RAD MARKETING

Algumas descobertas científicas são tão revolucionárias que logo se tornam famosas. Em função disso, muitos oportunistas surgem vendendo produtos e serviços "milagrosos" usando termos relacionados (ERRONEAMENTE) a essa descoberta. Um exemplo disso é o "coaching quântico" uma apropriação de termos científicos sem conhecê-los para promover o charlatanismo. Pois acredite: o mesmo já aconteceu com a radiação. E o pior: neste caso, alguns produtos realmente continham materiais radioativos.

MARKETING: PRODUTOS COM NOME "RADIUM"

Os produtos que mostraremos a seguir, não contém elementos radioativos. Apenas se apropriam de nomes científicos para gerar falsa impressão de eficiência e atrair compradores. LEMBRE-SE: na época, a radiação foi tida como algo milagroso.

CAIXA DE PALITOS DE FÓSFOROS RADIUM

Palitos de fósforo "silenciosos"

O que seria um "palito de fósforo Radium"? Ao riscá-lo a chama será de uma outra cor? Razoável de se pensar, afinal as cores devem-se aos comprimentos de onda dos fótons emitidos durante transições eletrônicas nos átomos de um elemento. Essas cores são características de cada átomo. Mas não. Os palitos de fósforo Radium não tenham chamas coloridas... eles sequer tinham rádio em sua composição.

Produzidos pela Ohio Match Company de Wadsworth, Ohio esses palitos foram anunciados em 30 de setembro de 1916, no Milwaukee Journal. De acordo com o anúncio, esses palitos eram "silenciosos" ao serem riscados.

Outros produtos também se apropriaram da palavra Radium para vender: produtos alimentícios como manteiga, e até mesmo cartas de baralho.

EMBALAGEM DE MANTEIGA

Caixa produzida pela companhia "Butler Paper Products" em Toledo, Ohio. A manteiga, porém, era produzida pela Companhia "Nucla Creamery" em Nucla, Colorado.

JOGO DE CARTAS RADIUM

Produzidas pela Companhia Standard Playing Card de Chicago, Illinois. O termo "Radium" se refere ao tipo de acabamento das cartas, que também podia ser de linho.

MARKETING: PRODUTOS COM NOME "X-RAY"

Já vimos o potencial dos raios X para diagnosticar doenças e até mesmo, curar algumas delas, como o câncer. Mas, raios X são efetivos para outras doenças? A Markel Chemical Co. Union Bridge MD, afirma sim:

"Os resultados são melhores do que as promessas. Os resultados dos comprimidos para dor de cabeça de raio X são sempre certos e imediatos. Eles são baratos e convenientes de tomar; você não precisa de colher nem de água. Eles podem ser carregados no bolso do colete ou na carteira. Eles podem ser dissolvidos na língua, reduzidos a pó ou engolidos inteiros." (tradução livre).

REMÉDIO "RAIOS X" PARA DOR DE CABEÇA

"8 doses por 10 cents", sempre questione anúncios chamativos com nomes científicos.

É claro que não havia nenhum raio X no comprimido. Nós sabemos que os raios X são produzidos pela desaceleração de elétrons ao colidirem com núcleos atômicos. Os "X-Ray Headache Tablets" são apenas um anúncio para vender mais.

CERA DE RAIOS X PARA FOGÃO

Produzida pela Companhia J.L. Prescott na 27 8th St., Passaic, New Jersey. Os direitos do produto foram garantidos em 1902, e ele era vendido a 5 cents.

LÂMINAS DE BARBEAR "RAIOS X"

Produzida pela Corporação X-Ray Blade de Newark, New Jersey. O número da patente da lâmina, 2.324.016, foi emitido em 1943.

UM POUCO ALÉM DO MARKETING...

Os produtos que mostraremos a seguir, esses sim contém elementos radioativos de verdade. Isso não seria um problema se o benefício fosse maior do que o risco e se essas exposições fossem otimizadas (tempo, distância e blindagem).

Nós veremos que esses produtos não tem tantos benefícios para que suas exposições sejam justificadas. Ou seja: DEVEM SER EVITADOS.

Você certamente tem um colega que morde a caneta ou o lápis enquanto assiste a aula. Se não tem, essa pessoa provavelmente é você! Bom, roer lápis não é um hábito que os dentistas recomendam, ainda mais se esses lápis contiverem materiais radioativos. Para nossa surpresa, realmente existiram LÁPIS RADIOATIVOS:

LÁPIS COM MINÉRIO DE URÂNIO

Cada lápis continha de 1.5 a 2.5 gramas de minério de urânio.

Em 1975 a companhia Kingston Pencil conseguiu uma licença da Comissão de Energia Atômica para obter 2.400 libras (cerca de 1088,6 kg) de MINÉRIO DE URÂNIO. Esse minério, acredite se quiser, foi usado para fazer lápis! Cada lápis tinha entre 1.5g a 2.5g de minério de urânio. Se você acha estranho que um produto desses, que pode ser facilmente manuseado por crianças conter materiais radioativos, vai se surpreender com o próximo...

O LABORATÓRIO DE ENERGIA ATÔMICA U-238 da Companhia A. C. Gilbert não foi o primeiro kit educacional para crianças, mas certamente foi o mais elaborado! O conjunto contava com quatro tipos de minério de urânio, uma fonte beta-emissora (Pb-210), uma fonte gama-emissora (Zn-65), e vários detectores (como uma câmara de bolhas com uma fonte alfa-emissora (Po-210), um eletroscópio e um contador Geiger) Os kits continham também uma história em quadrinhos chamada DAGWOOD: QUEBRANDO O ÁTOMO e um manual do governo sobre prospecção de Urânio.

O kit começou a ser vendido em 1950. Em pouco tempo, outros modelos de kits foram sendo produzidos com equipamentos adicionais. O alto preço (50 dólares), porém, não os tornou populares. Em 1952, a companhia Gilbert substituiu o kit de energia atômica por seu famoso kit de química.

Assista o vídeo a seguir e veja mais sobre o kit atômico. NÃO SE ESQUEÇA DE ATIVAR AS LEGENDAS!

Além dos materiais radioativos amplamente distribuídos, era mais frequente encontrar máquinas de raios X para os usos mais diferenciados possíveis. Um deles é a AJUSTADORA DE SAPATOS, amplamente utilizada de 1930 a 1950.

FOTO DA MÁQUINA DE RAIOS X PARA AJUSTAR SAPATOS NOS PÉS

A máquina inclui um tubo de raios X apontado para baixo, por onde o cliente coloca o pé com o sapato para a avaliação. O aparelho utiliza um filtro de alumínio e alguns modelos permitem que o operador escolha três diferentes intensidades: a menor para crianças, a intermediária para mulheres e a maior para homens. A maioria das unidades tem controle de tempo, que podem ir de 5 a 45 segundos. Após o teste, o cliente ganhava um certificado avaliando o quanto o sapato se ajusta.

ATESTADO DE TESTE DE SAPATO

Sabemos que é possível usar a energia térmica liberada pelo decaimento radioativo para gerar energia elétrica, certo? Mas já pensou em usar essa energia para alimentar um marca-passo? E nós não estamos falando do Homem de Ferro...

Os MARCA-PASSOS são dispositivos médicos usados para estimular eletricamente batimentos cardíacos regulares e ao passar dos anos, várias fontes de energia foram usadas para alimentá-los. Um exemplo disso são as baterias termoelétricas de plutônio-238:

MARCA PASSO DE PLUTÔNIO DA MEDTRONIC

Ao invés de uma bateria elétrica, o que alimenta o marca passo é uma fonte de plutônio 238. O marca-passo mostrado foi aberto para que o plutônio fosse removido.

Um grama de plutônio-238 gera 0,5 Watt de energia térmica que pode gerar eletricidade para estimular o coração. As taxas de dose na superfície do marca-passo são de aproximadamente 0,05 a 0,15 mSv por hora. Isso pode parecer pouco, mas para o o portador do marca-passo, resultaria em uma dose equivalente anual de 1 Sv, um valor 1000 vezes maior do que o limite imposto para um indivíduo do público. Hoje marca-passos alimentados por plutônio-238 foram substituídos por baterias de lítio.

CONCLUSÃO

Tendo materiais radioativos na composição ou não, essa abordagem de marketing não é benéfica. Seja para "radio" produtos, produtos "quânticos" ou de qualquer outro tipo. Essa estratégia banaliza a ciência e ilude as pessoas.

No que diz respeito aos "radio" produtos, dá-se a impressão de que a radiação não oferece riscos, e nós sabemos que TODA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO TEM UM RISCO. Os produtos com materiais radioativos não eram controlados porque, na época, os efeitos biológicos das radiações ainda não eram bem conhecidos. Hoje nós conhecemos um pouco melhor esses efeitos, e, por isso, vocês não irão ver mais nenhum lápis de urânio ou um kit atômico para crianças.

UFA...

Encerramos aqui a a parte da RadSchool sobre as radiações! Na próxima seção vamos entrar no campo da física nuclear. Mas antes... que tal usar o que você sabe sobre proteção radiológica para julgar os produtos mostrados nesse capítulo através no RadQuiz 5!