Otun Elegobi
Descendente de africanos nascido numa (alien) nação chamada Brasil, Kleysson Rosário Assis, Otun Elebogi n'llê Axipá, é professor de Filosofia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Fundador e coordenador, juntamente com MC Maestro Esdras, do Programa CIA (Coletivo de Inteligência Afrofuturista) e do Projeto LABI I (Laboratório de Inteligência e Imagem).
Nesta segunda edição da Exposição Virtual "Arte em Devir", Otun Elegobi nos apresenta o seu mais recente trabalho, o livro CLAREIRA.
Confira aqui os seus trabalhos na 1ª edição.
Com ritmo e entonação, Clareira nos apresenta um ensaio fotográfico que anuncia o trabalho de Otun Elegobi nilê Axipá, revelando uma nova percepção da tradição com rara beleza. Odara - bom e bonito. Cada registro de Clareira faz transparecer a seiva da tradição ancestral, alimentando a inspiração do talento criativo do artista. Somos apresentados com a percepção do invisível, do inefável e do mistério.
Os cenários e seus elementos, as sombras, as luzes e as cores magnificam as fotografias, que estão envolvidas pela originalidade na criação da alegoria do segredo.
As imagens da floresta sagrada, igbo, contêm o mistério que se manifestam na Clareira dos rituais. Clareira abre espaço para o surgimentoo de uma nova forma de exprimir a linguagem e os valores da tradiação cultural negra.
Ipitanga/Lauro de Freitas
Marco Aurélio Luz
Elegobi ati Oju Oba
Às vezes, em meio à mata, surge uma clareira.
Eis que a mata me envolve.
Sinto cheito da terra grávida de ar, de águas, de raízes que serpenteiam e se entralaçam, guardando os segredos da floresta.
O mato é pleno, generoso, deixou mostrar nas miudezas que foram reunidas, tomando feições de versos, de nuances fractais em imagens e nos silêncios sombreados, cheio de reticências sussuradas pelas sutilezas do olhar de Kleysson Rosário Assis.
Trata-se aqui, tanto de uma face poética, de uma estética que singulariza, quanto de uma espistemologia, uma gnose vívida, em corpo e discernimento negros, um entender as coisas que se vê preenchido pelas sensações, percepções asceses e transcedência, típicas de quem se permite transpassar pela beleza e pelo mistério.
[...]
Quero ainda assinalar que na singularidade desse homem-filósofo-poeta-artista há uma conexão ainda mais poderosa que finca a ponte do futuro. Ele olha, nesse movimento do SAnkofa, com o pé no presente que ruma para o futuro como um ser que mimetiza fé e razão, em pura transducção. Este livro, um deleite, diz de uma beleza que se revela com vigor, serenidade, astúcia e paciência. É passado que se anuncia em continuidade, um futuro do préterito perfeito, tal qual faz Ancestral que se move sobre a terra e escolhe que o vê.
Salvador,
Rita de Cássia Dias
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