadas. As fotografias foram suscitadas tanto pelo sentido das palavras como pela experiência vivida pelo fotógrafo na região - um terreno comum com o escritor que anteriormente criara os textos.

Introdução 

Terrenos comuns

Eduardo Beira

As galinhas, vagamente distraídas, iam marcando o ritmo das horas, num vagar de andar por ali à espera de cumprir os dias ...


João Habitualmente

Textos (mais ou menos) poéticos, translucidos e transmontanos


Eduardo Beira

Fotografias transmontanas (mais ou menos) (ir)reais 


Uma antologia de textos transmontanos por João Habitualmente ilustrada com fotografias de Eduardo Beira


Uma edição especial de 50 exemplares a cores, numerados e assinados pelos autores em formato A4 deitado.
Com 174 páginas, incluindo 67 fotografias a cor e 14 a preto e branco.

ESGOTADO


Ficha técnica

Título: Lugares primordiais com planalto e rio ao fundo
Textos: João Habitualmente
Fotos: Eduardo Beira

Grafismo e paginação: Adelino Almendra, Inovatec (Portugal) Lda
Impresso por Inovatec Press
Encadernação por Minerva, Artes Gráficas

ISBN 9798871718056
Depósito legal 525539/23
© Inovatec Press, dezembro de 2023

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