CÓDIGO E NOME DA DISCIPLINA: HL 739 - Teoria da Ficção I
DOCENTE: Alexandre Nodari
HORÁRIO: Quarta feira, 09:00-12:00
LOCAL: Lab 02 (10 andar do D. Pedro I)
RESUMO: Milan Kundera definiu os personagens literários como “egos imaginários”, “egos experimentais”. Como metonímia de tudo que “fala”, tudo que diz “eu”, num texto literário, estes constituiriam uma espécie de experimento da subjetividade. No que consistiria esse experimento? O que acontece quando, ao lermos esse texto, dizemos esse “eu”? Falamos em seu nome, no seu lugar, com ele? Não falaria ele também em nosso nome, em nosso lugar, conosco? Mas o que, então, acontece com a gente nessa experiência de deslocamento subjetivo que constitui a literatura? Por meio da leitura de textos literários (Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Veronica Stigger), de teoria da enunciação (Benveniste, Bakhtin), de filosofia (Benjamin, Agamben, Foucault), de antropologia (Segalen, Pedro Cesarino), buscaremos pensar a experiência literária como a de uma obliquação do(s) sujeito(s), seu desdobramento em sujeito (eu) e objeto (outro), numa via de mão dupla, uma terceira margem.
CRONOGRAMA com as leituras obrigatórias
9/8 - Não haverá aula
16/8 - Apresentação | A gente
23/8 - A enunciação
1) "Poetry as fiction", de Barbara H. Smith (pros alunos que não lerem em inglês, aqui tem uma tradução para fins didáticos);
2) "A natureza dos pronomes", de Émile Benveniste;
3) "O aparelho formal da enunciação", de Émile Benveniste.
4) "Da subjetividade na linguagem", de Émile Benveniste (em: Problemas de linguística geral I).
5) "A língua e a escrita: Aula 8 (3 de fevereiro de 1969)", de Émile Benveniste.
Leitura complementar sugerida:
a) "Postulados da lingüística", de Deleuze e Guattari (em Mil platôs, v. 2)
b) "Lingüística e poética", de Roman Jakobson (capítulo de Lingüística e comunicação)
c) "Literature, as Performance, Fiction and Art", de Barbara Smith
d) "On the Margins of Discourse", de Barbara Smith
e) "Para uma história das formas da enunciação nas construções sintáticas", de Mikhail Bakhtin (terceira parte de Marxismo e filosofia da linguagem)
30/8 - O brincar | A heteronímia
1) O brincar e a realidade (D.W. Winnicott)
2) Fernando Pessoa: Carta sobre a gênese dos heterônimos; Prefácio às Ficções do interlúdio.
6/9 - A experiência
1) "Escrever, verbo intransitivo?", em O rumor da língua (Roland Barthes)
2) "Escrever a leitura", em O rumor da língua (Roland Barthes)
3) "Da leitura", em O rumor da língua (Roland Barthes)
13/9 - Não haverá aula
20/9 - A gente
1) Grande sertão: veredas
2) Figurações da leitura: um estudo sobre o papel do narratário em Grande sertão: veredas (Lisa Carvalho Vasconcellos). Dissertação de Mestrado, FALE/UFMG, 2005.
27/9 - Aula perdida
4/10 - A leitura
O ato da leitura (Wolfgang Iser): Volume 1 | Volume 2
Aqui a edição original (alemão) | Tradução ao inglês
Leitura complementar sugerida:
"The play of the text" (Wolfgang Iser), artigo da coletânea Languages of the unsayable
11/10 - A plasticidade (I)
O fictício e o imaginário (Wolfgang Iser) - Primeira Parte
18/10 - A plasticidade (I)
O fictício e o imaginário (Wolfgang Iser) - Primeira Parte
Leitura complementar sugerida:
1) trechos de A filosofia do como se, de Hans Vaihinger
2) Ogden, C. (org.). Bentham's theory of fictions. Oxon: Routledge, 1932.
3) Stierle, Karlheinz. A ficção. Tradução de Luiz Costa Lima. (Novos Cadernos do Mestrado, v. 1). Rio de Janeiro: Caetés, 2006.
4) Goodman, Nelson. Ways of worldmaking. Indianapolis: Hackett, 1978. [Aqui a tradução ao espanhol]
25/10 - Não haverá aula, para que todo possam comparecer ao evento Traduzir, a poesia (que começa terça, dia 24/10 à tarde e segue até dia 25, pela manhã)
1/11 - A plasticidade (II)
O fictício e o imaginário (Wolfgang Iser) - Segunda Parte
8/11 - A plasticidade (II) | O espelho
O fictício e o imaginário (Wolfgang Iser) - Segunda Parte
+
"O espelho", de Guimarães Rosa (Em: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 [1962].)
Leitura complementar sugerida:
Machado de Assis: “O espelho” (Publicado na Gazetas de Notícias em 1882; depois no volume Papéis avulsos)
Paulo Rónai:. “Os vastos espaços”. Prefácio às Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
15/11 - Não haverá aula
22/11 - O personagem | A heteronímia
1) "O autor e o herói" (caps. I a V), em Estética da criação verbal (Mikhail Bakhtin) | Obs.: Correspondente à parte "O autor e a personagem na atividade estética" da edição traduzida diretamente do russo.
2) Cap III - Vertentes estéticas, de Osakabe, Haquira. Fernando Pessoa: entre almas e estrelas. São Paulo: Iluminuras, 2013.
3) Fernando Pessoa: Carta sobre a gênese dos heterônimos; Prefácio às Ficções do interlúdio.
29/11 - O qualquer
Delírio de damasco (Veronica Stigger)
Leitura complementar sugerida:
Veronica Stigger: Pré-histórias, 2 (censuradas & extemporâneas)
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
A arte do romance (Milan Kundera)
"A aventura" (Georg Simmel)
"As dimensões da aventura" (José Paulo Paes)
"O conceito de ficção" (Juan José Saer)
"A arte como procedimento" (Viktor Chklovsky)
"Caos em poesia" (D.H. Lawrence)
A antiga musa: arqueologia da ficção (Jacyntho Lins Brandão)
O aracniano e outros textos (Fernand Déligny)
Linhas erráticas (Peter Pál Pelbart)
Austin, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
Budick, Sanford; Iser, Wolfgang (eds.). Languages of the unsayable: the play of negativity in literature and literary theory. Nova Iorque: Columbia University Press, 1989. [em especial, os artigos de Derrida, Frank Kermode e Wolfgang Iser]
Bollas, Christopher. The shadow of the object. Nova Iorque: Columbia University Press, 1987.
Costa Lima, Luiz. "A mímesis-zero". Em: Mímesis e modernidade: formas das sombras. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
___. "A mímesis-zero". Em: A ficção e o poema. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.
Deleuze, Gilles. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1997.
Derrida, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura. Trad. de Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014.
Ehrenzweig, Anton. The Hidden Order of Art: A Study in the Psychology of Artistic Imagination
Felman, Shoshana. The scandal of speaking bodies. Trad. (ao inglês) de Catherine Porter. Stanford: Stanford University Press, 2003.
Goodman, Nelson. Ways of worldmaking. Indianapolis: Hackett, 1978. [Aqui a tradução ao espanhol]
Gumbrecht, Hans Ulrich. "Ler em busca de Stimmung: como pensar hoje na realidade da literatura". Em: Atmosfera, ambiência, Stimmung. Sobre um potencial oculto da literatura. Trad. Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Contraponto, 2014.
Hamburger, Käte. A lógica da criação literária. 2. ed. Trad. Margot P. Malnic. São Paulo: Perspectiva, 2013: Download: Parte 1 | Parte 2
Huizinga, Johan. Homo ludens. Ojogo como elemento da cultura. Tradução de João Paulo Monteiro. 2 reimpressão da 5. ed. de 2001. São Paulo: Perspectiva, 2005.
Iser, Wolfgang. "On Translatability". Surfaces, v. 4, 1994.
___. Prospecting: from reader response to literary anthropology. Baltimore: John Hopkins, 1989.
Jankélévitch, Vladimir. O "quase-nada". Em: Primeiras e últimas páginas. Tradução de Maria Lúcia Pereira. Campinas: Papirus, 1995.
Kearney, Richard. The wake of imagination. Londres: Routledge, 2003.
Kermode, Frank. The sense of ending. Nova Iorque: Oxford University Press, 2000.
Massumi, Brian. What animals teach us about politics. Durham: Duke University Press, 2014
Osakabe, Haquira. Fernando Pessoa: entre almas e estrelas. São Paulo: Iluminuras, 2013.
Poulet, Georges. Phenomenology of reading. New literary history, v. 1, n. 1, 1969.
Schwartz, Murray. Where is literature? College English, v. 36, n. 7, 1975, pp. 756-76
Stierle, Karlheinz. A ficção. Tradução de Luiz Costa Lima. (Novos Cadernos do Mestrado, v. 1). Rio de Janeiro: Caetés, 2006.
Thomas, Yan. La valeur des choses. Le droit romain hors la religion. Annales. Histoire, Sciences Sociales, v. 57, n. 6, 2002, pp. 1431-1462
Warning, Rainer. STAGED DISCOURSE: REMARKS ON THE PRAGMATICS OF FICTION. Dispositio, v. 5, n. 13/14.
Zumthor, Paul. Performance, recepção, leitura. 2. ed. revista. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, s/d.