(Abril 1992) Acrílico em papel
Exercício de memória afetiva diante de da Cruz de Cristo
A vida pode ser vista sob a metáfora de um palco, onde somos chamados a subir e a interpretar a nossa existência da melhor forma possível.
Assim sendo, a pior tentação é manter-nos como meros espetadores, não assumindo responsabilidades nem riscos.
Outro perigo, embora bem distinto, é o de nos tornar tão hiperativos que não paremos para tomar consciência dos passos dados para melhor discernir de forma assertiva os seguintes.
Esta pintura recupera a metáfora do palco, através da cortina que, parcialmente cobre o cenário existencial. Nela, encontra-se pendurada uma máscara, de olhos fechados, simbolizando os que não querem assumir nem ver o que se passa à sua volta.
“Em palco”, o protagonista vestido de arlequim (personagem da antiga comédia italiana que usava um traje de várias cores). Representa-nos a todos, na diversidade de ideias, opiniões, posturas, atitudes, nas nossas inconstâncias. Parece refletir diante do Crucificado, parcialmente velado, naquilo que se apresenta como fechadura de porta. É pelo sacrifício da cruz que "espreitamos" a verdade sobre nós mesmos. As mãos que a segura podem ser as do Pai que nos confronta ao sacrifício do Filho. Este tem tanto de dádiva salvífica quanto de desafio a corresponder-Lhe.
A cor amarela, que parece soprar por detrás da cortina, remete para o calor e luz do Espírito Santo, a contrastar com as restantes cores do cenário, mais frias ou neutras.
Os dados, aos quais se encosta o protagonista, remetem para o calvário, onde se tirou sorte a túnica de Cristo. Quantas vezes “sorteamos” as nossas escolhas e responsabilidades!?
Como fundo, imagens de rostos entre uma praia (ao fundo) e tempestade (ao cimo) como memórias de relações e momentos pacíficos ou tumultuosos. A memória do passado continua muitas vezes a marcar o presente. Daí o título, contrabalançado entre o singular e o plural.