No início da década de 50, muitas eram as necessidades de Diamantina, elas iam desde a modernização do sistema de telefonia da cidade até a construção de moradias populares para resolver o problema da habitação para a população menos favorecida. Esses entraves já preocupavam a população da cidade desde a década anterior e os assuntos eram recorrentes nas mais diversas instituições, como a Maçonaria, a Associação Comercial, os Correios e Telégrafos, a Igreja Católica e a Polícia Militar. Com a eleição de Juscelino Kubistchek (J.K.) para o governo do Estado, várias reuniões começaram a acontecer com o intuito de discutir meios para tornar os projetos almejados viáveis. Em uma dessas reuniões, o senhor Lahyre Moreira da Silva trouxe a tona outra necessidade, que era implantação de uma instituição de ensino superior, visando a ampliação socioeconômica da região. Lahyre, levou ao seu cunhado Cândido Napoleão essa ideia, ele por sua vez idealizou a instalação das Escolas de Odontologia e Farmácia, fato que se liga a sua profissão de farmacêutico prático.
De tempos em tempos, eram enviados ofícios ao governador de Minas Gerais, J. K., lhe indagando sobre a possível criação de uma escola de ensino superior para Diamantina, contudo, o grande entrave era a necessidade de montagem de laboratórios. Inicialmente, J.K. planejava implantar um curso de mineralogia, devido as condições da região. Posteriormente, sua ideia amadureceu e cogitou a ideia de colocar um de Medicina, profissão de Juscelino, mas devido ao custos elevadíssimos para a instalação, visto a necessidade de uma grande infraestrutura essa opção foi descartada.
Em paralelo a essa situação de indecisão de qual curso colocar na cidade, ocorria na Argentina o Regime Militar e ainda em seu período de maior repressão, o Governo Perón. Esse fato, fez com que alguns professores de Odontologia procurassem Pedro Paulo Penido, velho amigo de J. K. e dentista que naquela época ocupava o cargo de Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o intuito de conseguirem um lugar para se refugiar no Brasil. Penido, após ser procurado pediu a ajuda do Governador de Minas para resolver essa situação e nesse contexto surgiu a grande oportunidade de se montar uma Faculdade de Odontologia em Diamantina.
A notícia logo foi dada ao Prefeito de Diamantina, Lomelino Ramos Couto, e as responsabilidades para a implantação da Faculdade foram distribuídas. Lomelino ficou encarregado da parte administrativa, sendo ela a escolha dos funcionários que atuariam na instituição e conseguir um terreno para as futuras instalações. Outrossim, Penido ficou com a responsabilidade de formar o corpo docente, que já contava com os professores argentinos. Entretanto, não demorou para que os argentinos retornasse às suas terras, amparados por órgãos do seu governo, frustrando o que havia sido pensado por Juscelino.
Apesar disso, para não desacreditar as expectativas criadas com o anúncio prévio da instalação da instituição de Ensino Superior, a Faculdade de Odontologia – FAOD, foi fundada pela Lei Estadual nº 990, de 30 de setembro de 1953 pelo governador Juscelino Kubitschek. Foi dada ao Professor Pedro Paulo Penido toda a responsabilidade para a consolidação do planejamento realizado. O acontecimento representou um marco para toda a região norte de Minas, isso porque, até então, a região não possuía uma Instituição de ensino superior. Isso fazia com que os moradores da região tivessem que se deslocar para os grandes centros.
O prédio abrigaria a Faculdade foi vislumbrado em um terreno de propriedade da Santa Casa de Caridade e como a instituição não poderia vender imóveis segundo o estatuto, a solução foi a formalização de uma permuta com o Governo do Estado. Nela, o Governo receberia a parte do terreno almejada e em contrapartida realizaria demolição de alas antigas da Santa Casa, construiria novas instalações, doaria instrumentais cirúrgicos, cederia parte de um laboratório para análises clínicas e cederia a quantia de Cr$ 200.000 (duzentos mil cruzeiros).
Com o terreno já adquirido, foi iniciada a terraplanagem e preparação do lote, como se a construção fosse para um novo grupo escolar, uma vez que o Governador não queria que a notícia se espalhasse, gerando possíveis contratempos com adversários políticos e novos pedidos para Faculdades em outras regiões do Estado. Quanto ao projeto arquitetônico, ficou a cargo da Polícia Militar elaborar a planta para a Faculdade, contudo J.K. não gostou do resultado final elaborado por eles, posto que desejava uma estrutura modernista. Dessa forma, delegou essa tarefa a Oscar Niemeyer, arquiteto com o qual o estilo era compatível com o desejado, e em dezembro de 1953 o projeto foi apresentado e aprovado.
O curso teve funcionamento iniciado após a aprovação do seu regimento interno em 18 de abril de 1954, devido a assinatura do decreto 4196 pelo Governador Juscelino Kubitschek e a aprovação do decreto 35.375, em 13 de maio de 1954, autorizando o funcionamento da Faculdade de Odontologia de Diamantina, mantida pelo Governo do Estado de Minas Gerais. As primeiras aulas tiveram início em maio de 1954, com dezessete alunos matriculados.
As aulas inicialmente ocorreram em estruturas bastante precárias, foram utilizadas algumas salas já finalizadas do prédio ainda em construção da atual Escola Estadual Profª. Júlia Kubitschek, Essas salas foram utilizadas até que o prédio do grupo escolar fosse concluído. Assim que foi finalizado, houve a necessidade de uma mudança para salas no casarão da rua Jogo da Bola n° 8, onde a estrutura ainda se encontrava precária. As aulas alí ocorreram até que houvesse a mudança para o prédio definitivo da Faculdade de Odontologia.
No dia 21 de junho de 1954 foi fundado o Diretório Acadêmico, o qual recebeu pouco tempo depois o nome de Dr. Pedro Paulo Penido, personagem importantíssimo na fundação da Faculdade. Seu primeiro presidente foi o aluno Célio Hugo Alves Pereira, o qual pouco tempo depois passou a compor o quadro de Membros do Parlamento dos Estudantes Mineiros da UNE (União Nacional dos Estudantes). O D.A. era muito atuante e anteviu um problema que estava prestes a acontecer, a falta de alojamento para os estudantes da Faculdade de Odontologia. Dessa maneira, foi solicitada auxílio a J.K. para sua construção e ele prontamente atendeu o pedido. Contudo, Juscelino apresentou o mesmo entrave presente na edificação do prédio da faculdade, ele não queria que fosse exposto para não sofrer pressões externas. Dessa forma, foi usado para manter o segredo a construção da Agência do Banco Hipotecário e Agrícola dos Estado de Minas Gerais, onde em seus fundos haviam dependências amplas, na qual foi planejada e localizada a sede do Diretório Acadêmico - D.A.. Ele possuía alojamento para vinte alunos, um grande salão de festas e um refeitório que acomodava todos os alunos da Faculdade naquela época.
A sede oficial da Faculdade de Odontologia de Diamantina, atualmente chamada de "Campus I" da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), contava com uma policlínica com 15 equipos odontológicos instalados e uma outra sala com 5 equipos para as práticas de Ortodontia e Odontopediatria. Os consultórios dentários eram os mais modernos para a época, existindo ainda um aparelho de Raio-X, três salas para aulas teóricas e salas individuais para a prática das 12 disciplinas do curso. Além disso, foram projetadas salas para ocupação do setor administrativo. A inauguração das instalações ocorreu em 1956, na data da formatura da primeira turma.
DE CARVALHO, Walter José. Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina - Sua História. 1. ed. Diamantina: Gráfica Urgente, 2000.
FERNANDES, Antônio Carlos; CONCEIÇÃO, Wander. Caminhos do desenvolvimento: síntese histórica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri 1953 - 2005. 1. ed. Diamantina: UFVJM, 2005.