MAMUCAST!

Episódio #S01E12  Tem ciência (e gritaria) no seu creme!

Link do episódio:  #S01E12 - Tem ciência (e gritaria) no seu creme, com @vhpinfante! com o Dr. em Ciências Farmacêuticas, com ênfase em medicamentos e cosméticos, Victor Infante! 

Salve Mamutinhes! Aqui é a Rebeca e no mês do orgulho LGBTQIA+ temos um ilustre convidado, o Victor! pra falar um pouquinho sobre toda a ciência que tem no seu creme!!!

Sobre nosso convidado: Graduado em Farmácia e Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo em 2016 e Doutor fresquíssimo em Ciências Farmacêuticas, com ênfase em medicamentos e cosméticos também pela USP em 2021. Sua tese: “Pesquisa e Desenvolvimento de produtos cosméticos para o público masculino com óleos essenciais: caracterização da pele, eficácia clínica, perfil de consumo e influência da publicidade”, foi orientada pela Profª. Drª. Patrícia Maia Campos e contou com um estágio sanduíche na Charité Universitätsmedizin em Berlim, na Alemanha. 

Olá Victor, tudo bem? ^_^

E antes que vocês torçam o nariz, os cosméticos fazem parte da nossa civilização, da nossa cultura e, sobretudo, da nossa saúde! Usamos cosméticos desde os primórdios da humanidade. Datando de 100.000 aEC, Neandertais pintavam seus corpos para demonstrar seu posto na sua comunidade ou como camuflagem, utilizando pigmentos naturais advindos de minerais e plantas. No Egito Antigo (~3000 AEC), se usava uma mistura de minerais e óleos de planta, o famoso Kohl (ou kajal), não era só colocado no olho pra fazer um gatinho e ter simbolismo religioso, mas sim para proteger os olhos da poeira e diziam ajudar na conjutivite ou outras doenças que afetam os olhos. Desde essa época, já existia uma preocupação com a proteção solar, por exemplo! Existem relevos egípcios usando sombrinhas e o uso de argilas na pele para proteção física contra queimaduras solares. Então cosméticos, desde MUITO TEMPO assumem um papel não apenas cultural e social, mas também de extrema importância para a saúde.


E nesse contexto, Victor, de onde veio o interesse em trabalhar com Ciências Farmacêuticas e, em particular, com cosmetologia?


Victor: Então Rebeca, esse interesse de trabalhar com ciências farmacêuticas surgiu assim: eu estava fazendo física primeiro, fazia ciências físicas e biomoleculares, a primeira graduação que eu comecei a fazer e eu não estava me sentindo muito bem na graduação e a farmácia veio porque eu conheci uma professora que trabalhava no IFSC na USP,  a Ilana, e ela trabalhava com Bacteriologia na parte de genes de resistência. Eu achava o que ela trabalhava muito legal, e aí um dia numa dessas tutorias ela conversou comigo e falou que talvez se eu não tivesse me sentido também com a farmácia, talvez eu conseguiria encontrar o que eu queria. Veja que engraçado, eu fui para trabalhar com microbiologia clínica e epidemiologia molecular, eu fiz isso, e aí no meu último ano de faculdade eu entrei em contato com a cosméto e tive as aulas tanto a aula que é obrigatória na nossa grade quanto a opinativa, que eu puxei depois, de tecnologia de cosméticos e eu comecei a fazer estágio curricular obrigatório na área com a professora Patrícia. Ela me convidou, perguntando se eu não queria continuar fazendo alguma pesquisa e aí eu acabei entrando de cabeça nessa área porque eu já tinha trabalhado um bom tempo com a microbiologia e eu queria conhecer uma área um pouco aplicada agora nas ciências  farmacêuticas. Durante a graduação, acho super bacana quando aluno consegue entrar em contato com várias coisas. Acontece que no final da minha graduação eu me vi com essas duas áreas, mas aí eu falei: “não, eu quero realmente ir para cosméto” porque eu estava ali começando a estudar algumas coisas que tinham relação de gênero, consumo e que talvez eu conseguiria levar isso um pouco para minha pesquisa. Então, eu acho que começou aí a minha história com a cosméto.


Rebeca: Seu trabalho é tridimensional, né. Você fez uma formulação, você testou, caracterizou, aplicou e ainda viu essa questão de gênero. 

Pensando que as características físicas da pele mudam com a região e etnia das pessoas, como é atuar nessa área de conhecimento? Quais são as perguntas relevantes?


Victor: Pensando nisso assim, é até há uma coisa que o grupo de pesquisa já tinha alguns trabalhos, por exemplo, a professora Patrícia teve um trabalho com a França e eles queriam ver como que é a estrutura da pele, usando técnicas não invasivas, para ver como isso tudo na pele da mulher brasileira perto da época da menopausa. Porque aí tem também a questão que você tem que também selecionar as idades, selecionar toda essa questão, porque o hormônio afeta bastante, e comparar com as francesas. O que foi observado é que o Brasil conta mesmo da nossa exposição solar tem uma grande situação muito diferente. O Brasil acaba tendo uma agressão maior. A gente tem essa agressão física maior e essa agressão  é somada a uma cultura que - esse estudo foi feito lá em 2014, 2015, então foi antes desse boom do skincare -  não via o cuidado dessa forma. Pessoas que não utilizam protetor com uma regularidade ou então mesmo hidratante que vai auxiliar para melhorar a barreira da pele. Nessa situação,  você observa que tem uma diferença mesmo na questão da própria localidade, se você olhar no mapa, a cidade que foi feita, Bordô, tem as latitudes norte iguais às latitudes sul do Brasil, a questão de geografia, de clima e de relevo vai ser completamente diferente. Então isso afeta sim, é um ponto muito importante. Tem vários recortes que a gente pode fazer dentro dos estudos e que ainda engatinha, ainda tem pouco estudo com relação a esses recortes.


Rebeca: As pessoas acham que protetor solar é uma coisa sazonal. Hoje eu acho que já está mudando um pouco isso. “Ah, eu vou na praia, vou passar só no rosto e boa.”


Victor: E assim, faz sentido ser sazonal se a gente pensar na Europa, né. Por exemplo, lá na época do Natal você tem sol três horas no dia e quase nem sai sol, dependendo do lugar que você tá nem sol tem durante semanas se você falar nos países mais nórdicos, então faz sentido você pensar numa questão sazonal em países como esse. Agora o Brasil é um país em que nossa sazonalidade é de quente, para muito quente, para pelando, para morrendo, é basicamente um forno,  é muito quente e além de ser muito quente tem uma alta incidência UV. Não tem como a gente não levar isso em consideração nas pesquisas e tem um ponto muito importante, na grande maioria das pesquisas são feitas nesse eixo norte do mundo e esse eixo Norte tem características diferentes do Brasil. A gente precisa ter essas pesquisas pensadas na população brasileira também, porque é uma questão também de saúde pública.


Rebeca: Você pode contar um pouco sobre o desenvolvimento do seu doutorado? Como foi o período que você estagiou na Alemanha?


Victor: Isso é uma questão interessante, a Charité é conhecida por ter uma grande medicina translacional, então eles são muito preocupados em colocar várias áreas do conhecimento dentro da própria medicina. O grupo que eu fiz parte lá tinha um uma médica, o resto eram todos físicos, biofísicos, engenheiros. Eles têm uma outra mentalidade em relação a como vê essa situação de ciência dentro da ciência de saúde. Eles estão dentro do hospital,  estão lá perto dos pacientes e tudo mais, mas ao mesmo tempo é um grupo de pesquisa que é basicamente tecnológico e aplicado na saúde,  acho que esse é um ponto legal de puxar porque a gente vê a grande interdisciplinaridade que a ciência tem. Na realidade proteção solar foi um acontecimento dentro do meu doutorado, não tinha isso no projeto inicial mas aconteceram duas coisas quando eu fui pedir o comitê de ética para fazer um estudo clínico, eles pediram que eu desse protetor solar aos participantes e se a gente fosse comprar para todo mundo ia ficar caro, muito mais caro do que já estava e ia ser melhor se eu desenvolvesse um produto e formulasse ali, eu mesmo fazer meu creme pensando em fazer o mais simples possível, e a outra situação que aconteceu foi que no meio da minha pesquisa a gente percebeu que os meninos tinham um problema de não utilizar protetor solar por conta de um viés machista, um viés de que eles vinham pra mim falavam “eu não uso porque falam pra mim que é necessário para o homem, porque o homem não precisa, porque é que coisa de mulherzinha”. No começo eu virava o olho, mas depois eu comecei a perceber que isso era um dado importante para pesquisa, porque daí eu comecei a ver que tinha uma associação - foi um trabalho que a gente recebeu um prêmio nos Estados Unidos e a gente costuma brincar inclusive sobre essa relação do homem brasileiro com os produtos cosméticos, especialmente protetor solar e quanto o que afeta essa relação para a saúde da pele mesmo.

 

Rebeca: Migo, meu pai voltava da praia parecendo um camarão mas não passava por nada, a gente que passar.. amarrar as mãos.

 

Victor: Exato, e aí assim, eu lembro de uma coisa que aconteceu: foi com participantes uma vez. Eu pedi “gente se vocês forem viajar…” - estou fazendo na época de maio: maio, junho, julho, agosto, para ser uma época que o pessoal não viaja muito para a praia, porque é mais frio no Brasil. E aí eu lembro que um dos meninos viajou e ele voltou dessa praia tão vermelho. A pessoa que você tira do estudo. E aí eu falei “mas se não usou o protetor?” “ah esqueci”. Eu fiquei olhando para a cara dele. 

Isso é resultado para nossa pesquisa, né, mas mesmo assim ao mesmo tempo você fica assim “aaah nossa” e ele “foi porque não tenho a cultura de usar”, mas você vê que quando você conversa e você vai levando isso para as pessoas eles começam a utilizar. A grande situação que aconteceu com meu protetor foi que eu fiz um monte de formulação, mas duas ficaram estáveis, porque a vida do formulador é assim. Essas duas que ficaram estáveis, tinham diferença no sensorial, a única diferença entre elas é que usei um ingrediente ali. Eu mandei fazer o FPS das duas, porque a gente tem uma empresa que faz o FPS por uma parceria. Eles fizeram o FPS e veio uma diferença de quase o dobro de FPS e eu fiquei “mas gente, eu devo ter feito alguma coisa errada né, sei lá. Coloquei mais filtro aqui.” Aí eu mandei para eles de novo, a mesma coisa. Minha professora falou “alguma coisa está acontecendo, você tem que investigar mais. Por mais que não seja o seu objetivo central trabalhar com o protetor solar, eu aconselho você procurar ver se você não quer trabalhar um pouco mais com isso, talvez a gente pode colocar o seu estágio no exterior com isso justificando mesmo não sendo totalmente dentro da sua pesquisa inicial, ela é muito importante por conta da relevância de ser um protetor solar”. A gente entrou em contato com o pesquisador, uma das meninas do grupo já tinha ido lá por nove meses, eu acho, em 2015. Eles me aceitaram, a gente foi, deu certo e lá eles trabalham basicamente com protetor solar, só que pensando em todo o espectro de proteção desde UVB até o infravermelho. Eles agora estão estudando a diferença que tem, por exemplo, os diferentes tipos de pele com relação à exposição aos diferentes comprimentos de onda, então tanto UV quanto luz visível, quanto infravermelho então o que eu tenho lido das pesquisas deles é que a proteção solar vai começar a ser mais individualizada, vai começar a pensar mais nas pessoas de acordo com o tom de pele mesmo. Acho que isso é um futuro, uma perspectiva.

 

Rebeca: Para os nossos Mamutinhes que não entendem muito de química, uma formulação instável quer dizer que o creme ficar bonitinho, ele não separa, ele não estraga e ele fica lá certinho e sensorial e a textura do creme na pele. Só tentar desvendar um pouquinho o jargão porque nem todo mundo que já ouviu falar nisso.

 

Victor: Exato. E você sabe que isso é uma área de pesquisa muito forte hoje em dia, que é a relação da estabilidade com a formulação que aí tem uma estrutura, então seria a característica físico-mecânica dela, conhecer a textura com o sensorial. Tudo isso está muito interligado, e isso veio da ciência dos alimentos. A ciência dos alimentos estudava muito para manteiga, danone… E como é colóide, eles usam plataformas de textura e centros de pesquisa e cosméticos nos anos de 2010, na França principalmente, começaram a pegar essa plataforma e fazer ensaios de textura. Você consegue comparar isso com a reologia, você consegue comparar isso com o sensorial e é uma parte também da pesquisa que a gente faz. Então, a gente vê que a cosmética como uma ciência é nova, ela está se conhecendo e se descobrindo ainda.

 

Rebeca: A Reologia, para quem nunca ouviu falar, é o estudo da viscosidade como um determinado líquido se comporta quando coloca o estresse nele. E isso é extremamente importante exatamente para essa área de comida mas também para outras coisas, como por exemplo na indústria química.


Victor: É, e uma das coisas que veio desse estudo, foi justamente que por conta de um comportamento biológico específico, essa formulação consegue se espalhar melhor na superfície da pele e aí esse espalhamento na superfície da pele distribui melhor os filtros e essa distribuição melhora o FPS. Então na realidade você pode melhorar o desempenho de um produto sem ter que mexer com a quantidade de filtros, você diminui o preço para empresa, lógico, mas isso tem um impacto ambiental também, se você parar para pensar.

 

Rebeca: É uma otimização dos processos.

 

Victor: É uma otimização, exatamente. É uma área que está aprendendo ainda como usar essas plataformas. Como construir isso. Tem muita coisa já publicada e isso vai crescer mais ainda agora, mas, por isso que eu falo que é uma área legal de trabalhar, foi uma área muito legal de trabalhar de doutorado porque é uma área que você vai procurar alguma coisa e não encontra, mas você começa a fazer, aí você acha que você consegue achar em uma outra área do conhecimento aquela aplicação. Isso é bem legal.

Rebeca: É bem interdisciplinar nesse caso né. E bom, pensando em toda essa ciência que está envolvida nisso, foi por isso que você começou a pensar em divulgação científica no Oil Free?


Victor: Eu comecei na verdade, essa ideia de divulgação veio junto com quando eu me envolvi num projeto de cursinho popular na Farmácia, eu era professor, olha só de que disciplina: Geopolítica, porque não tinha um professor de Geopolítica.

 

Rebeca: Amigo, que treta!


Victor: Aí eu falei: “Ah gente, eu gosto, leio um pouco e vou lá falar de comunismo. Vamos lá falar da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, do capitalismo, vamos lá abrir a cabeça desses meninos.” Mas aí eu peguei de Geopolítica e dividi Literatura com mais duas pessoas, porque a gente não tinha né, porque o campus de Ribeirão é um campus de saúde, digamos assim, agora tem FEA, enfim, educação né, e não é um campus que tem uma força em humanas pra trazer pessoas para darem essas aulas e aí a gente tinha essa defasagem e eu peguei e comecei a estudar por conta pra conseguir criar as aulas para os alunos, lógico que não devia ser as aulas mais maravilhosas da vida deles de geografia, mas...

 

Rebeca: Mas o esforço estava lá, amigo.

 

Victor: O esforço estava lá. E aí com esse esforço, eu comecei a perceber que era interessante, porque quando comecei a estudar por conta, percebi que eu aprendia coisas muito interessantes e que conseguia transmitir isso para as pessoas, pensei: “Por que eu não começo fazer isso com a minha área?” Porque é uma área que eu comecei a perceber que todo mundo fala besteira, porque eu aprendi uma coisa na faculdade, lá na universidade, aí eu ia para a internet e eu via outra coisa.


Rebeca: Você abre o youtube e é um show de horrores. Instagram, outro show de horrores.

 

Victor: Eu duvidava da minha capacidade, falava: “Gente, será que eu estou fazendo as coisas direito? Será que estou louco?” Aí eu comecei a fazer no meu próprio perfil pessoal. Eu comecei a fazer e aí começou a ir gente estranha no meu perfil pessoal, falei: “Ah, não sei se eu quero essa coisa, agora, nesse momento da minha vida.” Então eu peguei e criei um perfil separado, criei o Oil Free, veio a ideia porque comecei a perguntar para os meus amigos, perguntei no Facebook, perguntei no próprio Instagram, o que eles lembram quando falam de cosméticos e a grande maioria dos brasileiros fala que lembra de cosméticos com toque seco ou oil free. Isso foi uma sensação no início dos anos 2010.

 

Rebeca: Foi um surto coletivo o toque seco e maquiagem Matte, que todo mundo queria parecer papel e seco.


 Victor: Exato. Isso rolou mesmo! Esse momento aconteceu realmente. Eu percebi que aí veio pelo nome do Oil Free mesmo e falei “Vou chamar de Oil Free”. Quando fui criar o domínio, eu coloquei esse OF na frente porque eu falei que é de Oil Free. Mas a burra aqui que não foi educada em inglês igual a Sasha, esqueceu que “of” é uma palavra em inglês. Então ficou estranho, ficou @ofoilfree, ficou estranho. Mas, a gente faz isso como todo brasileiro, a gente passa um pano para a minha desatenção naquele momento. Mas veio daí e começou, e o que aconteceu foi que assim, faço desde 2018. Mas o que aconteceu em 2019, a gente até foi procurar, a gente fez uma postagem dessa quando a gente voltou agora com perfil em 2021, em 2019 a gente teve o “boom” do skincare no Brasil, então rolou um “boom” no meio do ano e no meio desse boom, quem apareceu, eu apareci junto porque aconteceu que alguém ou uma empresa falou que filtro químico dava câncer. Aí eu falei: “Não, gente, não é assim, né! Espera aí!” Aí vamos lá, desmentir isso e aí isso virou uma treta imensa porque envolveu blogueiro, envolveu um monte de gente. Quando eu vi, o perfil que estava ali tinha 1200, 1300 seguidores, foi para 6000. Sabe, pulou de um dia para outro. E aí começou a ficar uma loucura, virou uma bagunça. Muitas dessas pessoas que estavam ali junto, que me seguiram, começaram a me convidar para fazer vídeos, para explicar. Então eu tive a visibilidade das meninas que trabalham com influência digital e aí isso acabou trazendo gente com o perfil e tudo mais. Foi como foi se estruturando. Mas eu posso falar assim, facilmente, que a cara que a gente tem hoje é completamente diferente do que era no começo, eu fazia semanalmente, levantava alguns stories, sempre usava um meme porque eu achava legal para fazer a conversa, mas sempre foi assim. Depois eu comecei a fazer isso mais regularmente.

Rebeca: Eu já seguia algumas coisas, mas em inglês, não tinha nada em português, aí quando eu achei assim, infelizmente eu conheci o seu canal por causa da treta da Fapesp, mas não vamos entrar nisso, se vocês quiserem vão lá ler as coisas do Victor. Quando você falou desse boom do skincare, na verdade foram várias marcas brasileiras que de repente surgiram né e com isso surgiram as influenciers que fazem publicidade para essas marcas e infelizmente acabam repetindo coisas que todo mundo acha que são fatos mas que na verdade são mitos que vão sendo repassados, como por exemplo, fazer uma associação muito forte de que coisa tal dá câncer. E aí a pergunta que eu faço é: nesse mundão de influenciers, quais são as coisas mais equivocadas que você vê as pessoas compartilhando sobre cosméticos? Principalmente porque recentemente tem surgido uma tendência de cosméticos “naturais” como se química fosse do mal! O que não faz o menor sentido! Alô, amigos, alô, alô você é feito de química. A cicuta é natural. Toda vez eu falo essa mesma coisa: “Ai natural é bom”. Sim, cicuta é natural, veneno natural.

 

Victor:  Exato. Piscina é natural. E assim, esse negócio vem da, a gente pode citar nomes assim né. Mas, não sei. Vem de lá de Oscar de 1999, que a gente sabe quem é, ela tem uma marca nos Estados Unidos muito forte que é totalmente composta por coisas naturais. Ela tem uma marca muito forte e ela tem uma campanha muito forte, essa é uma situação. Isso viralizou um negócio maluco nos Estados Unidos e o Brasil trouxe essa ideia junto. Só que se você abre artigo científico, tem um que é “Natural doesn't always mean safe”, do JAG. Eu adoro esse artigo porque ele é na verdade uma carta pro editor, mas o editor já começa falando dela, falando da empresa dela: “Olha, lindo, maravilhoso! Mas ela lucra não sei quantos bilhões por ano, o que ela está ganhando com isso?” Então assim, eles têm uma discussão em cima disso, falando: “Olha, gente, não é bem assim. Quando você tem extratos e extratos naturais, eles podem causar reações cutâneas.” Óleo essencial, ele pode ser fototóxico, ele pode ser citotóxico, ele é altamente dependente de concentração, de associação. Então isso surgiu, isso vem vendido junto uma ideia de que...uma coisa que me irrita muito, muito, muito na área de cosméticos, são duas coisas que vêm atreladas, que têm um cunho religioso, que é a questão do você ter uma rotina de skincare, no caso, falar como se fosse uma religião, então você ama, adora e endeusa produtos, então aquele fetiche de mercadoria que a gente bem conhece ou vem aquela coisa que é mesmo da pessoa que fala que tem que purificar os poros. É uma coisa maluca, parece que você tem um fígado em cada poro, que está ali tirando toxinas. É uma coisa louca, louca, louca e tão louco que eu cheguei ao ponto de fazer um vídeo no YouTube explicando às pessoas que a gente não respira pelos poros.

 

Rebeca: Que loucura!

Victor: É uma loucura. E isso tem um problema também, a gente tem muito profissional que acaba reproduzindo esse discurso. E muito profissional que se usa da formação para falar: “Eu sou médico, eu sou farmacêutico, fiz pós não sei em que.” E aí já vem usando só isso como...

 

Rebeca: Argumento de autoridade.

 

Victor: Argumento de autoridade.É importante você ter uma formação para você falar de alguma coisa mas se baseie em evidências, entendeu? Então a pessoa não está baseada em evidência, ela está baseada no que ela quer falar e isso é muito triste porque é um mercado que é muito fácil você conseguir vender.


Rebeca: As propagandas também são muito...como posso dizer, elas prometem a paz mundial se você usar aquele creme, sabe.


Victor: Tenho percebido agora que as empresas estão começando a entrar com esse papo científico, mas algumas entram com esse papo científico como uma forma também de criar um marketing de medo.

 

Rebeca: Mas amigo, olha só, tem uma marca de sabão para lavar louças queria botar um quantum na embalagem. E aí essa questão de você usar jargão científico pra passar para os consumidores uma ideia de que aquele produto é incrível, maravilhoso e vai salvar sua vida é muito errado. Eu não esqueço de que várias marcas eu já denunciei no Conar, por exemplo, uma marca de sabonete que faz um teste de hidratante usando um papelzinho, daí ele bota um papelzinho em cima do sabonete: “Ai em cima do nosso sabonete, o papelzinho não se rasga.” Tipo, a minha pele não é feita de papelzinho. Há uma outra marca que fez um shampoo com Picotecnologia. O shampoo, aliás, o átomo do cabelo, sabe aí eu entro entrar no Conar e vou digitar: “Olha, essa propaganda é enganosa. Isso não existe.”

 

Victor: Se você for parar para pensar né, nanotecnologia já é um surto nos cosméticos, já foi um surto assim, que o pessoal acha que é aquela coisa que vai entrar, vai penetrar e vai chegar na sua corrente sanguínea. Não, gente, o cosmético tem que atuar na epiderme, não é para entrar tanto assim, no máximo até a epiderme. A nano é para estabilização, é para melhorar a estabilização e melhora performance, sabe. Tudo bem que ela pode ficar estocada no folículo e tudo mais, mas é outro role, sabe.

 

Rebeca: Sim, coisa de nanotecnologia, eu dou essa disciplina, falo sobre introdução da nanotecnologia, existem pouquíssimos estudos a longo prazo dessas coisas e por isso que é um um lugar meio misterioso ainda, meio difícil ainda sabe, mas porque não tem estudo, daqui a pouco a gente já vai ter estudo suficiente, vai ver o que é bom e o que não é, pesquisa serve pra isso.

 

Victor: Essa é uma discussão que eles têm muito lá na Alemanha que é o quanto que é importante você ter uma Nano no protetor solar, sendo que às vezes você consegue ter uma melhora da performance de outras formas, entendeu? Então assim, o grupo lá que eu vi, ele estudava muito a penetração da Nano no folículo, por exemplo, sabe. E aí eles estudavam o folículo e viam que, por exemplo, ficava ali estocada no folículo um bom tempo, então às vezes quer dizer o que? Que você está produzindo um produto que vai penetrar, vai ficar no folículo, e às vezes nem entra por conta da permeabilidade da pele, tem toda essa situação que tem que entrar em consideração sim. Então assim, a gente ainda precisa bastante disso.


Rebeca: É questão de regulação também, sabe. O pessoal fala que  nanotecnologia vai pra longo, tem uma questão de reprodutibilidade, de entender como isso vai, ou dentro do corpo ou na pele, há toda uma questão que precisa de mais dados. À medida que a pesquisa vai para frente, o negócio anda.

 

Victor: Sim, precisa de mais evidência, é aquela coisa que falei lá no começo quando a gente começou a tocar nesse assunto, que é legal para a estabilidade de algumas coisas, por exemplo a vitamina C, quando se usa uma nanotecnologia você consegue aumentar a estabilidade dela. É uma situação de estabilidade, que tem sua vantagem muito boa, que é você conseguir manter uma coisa que é muito instável em mais estável. Eu vejo hoje em dia, mas por isso.


Rebeca: Entendi! Falando sobre formulação, é uma coisa que me encuca demais: Por que os rótulos dos cosméticos são do jeito que conhecemos? Porque essa informação não é tão acessível pra gente, sabe? As coisas são em inglês, eu acho que não tem acessibilidade pra gente entender o que a gente passa, o que a gente usa de creme, de loção, às vezes fica meio misterioso o que que tem, como funciona. Por isso que o seu canal é essencial, exatamente por desmistificar as coisas, explicar o que é, para que serve. 


Victor: Mas se você não sabe o que tem ali, é fácil de vender. O pessoal coloca aquele misticismo, aquela coisa, mas é assim, isso a legislação, a gente tem na Anvisa uma legislação que fala como tem que ser as embalagens dos produtos de acordo com o grau do produto, se é grau 1 ou grau 2... 


Rebeca: O que é grau 1, grau 2?

 

Victor: Grau 1 vai ser então, por exemplo, o seu hidratante comum que não tem nenhuma ligação de melhorar rugas, essas coisas sabe, ou shampoo que não seja um  shampoo para tratar caspa. O 2 vai ser, por exemplo, shampoo anticaspa ou então produtos infantis que vão ter alguns cuidados a mais porque a pele da criança é um pouco diferente, protetor solar ou qualquer outro cosmético que tenha no seu rótulo ali falando assim: “Isso aqui reduz não sei o que em tantos dias.” Uma coisa mais forte, que aí pra você poder falar isso, você tem que colocar os estudos de eficácia e também de segurança. Já, por exemplo, o hidratante, pela simplicidade, digamos assim, na formulação, no sentido de a gente já esperar que ela já tem algumas coisas mais simples, você já entende que não precisa ter todo esse rigor na hora de fazer o cadastro do produto. E você perguntou sobre os rótulos, quando por exemplo, a gente tem agora,  tem até uma coisa que eu estava lendo, que vai começar agora ter que colocar os ensinos em português, os nomes dos componentes vão ser em português. Pra gente que formula, esse é um trabalhinho a mais, porque é muito fácil quando está na língua inglesa, o ensino ali, que você só joga o nome e você já acha diretamente o distribuidor e tudo mais, que é uma linguagem meio que universal.  Aí o Brasil fez isso agora de colocar em português pra facilitar também essa situação, só que é aquela coisa né, se vem esse tipo de coisa, esse tipo de informação, era importante que viesse também uma educação para as pessoas entenderem um pouco o que são os ingredientes,  porque você olha ali o hidróxido de sódio, a pessoa fala: “Meu Deus, tem soda cáustica no meu creme. Eu vou morrer!” E assim, a gente usa, sei lá, 100 gramas de creme a gente vai usar uma gota de solução 10% ou, dependendo, até 1%, para conseguir ajustar Ph. E é isso, e a hora que você coloca ali né, tudo dissocia e beijos. Então é aquela coisa né, pessoal não sabe dessas coisas.


Rebeca: Reflete na nossa falta de ensino básico de coisas simples como química, a química da escola, entender se os componentes dentro da formulação é prejudicial, pois a gente não sabe dentro da formulação a quantidade desse componente.


Victor: Exato, ainda tem toda essa questão de segredo industrial por conta da formulação, quantidade e concentração. Mas se a gente parar pra pensar que na patente, a gente tem que colocar faixa de concentração quando a gente pede uma patente de uma formulação, quem sabe um dia talvez pensando não chegue lá, comecem a colocar os rótulos  também faixa de concentração, podem colocar tanto e tanto, mas também não sei, bem complicado.


Rebeca: Vai vir uma bula no creme!


Vitor: Exato! Aí vem um papiro


Rebeca: Aí vai ter o efeito oposto, isso está muito grande não irei ler. Muito difícil! Agora vamos de surto coletivo? Qual a diferença entre um cosmético vegano e cruelty free? Ainda há necessidade da indústria da beleza testar em animais ou já seria possível recorrer a outros meios para ver a toxicidade ou outra questão?


Victor: Eu vou começar de trás pra frente nessa. A gente hoje em dia tem muito teste alternativo ao sofrimento e ao uso do animal, que já tem uma reprodutibilidade muito boa, então você consegue fazer esse estudo em muitos lugares e da mesma forma, não só isso, ele é muito transponível para nosso sistema cutâneo. Hoje em dia esse estudo estão bem delimitados, você não usa um método para determinar tão coisa, você pode usar dois e essa respostas são complementares, consegue com essas duas respostas tirar totalmente um tipo de teste, por exemplo, pensando em irritação ocular, você consegue já hoje me dia usar outros métodos que vão conseguir fazer que não utilizemos o coelho como naquele teste que deixa o coelho com o olho irritado que envolve o sofrimento animal, agora nesse teste que a gente faz não é muito que não usa animal, eles vão usar, alguns usam ovos embrionário sem a formação de tubo neural, ou o que sobra do abatedouro, como por exemplo, pele de orelha de porco que a gente usa para fazer teste de penetração de substância na pele, pois a barreira do porco é muito parecida com a nossa da pele ou o olho do boi que sobra também pode fazer o teste. Então isso que estamos falando, é a experimentação como Cruelty free, ou seja, reduzir o número de animais que está envolvido na experimentação diretamente e o sofrimento associado ao animal na experimentação. A gente sabe que existe a indústria alimentícia, esse é o outro lado mas que ela existe e ela ia descartar tudo isso, então no lugar de usar animal como por exemplo, já se porco, rato, então você pode usar essa sobra.

Já vegano é você não utilizar o animal para nada, aí quem faz esse certificação terá que rastrear se em algum momento aquela matéria prima não foi testada em animal.


Rebeca: Também tem essa questão de saber que algumas substâncias, por outros testes anteriores, sabem que a formulação X não faz mal pra gente. Mas isso, a gente sabe porque passou na nossa cara ou passamos infelizmente no ratinho ou coelhinho.


Victor: Passou em algum momento, por exemplo, mesmo o teste da fototoxicidade que a gente usa hoje em dia com cultura celular, a gente faz com norfloxacina como controle positivo, porque já tinha estudo em modelo animal com norfloxacina sobre o efeito fototóxico. Você consegue transpor esse novo teste agora, então é uma situação que em algum momento precisou saber sobre isso.


Rebeca: O Victor tem um vídeo excelente sobre teste de animais, acho importante entender que a gente consome produtos testado em animais, toma medicamentos que foram testados em animais, essa questão sobre skin care e tudo mais, que as pessoas usam o skin care como um grande refúgio para não surtar, porque a gente vive no Brasil. Mas óbvio que cada pele é uma pele, a minha pele não vai ser igual da Gabi e nem de ninguém, mas tem alguns componente que podemos fugir, tipo não use tal coisa. 


Victor: Acho que vai depender do seu tipo de pele, e assim, vou ser sincero! Nunca use óleo essencial com (36:19 … ) é perigosíssimo, porque você pode realmente queimaduras e comprometer a barreira, então irritação, muita irritação, dependendo do óleo que você usa. Mesmo que você diga que óleo de lavanda é calmante, NÃO, depende de algumas coisas, então assim, não tem como falar que todos serão iguais, pois alguns são diluídos e outros não, alguns depende da sazonalidade da planta, ela vai ter quantidade diferente de terpeno que é o composto do óleo. Então isso pode afetar, as pessoas, a pele e tudo mais, então não use isso, também não pinguem limão no sol. Algumas pessoas passam coca-cola com limão para bronzear mais rápido, não façam isso, por favor. Não tem problema utilizar o pó de café para fazer um esfoliante, desde que a  tua pele não esteja irritada e você tenha um cuidado na hora de fazer a esfoliação, não com muita força. O problema não é usar uma coisa que vem do alimento, não é isso, o problema é usar nesse modo hard.


Rebeca: Assim, a gente fez um episódio e sempre fica o com essa sensação de panaceia, de que vou usar este creme aqui e ele vai resolver todo nosso problema, ou vamos fazer esta dieta aqui e vai dar tudo bem. A gente tem que ser um pouco mais consciente.

  

Victor: Exatamente. A gente tem que ter um pouco de consciência do que a gente consome da internet, pois ela não é uma realidade, ela nunca vai ser uma realidade completa. Quando estou falando com meu celular, vejo a pessoa falando nossa como a sua pele está maravilhosa, o que você está fazendo, o que você está fazendo. Acho que esse celular mais novo, deixa nossa pele melhor, pois não é possível.


Rebeca: É questão do software da câmera e como eles fazem a interloc dos pixels.


Victor: Estão vendo gente, falei, sabia, eu não estou louco. Pois, realmente tem uma mudança porque eu percebi, assim, eu estava com meu outro celular e meu namorado tinha um celular mais moderno e aí ele virou pra mim e falou ‘Nossa vai fazer live usa o meu’, e não sei o que, menina quando eu peguei, parecia que eu era outra pessoa.


Rebeca: Pois é, isso é tudo software. As câmeras dos celulares foram especializadas para fazer isso,para fazer lives. Assim, eu vejo a evolução disso, e assim, eu sou sempre a pessoa retardatária, sou a pessoa que tá lá no final, eu sempre vou ganhar o celular de quem trocou. Então, você vai vendo a evolução das coisas, tipo antes do celular era para tirar foto das coisas, agora o celular é para tirar foto da gente para fazer filme da gente. Então, a indústria que faz o software vai mexer nisso para melhorar sua experiência, é isso que eu tenho certeza que tem a ver com fazer aquele efeito granuladinho que deixa todo mundo lindão e as pessoas vivem nessa realidade louca aí.


Victor: Isso que ia falar, ficam nessa realidade louca, por favor, acreditem que tem um surto alí, esse surto é realmente muito mais uma coisa que não é real do que ser real e agora. Já tocando nesse ponto é o ponto do da glamourização do medicamento, que as pessoas confundem.


Rebeca: É o país que mais se automedica, eu acho.


Victor: É um país que se automedica demais. Mas que infelizmente, a gente ainda tem que lutar com a classe farmacêutica que a gente educa a pessoa sobre a importância de falar sobre o medicamento, e sendo o skincare só uma pomadinha as pessoas acham que é ‘ uma pomadinha que você está passando’ Não! É um medicamento, este medicamento tem absorção e vai entrar, chega lá na derme. Então foi feito estudo sobre isso, você sabe que tem efeito colateral


Rebeca: Vem com uma bula! É um medicamento.


Victor: Eu falo isso na internet com a pessoa, que passo hidratante nas regiões que me dão irritação, e o pessoal ficou louco, falaram assim ‘Por que que você usa hidratante antes do produto, vai cortar o efeito dele?’, eles estão loucos que eu vou deixar queimando meu rosto! Não! Então, é uma falta de conhecimento. A gente tem, apesar de falar sobre cosméticos, falar um pouco sobre medicamentos também, porque tem que alertar um pouco.


Rebeca: Fechando essa questão sobre componentes, eu peguei um livro de componente de monte de cosméticos e tava lá que tem 3% de peso de benzofenona ou oxibenzona que é um composto orgânico que é poluente Marinho. O protetor solar tem que ter esse composto? Existe alternativa para esse tipo de composto? Pois, eventualmente, tudo o que a gente consome vira lixo. 


Victor: Exato, a gente tem que pensar em três coisas. Primeiramente, a legislação do Brasil e da Europa para protetor solar, estou falando de filtro UB, ela é mais evoluída que a americana. A americana eu não entendo porquê eles tem surto coletivo da FDA, sério é muito atrasado, muito atrasado. Eles formulam um creme lá de protetor solar chorando porque ele só tem alguns filtros aprovados e os melhores filtros, eles não têm aprovados, os mais modernos


Rebeca:Meu deus!


Victor: E isso faz com que eles tenham que usar realmente mais oxybenzone e benzofenona, por exemplo, que a gente, sendo eles, Filtros mais antigos. O Brasil usa ainda? Usa em menor quantidade, tá? E esses fios têm duas coisas importantes que eu acho que a gente tem que falar. Primeiro, onde você tá usando então, por exemplo, eu moro no interior de São Paulo e eu não estou indo no mar diretamente e estou usando aqui. Enfim, não vou conseguir o que eu uso, não vai ter uma poluição Marinha pensado assim, igual a de uma pessoa que mora em Recife e que ali tem uma questão dos Corais que ele tem Coral que só encontrado ali então talvez naquela região tem que ser pensado dessa forma. É difícil, porque está falando do Brasil que é um país Continental que tem assim várias fontes e tudo mais, mas aí entra que nem os Estados Unidos pensou o Havaí. Havaí tem um ponto lá que assim ´´ó a gente tem coral que só tem aqui, a gente é um estado diferente´´ Então assim problemas, seriam as pessoas usarem esses protetores em locais onde tem o coral só ali, entendeu? Porque isso pode levar a branqueamento, pode ser tóxico, enfim. E aí você reduz então a exposição direta desses corais a esses componentes, mas a gente já tem uma discussão hoje em dia bem grande em cima disso de que na realidade o grande problema que leva ao branqueamento de Coral não é o filtro solar em si, mas o aquecimento global! 


Rebeca: Também tem esse rolê né a galera também é tudo culpa ,vocês que usam filtro solar estão acabando com os corais, Mas pera aí!


Victor: E isso aí dá pauta para o negacionista! 


Rebeca: É a mesma coisa que o vegano que come soja, sabe.

 

Victor: Exatamente, cai nesse ponto falar que é porque comi soja só está desmatando o Pantanal, mas o Pantanal está sendo desmatado.


Rebeca: Isso nossa e os outros boi, o que fazer com os bois então?


Victor: Exato, exato, é a mesma coisa. Assim, se não salva as escalas de proporção é bem parecido. E aí é interessante porque quando você tem esse tipo de coisa, então a gente precisa só de instalações mais específicas sobre as regiões de costa. Só que esses estudos ainda são um pouquinho, então estão precisando se expandir um pouco mais, ele tem muito estudo em vitro muito bem delimitado. Já mas aquela coisa como que é isso? Realmente na condição real do negócio aí tem que estudar um pouquinho mais. Mas eu acho que a gente vai acabar vendo isso nos próximos pontos que eu acho que isso é um hotspot da área cosmética, com certeza sabe da área farmacêutica, dos novos filtros e novas formas de aplicação também.


Rebeca: Legal, agora vamos para nossas perguntas da audiência! Existem outros compostos que fazem mal e ainda são utilizados pela Indústria Farmacêutica, é que assim você não é da Indústria Farmacêutica, né, mas você sabe mais de formulação que a gente.


Victor: Eu adoro a parte farmacêutica, parece o senhor Burns, adoro falar de biofármacos. Então se a gente pensar, tudo faz mal! Pois depende de como que você faz? como que você usa? como que você aplica? aqui pensando em cosméticos é muito bem delimitado e até aquela situação, por isso que a gente não pode fazer teste em animal, por exemplo com produtos finalizados porque a gente já sabe das matérias-primas, ele pressupõe-se que como a gente tem esse conhecimento prévio das matérias-primas, quando sai formular um creme ali, você já tá com uma coisa mais segura bem ok.


Rebeca: Legal! Ainda uma pergunta que achei interessante é: se você passar protetor solar com a pele um pouco úmida, o filtro vai se desestabilizar?


Victor: Olha, eu acho que não se desestabiliza em si, mas eu não posso afirmar isso. 


Rebeca: Ela é úmida é diferente de molhada, né? 


Victor: Pensar assim, simplesmente, tem um artigo que eu vou falar com você que isso ´tá falando isso para mim´´ Não! Mas o que pode acontecer é, quando você tem uma pele tá muito úmida, toda mais. A forma como o creme vai distribuir na superfície da pele vai ser diferente, né?

Rebeca: A gente sente na hora que ele tá passando, né? Não é uma coisa muito louca.


Victor: Exatamente aí por conta disso, a forma de distribuição pensando em protetor solar que tem que ter uma cobertura mais homogênea, pode atrapalhar um pouco ou não, vai depender muito da formulação. Aí fica um pouco complicado saber também.


Rebeca: Hoje em dia já tem muitos filtros solar diferente, né? Quando era criança não tinha tanto isso aí era Sundown e acabou 


Victor: Era aquela formulação pesadona. 


Rebeca: Nossa Senhora! Parecia que estava espalhando os pasta de dente no braço pasta de dente.


Perguntas da Audiência!


De onde costumam sair os corantes dos batons? Que saiu um tempo atrás algo do chumbo.


Victor: Ah, o chumbo! Então, corante, de qualquer coisa vão ser pigmentos que às vezes vão ser, por exemplo, pensando...


Rebeca: A cochonilha, o besourinho triturado.


Victor: É, ou por exemplo, pode ser corante metálico, como as variações do ferro com diferentes estados de oxidação dele, que é o que a gente faz base. Como você pode ter também pigmento que vem da beterraba, pigmento que vem da cenoura, tem uma grande variedade de pigmentos que tem se usado mas depende.

Essa questão do chumbo que vem, podem vir traços junto com o ferro ou óxido de ferro, por isso que você pode encontrar traços. Por isso gente, não comprem batom daqueles sites estranhos…


Rebeca: Ou daquela farmácia podre!


Victor: Não, não é nem isso, sabe aqueles sites estranhos que a pessoa compra um batom que custa R$40,00 por R$:2,40 e acha que tá arrasando, provavelmente não tem controle de qualidade sobre a quantidade de chumbo, tem mão de obra escrava provavelmente.


Rebeca: Esses sites são um perigo porque as pessoas acham que estão fazendo um grande negócio comprando alguma coisa por um dólar, sem pensar exatamente nessa cadeia de produção!


Victor: Exatamente! você não sabe quem está fazendo, como está sendo feito. Então sempre fique com um pezinho atrás. Depois o pessoal vem falar da “Big Pharma” que tá destruindo o planeta e tudo mais.


Rebeca: Pois é, mas depois quer comprar o batom de 1 real chinês. Eu acho que é muito mais válido você ter um batom de uma marca boa, brasileira, que tem marcas brasileiras sensacionais, que, sem brincadeira, gosto mais que pensar em comprar um bagulho gringo, do que ter um monte de batom de R$: 2,00 que vão acumular esse chumbo no seu sistema.


Victor: Exato! A minha crítica nunca é sobre você consumir o produto, é a forma como você consome e o que você está financiando.


Rebeca: Pois é, eu tenho um grupo de amigas e eu sempre me perguntei assim “por que tem que ter tanto?Por que tem que ter todos? Ter 500 batons, 15 paletas de maquiagem?” Não tem necessidade disso. Eles vão todos vencer antes de você usar até o final, por que você comprou tudo isso?


Rebeca: Uma pergunta que provavelmente vai ter algo a ver com a conclusão da sua tese. “Por que skin care ou qualquer forma de cuidado com o corpo é majoritariamente associado à feminilidade e por isso execrado pela maioria dos homens?”

Bom, a resposta não é simples, mas também não é difícil…


Victor: É, não é simples, mas não é dificil, mas é cultural.


Victor: Eu entro numa discução aqui que cosméticos são sempre uma questão de beleza, e isso sempre esteve ligado com poder. E se a gente olha para pinturas renascentistas, as pessoas eram rechonchudinhas e tudo mais, aquele era o padrão de beleza. Porquê? Por que naquela época, era poder as pessoas que tinham acesso à comida. E agora o acesso à beleza é exatamente essa pele que é lisa, esse ideal mais de academia…


Rebeca: Com bichectomia!


Victor: Com bichectomia que é um problema muito grande ou ainda a harmonização facial… Estamos falando sobre poder, sobre acesso. Hoje em dia o poder tem a ver com capital. Pensando numa sociedade patriarcal, que coloca a mulher abaixo do homem, então precisamos colocar a mulher de uma forma onde você tenha acesso às suas coisas, então ela só tem acesso a determinados pontos. E tudo que está relacionado com a feminilidade, inclusive processos preventivos, que estão muito relacionados com os cosméticos, é totalmente negada por uma sociedade patriarcal. Um cara muito machista vai associar o uso de cosméticos com mulheres, e por ser feminino, ele não precisa, por que ele é “tão bom”, por que ele é homem!

Essa situação é muito interessante, quando eu comecei a estudar cosméticos, no início do meu doutorado, eu queria estudar o consumo dos homens brasileiros. Comecei a entrar nessa questão, que tange às relações de poder, que comecei a ficar mais encantado, que comecei a perceber que beleza, esse mercado, tem um poder, aquisitivo também, e que pode ser um ponto de mudança em um sistema que coloca para gente que autocuidado é feminino. Por eu ser homem, eu não posso ter um autocuidado por que isso é feminino. Não! Muito pelo contrário! Isso é um ato, dentro de uma sociedade totalmente machista, revolucionário! se você pensar  dessa forma!. E olha que coisa simples! O ato de você passar um protetor solar!


Rebeca: As pessoas associam o uso de protetor solar a “cuidado”, mas na verdade é saúde! 

Eu vim de uma família que minha mãe sofreu muito por que não tinha acesso a essas coisas! Ela me dizia: “olha Rebeca, eu vou passar esse protetor, é uma desgraça, é uma pasta de dente que estou passando , mas é muito importante!”. Eu não tive isso, eu não me protegi quando era criança. Eu não pude, não tinha, minha mãe e meu pai não tinham dinheiro! Não tinha nem onde comprar! Minha mãe é de 57, não tinha onde comprar! Hoje a gente tem acesso a uma diversidade muito grande de produtos e, novamente, temos que passar essa mensagem na cabeça dos brasileiros que fotoproteção não é “cuidado”, é saúde na minha opinião!


Victor: Sim! Com certeza! Isso tinha que ser olhado inclusive pelo nosso sistema de saúde, tinhamos que ter um cuidado um pouco maior, não só com campanhas de fotoproteção, mas pensando em acesso mesmo, para as pessoas poderem ter o produto para utilizar.


Rebeca: É, e as pessoas entenderem o porque ele é necessário! Mas enfim né… com o governo que estamos agora, a comunicação…


Victor: Mas da mesma forma, mesmo se você olhar para estudos fora, você não encontra estudos que fazem esse recorte de fotoenvelhecimento pensando em homens! Não tinha!


Rebeca: É que homem pode envelhecer Vitor! Mulher não pode!


Victor: Exato! e o que é isso? Um viés machista da ciência. E eu vou falar agora, agora vem minha parte de raiva. Quando eu mandei esse meu artigo para ser aceito, para uma revista um pouco menor, a international journal of cosmetic science é a principal na área de cosméticos e tudo mais. Mas quando mandei para revistas um pouco maiores eu recebi sempre no primeiro um “parabéns” o primeiro revisor falava coisas maravilhosas do trabalho. O segundo revisor, ele metia o pau de uma forma…


Rebeca: Já vinha com 4 pés no peito! 


Victor: Teve um que falou que não era ciência!


Rebeca: What????


Victor: Exato, teve um que falou basicamente nessas palavras. Mandei para 3 revistas que foram quase a mesma história. A primeira revisão diz que “você precisa melhorar alguns pontos”, a segunda você diz “ta, vou melhorar” e a terceira você já pensa “você está de brincadeira comigo!”. A primeira realmente precisava corrigir alguma coisinha ou outra, fazia sentido o que me mandaram, mas essas outras duas, quando você vê que isso vai se reproduzindo, e vê que dentro da academia tem um problema muito grande para aceitar algumas ideias.


Rebeca:  Quem revisou seu artigo foi um cara branco.


Victor: Ah, foi um europeu com certeza.


Rebeca: Um cara branco e velho! Eu já até imagino a cara dele no repositório das imagens.


Victor: Ele deve ter rido, sabe? Deve ter falado “que loucura”.


Rebeca: Pensado “olha que palhaçada isso aqui do Brasil, que lixo!”. Você sabe que artigos de brasileiro, a galera nem lê! Isso aqui é ainda uma outra treta, que levaria a um outro mamucast de preconceitos que brasileiros sofrem na academia que a gente pode fazer! É outro episódio! 


Rebeca: E por fim, tem outra pessoa que provavelmente é sua seguidora que falou assim: ”Posso botar o dedo no meu creme?” hahaha


Victor: Pode! Hahahaha, você tem conservante para isso!!!


Rebeca: E sim, se você lava sua mão você pode colocar o dedo no creme, tá bom?


Victor: E quem quer saber o por que, eu fiz também um vídeo no youtube falando sobre isso! Explicando todas essas coisas, pode ir lá ver!


Rebeca: Exatamente! Agora tem uma pergunta que a gente sempre faz quando temos convidados: “Quais sugestões você tem para quem pretende iniciar a carreira nessa área de conhecimento?”


Victor: Isso é uma pergunta que chegam para mim sempre falando “ah eu quero trabalhar com cosméticos”. Tá, mas você quer trabalhar fazendo cosméticos, desenvolvendo, você quer aplicar o cosmético, ou você quer ser o médico que vai entrar com a questão da anamnese Então são 3 áreas diferentes mas convergentes, então você pode trabalhar como um dermatologista, que precisamos também para fazer anamnese para realizar os ensaios clínicos. Mas por exemplo, se você quer trabalhar com o desenvolvimento, o único curso que existe, que vai falar e entrar na grade por obrigação a disciplina de cosmetologia, é a farmácia! Farmácia é o curso que tem que ter porque e farmaceitique vai desenvolver. A química vai ver, desenvolver lógico, porque também trabalha com essa área, mas a farmácia vai ter a interface pele produto, então você vai ter o conhecimento para desenvolver e para aplicar, então, vou falar para você primeiro: Procure bem um local, uma boa faculdade e tudo mais, porque tem algumas faculdades que às vezes não tem muitas disciplinas de cosméticos, tem só uma para cumprir com a legislação, dá uma olhadinha na cultura da universidade.


Rebeca: Aaah, é interessante olhar a grade!


Victor: É interessante dar uma olhada, em farmácia agora mudou, era uma grade que era integrada, com vários professores juntos numa mesma disciplina, ficou bem bacana! A cosmetologia começa a entrar em uma farmacotécnica, de tecnologia farmacêutica. Isso integra a cosmética junto à área de tecnologia farmacêutica. Então já dá uma outra cara para a cosmetologia. Antes tínhamos 2 disciplinas, mais a farmacotécnica 2 que também trabalha com essa parte. Então já tinha uma cultura. E a farmácia de Ribeirão Preto também é conhecida nesse ponto de cosmetologia, então depende muito da faculdade que você trabalha, que você vai estudar.


Rebeca: É tem lugares que são tradicionais em algumas áreas para todos os cursos!


Victor: exato! isso é normal para todos os cursos gente.


Rebeca: sim! 


Fontes:

[1] Lattes do Victor: http://lattes.cnpq.br/7774243904800926

[2] Gunn, F. The artificial face - The History of Cosmetics (1973)

[3] Flick, E. W. Cosmetic and Toiletry Formulations, William Andrew 2nd ed., vol 8 (2001)

[4] Handbook of Cosmetic Science and Technology, Informa Healthcare USA, Inc.(2009)

[5] Downs, C. A. Protetor solar destrói os corais, Revista ECO-21, edição 254 (2018). Acesso em 02/06/21 http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=4357 

[6] Rubin, C. B., & Brod, B. (2019). Natural does not mean safe—the dirt on clean beauty products. JAMA dermatology, 155(12), 1344-1345. 


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Produção:

Música: Gabi

Pauta: Rebeca/Gabi

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