Por Renato Silva
Foto: IPUSP
“É preciso partir das semelhanças (que são muito mais numerosas do que imaginamos, prisioneiros que somos de nossos preconceitos) para construir situações onde o encontro, a troca, se torne possível; portanto, também, o reconhecimento das diferenças… Isso significa educar-se para o sentimento de igualdade”.
Alain Goussot
O Observatório Internacional para Educação da Infância e Adolescência “Alain Goussot” homenageia, em seu nome, prestigiado pesquisador italiano do campo da Pedagogia reconhecido por suas contribuições à Educação Especial e Inclusiva e aos debates sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. Em visita ao Brasil, o professor Goussot sugestionou a proposta de criação de um centro de integração e trocas referente às contribuições produzidas no Brasil e em outros países latinos nas temáticas concernentes à juventude, que ora se concretiza neste observatório. Apresentamos, a seguir, uma breve biografia com o intuito de homenagear o professor Goussot e apresentá-lo à comunidade brasileira.
Alain Goussot (01 de junho de 1955 – 25 de março de 2016) foi um filósofo, historiador, pedagogo e intelectual europeu. Ele nasceu em Charleroi, na região da Valônia, na Bélgica francófona. Iniciou sua vida acadêmica na Universidade Livre de Bruxelas (Université Libre de Bruxelles) – em Bruxelas, na capital da Bélgica – onde graduou-se em História e Filosofia e obteve especialização em Pedagogia Aplicada.
Entre 1978 e 1980 foi professor de História e Filosofia em uma instituição educativa em Charleroi. Em 1982 iniciou seu percurso de pesquisa no departamento de História do Instituto Universitário Europeu (European University Institute), em Fiesole, Firenze, na Itália, onde obteve o grau de doutor, em 1986, com a tese intitulada “Socialistas italianos e o socialismo francês (1890-1914): estudo de alguns aspectos políticos e culturais” (Socialistes italiens et socialisme français (1890-1914): Etude de quelques aspects politiques et culturels).
Antes de ser professor universitário, Goussot foi educador de rua, onde pôde testemunhar e intervir diante dos processos de exclusão e marginalização social em Bolonha. Em sua trajetória profissional, exerceu funções como professor contratado em diversas universidades e instituições, coordenador de projetos nas áreas educacional e social, consultor de projetos relacionados a fluxos migratórios e colaborador de associações familiares e organizações não governamentais. Em 2006, assumiu o posto de docente da Universidade de Bologna (Università di Bologna) na área de Didática, Pedagogia Especial e Pesquisa Educacional. Foi professor associado do departamento de Ciências da Educação até transferir-se para o departamento de Psicologia da mesma universidade (campus Cesena).
Goussot seguia a tradição de Andrea Canevaro, professor emérito da Universidade de Bologna reconhecido como principal acadêmico no campo da Educação Especial e Inclusão Escolar na Itália nos últimos tempos. Imprimia, entretanto, seu modo peculiar aos estudos e pesquisas sobre Pedagogia Especial. Uma de suas marcas era a perspectiva interdisciplinar, onde buscava dialogar História, Filosofia, Pedagogia, Psicologia, Artes, Literatura, entre outros campos.
Além da influência de Canevaro, Goussot bebia de autores como Gramsci, Vigotski, Makarenko, Montessori, Decroly, Freinet, dentre outros. Defendia uma perspectiva humanizadora, sócio-cultural, complexa e relacional do fazer pedagógico. Dimitris Argiropoulos ressalta a postura constante e o incentivo incansável de Goussot à construção de pontes, aos exercícios de mediação e à disposição ao diálogo, que se manifestava também em seu interesse por perspectivas interculturais e transculturais. No mesmo sentido, Canevaro reconhece em Goussot uma disposição e “capacidade de estar com todos”. Tanto o amigo Agiropoulos, quanto o filho de Goussot, Enrico, atribuem as raízes do humanismo e respeito à dignidade das pessoas do pedagogo italiano à sua posição comunista, sua admiração por Jean-Jacques Rousseau e sua fé católica.
Segundo Cottini, Goussot era um intelectual engajado, politicamente consciente de seu papel no tecido social. Em sentido próximo, Canevaro reconhece a marca ativa e militante da pedagogia desenvolvida por Goussot: “ele nos ensinou a sujar as mãos, a não recusar compromissos”. Sobre a preocupação prática de Goussot diante das mazelas sociais, Argiropoulos registra uma pergunta que era muito cara ao pedagogo: O que fazer?
Cottini testemunha que o modo de Goussot de se relacionar com as pessoas expressava “generosidade extraordinária e uma humildade rara, testemunhada por muitos, não apenas na Itália”. Algo que Enrico também expressa ao dizer que Alain Goussot manifestava “um humanismo pedagógico próximo aos explorados e marginalizados de nosso tempo”.
Em necrológio publicado à ocasião da morte de Goussot, Lucio Cottini (2016) declara:
Alain Goussot deixa, embora ainda jovem, um testemunho e, sobretudo, um riquíssimo legado científico, cultural e humano que devemos valorizar. Ele soube, como poucos, tecer uma trama unitária entre o compromisso científico, acadêmico, social, cultural e político em nome da atenção ao próximo, especialmente àqueles mais expostos e vulneráveis à injustiça e à desigualdade social (p. 11)
Alain Goussot faleceu aos 60 anos de idade em Pescara, na Itália, onde vivia. Recebeu muitas homenagens de amigos, colegas e familiares, e seu legado permanece vivo em sua obra e influência na Itália e no mundo.
Fontes e referências:
https://ojs.pensamultimedia.it/index.php/sipes/article/view/1788/1718
https://www.uniurb.it/it/cdocs/CWEB/5964-cv.pdf
https://comune-info.net/lumanesimo-pedagogico-alain-goussot/
https://cadmus.eui.eu/entities/publication/0da209cb-9017-5e94-97ab-440fbe46bafa
https://www.scielo.br/j/rbee/a/BgLnMybkjm5LbJBXgLhKz8c/?lang=pt
https://ojs.pensamultimedia.it/index.php/sipes/article/view/1789/1719
Palestras no Brasil:
Além da medicalização: voltar a educar (com tradução simultânea)
Abordagens críticas da infância (sem tradução simultânea)
Homenagem: