(Dezembro 2024) Acrílico e giz em tela
(Março 2025) Acrílico em tela
Em Ano Jubilar da Esperança, representação da Esperança cristã em dois momentos salvíficos: a Encarnação e a Ressurreição.
“A Esperança é uma miudinha de nada.
Que veio ao mundo no dia de Natal do ano passado…
E no entanto é essa miúda que, levando as outras (Fé & Caridade), há de atravessar os mundos revolvidos.”
(Charles Péguy, in O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude)
O "povo que anda nas trevas", em fumo que relembra um calor e luz que tão facilmente se apagam. Mas resta a esperança no olhar que perscruta o horizonte.
Deus-Menino que toma nossa humanidade para nascer como um de nós, para habitar entre nós.
As mãos podem ser as de Maria, que sustentam a humanidade grávida, prestes a dar à luz Aquele que a todos vem iluminar. Na mão de cima, traz a aliança dourada, sinal do seu compromisso com Deus. Na mão de baixo, o anel prateado que a une a nós.
Também podem ser a mão do Pai e a do Espírito Santo que abraçam o Filho.
.2025.
Expecto-te
em tanta coisa
provável, mas não certa
(qual tempestade exorcizada)
de braços e pernas cruzados
apenas em votos expressos
à espera que aconteça.
Mas não me basta!
Então espero-te
(qual farol luminoso)
naquilo que sei
cedo ou tarde acontecer
legítimo e bom
com empenho meu
sonhando-te alcançável.
Mas ainda não me basta…
Prefiro viver-te já
ancorado na Esperança
antecipando-te
abrindo portas
trilhando caminhos
que meu coração expecta
meus passos esperam
e meus olhos já veem.
Bastando-me…
(no Senhor da minha Esperança)
Votos de um 2025 vivido
em Esperança.
“A Esperança nasce do amor e funda-se no amor
que brotado Coração de Jesus trespassado na cruz.”
(Spes non confundit, 3)
A Esperança nascida aquando da Encarnação é a mesma que ressuscita e sai do túmulo, vencendo todas as mortes possíveis (existenciais, morais, espirituais…).
Por isso, a criança que surge tanto representa Cristo ressuscitado – Aquele que os seus têm dificuldade em reconhecer (cf. Discípulos de Emaús, os discípulos reunidos no Cenáculo ou já regressados à Galileia…); como a Vida Nova, ressurgida vitoriosa da morte, tão jovem e tão pura; como também a Esperança cristã, alicerçada no acontecimento da Cruz e da ressurreição, simultaneamente firme e frágil, inconfundível e continuamente interpelada e confrontada à sucessão de acontecimentos e desafios quotidianos.
Tal como o refere o prólogo de S. João, vem para os seus, para ser acolhida e abraçada.
A sombra da cruz projeta-se sobre o túmulo. Pretende ensombrar-nos, mas de forma já impotente, pois ao sair do túmulo, a criança “pisa-a" com sua mão esquerda. Este gesto vitorioso evidencia a sua “força”, aparentemente débil, mas tão afirmativa. A mão direita parece saudar-nos, revelando a marca do cravo, também presente na outra mão, além da ferida do lado, discretamente visível. São as feridas de todas as cruzes humanas que enraízam a Esperança na realidade das nossas vidas.
A mulher, à direita, evoca Maria Madalena que se deslocou até ao sepulcro, na manhã de Páscoa. Na sua mão, junto ao peito, um frasco de perfume, trazido para ungir o cadáver de Jesus. Na forma e cor, este confunde-se com um coração em mãos, tal como ela viveria esse momento de tremendo luto, pela morte do Mestre. Daí, o aspeto quebradiço do mesmo.
Do seu olho direito, as marcas de lágrimas, entretanto, secas pela alegria do surpreendente reencontro. Seu olhar, a nós dirigido, límpido e franco, interpela-nos. Como que a passar-nos o testemunho do anúncio da Ressurreição, sussurrado entre lábios por ela e abertamente clamado pela criança.
Finalmente, três espigas de trigo e duas uvas evocam a eucaristia. Na verdade, este túmulo está inspirado do altar da capela de são José do nosso Seminário Interdiocesano. A eucaristia, memorial do sacrifício de Cristo é esse “grito de alegria e vitória” a reatualizar no nosso quotidiano, no nosso viver e testemunhar.
Assim deve "descarar-se" a Esperança cristã.
Meu Cristo de vida reerguida
das minhas trevas levantado
a cruz, por Ti quebrada, vencida
não mais me manterá assustado
saberei carregá-la, amparada
como se abraça a ESPERANÇA
de um túmulo saída, nascida
e, como Madalena renovada,
crescer, pela perseverança,
no AMOR vivo e FÉ acrescida.