Beneficiado Faustino de Neves

Beneficiado Faustino das Neves

Josefa de Ayala e Cabrera (Josefa d’Óbidos)

c. 1670

Pintura a óleo sobre tela

Santa Casa da Misericórdia

Óbidos

Benefited Faustino das Neves

Josefa de Ayala e Cabrera (Josefa d’Óbidos)

c. 1670

Oil painting in canvas

Holy Almshouse

Obidos

Josefa de Ayala foi considerada, logo a partir do século XVII, o protótipo da cultura seiscentista nacional, sendo a sua obra muito valorizada no contexto mecenático da época e disputada pelas colecções aristocráticas. Nascida em Sevilha, viveu a maior parte da sua vida em Óbidos, povoação que cumpria os requisitos de corte de aldeia, pela sua nobreza activa e desafogada, defensora da causa de Bragança contra o domínio espanhol, pelas confrarias laicas e o senado municipal, pelas tertúlias literárias e as residências com obras de arte, para além da importância do seu património histórico.

A sua obra revela uma forte influência de seu pai, Baltazar Gomes Figueira (1604 – 1674), bodegonista notável, de nível peninsular, e igualmente de Francisco Zurbaran (1598 -1664). Neste retrato do Beneficiado Faustino das Neves, Josefa d'Óbidos faz a apologia da figura e da vida deste seu contemporâneo. Com efeito, o retratado terá sido um personagem influente da sociedade de Óbidos, amigo da família Figueira e especialmente de Josefa. Sacerdote, letrado, com fortuna pessoal, foi Beneficiado em S. Tiago, irmão da Confraria das Almas da Igreja de Santa Maria, de Óbidos, irmão com cargos em várias mesas administrativas e provedor da Santa Casa da Misericórdia local, a quem legou todos os seus bens, após a sua morte, em 1689.

Nesta composição mergulhada numa subtil atmosfera de claro-escuro, cuja luz mortiça esbate os contornos das duas figuras, distingue-se nitidamente o anjo, na metade esquerda da composição, que segura o punho de Faustino das Neves e lhe segreda a promessa de salvação, apontando para o clarão de luz redentora que representa o céu e rasga a escuridão em que ambos estão envoltos. Na outra metade, o retratado, sereno, de porte severo e vestes escuras, segura os Evangelhos na mão esquerda, como fundamento da sua vida. A forma como Josefa de Ayala logrou representar este personagem maduro, austero de costumes e digno representante do sistema contra-reformista, permite-nos considerar esta obra como um exemplo notável da retratística portuguesa do século XVII.

Strongly influenced by her father, Baltazar Gomes Figueira, and by painters such as Francisco Zurbarán, Juan de Roelas and Daniel Seghers, Josefa de Ayala worked in a small provincial centre outside Lisbon. Away from the court, and in a place where the medieval lifestyle was preserved, she related to the politics opposed to the Spanish Habsburg dynasty, supporting the Restoration cause of the Royal House of Braganza. The social life of this micro-society revolved around social gatherings and meetings in convents and noble residences. The noblemen – members of the Municipal Senate – religious orders, brotherhood and charitable institutions with whom she fraternized, were well-read and had no economic restrictions. In their homes were many works of art some of which were commissioned from local provincial artists.

From as early as the 17th century, Josefa had several biographies written about her. Costa Meesen (1696) referred to her “cleanliness and aptitude” upon imitating “things from nature”. Writer Damião Froes Perym (1736) also praises her “skill, beauty, honesty and charm” and her moral virtues. In the 19th century, José Silvestre Seabra and Almeida Garrett made reference to Portrait of the Beneficiary Faustino das Neves, considering it the genre which best revealed the sensitive side of Josefa d'Óbidos. The piece got lost in time and in 1957 it was identified by Reis-Santos as the work of Josefa d'Óbidos.

The artist perfectly captures the psychology of this distinguished man from Óbidos. His dark clothing and his vigorous look contrast with the luminosity of the white and beige of his face, accentuating the Counter-Reformation features of the piece. The male figure, accompanied by an angel announcing his death, is purposely decentralised relative to the axis of the composition. This is a peculiarity which enhances the formal skills of Josefa de Ayala thus allowing her to be included within the ranks of the best 17th-century Portuguese painters.