SAMPLERS


Memórias armazenadas. Imagens refotografadas...

releituras e fotografias de:

Ah-Luna

&

Otun Elebogi

curadoria

José R j Santos


Seja bem-vindo(a) a Exposição Virtual: SAMPLERS: Memórias armazenadas. Imagens refotografadas...

A arte de fotografar é a arte de aprisionar a imagem no tempo. Senão no tempo, é a arte de aprisionar a memória e a experiência vivida. O fotógrafo é em si um sedutor. Um poeta das imagens. Um poeta de um poema cujos sons e versos são produzidos por imagens que seduzem a quem observa. Nessa obra de arte, a obra e seu criador são a alma e o corpo, respectivamente. Um diz sobre o outro. A foto diz sobre o fotógrafo e sobre a sua sensibilidade e técnica. O fotógrafo, a partir da sua condição social de existência, busca no ato de fotografar, registrar as singularidades e peculiaridades do objeto fotografado. As mediadoras lentes que intermediam essa relação, firmam-se na própria existência do fotógrafo, elas representam seu pensamento, suas ideologias, crenças e percepções sobre o mundo.

A fotografia reúne em um pedaço de papel, luz e contraste, em síntese emoldura a imagem - objeto do olhar. Mas, não se resume a isso. Ela expressa um recorte do mundo vivido, do objeto observado, do modelo que pousa estático e sem ares.

A fotografia é dialógica. Na sua existência enquanto linguagem, ela primeiro dialogou com o fotógrafo, que enquadrou e ajustou as lentes para registrar o que seu olhar aprisionou. Depois, num segundo momento, dialoga com quem a observa e admira. Ela fala com seus intérpretes, cujas lentes e dialéticas traduzirão o texto fotográfico de inúmeras formas, falas e subjetividades.

Existem inúmeros intérpretes da mesma foto, assim, o mesmo jogo de luzes e contrastes que registrou uma imagem, fenômeno, fato ou pessoa, ganha contornos distintos, e suas traduções povoam os imaginários, e são reflexos da cultura e do lugar que cada um ocupa nesse mundo de desigualdades.

Essas novas leituras são SAMPLERS. Mixagens poéticas das imagens. Releituras das memórias armazenadas, e que, por isso mesmo, permitem aos artistas, fotografar a fotografia. Repaginar, Refotografrar. Reler. Reenquadrar. Ou melhor, usar novas técnicas para reapresentar aquilo que já foi registrado por outras lentes, em outra épocas e com outras técnicas.

A imagem registrada pelas lentes do fotógrafo no século XIX, seduziu. A mesma foto, observada no século XX, das tecnologias analógicas, ou no século XXI das tecnologias digitais, e, em particular, no ano de 2020, cujas excepcionalidades passaram a ser a regra, assume novos contornos, novas significações e interpretações.

Pode-se afirmar: a fotografia é uma poesia atemporal. Mas, as subjetividades que a interpretam, são formatadas pelo momento histórico, pelas experiências e pelo acúmulo existencial do ser, pelos interesses e conhecimentos do grupo social e cultural que cada intérprete se vincula.

Nesta exposição, dois filósofos reúnem suas leituras estéticas e poéticas em registros fotográficos. Nas suas fotomontagens, promovem releituras que mixam momentos distintos. Otun Elebogi associa tecnologia com silenciamentos e aprisionamentos. As máscaras que aprisionam os corpos dos escravizados, aprisiona a alma. Nas placas de circuitos microeletrônicos que emolduram suas fotomontagens, Otun Elebogi associa duas tecnologias distintas que serviram como formas de silenciar os corpos negros excluídos da sociedade. As máscaras que castigavam e impediam a proclamação dos mitos e histórias das comunidades negras, e a tecnologia microeletrônica que reduziu postos de trabalho e excluiu parcelas significativas da sociedade do mercado de trabalho, principalmente, os negros e negras. Agora neste ano excepcional, máscaras e circuitos ganham novos contornos. A primeira protege os corpos da contaminação por Coronavírus. A segunda, possibilitou o desenvolvimento da tecnologia virtual, que aproxima os indivíduos, que mediados por ferramentas tecnológicas se conectaram para o trabalho, o estudo, o lazer, a cultura e pensar a estética.

Numa outra faixa, Ah-Luna, mergulha na arte cinematográfica, e a partir de registros de cenas do filme alagoano Cavalo, recompõe o seu olhar sobre o elenco e roteiro do filme, e apresenta elementos da cosmologia africana. A criação da humanidade, o sol, a comunicação, as curas e as tecnologias, estão submersas nas suas fotos. O elenco usa o corpo, Ah-Luna registra os corpos em suas expressões mais simples e complexas. Os corpos aprendem a fixar-se no chão, conectar-se com o sagrado e evocar dessa relação o poder, que caracteriza o Axé e a força dos Orixás. Nos registros a jovem filósofa desmaterializa o corpo para expressar o significado de ser Cavalo, habitat físico do Orixá.

Samplers é uma nova atitude paradigmática. Uma nova concepção fotográfica. Captura as imagens alocadas em cenários fílmicos ou fotográficos. Absorve a poesia ou a dor provocada na gênese criativa traduzida pela mediação da lente do artista. Seduz e conceitua de forma direta e objetiva aquilo que já foi visto. Convida para rever, reler e repensar as imagens, filmes e criar novos conceitos e estéticas.

Logo, Samplers é atitude... Conceito... Futuro... Afrofuturismo

José R j Santos

Curadoria