UM PROBLEMA CHAMADO RADIOFOBIA

O ensino de física, especialmente física nuclear e radiações, muitas vezes encontra resistência no medo. Temas como ENERGIA NUCLEAR, RADIAÇÃO e RADIOATIVIDADE são associados, pela imprensa, livros didáticos e até mesmo músicas, às bombas de Hiroshima e Nagasaki e aos acidentes nucleares como Chernobyl e Fukushima.

Lembra da pergunta que fizemos na seção anterior? A mesma pergunta foi feita para alguns alunos de um colégio do interior do estado de São Paulo. Com as respostas foi montada uma nuvem de palavras, um diagrama que destaca as palavras mais comentadas pelos alunos. A mesma pergunta foi feita após uma breve aula sobre os conceitos de radioatividade e suas aplicações. O resultado é mostrado na figura a seguir:

NUVEM DE PALAVRAS

Antes de conhecer os conceitos o termo "radioatividade" despertava sentimentos negativos. A palavra detectada com maior frequência foi "Desastre", o que ilustra medo. Após a explicação, as palavras detectadas demonstraram sentimentos mais positivos.

A primeira nuvem de palavras mostra uma aversão exagerada à radiação, o que é chamado de RADIOFOBIA. Esse medo pode causar mais prejuízos à saúde e à sociedade (a recusa de realizar exames diagnósticos/terapêuticos, por exemplo) do que os efeitos da radiação em si (Ropeik, 2016). No entanto, inúmeras aplicações da radioatividade são benéficas, tanto em medicina, como na agricultura, indústria e na geração de energia elétrica para dezenas de países do hemisfério norte, onde atualmente há mais de 400 reatores de potência em operação.

Paradoxalmente, a atual facilidade de acesso a inúmeras técnicas avançadas que usam radiação para diagnósticos médico precisos, acaba levando à sua utilização indiscriminada. Isso pode ser bastante prejudicial para a saúde das pessoas, inclusive através de diagnósticos simples (Ruano-Ravina, 2020). Esse uso exagerado contraria um princípio de segurança radiológica em que as doses de radiação devem ser mantidas tão baixas quanto razoavelmente exequíveis. Alguns profissionais da saúde, como dentistas por exemplo, solicitam exames de imagem de raios X sem considerar o RISCO BENEFÍCIO DA RADIAÇÃO (Cohnen, 2002). Para que se possa tirar o máximo proveito dos benefícios da radioatividade, com segurança, há a necessidade de que as pessoas sejam instruídas nos conceitos de radioatividade e energia nuclear desde o ensino médio, para que não caiam na armadilha da radiofobia e possam ter uma visão mais crítica sobre a relação radioatividade / saúde.

REFERÊNCIAS

COHNEN, M. et al. Radiation dose in dental radiology. European radiology, v. 12, n. 3, p. 634-637, 2002.


DARROZ, Luiz Marcelo; DA ROSA, Cleci Teresinha Werner; DA SILVA, Júpiter Cirilo. Análise da abordagem de Física Nuclear nos livros didáticos de Física. Revista de Educação, Ciências e Matemática, v. 7, n. 3, 2017.


PEREIRA, Igor Ulrichsen Camargo et al. Propostas para o Ensino de Física Nuclear no Nível Médio.


ROPEIK, David. The dangers of radiophobia. Bulletin of the Atomic Scientists, v. 72, n. 5, p. 311-317, 2016.


RUANO-RAVINA, Alberto; WAKEFORD, Richard. The increasing exposure of the global population to ionizing radiation. Epidemiology, v. 31, n. 2, p. 155-159, 2020.