PROTEÇAO RADIOLÓGICA

Agora que nós temos uma breve noção dos efeitos biológicos das radiações podemos dar um passo a diante: saber como reduzi-los. A PROTEÇÃO RADIOLÓGICA visa justamente isso: reduzir as doses a fim de evitar os EFEITOS DETERMINÍSTICOS e diminuir a probabilidade dos EFEITOS ESTOCÁSTICOS. Vamos começar falando dos três princípios da proteção radiológica:

  • Justificação

  • Otimização

  • Limitação de Dose

1 - JUSTIFICAÇÃO

O princípio da justificação é fundamentado no RISCO-BENEFÍCIO da radiação. Um uso correto de radiação é justificado e deve resultar em mais benefícios do que malefícios, seja para os indivíduos expostos ou para a sociedade. Exposições são justificadas para exposições médicas de finalidade diagnóstica ou terapêutica, bem como para pessoas que trabalham com radiação. Estes profissionais, como técnicos de radiologia por exemplo, são considerados INDIVÍDUOS OCUPACIONALMENTE EXPOSTOS e também tem suas exposições justificadas. Os demais são considerados INDIVÍDUOS DO PÚBLICO por não se exporem a radiação com frequência.

2 - OTIMIZAÇÃO

Quando falamos em otimização, nos referimos à maneiras de diminuir o risco da radiação em uma exposição justificada. Nesse sentido, as exposições podem ser de dois tipos:


NÃO JUSTIFICADAS: tem riscos maiores que os benefícios e devem ser evitadas. Não se otimiza uma exposição não justificada, se evita.


JUSTIFICADAS: mesmo que os benefícios da exposição sejam maiores que os riscos, essas exposições devem ser otimizadas para diminuir ainda mais o risco.


A otimização consiste em manter características das exposições justificadas, como intensidade e dose tão baixas quanto razoavelmente exequíveis. Isso é conhecido como critério ALARA (do inglês, As Low As Reasonably Achievable)

Chamamos de INTENSIDADE da radiação o número de partículas em um feixe. As fontes de radiação, sejam naturais ou artificiais emitem, não uma, mas várias partículas. O conjunto de partículas de radiação é chamado de feixe de radiação e o número de partículas em um feixe é a intensidade desse feixe de radiação.

EXISTEM 3 FORMAS DE DIMINUIR INTENSIDADE/DOSE DE UM FEIXE DE RADIAÇÃO:

  • TEMPO: quanto menor o tempo ao qual nos expomos a alguma fonte de radiação (seja ela ionizante ou não-ionizante), menor a intensidade e menor a dose de radiação recebida. Um exemplo simples é quando tomamos sol: se ficarmos muito tempo expostos à luz solar, podemos queimar a pele.

  • DISTÂNCIA: quanto mais distante da fonte de radiação, menor a dose recebida. Imagine uma fogueira. Quanto mais próximo estamos da chama, mais sentimos o calor dela. Calor é a energia térmica em movimento, então a fogueira é uma fonte de radiação térmica. O calor que sentimos diminui conforme nos afastamos da fogueira. Isso porque a INTENSIDADE DA RADIAÇÃO DIMINUI DE FORMA PROPORCIONAL AO QUADRADO DA DISTÂNCIA entre a fonte e o alvo.

Vamos entender isso melhor. Suponha que você tem uma fonte radioativa e um detector de intensidade. Quando nos posicionamos a uma distância igual a R da fonte, nosso detector nos diz que a intensidade da radiação é I. Agora, nos afastamos mais um pouco da fonte, ficando a uma distância igual a 2R. Nesse caso, nosso detector nos mostra um valor de intensidade igual a I/4, ou seja, o inverso do quadrado de 2. Para ter certeza, nos afastamos mais um pouco da fonte, até uma distância igual a 3R. Nosso detector nos mostra o valor de intensidade igual a I/9, o inverso do quadrado de 3.

Isso é verdade para qualquer distância, de modo que para distâncias muito grandes, a intensidade da radiação será mínima. Essa é uma das formas mais eficientes de se proteger de uma exposição. Ficar o mais longe possível da fonte.

  • BLINDAGEM: Ao adicionar uma barreira em frente ao feixe de radiação é possível reduzir sua intensidade e dose. Cada tipo de radiação requer um tipo de blindagem diferente. Podemos entender o porquê das radiações serem atenuadas dessa maneira se lembramos de avaliar as partículas por sua carga:

PARTÍCULAS ALFA tem a carga de 2 prótons. Dessa forma, elas vão interagir por força de Coulomb duas vezes mais do que um próton. Lembrando que todos os núcleos conhecidos são compostos por pelo menos um próton, a partícula alfa vai perder muita energia através da força elétrica. Isso faz com que essas partículas atravessem poucas camadas de matéria. Partículas alfa podem, por exemplo, ser totalmente bloqueadas por uma folha de papel sulfite.

PARTÍCULAS BETA tem a massa muito menor que a das partículas alfa, e metade da sua carga, porém com com sinal negativo. Isso já faz com que elas tenham um ALCANCE significativamente maior que partículas alfa de mesma energia. Tipicamente, partículas beta podem atravessar de 1 a 2 metros no ar, enquanto partículas alfa não conseguem atravessar mais do que alguns centímetros.

RAIOS X e RAIOS GAMA são ondas eletromagnéticas, não tem carga, não tem massa, podem atravessar muitos metros de ar e boa parte dos materiais. Essas radiações podem ser atenuadas por materiais de alto número atômico como grossas placas de chumbo.

NÊUTRONS não tem carga. Por causa disso eles não vão interagir por forças de Coulomb e vão atravessar mais a matéria. Nêutrons podem, por outro lado, perder muita energia ao colidir com outros átomos. Mas como eu bloqueio nêutrons? A massa do nêutron é muito próxima à massa do próton. Quando eles colidem, o nêutron poderá perder mais energia cinética do que em colisões com núcleos mais pesados. Lembrem a COLISÃO DE DUAS BOLAS DE BILHAR (por exemplo o caso em que a bola incidente fica parada e a bola alvo sai com a energia em que a incidente tinha - a chamada colisão elástica). Assim, materiais com alta densidade de hidrogênio, como concreto, parafina e até mesmo água podem ser eficientes para barrar nêutrons de baixa energia.

3 - LIMITAÇÃO DE DOSES

Mesmo que uma exposição seja justificada e otimizada, ainda assim, não é prudente se expor de maneira frequente. Pensando nisso, existem os chamados órgãos regulatórios que são responsáveis por estabelecer LIMITES DE DOSE. No Brasil, este órgão é a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear)

QUAIS SÃO OS LIMITES DE DOSE?

Tanto para indivíduos ocupacionalmente expostos, quanto para indivíduos do público, há limitação de dose. Em ambos os casos não falamos de dose absorvida, mas de duas outras variantes da dose: o equivalente de dose e dose efetiva.

  • EQUIVALENTE DE DOSE: associado à dose em um tecido ou órgão. Para isso multiplicamos a expressão da dose por uma constante que varia de acordo com o órgão e com o tecido.

  • DOSE EFETIVA: usada para avaliar os efeitos no corpo todo. É obtida pela soma de todos os equivalentes de dose.

Em ambos os casos a unidade é o SIEVERT (Sv), que também é equivalente a 1 J/Kg. Os limites de dose são mostrados na tabela a seguir:

É fundamental ressaltar que a limitação de dose não se aplica a exposições médicas. Pacientes que serão submetidos a exames, seja para finalidade diagnóstica ou terapêutica, não entram nesses limites. No entanto, isso não significa que essas doses não precisam ser controladas. Pensando nisso a RESOLUÇÃO RDC330 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE apresenta níveis de referência de dose em radiodiagnóstico para radiografia convencional e tomografia computadorizada para o paciente adulto típico, no caso de exames mais comuns (Okuno & Yoshimura, 2010).

COMO OBTEMOS ESSES LIMITES?

Os limites de dose partem de um dos modelos de dose / efeito, já mencionados. O modelo usado para esse fim adota uma relação linear. O chamado modelo LNT (Linear Non Threshold) é o modelo mais conservador e desconsidera qualquer mecanismo de reparo celular.

Além disso, este modelo considera que qualquer dose levará a um dano biológico. Mas não se preocupe. O que discutimos nas seções anteriores ainda vale. Essa escolha só é feita para subestimar o limite de dose, isto é, garantir que o limite que temos que seguir seja menor do que o limite que leve a um dano.

Chegamos ao final dessa seção. A seguir apresentaremos um RadQuiz para testarem seus conhecimentos e na próxima seção, abordaremos as várias aplicações das radiações!

PROFESSOR (A): essa seção pode ser usada de várias maneiras. Desde uma aula expositiva sobre os princípios de proteção radiológica até uma grande dinâmica em grupo. Seria possível sugerir um situação onde um grupo de alunos é exposto a uma fonte de radiação ionizante alfa, beta, gama ou mesmo nêutrons. Nessa situação os alunos deverão pensar o que/ e como fazer para diminuir o dano neles. Esse tipo de dinâmica torna o aprendizado pro ativo e gera imersão na situação problema. Essa atividade pode ser dada em conjunto ou após desenvolver as habilidades EM13CNT103 e EM13CNT306, que trabalham em seus tópicos, acidentes radioativos e nucleares, respectivamente.

REFERÊNCIAS

OKUNO, Emico; YOSHIMURA, Elisabeth Mateus. Física das radiações. Oficina de Textos, 2016.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Currículo Paulista Etapa Ensino Médio. São Paulo, 2020, 301 p.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Habilidades Essenciais de Ciências da Natureza e suas Tecnologias 2020-2021. São Paulo, 2020, 10 p.