Amanda Pietra ● Beatriz Lavado Hamann
● Larissa Caroline de Carvalho ● Tatiane Patrícia Amaral
Foto: Arquivo de imagens da Escola de Belas Artes do Paraná - Campus I da UNESPAR
OSWALD LOPES
Nascido em Curitiba no dia 18 de fevereiro de 1910, Oswald Lopes foi um pintor e escultor cujos trabalhos tinham como principal fonte o movimento Paranista. Oswald concluiu o colegial no Colégio Partenon e logo após foi mandado por seus pais para frequentar o atelier de Lange de Morretes, mas também teve aulas com Alfredo Andersen e João Turin. Segundo Salturi, Lange foi uma grande influência para Oswald. Como criador da estilização geometrizada dos pinhões, que basicamente se tornou uma identidade paranaense, Lange foi para Oswald esse mentor que fez com que o pinheiro araucária se sobressaísse em suas pinturas. (SALTURI, 2007, p. 224)
Em 1933, assumiu o cargo na Cadeira de Desenho no Instituto de Educação do Paraná, que anteriormente era ocupado por Lange, mas também ensinou desenho nos colégios Iguaçu, Belmiro César, Estadual do Paraná e Rio Branco. (SALTURI, 2007, p. 224)
Em 1948, foi um dos vários professores responsáveis pela criação da Escola de Musica e Belas Arte do Paraná, em no seu primeiro ano de funcionamento, Oswald lecionou Desenho Geométrico, porém a partir do segundo ano começou a lecionar modelagem, cargo que pertencia a João Turin, antes de sua morte. Em 1949, Oswald assume a direção da seção de Artes Plásticas do Departamento de Cultura do Paraná. (TORRES, 2017, p. 177-197)
Participou de diversas edições do Salão Paranaense e obteve Medalha de Bronze no I Salão Paranaense, em 1944, pela pintura Auto Retrato. Medalha de Prata em pintura no V Salão Paranaense, em 1948 e Medalha de Ouro em escultura no XVII Salão Paranaense, em 1960 pelo busto de Clóvis Bevilaqua. (SALTURI, 2007, p. 224).
Oswald era um verdadeiro apaixonado pelo seu estado e desde a juventude nutria a vontade de externar o amor pelo Paraná. Ele não só planejou como também executou o necessário para o seu sepultamento em um caixão em forma de pinhão. Aos 18 anos executou um molde em argila, no formato de um pinhão, que serviria como base para a execução futura do ataúde.
Em 1962, dois anos antes de sua morte, Oswald com ajuda de seus alunos, colocou em prática um projeto para a construção de seu próprio caixão. Segundo o filho dele, entre a finalização do caixão e seu uso final, Oswald o mantinha como um armário e ali guardava seus pertences. Ao fundo do móvel improvisado, lia-se a frase “Meu enterro não deve ser fúnebre e sim festivo”. Também teve a preocupação de separar uma fita para amarrar o queixo e forrar um travesseiro com serragem, artifício para descansar a cabeça. Redigiu uma carta em que determinava quem seriam as pessoas encarregadas de transportarem seu caixão. (GRASSI, 2015).
O pinhão-ataúde de ângulos retos traz uma riqueza em detalhes e remete ao longo processo de planejamento a que Oswald deve ter submetido sua última obra. Os pés, em formato de pinhas, elevam-no do solo. Grimpas estão posicionadas tanto nas laterais quanto na tampa do caixão. Cruzadas com uma pinha ao meio, elas formam uma cruz. Até mesmo as alças foram planejadas em formato de pinhão, sendo seis, três de cada lado. Tanto planejamento não evitou uma pequena intercorrência durante o sepultamento no Cemitério Municipal São Francisco de Paula: o caixão excedia a largura do túmulo, que teve partes quebradas para receber Oswald. (GRASSI, 2015).
E foi assim, em nove de janeiro de mil novecentos e sessenta e quatro, por complicações em uma cirurgia, que Oswald Lopes vem a falecer.
O Poder Simbólico do Paranismo nas obras de Oswald Lopes
Para Pierre Bourdieu, o poder simbólico é o poder exercido sobre nós nas entrelinhas da sociedade e esta dominância pode se mostrar também através da cultura, das normas da sociedade, entre outras maneiras. Iremos analisar o contexto histórico no qual Oswald Lopes estava inserido, com ênfase no Movimento Paranista, que buscava criar uma imagem idealizada do estado do Paraná e se diferenciar do resto do país e principalmente de São Paulo, para compreender como o influenciaram nas suas obras.
Em 1910 ocorreu, no Brasil, A Revolta da Armada, onde marinheiros, liderados por João Cândido fuzilaram o comandante Batista das Neves, e pediram o fim do regime primitivo da chibata, e também teve a passagem do Cometa Halley, ocasião em que muitos entraram em pânico acreditando em rumores que diziam que haveria gases nocivos na cauda do cometa (ACERVO ESTADÃO, 1910, p. 1). Era o século XX, um século de transformações e de novas ideias, quando grandes novidades apareciam sem cessar e novas ideologias surgiam. Uma época em que, no Brasil, a República era glorificada, enquanto o antigo regime era considerado retrógrado. A capital, Rio de Janeiro, já tinha passado por um processo de modernização, com novas normas sociais que visavam tornar a cidade mais “civilizada”. Foi nesse contexto nacional, em 1910, que nasceu Oswald Lopes, artista curitibano que pintou paisagens memoráveis.
No Paraná, segundo Luiz Carlos Knigoski, dez anos depois, mas ainda nesse contexto de efervescência de um novo Brasil, surgiu o Movimento Paranista (1920-1930), que como na República, viu a necessidade de desenvolver no imaginário coletivo a imagem de heróis paranaenses, uma imagem romantizada desse estado, a fim de construir uma identidade regional. Esse movimento teve a participação de artistas, intelectuais e escritores, que buscaram a ideia do indígena e do folclore, e transformaram a figura da Araucária no símbolo paranaense, imaginário que até hoje permanece, especialmente na capital. (KNIGOSKI, 2005, p. 1)
[...]Após a emancipação política do Paraná, em 1853, e sua posterior oficialização como estado – o território paranaense, até então, pertencia à Província de São Paulo –, artistas, pensadores, historiadores e a elite intelectual da época se preocuparam em construir uma identidade para o novo estado que surgia. (DANIEL, André Ribeiro, 2016, p 2).
Segundo Amanda Aide Gabardo Kramar, os seguidores, admiradores, e ex-alunos de Alfredo Andersen eram muitas vezes adeptos desse movimento, e criaram a Sociedade de Amigos de Alfredo Andersen (SAAA) que tinham um compromisso com a futura Casa Andersen de agir em prol das artes plásticas paranaenses. Oswald Lopes foi um dos membros da SAAA, junto com Carlos Coelho Júnior, Gaspar Veloso, David Carneiro, Theodoro De Bona, Otávio de Sá Barreto, Raul Gomes, Valfrido Pilotto, entre outros. (KRAMAR, 2018, p. 45)
Para André Ribeiro, a ideologia Paranista era elitista e impunha violência simbólica a grupos étnicos, como os indígenas. Quanto aos próprios artistas plásticos ligados ao movimento, que muitas vezes vinham de famílias de imigrantes, eles necessitavam da ajuda do Estado para viverem como artistas, para completarem sua formação ou para receberem encomendas, o que os obrigava, já que eram dependentes da instituição, a colaborar para construir imagens da desejada identidade do Paraná (DANIEL, 2016, p. 2). Podemos perceber o quão influente foi o Paranismo que, através do seu poder simbólico, e até mesmo pela violência simbólica, manipulou gerações (não apenas pessoas de origem imigrante como citei) para que os artistas fossem coagidos a colaborar na construção da imagem de um estado diferente do resto do Brasil, ideologia presente até mesmo em instituições do estado paranaense.
O habitus, que é algo que não necessita de um agente coordenando as condições e moldando a sociedade, no contexto do Paranismo influenciou vários artistas do período a seguirem por esse caminho, mesmo depois do fim oficial do movimento, o que chegou, inclusive, segundo o artista Fernando Velloso em entrevista ao ECOA, a prejudicar o desenvolvimento de outros estilos de arte mais modernos no estado do Paraná no século passado. Pois é através do habitus, criado a partir de interações familiares, educacionais ou culturais que, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, o indivíduo aprende como ele deve se comportar em determinados grupos, que nesse caso é o meio artístico paranaense.
Assim, é possível indagar que Oswald Lopes, além de ser influenciado pelo poder simbólico do Paranismo na sua arte, também esteve envolvido com os Paranistas membro da SAAA, e isso fica muito evidente em suas obras, que possuem muito frequentemente os pinheiros, não só fazendo parte da paisagem, mas em destaque, como mostram algumas paisagens abaixo deste texto, uma característica marcante de obras Paranistas, do meio artístico paranaense da época e até mesmo de muitos artistas paranaenses atuais, além de suas pinturas conversarem muito bem com obras de outros artistas Paranistas.
OBRAS DE OSWALD LOPES
EXPOSIÇÕES DE OSWALD LOPES
Durante sua carreira artística, Oswald participou de várias exposições coletivas no Salão Paranaense de Belas Artes, e em exposições individuais mostrou em São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, e Curitiba.
Biografia:
GRASSI, Clarissa. Amor pelo Paraná na morte. Gazeta do Povo, Curitiba, 04 de Out. 2015.
OSWALD LOPES. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Oswald_Lopes&oldid=56163399>. Acesso em: 25 jun. 2021.
SALTURI, Luis Afonso. Frederico Lange de Morretes, Liberdade dentro de limites: Trajetória do Artista-Cientista. Dissertação (Pós-Graduação em Sociologia). 2007. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.
TORRES, Renato. O conservadorismo moderno na estruturação do projeto da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (1910-1950). Tese (Doutorado em Educação, Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação). 2017. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.
O Poder Simbólico do Paranismo nas Obras de Oswald Lopes:
ACERVO Estadão. Páginas da história, anos 1910. São Paulo. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/paginas-da-historia/decada_1910.shtm . Acesso em: 07 de junho de 2021.
DANIEL, André Ribeiro. Paranismo, passado e presente: análise discursiva do Manifesto Paranista e reflexões sobre suas consequências no fazer artístico popular hoje em Curitiba. 2016. 35f. Monografia (especialização em Artes Híbridas) - Departamento Acadêmico de Desenho Industrial. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba. 2016.
HISTÓRIA Hoje. Chega o século 21, costumes e moda. Disponível em: https://historiahoje.com/chega-o-seculo-xx-costumes-e-moda/ . Acesso em: 06 de junho de 2021.
KANIGOSKI, Luiz. Movimento Paranista. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~coorhis/kimvasco/paranismo.html . Acesso em: 5 de junho de 2021.
KRAMAR, Amanda Aido Gabardo. Crítica de Arte e Modernidade, entre a formação do artista e a educação do espectador. Orientador: Profª. Dra. Dulce Regina Osinski. 2018. Dissertação (mestrado). Mestre em Educação, Universidade Federal do Paraná, 2018.
Oswald Lopes In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa344957/oswald-lopes . Acesso em: 16 de junho de 2021. Verbete de Enciclopédia
Obras:
Imagem 1: Arquivo de imagens da Escola de Belas Artes do Paraná - Campus I da UNESPAR
Imagem 2: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/amor-pelo-parana-na-morte-e0x7tgawlhl52kf1m12uhn5p8/. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 3: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64765/sem-titulo. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 4: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64764/paisagem. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 5: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64770/sem-titulo. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 6: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64773/sem-titulo. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 7: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64775/atelier-2. Acessado em 28/06/2021.
Imagem 8: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra64767/primeiro-atelier. Acessado em 28/06/2021.
Adicionais:
Infográfico 1: https://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_Lopes. Acessado em 11/06/2021.
Infográfico 2: https://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_Lopes. Acessado em 11/06/2021.