Revisão por pares, #comofaz?


Depois de sei lá quantas horas de pesquisa, seja no laboratório, na frente do computador ou encarando a aridez da folha de papel branca armade apenas com sua fiel lapiseira, obtemos os tão desejados resultados originais que acreditamos poderem mudar o rumo da ciência. Nem que seja apenas na nossa diminuta bolha científica. Depois de mais algumas horas brigando com o LaTeX, disponibilizamos o manuscrito original no nosso servidor de preprints favoritos (lembra do nosso post sobre o arXiv?). Estamos, enfim, prontes para a batalha decisiva: encarar a revisão por pares e assim publicar em algum jornal de prestígio. 


Mas do que se trata realmente a famigerada revisão por pares?


A revisão por pares é o processo pelo qual os resultados de uma pesquisa científica são avaliados por outros especialistas de uma determinada área do conhecimento, os tais dos pares, antes da publicação em alguma revista científica. Trata-se de uma etapa central na construção de uma rede de conhecimento sólida e confiável, possibilitando o desenvolvimento de uma ciência sustentável e reprodutível. Ao submetermos nossos resultados originais à revisão por pares diminuímos significativamente a chance de disseminarmos resultados irrelevantes, proposições absurdas, interpretações errôneas e opiniões pessoais sem o devido embasamento científico.


O processo, como sabemos, está longe de ser perfeito e infalível. A mídia adora relatar os escândalos associados à publicação de resultados errados e os casos de plágio. Contudo, de acordo com uma pesquisa realizada em 2015 pelo Publishing Research Consortium, 82% des pesquisadories concordam que sem a revisão não haveria nenhum controle sobre a qualidade da ciência. Além disso, 74% delus concordam que a revisão por pares aumenta a qualidade dos artigos publicados. Em contraponto, es própries cientistas percebem que tal processo é ineficiente para detectar fraudes (41%) e casos de plágio (44%). De fato, o processo não foi desenvolvido com esse intuito. Tanto que, quando submetemos um artigo, somos obrigades a assinar um documento atestando a integridade ética de nossos resultados.


A revisão por pares tem sido parte do processo de comunicação científica desde 1665, quando foi instituído na Transações filosóficas da Sociedade Real por seu editor fundador, Henry Oldenburg. Até meados do século 19, o processo de revisão era realizado apenas pele editore chefe, no máximo, envolvendo um comitê editorial. Foi apenas mais para o final do século 19 que revisories externos começaram a ser envolvides, em parte para diminuir a sobrecarga de trabalho des editories, em parte para diminuir viéses editoriais. Contudo, essa prática só se tornou comum em meados do século 20. Em particular, a Nature, uma das mais prestigiosas publicações científicas, instituiu apenas em 1967 um sistema de revisão por pares formal.


'Tá, muito legal, mas como funciona o processo atualmente?


Muitas vezes, ele começa na própria submissão, pois vários jornais pedem para que es autories selecionem e editore mais adequade para supervisionar o processo. Em seguida, o manuscrito é encaminhado para e editore, que faz a primeira avaliação. Trata-se de uma avaliação superficial para determinar se o trabalho está dentro do escopo e objetivos da revista, se seu conteúdo está completo e é relevante para a literatura, bem como se sua formatação está adequada. Apenas depois de passar por esse crivo inicial é que o manuscrito chega nes revisories externes que foram escolhides de acordo com a sua expertise no dado campo do conhecimento. O número de revisories varia de acordo com a revista e a área, mas, geralmente, fica entre um e três. 


Nesse estágio, es revisories externes podem sugerir que e editore rejeite, aceite sem modificações ou que instrua es autories a revisarem o manuscrito de acordo com suas críticas. E editore responsável, então, recebe o relatório com as recomendações des revisories para embasar a sua decisão. É importante ressaltar que es revisories não se comunicam entre si e, geralmente, desconhecem a identidade des demais. Não raro, seus pareceres são contraditórios, o que, muitas vezes, força e editore a incluir mais ume revisore externe no processo. De toda forma, uma vez que e editore toma a sua decisão, ela é encaminhada aes autories. Se o manuscrito não foi rejeitado ou aceito sem modificações, ele retorna para es autories para revisões, na qual elus respondem às críticas levantadas peles pareceristas. Algumas vezes, esse processo de críticas e revisões pode se estender por meses e diversos relatórios até que uma decisão final quanto a publicação do manuscrito seja tomada.


Mas es autories sabem quem são sues revisories?


Existem diversos formatos para essa interação entre es pareceristas externes e es autories, cada qual com suas vantagens e desvantagens.



As vantagens dessa modalidade concentram-se em prevenir comentários maldosos e enviesados, bem como em encorajar uma revisão mais honesta. Contudo, ao se abrir o processo de revisão, teme-se que ele possa, por outro lado, tornar-se menos rigoroso, uma vez que es revisories podem evitar críticas com medo de retaliações.


Apesar de uma crescente percepção de que o sistema de revisão por pares necessita de uma reformulação, a pesquisa realizada em 2015 pelo Publishing Research Consortium revelou que há ainda uma clara preferência, tanto por parte de autories quanto de revisories, pelo formato convencional de revisão simples- ou duplo-cego. De fato, não existe diferença estatística entre a preferência por um desses métodos. Por outro lado, há um apoio crescente à revisão aberta, desde que ela não envolva a publicação dos relatórios assinados peles revisories. 


A constante busca pelo aperfeiçoamento processo de revisão por pares para garantir maior transparência, menos vieses, menos fraudes e maior reprodutibilidade não diminui a sua importância para o desenvolvimento da ciência. Tanto que 65% da comunidade científica afirma estar satisfeita com ele, enquanto que 34% acredita que o atual formato é o melhor que podemos conseguir.


Referências


Texto por: Gabrielle Weber