(Agosto 2024) Acrílico em tela
Episódio evangélico do encontro entre Jesus e a mulher samaritana (cf. Jo 7,4-31).
Esta pintura inspira-se num retiro dado à Liga dos Servos de Jesus, em julho de 2024.
Nela se retratam a mulher samaritana e Jesus.
A samaritana surge destacada em relação ao fundo árido dos montes da Samaria. As cores sublinham o calor do meio-dia. Essa hora inóspita na qual aquela mulher se desloca ao poço, denuncia querer evitar encontros. Por isso, aparece de rosto meio velado. O sol e o amarelo do céu acentuam a sede que traz.
Jesus, transparece em fundo noturno, evocando seu anterior encontro com Nicodemos, ocorrido no seio da noite (cf. Jo 3,1-36). A estrela e as cores indicam a luz e “frescura” da água viva que traz em si.
Entre ambos, o poço, símbolo muito presente em toda a Bíblia. Lugar de encontros e desencontros, lugar onde se forjam vários matrimónios (Isaac e Rebeca, Jacob e Raquel, Moisés e Séfora). A mulher afetivamente insatisfeita, recorrendo incessantemente ao poço dos afetos encontra por fim em Jesus uma fonte que a sacia. O árduo caminho que a traz da afastada povoação ao poço transforma-se, em Jesus, em pradaria verdejante.
À esquerda do poço, a vasilha da mulher, deixada tombada, vazia, definitivamente desnecessária. À direita, escorre do poço uma água de “esboça” os ombros de Jesus, qual manto que O reveste, e que se vai tornando rio. A corda solta e caída no chão “aponta” para Cristo. De ora em diante, é d’Ele que devemos tirar água.
Diante de Jesus, um tapete de oração, para os “verdadeiros adoradores”, “em espírito e verdade”.
Neste episódio, Jesus revela por antecipação a hora da sua glorificação: sua Paixão e morte. Esta glorificação produzirá os sete dons do Espírito, que brotam na árvore.
Ia ela de cântaro, sem cantar
em pleno meio-dia da vida
com muita sede por saciar
e em desamores perdida.
Tu, sem cântaro, à espera
tal poço sequioso por visita
pedinte, querendo oferecer,
torrentes de palavra fresca.
No fim, seu cântaro, vazio ficou
nem Tu bebeste a água pedida.
Aos dois, bastou esse encontro
uma nascente para outra sede.
E eu, cântaro de asa quebrada,
por tanto ir a insalubres fontes,
peço a sede da água que Tu és
e a outros levar o dom de Deus.