Apesar de toda a informação pertinente disponibilizada atualmente à população, “as doenças orais constituem, pela sua elevada prevalência, um dos principais problemas de saúde oral”. Contudo, quando atempadamente prevenidas e tratadas, estas doenças conduzem a uma diminuição dos custos económicos e à aquisição de ganhos em saúde. Desta forma, é crucial desenvolver “ações de promoção da saúde e prevenção das doenças orais”.
Desde 1986 que em Portugal tem sido atribuída uma maior importância relativamente à promoção da saúde oral e no que respeita à prevenção de doenças periodontais e da cárie dentária. Neste contexto, foi desenvolvido o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral que delineou estratégias de intervenção “de promoção da saúde oral, que se inicia durante a gravidez e se desenvolve” ao longo do ciclo vital. (Direção Geral da Saúde, 2005)
Com o intuito de comemorar o Dia Mundial da Saúde Oral, no 20 de Março de 2019, foi desenvolvida uma ação de sensibilização pela Unidade de Cuidados na Comunidade Pedra da Sé com o objetivo de promover a saúde oral, através da aplicação de um questionário para recolha de informação acerca dos hábitos de higiene oral dos utentes, bem como do conhecimento e estratégias de prevenção da cárie dentária que estes demonstram.
Para além da aplicação do questionário, foi disponibilizada informação através da divulgação de panfletos informativos e ilustrativos, nos quais foram providenciadas algumas recomendações acerca dos hábitos de higiene oral mais adequados, da sua importância e do modo como devem ser efetuados, aspetos estes que vão ao encontro daquilo que é preconizado pela Direção Geral da Saúde (DGS). Tivemos, ainda, a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas que foram surgindo, de forma individual.
RESULTADOS
Com a aplicação do questionário, verificou-se que 42,2% da população ainda demonstra baixa literacia em saúde no que respeita à higiene oral, continuando a existir algum desconhecimento quanto à importância da higiene oral adequada, bem como da prevenção da cárie e da doença periodontal.
De acordo com os resultados obtidos, 45,3% da população escova os dentes duas ou mais vezes ao longo do dia, sendo que, destes, 4,7% o fazem mais do que 3 vezes. Contrariamente ao preconizado, uma boa parte da população inquirida (12,5%), não escova os dentes em momento algum do seu dia, o que aparentemente está de acordo com a baixa literacia verificada.
Embora exista um grande conhecimento acerca da importância do fio dentário pela população, uma parte considerável desta (67,2%), não aplica esse conhecimento, desvalorizando a importância da sua utilização.
O conhecimento acerca da necessidade de substituir a escova de dentes é demonstrado por 82,8% da população inquirida. Ainda assim, 45,3% dos participantes apenas substitui a escova quando esta já não se encontra em perfeitas condições, o que contraria as orientações descritas da troca de 3 em 3 meses, procedimento efetuado por 39,1% dos inquiridos. Os dados mostram ainda, que 10,9% dos inquiridos não procedem à substituição da escova.
Existe a recomendação da ida ao dentista, pelo menos, de 6 em 6 meses. No entanto, estes resultados mostram que apenas 14,1% dos participantes o faz com esta regularidade. Contrariamente ao recomendado, encontrou-se uma parcela relevante de 29,7% de indivíduos que apenas recorre ao dentista quando já manifesta alguma sintomatologia, nomeadamente dor.
No que concerne ao conhecimento relativo à prevenção da cárie dentária, observa-se que a grande maioria dos participantes (95,3%) reconhece que a escovagem dos dentes, quando realizada apenas uma vez por semana, é insuficiente. Por outro lado, 93,8% considera que realizar a escovagem pelo menos 2 vezes ao dia, é fator de prevenção da cárie.
Também a maior parte dos inquiridos (93,8%), assume que a alimentação, principalmente a mais rica em açúcar, se encontra relacionada com o surgimento da cárie.
Ainda no que respeita à prevenção, a generalidade dos participantes (89,1%) identifica a necessidade de ir, pelo menos uma vez por ano ao dentista, como medida crucial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em conta a análise da globalidade das respostas obtidas com o questionário aplicado, foram identificados dois focos que devem ser levados mais em conta no que toca à educação da população para uma adequada higiene oral.
Verifica-se que, apesar da maioria dos inquiridos conhecer a existência do fio dentário, grande parte destes não coloca esse conhecimento em prática, o que leva à identificação deste aspeto como uma necessidade de intervenção. Para além da realização de sessões de educação para a saúde oral, junto dos vários grupos etários, considera-se pertinente, não só instruir para uma correta escovagem dos dentes, como também reforçar a necessidade e a importância da utilização do fio dentário.
Neste contexto, achamos conveniente associar esta componente teórica a uma prática, na qual os indivíduos possam adquirir uma oportunidade de executar, eles próprios, a escovagem, bem como a utilização do fio dentário. Desta forma, o enfermeiro pode identificar os erros mais comuns e orientar no sentido de os corrigir, em tempo real.
Outro dos aspetos no qual é crucial atuar, diz respeito à promoção da literacia em saúde, essencialmente no que se refere à disponibilização de informação, nomeadamente sobre cárie dentária, uma vez que, quase metade dos inquiridos (43,2%), desconhece este problema, não lhe atribuindo a importância devida.
Assim, ressalva-se a necessidade de continuar com este tipo de intervenções na comunidade, com o objetivo de informar, educar e capacitar para a tomada de decisão na adoção de comportamentos que promovam a sua saúde oral.
Adriana Rocha
Ana Rita Serrano
Diana Caessa
4º ano Licenciatura Enfermagem
Escola Superior de Saúde de Viseu