(Janeiro 1991) Acrílico e lápis em papel
A Cruz de Cristo e o mundo
É a obra mais antiga da exposição.
Na linguagem simbólica do Evangelho de São João, transparecem duas realidades contrastantes: o mundo e Cristo glorificado na Cruz.
O primeiro reivindica-se dono das coisas materiais e suas paixões, em detrimento do mundo espiritual que rejeita ou ignora. Pretende-se civilizado e ordenado, mas não consegue evitar o caos e a violência, nem anular a dor e a morte. Tudo isso aparece representado como fundo do quadro, sem contornos e formas definidos, numa conjugação de cores vermelha e azul, quente e fria, que se sobrepõem uma à outra, em claro conflito.
Pelo contrário, Cristo, em primeiro plano, aparentemente impotente na cruz, transmite luz, paz e equilíbrio. Ele não iludiu a dor nem negou a morte. Antes, enfrentou-as, vencendo-as e dando-lhes um sentido novo.
Não são fatalidades.
São desafio para uma resposta.
Aquela que Jesus deu: a do Amor.
Oblativo, não possessivo.
Meu Cristo de braços abertos
na minha cruz, pendente
abrigo de todos os meus afetos
tua impotência é aparente
onde muitos veem derrota e morte
vislumbro o fruto maduro do teu amor
onde muitos veem fracasso e dor
encontro rumo, alento e norte
onde muitos só veem o fim
percebo o parto de uma vida nova
aquela que irrompe e tudo renova
aquela que em mim brota até ao confim
o mundo inteiro pode desabar
toda a circunstância se remova
tudo à Tua volta se revolva
eis-Te, meu esteio, onde me agarrar.