(1991) Acrílico em papel (restaurado em 2025)
Conexão de dois mundos aparentemente separados.
É o encontro de dois mundos que se entrecruzam.
O da realidade com o sonho, o das possibilidades improváveis com o do conformismo afinal ainda sensível.
Entre ambos, uma vela. Um pequeno centro de luz e calor que rompe com a sobriedade e frieza do ambiente. Em primeiro plano, uma pessoa, pouco definida. Não se alude a qualquer confusão de género, questão inexistente na sociedade da época (1991), apenas o convite a uma identificação mais fácil por parte de quem olha: sentir-se como espetador/ator privilegiado e consciente das influências e mudanças na sua vida.
A pequena chama interfere e altera o “mundo de lá”, representado num quadro que, obviamente deveria permanecer estático. É o que deve ser, o ditado pelas regras sociais, familiares, laborais, religiosas... É a ordenação necessária, razoavelmente equilibrada e organizada, mas tão facilmente vivida de forma rígida, neutra.
Porém, a luz vai despertando vida nova na árvore invernosa e desfolhada, fazendo brotar folhas e flores. As nuvens, a borboleta, uma planta aquática, a água do lago “exteriorizam-se” para o lado de cá. A distância foi definitivamente quebrada.
São os efeitos possibilitados pelo encontro entre duas pessoas distintas, com seus mundos respetivos. É a influência exercida pela fé sobre a nossa rotina quotidiana. Também pode ser a interferência fecunda dos afetos e emoções na nossa vivência existencial e interpessoal. Ou, simplesmente, o que Deus faz connosco, discretamente, mas seguramente.