QUERO MINHA INDENTIDADE

EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE

(Mateus 18,15-20)

“Se teu irmão pecar (contra ti),

vai argüi-lo entre ti e ele só.

Se ele te ouvir,

ganhaste a teu irmão.

Se, porém, não te ouvir,

toma ainda contigo uma ou duas pessoas,

para que,

pelo depoimento de duas ou três testemunhas,

toda palavra se estabeleça.

E, se ele não os atender,

dize-o à igreja,

e, se recusar ouvir também a igreja,

considera-o como gentio e publicano.

Em verdade vos digo que

tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus,

e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.

Em verdade também vos digo que,

se dois dentre vós,

sobre a terra,

concordarem a respeito de qualquer coisa que,

porventura, pedirem,

ser-lhes-á concedida por meu Pai,

que está nos céus.

Porque,

onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,

ali estou no meio deles”.

Antes de iniciarmos a palavra, quero aqui recordar um importante acontecimento histórico tanto na vida da comunidade cristã quanto na comunidade judaica.

Por volta do ano 66 e 73 d.C, ocorreu na Palestina uma grande guerra entre os romanos e judeus denominada de Guerra Judaica. Nessa guerra, alguns judeus furiosos com os ataques romanos contra a religião e o Templo promoveram uma grande revolta para tomar o poder do Império Romano. Contudo, essa iniciativa dos judeus não deu muito certo. Além de perderem a guerra, os judeus tiveram o seu povo, a sua principal cidade (Jerusalém) e o seu Templo totalmente massacrados.

Tito, até então general do Império Romano, não teve dó nem piedade de Jerusalém. No ano 70 d.C, ele cercou a cidade, derrubou os muros, entrou nas casas, matou os seus moradores, e mesmo contra sua vontade, ateou fogo no Templo.

No dia nove do mês Abib do calendário judeu, o mesmo dia em que se relembrava a destruição do primeiro Templo, Tito destruiu o Templo de Jerusalém.

Segundo Flávio Josefo, um historiador judeu daquela época, durante esta guerra foram feitos cerca de noventa e sete mil homens prisioneiros e mais de um milhão de mortos. Assim diz ele em seu depoimento:

Quando o fogo devorava o templo, os soldados [romanos] furiosos saqueavam e matavam a todos os que encontravam. Os velhos e as crianças, os sacerdotes e os leigos, eram todos passados a fio de espada; todos eram envolvidos nessa matança geral e os que recorriam aos rogos, não eram tratados com mais clemência do que os que tinham a coragem de se defender até o fim; o gemido dos moribundos misturava-se com o barulho do crepitar das chamas, que avançavam sempre e o incêndio de tão grande edifício, situado num lugar elevado, fazia, aos que o contemplavam de longe, pensar que toda a cidade estava sendo devorada pelas chamas. (JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus. Livro Sexto, Capítulo 28, pg 679)

No entanto, após a destruição do Templo e da cidade de Jerusalém pelos romanos, muitas pessoas não tinham mais como viver ali. Não havia mais clima nem condições humanas básicas para continuar vivendo na cidade. Portanto, grande parte dos sobreviventes e dos miseráveis resolveu fugir para outras cidades. Alguns fugiram para bem longe, já outros decidiram partir para as cidades vizinhas.

Os judeus, por exemplo, tiveram que se dispersar e se reorganizar totalmente. As comunidades cristãs que em Jerusalém existiam, também saíram. Algumas foram para Pela, que ficava no lado oriental do Rio Jordão. Outras se espalharam pela Síria e Fenícia. E, outras ainda se refugiaram junto à comunidade de Antioquia na Síria.

E foi provavelmente de Antioquia, por volta do ano 80 d.C, que Mateus escreveu o seu evangelho para essas comunidades que tinham nascido na Palestina. É, portanto, nesse contexto de perseguição, de fuga e de esconderijo que o Evangelho de Mateus é escrito.

Num tempo de dor, destruição, divisão, fome, angústia e tristeza, Mateus quer relembrar a história de Jesus de Nazaré junto com as suas discípulas e os seus discípulos. A partir da vida e do ministério de Cristo, Ele quer construir uma nova identidade para a igreja daquela comunidade. Enfim, Mateus quer mostrar que após essa terrível guerra as pessoas não deveriam ficar fechadas em si mesmas, uma olhando para a outra, mas se abrir para todos, levando a todos os tempos e a todos os lugares a palavra e ação que libertam para uma nova vida.

Nesse novo momento histórico-religioso, o Evangelho de Mateus busca resgatar algumas características fundamentais da Igreja como Corpo de Cristo. Ele busca resgatar a sua identidade como comunidade.

Hoje, particularmente, podemos também dizer que vivemos diversas situações de guerras e conflitos.

São muitas as batalhas que, como Igreja, temos de enfrentar no nosso dia a dia. São muitos os impérios, são muitos os romanos que se levantam contra nós e tentam destruir as nossas casas, tentam destruir o nosso Templo.

Talvez, eles até tenham conseguido. Não sabemos.

Porém, depois de tudo isso, depois de toda guerra e destruição, nos surgem algumas perguntas que precisam ser prontamente respondidas, tais como:

.........E agora, que tipo de igreja nós queremos ser?

-------Qual é a verdadeira identidade que nós vamos ter?

-------Qual é o compromisso que vamos assumir?

-------Daqui pra frente, como Igreja, como vamos nos comportar?

-------Como vamos viver?

Graças a Deus, através do Evangelho de Mateus, Jesus deixa algumas orientações para a igreja que vive em tempos de conflitos. Graças ao Bom Pai, Jesus deixa alguns preciosos ensinamentos para nos orientar como uma nova comunidade. Enfim, Ele deixa algumas orientações para construirmos uma nova vida e uma nova identidade.

A primeira delas é a seguinte:

UMA IGREJA ACOLHEDORA

Jesus ensina aos seus discípulos e discípulas que, em tempos de crises, dificuldades e dor, a igreja precisa ser uma comunidade acolhedora. A acolhida e a aceitação são características fundamentais na identidade da igreja cristã. A verdadeira igreja não é aquela que exclui, mas é aquela que abre os seus braços e acolhe os irmãos.

De um modo geral, percebe-se que havia alguns problemas de relacionamento entre os irmãos que viviam no seio da comunidade de Mateus. Aqui o texto indica a prática de um processo de exclusão e de limpeza dentro da igreja. Aqueles que pecavam e erravam eram excluídos da igreja juntamente com “os devedores”, os menores” e “os pequeninos”. Resumindo, a igreja não era lugar de mulheres e homens pecadores. Mas sim de seres santos, espirituais e bons.

Curiosamente ou não, hoje se percebe em muitas de nossas igrejas a mesma prática de limpeza e exclusão. Não queremos aqui, de modo algum, criticar o nosso Código de Disciplina que é um ótimo meio de correção e edificação da igreja. Por outro lado, queremos apenas ressaltar que em nosso meio basta alguém cometer um equívoco ou pecado e já estamos todos prontos para excluí-lo. Mal alguém pecou e nós já lançamos sobre ele alguns olhares indiferentes, tomamos atitudes de frieza e de total descaso.

O que dizer então quando em nossa igreja nos confrontamos com a presença de alguém estranho? O que fazemos? Que atitudes tomamos? Aqui, portanto, nos cabe aquela velha e célebre ilustração: se hoje entrasse pelas portas dessa igreja ou uma prostituta, ou um homossexual, um punk, um viciado em drogas, o que nós faríamos? Como nos comportaríamos? Infelizmente, é certo que, ao invés de um clima de amor e de acolhida, em apenas alguns minutos já perceberíamos algum sentimento de incomodo e desconforto. Talvez até tenhamos algumas palavras ou atitudes de preconceito.

Portanto, a partir disso, a orientação básica de Jesus que Mateus registra é que a igreja deve voltar-se sempre com maior cuidado para “os devedores”, “os menores” e “os pequeninos”. Neste caso, a igreja deve voltar-se sempre com maior amor e acolhida aos pecadores de nosso tempo, porque Jesus veio não para chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento (Mateus 9,13). Enfim, deve-se entender que todos merecem ser acolhidos.

Na Igreja de Deus ninguém deve ser excluído: nem os santos, nem os pecadores,

nem puros e nem impuros. Todos são alvos do amor e da misericórdia de Deus,

porque Deus não quer que nenhuma pessoa se perca.

Uma outra orientação de Jesus que Mateus registra é a de:

UMA IGREJA QUE PRATICA A JUSTIÇA

A igreja, o grupo de seguidores de Cristo que se reúne para adorar a Deus nesses tempos de crises, deve ser fundamentada pela justiça. Onde existe a igreja, aí deve também existir a justiça. A justiça é o que dá identidade à igreja e ao povo de Deus.

Contudo, na comunidade de Mateus, por exemplo, pode-se dizer que estava acontecendo exatamente ao contrário. Aquela mesma comunidade que antes foi injustiçada, passou agora a cometer as mesmas injustiças. Talvez injustiças até maiores ou piores. Aquela mesma comunidade que fugiu e foi perseguida, tornou então a perseguir os fugitivos.

Portanto, Mateus traz novamente à tona as palavras de Jesus que nas entrelinhas afirma o seguinte:

“Que não se repita em nosso meio o que acontece sob o manto dos poderosos”. Em outras palavras, ele diz: “Não se pode repetir aqui o que acontecia em Jerusalém!”.

As riquezas e o poder, as brigas e as contendas, as glórias e as injustiças fazem parte do passado.

Agora é um novo tempo em que precisamos construir uma nova igreja comprometida com a justiça.

Jesus sabe que ninguém de nós é perfeito, e não é porque O seguimos que estamos livres de cometer erros. Porém, como devemos agora, nessa nova igreja, lidar com aquele irmão que errou?

Como agirmos com o nosso próximo que pecou? O que fazer com ele?

A igreja que pratica a justiça evita o abuso do poder e a arbitrariedade, levando em conta que todo mundo tem direito à boa fama. Primeiro não se pode espalhar o erro do irmão para todo mundo, mas corrigi-lo a sós. Ele pode não acreditar no que estamos falando, ou simplesmente não aceitar. Direito dele. Então arranjemos uma testemunha. Se ele novamente não aceitar, então, e só então, devemos comunicar a toda a comunidade. Questão grave, e agora é a comunidade que vai decidir.

Se o irmão não aceitar nem a palavra da comunidade, então ficará excluído dela, como um pagão ou um cobrador de impostos.

E daí?

Tudo acabado?

Tudo encerrado?

Não. Agora a igreja deve procurar o irmão, assim como o pastor procura a ovelha perdida.

Jesus tinha preferência pelos perdidos, porque assim como a palavra de Deus nos diz: “Ele veio para salvar o que estava perdido” (Mateus 18,11).

Vivemos hoje numa sociedade de muitas atrocidades e injustiças. Dia após dia são muitos os “Mensalões”, são muitos os “Beira-mar” e os “Nardoni” que vêm a luz do dia. Porém, como Igreja e Corpo de Cristo, precisamos praticar a justiça.

E, uma última orientação de Jesus que Mateus registra para formar uma identidade para igreja é:

UMA IGREJA ONDE CRISTO SE FAZ PRESENTE

De um modo geral, o versículo de número vinte é muito conhecido pela igreja: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Infelizmente, ele tem sido muito utilizado justificar o número de membros reunidos dominicalmente numa igreja. Quando o culto parece não ser muito atrativo e as pessoas não comparecem à igreja, é comum o líder, o pastor ou o dirigente recitar esse versículo: “Olha pessoal, não vamos nos desanimar. Não vamos ficar tristes, pois Jesus mesmo disse onde dois ou três estiverem reunidos no nome Dele, ali Ele se fará presente”.

Sim! É claro, Cristo está presente! Ele sempre se faz presente. No entanto, às vezes, é um pouco complicado fazer esse tipo de afirmação, porque ela pode deixar transparecer o nosso conforto e conformismo com a situação: “Ah! Do jeito que está, está bom! Vamos deixar como está para ver como que fica!”.

Praticamente, é a mesma coisa que aconteceu no episódio da transfiguração, onde Jesus se transfigurou diante dos seus discípulos Pedro, Tiago e João. O rosto de Jesus resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E então, apareceram Moisés e Elias que estavam falando com Jesus. Nisto, quando Pedro viu, disse ao Senhor: “Senhor, bom é estarmos aqui; se você quiser, vou fazer aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias” (Mateus 17,4). Ou seja: “Vamos ficar aqui entre nós mesmos! Não vamos descer desse monte sagrado, não. Oh, que bênção! Oh, que maravilha!”.

A identidade da igreja deve estar firmada na presença de Jesus Cristo. Tal como a justiça, onde a igreja está presente, ali Jesus Cristo também está presente. O pouco número de membros ou participantes do culto não é uma condição primária para se perceber a presença Cristo. Aliás, Cristo não está preocupado com os números. Ele é maior e bem mais transcendente do que isso. Do mesmo modo que Ele se faz presente numa igreja de poucas irmãs e irmãos, Cristo também se faz presente numa igreja de muitos membros.

Contudo, a identidade da igreja deve estar firmada na presença de Cristo na medida em que ela mesma se observa como comunidades de pobres pessoas errôneas e pecadores. Cristo está presente! Portanto, nós não somos senhores. Pelo contrário, somos apenas servos. Não estamos aqui para ser servidos, mas para servir. Não estamos aqui para julgar, mas para obedecer e amar.

Ele é o Messias!

Ele é o Senhor!

Ele é Salvador!

Por isso, a presença de Cristo em nossas vidas faz com que vivamos de um jeito diferente. Ela não serve para justificar o pouco número de membros, serve, porém, para que tenhamos uma vida diferente.

CONCLUSÃO

A igreja, hoje, assim como a comunidade de Mateus, precisa mais do que nunca resgatar a sua identidade. Depois de tanta guerra e horror, precisamos saber que tipo de igreja que nós queremos ser. Será que seremos a igreja de Jerusalém: cheia de autoridade, de riquezas e de poder? Ou então, seremos a igreja de Antioquia: uma igreja que acolhe os pecadores e os perdidos, uma igreja que pratica a justiça e uma igreja onde se manifesta a presença de Cristo? Que Deus nos abençoe em nossos caminhos. Que o Senhor nos guarde em nossas escolhas e decisões. Amém!

POSTADO POR

HIPOLITO CESAR

Hipolito Cesar e Casado e pai de 3 filhos, é formado em Teologia pelo Instituto Betel

Atuante na Obra, Evangelico, Missioanario,palestrante,pregador da palavra,profeta.

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