Coordenador do curso avalia que cuidado com a saúde Maxakali é uma importante atividade de extensão para os futuros médicos graduados pela universidade
A assistência à saúde de indígenas Maxakali na região conta com o apoio do curso de Medicina da UNIVALE, que integra o Grupo de Trabalho Permanente de Saúde Maxakali (GTP-SM), do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Cejusc-TJMG). A mais recente reunião do grupo de trabalho aconteceu em Teófilo Otoni, na quinta-feira (22), com participação do coordenador do curso de Medicina, Romeo Lages Simões; do supervisor do módulo Saúde e Sociedade 12 e do Estágio Curricular Supervisionado Obrigatório (ECSO) na aldeia do município de Machacalis, Roberto Carlos de Oliveira; e da assessora de Gestão e Saúde da UNIVALE, Daniela Geber.
Indígenas da etnia maxakali que não saibam falar português agora têm tradutoras para os acompanhar em consultas no Ambulatório Médico de Especialidades (AME), da UNIVALE. Na tarde de terça-feira (15), Tustão Maxakali foi o primeiro indígena a ser acompanhado por uma intérprete, ao ser atendido no consultório de Neurologia do professor Ivan Magalhães, com participação de alunos do curso de Medicina da universidade.
No dia 04 de abril de 2022, o Ministério da Saúde recebeu notificação de caso suspeito de raiva humana em uma criança indígena no município de Bertópolis, Minas Gerais. Nos dias seguintes, outros três casos suspeitos foram notificados em indígenas da mesma etnia. Diante da situação, uma equipe do EpiSUS (nível Avançado) recebeu o convite para compor a equipe local com o objetivo de elucidar os casos. Foi realizado um estudo descritivo do tipo relato de casos confirmados, no período de 02 a 29 de abril de 2022. Foram utilizados dados secundários de registros de atendimento; e foram reunidas informações sobre possíveis exposições por meio de relato de pesquisador e autoridades indígenas. A investigação confirmou a ocorrência de surto de raiva com letalidade de 100% envolvendo duas crianças do sexo masculino e uma do sexo feminino, com idade média de 9,7 anos (desvio padrão: 4, mín-máx: 5-12 anos). O intervalo entre primeiros sinais clínicos e óbito variou entre 2 e 24 dias, sendo mais frequentemente observados: dispneia, febre, prostração, sialorreia, taquicardia e abdômen distendido. Um dos casos foi atendido ainda em período prodrômico e recebeu protocolo antiviral, resultando na maior sobrevida observada (24 dias). Suspeita-se que a exposição ao vírus da raiva tenha sido por meio de contato com um morcego, em um evento único. Foi identificada a linhagem viral 3 em amostras de dois casos e, para o outro caso, a amostra foi insuficiente para a realização do sequenciamento. Não foi possível confirmar a espécie transmissora, porém o relato de agressões é compatível com mordedura defensiva de morcegos não hematófagos. Devido aos hábitos de vida, as crianças indígenas do local podem estar mais expostas ao risco de contrair doenças de origem zoonótica. Trata-se do primeiro surto registrado da doença em aldeias indígenas no Brasil.
O Prof. Roberto Carlos de Oliveira que possuir doutorado sanduíche em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Minas Gerais e McGill University/Montreal/Canadá - 2018 e pós-doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília - 2020, juntamente com a equipe de alunos Maíra Lopes Sarmento, Maria Valéria Sena Santana, Luísa Lopes de Bastos Vieira, Thais Maria Freitas Pereira. Participaram deste momento atuando juntamente aos pacientes, trabalho que posteriormente foi publicado.
Segundo o professor doutor Roberto a experiência de poder participar da equipe de investigação do surto de Raiva Humana entre os Maxakali, primeiro caso desta doença em indígenas no Brasil foi de grande importância para todos. Juntamente com a equipe local e lideranças indígenas, conduziu-se uma pesquisa qualitativa visando a elaboração de comunicação de risco em saúde para a população Maxakali de Água Boa/Santa Helena de Minas e Pradinho.
O curso de Medicina disponibilizou internos para compor as equipe de investigação do surto do CIEVS-SES-MG e da equipe do EpiSUS (nível Avançado) juntamente com a equipe do CIEVS-Distrito Sanitário Especial Indígena de Minas Gerais e Espírito Santo e as equipes locais da saúde indígena Maxakali nos trabalhos de campo.
Fruto desta colaboração foram quatro relatórios técnicos de investigação de campo referente aos casos de raiva humana em indígenas Maxakali, 21 de abril a 24 de abril de 2022 e quatro artigos científicos completos publicados.