Natureza morta com cesto de folares, flores e pano bordado

Natureza morta com cesto de folares, flores e pano bordado

Josefa de Ayala e Cabrera

Assinado Obidos

Ca 1660-1670

Óleo sobre tela

Coleção Novo Banco

Still life with folded basket, flowers and embroidered cloth

Josefa de Ayala e Cabrera

Ca 1660-1670

Signed Obidos

Oil on canvas

Novo Banco collection

Josefa de Ayala Camacho Figueira Cabrera Romero (1630-1684), conhecida como Josefa de Óbidos, nasce em Sevilha em 1630. A sua vida decorre entre a vila de Óbidos, onde os pais se instalam por volta de 1634, a cidade de Coimbra, onde integra durante dois anos o Convento de Santa Ana, e localidades próximas, Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Buçaco. Um universo regional, tranquilo e recatado, profundamente devoto, com as suas igrejas, confrarias, irmandades e conventos, longe dos grandes centros e movimentos artísticos europeus. É na oficina do pai, o famoso pintor Baltazar Gomes da Figueira (1604-1674), formado em Sevilha, no contacto com artistas como Francisco Zurbarán, Francisco Herrera ou Juan del Castillo, que Josefa aprende a arte da pintura e com o pai trabalhará durante anos. Apesar deste isolamento, e do facto, por si só excecional de, neste contexto, ser uma mulher pintora, uma das poucas em Portugal na época, o modo como se exprime artisticamente é muito interessante. Josefa consegue, na sua obra, integrar, sentir e interpretar com uma linguagem plástica muito própria, o espírito e a estética barrocos. Como afirma Vitor Serrão, “O estilo Joséfico afirmou-se cedo em termos de absoluta individualização, a ponto de as suas obras, mesmo se não assinadas ou documentadas, serem facilmente reconhecíveis.”

Há na pintura de Josefa de Ayala uma dimensão mística, um sentimento inocente e profundamente humano, uma presença sensorial e táctil dos objetos, que se articulam num código iconográfico e estético facilmente identificável, mas plenamente barroco. Josefa forma-se na oficina do pai e, consequentemente, trabalharam um repertório comum para determinados temas, como as naturezas mortas. Os modelos de cestos de cerejas, pratos com queijos e flores, taças com bolos e biscoitos, cestos com pão e folares, eram replicados em diferentes composições, numa produção de caráter oficinal. O Testamento e Inventário realizado após a morte de Baltazar Gomes da Figueira, refere uma lista de pinturas de naturezas mortas, os chamados “fruteiros”, composições de frutos, flores, bolos, dispostos em pratos, taças ou cestos, na qual se refere “Hum fruteiro de folares avaliado em dous mil reis”, certamente pintura idêntica a esta, realizada por Josefa volta de 1660, e assinada Obidos. O cesto de folares, tapado com um pano branco debruado a renda, destaca-se num fundo escuro, numa paleta cromática sóbria mas luminosa. Os vários elementos são cuidadosamente observados, a distribuição de luz e sombra, materializa a consistência e textura do vime, modela o aspeto táctil do pano, sublinha o ar fofo e apetecível dos folares. Josefa consegue criar uma envolvente de afeto e tranquilidade que torna a sua pintura inconfundível.

Esta composição surge replicada em quatro outras pinturas, conjugando-se com outras naturezas mortas, como na pintura da antiga Coleção da Quinta do Perú, onde o cesto de folares está representado juntamente com o prato e queijos e flores, ou em composições mais elaboradas, como a representação do “Mês de Agosto”, que integra diversos objetos num fundo de paisagem (Coleção Particular).

Josefa de Ayala Camacho Figueira Cabrera Romero (1630-1684), known as Josefa de Óbidos, was born in Seville in 1630. Her life was between the village of Óbidos, where her parents settled in around 1634, the city of Coimbra, where she attended for two years the Convent of Santa Ana, and nearby localities, Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Buçaco. A regional universe, quiet and modest, deeply devoted, with its churches, confraternities, brotherhoods and convents, far from the great centers and artistic movements of Europe. Is in her father's workshop, the famous painter Baltazar Gomes da Figueira (1604-1674), trained in Seville, in contact with artists such as Francisco Zurbarán, Francisco Herrera or Juan del Castillo, that Josefa learns the art of painting and will work with her father for years. In spite of her isolation, and the fact, by itself, exceptional in this context, to be a woman painter, one of the few in Portugal at the time, the way she expresses herself artistically is very interesting.

In her work, Josefa is able to integrate, feel and interpret the baroque spirit and aesthetic with a very own artistic language. As Vitor Serrão claims, "The Joséfico style was early affirmed in terms of absolute individualization, to the point that her works, even if not signed or documented, are easily recognizable."

There is in Josefa de Ayala's painting a mystical dimension, an innocent and deeply human feeling, a sensorial and tactile presence of objects, which are articulated in an iconographic and aesthetic code that is easily identifiable but fully baroque. Josefa learned at her father's workshop and, consequently, worked a common repertoire for certain themes, such as still lifes. The models of cherry baskets, cheese and flower dishes, bowls with cakes and biscuits, baskets with bread and buns, were replicated in different compositions, in a workshop production. The Testament and Inventory made after the death of Baltazar Gomes da Figueira, refers to a list of paintings of still lifes, the so-called "fruit trees", compositions of fruits, flowers, cakes arranged in plates, bowls or baskets, "Hum fruteiro de folares avaliado em dous mil reis”, certainly a painting identical to this one, made by Josefa around 1660, and signed Obidos. The basket of folares, covered with a white cloth sloped with lace, stands out on a dark background,in a sober but luminous chromatic palette. The various elements are carefully observed, the distribution of light and shade, materializes the consistency and texture of the wicker, shapes the tactile aspect of the cloth, underlines the pleasing air of the folares. Josefa manages to create an environment of affection and tranquility that makes her painting unmistakable.

This composition is replicated in four other paintings, combining with other still lifes, as in the painting of the old Collection of Quinta do Perú, where the basket of folar is represented along with the dish and cheeses and flowers, or in more elaborate compositions, such as the "Month of August" representation, which integrates several objects into a landscape background (Private Collection).


Arte & Cultura partilham-se.

A integração desta pintura de Josefa de Óbidos no percurso expositivo do Museu

Municipal de Óbidos concretiza-se no âmbito da iniciativa do NOVO BANCO Cultura de

disponibilizar ao público o seu património artístico e cultural, através de parcerias com

Museus. Este projecto visa não só partilhar com o público a Arte, mas também

descentralizar, colocando nos museus, de norta a sul do país, obras significativas, que

sejam uma mais valia na narrativa do percurso expositivo. Foram estes critérios que

presidiram à escolha desta pintura de Josefa de Ayala, mais conhecida com Josefa de

Óbidos, uma “ das mais celebradas artistas nacionais do século XVII”, cuja vida e obra

estão intimamente ligados à vila de Óbidos.


The inclusion of this painting by Josefa de Óbidos in the Municipal Museum of Óbidos

permanent exhibition results from a partnership with NOVO BANCO Cultura, wich aims to

share with the public its artistic and cultural heritage. This project not only makes its Art

publicly available, but also decentralizes significant works, distributing them among the

museums in Portugal, from North to South. This was the criteria that presided over the

choice of this painting by Josefa de Ayala, best known as Josefa de Óbidos, one of the

most celebrated national artists from the 17 th century, whose life and work are interwined

with the town of Óbidos.