As fotografias deste livro pretendem ilustrar, de alguma forma, palavras selecionadas do texto associado. Essa associação pode ser mais ou menos realista, factual nalguns casos ou mais abstrata noutros casos, mas as fotografias selecionadas têm todas em comum o facto de serem imagens do planalto transmontano, mais concretamente do vale do Tua, sendo que a maioria das fotografias foram mesmo capatadas na aldeia de Areias, ou na sua periferia, no decurso das últimas décadas. Areias é uma pequena aldeia proxima de Carrazeda de Ansiães onde o escritor e o fotografo têm raizes comuns. O escritor é cunhado do fotógrafo que, por sua vez, é casado com uma irmã do poeta e lá por essas terras alto durienses têm partilhado territórios com espaços próximos e têm vivido óbvias comunalidades familiares.
É nessa pequena aldeia que o escritor diz encontrar as “os meus lugares, aqueles que se fazem presentes quando escrevo” e é também por esses sítios que o fotografo tem recolhido imagens ao longo dos últimos cinquenta anos, desde que aí arribou pela primeira vez em pleno ano da revolução dos cravos. Algumas das imagens associadas ao último conto do livro são mesmo históricas, no sentido em que ilustram a aldeia (e algumas das suas personagens) nas décadas dos anos 80 e 90, o contexto em que o escritor foi elaborando os seus lugares “primordiais” no meio do “mar de pedra” transmontano.
Se algumas das fotografias podem ser consideradas como “históricas”, para acompanhar um conto mais ou menos auto biográfico do escritor (sobre o “filósofo” Desidério), outras ilustram associações desse espaço transmontano com os textos. É claro que essas associações procuram descobrir sentidos (ou significados) diferentes por esforços diferentes da imaginação e da intuição, mas que são (porventura) suscetíveis de potencial racionalização “a posteriori”. Entre os significados descobertos pelo escritor (no seu texto original), pelo fotógrafo (nas imagens associadas) e pelo leitor final há certamente oportunidades de significados “perdidos na tradução”, num diálogo em que os atores procuram descobrir pontas soltas entre potenciais incomensurabilidades e descobrir e valorizar terrenos comuns que nascem das palavras etéreas, imprecisas, equívocas e subtis dos textos (poéticos ou mais ou menos poéticos).
Acontece que, como é sabido, o escritor é invisual desde há cerca de trinta anos, depois de já ter visto e habitado esses “lugares primordiais”, que tem continuado a visitar e habitar. Conheceu (em tempos) as imagens (e as paisagens) que usa nas suas palavras, o que abre um espaço comum com o fotografo que tem vivido alguns desses espaços, mas partilhando espaços visuais assíncronos e porventura até mesmo pouco comensuráveis: o invisual que agora "vê" (e que diz mesmo algures que "prende o olhar") pelas imagens antes vividas mas entretanto (re)transformadas pela imaginação com base na experiencia entretanto vivida e "visualmente" transmitida por terceiros, principalmente através de palavras, mas não só. O diálogo ficará mais complicado, mas não impossível.
As imagens não foram criadas de raiz para ilustrar passagens específicas dos textos, as quais aparecem assinaladas no próprio texto, em itálico, assim como legendas de cada imagem. As fotografias foram suscitadas pelos trechos dos textos que interpelaram o fotografo que, por sua vez, as escolheu entre os milhares de imagens que registou na região, em especial nas ultimas duas ou três décadas. As fotografias foram suscitadas tanto pelo sentido das palavras como pela experiência vivida pelo fotógrafo na região - um terreno comum com o escritor que anteriormente criara os textos.