Foi apenas mais um sonho
Foi apenas mais um sonho apesar de tudo. Um daqueles sonhos que você se sente leve e sereno ao acordar. Ao mesmo tempo bate um sentimento de frustração, desejando que fosse realidade. Eu me pego andando, correndo por uma ladeira, em uma cidade. Encontro duas pessoas caminhando por uma estrada de terra, um adulto e um jovem. Passo por eles, me viro de frente e lentamente começo a flutuar. Logo estou como se estivesse planando, voando, sem fazer qualquer movimento com as pernas ou os braços. Fiquei muito feiiz, me sentindo um pássaro. Era como se eu fosse a folha de uma árvore sendo carregada pelo vento para bem longe. Eu posso voar! Comecei a praticar em um local que não sei explicar.
De repente o quadro muda. Estou subindo em uma rocha, rodeada de água. Vejo a água subindo rapidamente com grandes ondas que vão chegando. De onde vem e o que estaria acontecendo? Não estava chovendo, mas a imensidão de água só aumentava.
Al Avec - 14/10/2023
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Crônicas de um antigo carvalho
Sob o manto das estrelas, próximo a árvores silenciosas... a trilha esverdeada no escuro se esvai. Mas deixa a fragrância amadeirada. Estou seguindo esta estrela, esse caminho misterioso, sob a orientação dos meus antepassados que sussurram conselhos em línguas agora perdidas. Sonhos íngremes e impenetráveis que perpetuam o sofrimento. Quando terei paz? A minha excelsa e inconfundível utopia de liberdade...
Friáveis são os conceitos que recobrem as entranhas da misericórdia, e que são gradualmente fragmentados pelas intempéries do tempo! Mas é a pluralidade indistinguível destas castas de ódio, que se acumulam na abóbada do raciocínio, que regurgitam a eloquência e satisfazem a libido do instinto.
Os homens de caráter numinoso são facilmente açulados pelas imprecauções levianas quando protelam o convívio com o mundo. Seu raciocínio aprisionado em um arcabouço de libido. Sua fé, quando posta à prova, desintegra-se. Seu garbo é espúrio e sua honestidade facilmente corrompida pela fragrância da lascívia. Memórias que renego e verdades que esfacelam a argúcia pobre de meus argumentos.
A trânsfuga condição humana tem origem na egrégora do caos. Almas andrajas, volitando clemência, ansiando pela liberdade. A crença rareia a profundidade do ser e exterioriza a superficialidade da existência; a fé encarcera as ações e estagna a marcha da realização. Não tenho fé em nada, alem de mim mesma.
Th Cafiero – Crônicas de um antigo Carvalho.
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1981 - o jogo que nunca acabou
Muito contestado ao longo dos anos por parte da mídia e principalmente pelos atleticanos, dirigentes e torcedores, o jogo entre Flamengo e Atlético Mineiro foi marcado por polêmicas que até hoje ainda não foi digerido pela torcida e o clube mineiro.
Tudo começou com a polêmica arbitragem do então juiz escalado para a partida decisiva para a passagem de fase na Libertadores, José Roberto Wright. A birra envolvendo os dois times já havia começado no jogo anterior, quando o placar do jogo ficou no zero a zero, com arbitragem também polêmica do Arnaldo César Coelho. Arbitragem esta que poderia ter favorecido o time carioca.
O jogo seguia com alguns lances mais explosivos, nada que prejudicasse ambas as equipes. Porém o time mineiro recebeu maior número de cartões. Foram 4 amarelos contra 1 do Flamengo, quando o jogo ainda seguia sem maiores preocupações.
Por volta dos 35 minutos, Zico pegou a bola no meio de campo, com habilidade driblou o craque Reinaldo. Este deu-lhe uma rasteira por trás. Imediatamente o juiz ergueu o cartão vermelho, colocando para fora de campo um dos maiores ídolos mineiros e craque de todos os tempos que já passou pelo clube.
Foi uma ducha de água fria no time mineiro e talvez o estopim para deflagrar o que viria a seguir. Inconformados com a expulsão do craque Reinaldo, em seguida foi a vez de outro extraordinário jogador receber o vermelho. Talvez esse tenha sido o lance mais injusto do jogo, ao mesmo tempo difícil dizer o que aconteceu. Se intencional ou não, o motivo da expulsão do jogador Éder foi um esbarrão que ele deu no juiz ao caminhar em direção à bola. Depois outro esbarrão com a cabeça no peito do árbitro.
Possivelmente o juiz interpretou como provocação, o que levou o jogador atleticano a receber o cartão vermelho, já que estava com cartão amarelo. O gesto do Éder foi colocar as mãos no rosto e ajoelhar-se como não acreditando no que acabara de ocorrer.
Ainda houve mais 3 expulsões por parte do time mineiro. Cerezo, Chicão e Palhinha deixaram o gramado. Desse momento em diante não houve mais jogo, apenas confusão e revolta. Os jogadores atleticanos deixaram o gramado, se recusando a continuar a partida.
Era praticamente uma seleção brasileiras em campo. Reinaldo, Cerezo, Palhinha, Éder, Chicão, Vaguinho por parte do Atlético Mineiro. Zico, Mozer, Leandro, Adílio, Júnior, Nunes por parte do Flamengo. Grandes vultos do futebol brasileiro e mundial.
Um jogo, com tantas figuras lendárias do futebol, não teve um final feliz. Os milhares de torcedores que invadiram o Serra Dourada e outros milhares que acompanharam pela televisão, o jogo em Goiás, infelizmente foi interrompido antes do apito final. E continua até os dias atuais, uma lembrança amarga para os apaixonados torcedores atleticanos.
Al Avec - 06/11/2016
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Por quantas vezes?
Entrei e saí por aquela porta.
Corri pelo quintal.
Andei pelos arredores.
Pulei de cima do barranco para dentro do rio.
Vi o gado sendo recolhido, sentado sobre a cerca do curral.
Vi a seca maltratando as plantações.
Andei em meu cavalo favorito.
Percorri longos caminhos a pé.
Desobedeci as ordens dos meus pais.
Chorei por ter sido castigado pelos meus pais.
Chorei por ter perdido os meus pais.
São tantas vezes...
Alguns fatos marcantes ficam em nossa memória.
Outros se apagam lentamente até não mais lembrarmos.
No final restam apenas vestígios longínquos do passado.
Enfim, sobra a vontade de poder voltar e modificar os nossos erros.
O que está feito ficou para trás. Não tem como corrigir.
Lamentar, arrepender... apenas sentimentos que nos faz sofrer.
Um dia, talvez, possamos acertar os nossos erros.
Somos apenas os alunos do nosso grande professor.
O senhor de tudo e de todos, responsável por todas as coisas.
Corrigiremos nossos erros com a sua ajuda.
Por muitas vezes ainda teremos que errar.
Al Avec - 06/11/2016
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O leão - apenas um sonho
Andávamos, eu e meu irmão, por uma estrada de terra. Animais com aparência exótica, diferentes de qualquer animal terrestre já visto, pelo caminho. Eu afagava a cabeça de um deles, semelhante a uma girafa.
Enquanto vislumbrava os animais, fui surpreendido pela imagem de um enorme leão que surgiu de repente no meio deles. Os animais se espalharam. Paralisado pelo medo, apenas aguardei o golpe fatal dos dentes afiados como agulhas cravando em minha carne.
Sentir as garras em forma de lâminas me fatiar até o último suspiro. Não havia tempo para reação, para fugir. Mas não senti minha carne sendo perfurada pelos dentes e nem cortada pelas garras. O leão se dirigiu ao meu irmão, que fugia correndo pela estrada.
Aproveitei a oportunidade para embrenhar no mato, correndo alucinadamente por entre os galhos das árvores, sentindo que a qualquer momento seria alcançado. Que de qualquer canto do mato por onde estava passando, o enorme felino saltaria sobre mim.
Eu corria fazendo curvas, desviando rapidamente dos obstáculos à minha frente. Parece que eu sabia por onde ir, que alguém me guiava, sem saber aonde aquela fuga alucinante iria acabar.
Então parei. À minha frente avistei uma casa, uma bela paisagem, com um rio, animais e plantas verdes ao redor. Alguém me atendeu. Estava preocupado com o meu irmão, achando que o pior já havia acontecido com ele.
Uma parte de uma laranja. Eu teria que pronunciar uma palavra, "biribiri", para garantir que nada teria acontecido a ele. Teria que entrar dentro de um caixote. Me neguei a pronunciar a palavra, mas me vi dentro do caixote.
Duas partes da laranja em minha mão. Vi o meu irmão aparecendo de dentro do mato, vindo ao meu encontro. Estava aliviado por nada ter acontecido. Estávamos ambos, sãos e salvos.
Al Avec - 12/08/2016
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O sopro mortal - apenas um sonho
Do lado de fora avistei nuvens alaranjadas em formato de cascas de ovo. Achei lindo e imediatamente saí correndo para registrar aquele final de tarde. Uma surpresa, porém, me deixou desconcertado. Como que num passe de mágica as nuvens já não estavam mais lá. Outra pessoa, com o mesmo intuito que o meu, também parecia não saber o estranho acontecimento.
Inesperadamente multidões começaram a correr pelas ruas da cidade, sem rumo. Pessoas simplesmente desapareciam como se alguém estalasse os dedos e seus átomos se desprendessem dos corpos. Um breve clarão e o desaparecimento instantâneo.
Seres trajando roupas prateadas disparavam assopros de luz em direção às pessoas. Uma a uma, a multidão ia desaparecendo. Me juntei aos outros, correndo desesperado para lutar pela sobrevivência. Seria aquele o meu destino na terra, batalhar contra seres desconhecidos, de outros mundos? De que forma, se apenas sopros de luz emitidos pelas bocas daqueles seres era suficiente para eliminar um terráqueo?
Dentro de um lugar onde havia livros, tive a sensação de ficar frente a frente com um dos seres quando em uma das prateleiras os livros se afastaram, mostrando o seu rosto prateado. Fixando-me atentamente ele abriu os lábios, preparando-se para me lançar aquele sopro de luz.
Percebi o raio de luz branca que se formava no interior da sua boca. Apenas aguardei pelo que poderia acontecer. Talvez fosse o fim do mundo e que o Stephen Hawking estivesse certo sobre a possibilidade de seres de outros mundos serem hostis.
Al Avec - 31/07/2016
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A onda - apenas um sonho
Seguíamos pela estrada de terra, eu na caçamba da picape com meu irmão mais novo. O meu outro irmão estava dirigindo.
Pelo caminho eu me admirava com as exóticas formações rochosas, algumas lembrando as torres de um castelo, espalhadas pelos arredores como se fosse uma grande cidade perdida no passado.
Adiante, uma enorme inundação. Não dava para visualizar o caminho. Gritei com meu irmão para avançar pelo lado direito, onde era possível perceber um pouco da estrada encoberta pela água, mas ele insistiu em prosseguir por onde estava indo. Parecia que a qualquer instante seríamos sugados pela água.
Conseguimos seguir em frente. Chegamos em um certo lugar, com paisagens rochosas e uma casa na qual se encontravam alguns familiares.
No momento em que apreciava a paisagem com meu irmão mais novo, percebi que uma enorme onda estava vindo em nossa direção.
Pulamos das pedras e saímos correndo. A onda avançava velozmente. Eu gritava para o meu irmão correr mais rápido.
Cheguei em casa, abri a porta da frente apressadamente. A onda passou por dentro da casa, já fraca e desapareceu. Eu, meu irmão e os outros da família nada sofremos.
Al Avec - 31/07/2016
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A natureza veio dizer
O vento veio para dizer, alguém neste momento partiu. Das quedas das folhas, do barulho sutil. O tempo nublado, antes vermelho e alaranjado.
Início da noite, fim do dia. O dia partiu, a noite surgiu. Luzes se acendem ao redor do mundo. Novos personagens na noite.
As estrelas, a lua... encoberta por uma fina camada de nuvem cinzenta. A nuvem que indica a chegada da chuva. Uma nuvem cinzenta veio dizer, não é uma chuva, apenas gotículas de água.
Um relâmpago veio dizer, o próximo a chegar será um trovão. O trovão veio dizer, as gotículas agora são pingos de água.
Eu vejo a água das nuvens, cair; Das telhas, escorrer; No chão, desfalecer. O vento, mais uma vez para dizer, o anoitecer, o amanhecer.
Al Avec - 25/10/2014
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Apenas um desejo
Para a minha querida mãe
Chego na porta e chamo por seu nome. Não tenho resposta. Olho para dentro do quarto e vejo somente a cama vazia, arrumada, com duas almofadas onde se lê "Mãe, amor perfeito."
Tento segurar as lágrimas, mas em vão. Elas teimam em escorrer silenciosamente por meu rosto. Sento-me na cama, na esperança de ouvir uma resposta, procurando compreender todos os mistérios que nos envolve.
Sinto o vazio ao meu redor. Eu daria tudo por apenas um abraço bem apertado, por um último beijo em sua face. Mesmo que fosse por um breve instante, apenas queria sentir pela última vez o calor do seu abraço, ver o seu rosto meigo. Queria chamar o seu nome e ouvir sua resposta, como quase sempre eu fazia ao chegar em casa.
Já se passaram alguns meses. Ainda assim não me acostumei e nem sei se irei me acostumar, pois a cada novo dia sinto-me torturado. Quando amanhece, quando entardece... tudo me faz lembrar.
Agora só me resta esperar, imaginando que em algum lugar eu a irei encontrar outra vez, como nos meus sonhos.
Al Avec - 05/10/2013
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A árvore - Apenas um sonho
Aquele sonho, aquele lugar, aquela árvore de galhos enormes que se esticavam como se fossem feitos de borracha. Perguntei a uma pessoa de onde era, a resposta foi que era do Acre, um estado brasileiro que faz fronteira com a Bolívia e Peru.
O que eu estaria fazendo ali tão longe da minha casa? E quem era aquela mulher que se agarrava em um dos enormes galhos emborrachados daquela árvore magnífica? Realmente era um sonho, pois jamais havia imaginado algo tão fantástico.
Entusiasmado, de repente me deparei pendurado em um dos galhos daquela árvore. Comecei a me movimentar e voava como se fosse um pássaro, segurando em um dos galhos. À medida que ia me afastando, o galho esticava-se e afinava-se cada vez mais, até se parecer com uma fina corda de borracha, me levando para bem longe.
Em determinado momento fui lançado por entre a porta de uma casa no meio da paisagem. Contorcendo o meu corpo da melhor forma possível, eu ia controlando os movimentos do galho com perfeição, em tal velocidade que dava medo.
Eu estava achando aquela experiência maravilhosa. Nunca havia sentido algo igual, pois estava pendurado em um galho de uma poderosa árvore, que não pertence a este mundo. Eu estava voando como um passarinho, brincando como uma criança ao receber aquele tão sonhado brinquedo.
Al Avec - 05/10/2013
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A nuvem, a chuva e a semente
Homenagem à minha querida mãe - Eternamente
A chuva que se forma no céu cai das nuvens para molhar a terra. O que antes era seco e sem vida, renasce. Deveríamos ser como a chuva: morreríamos, nos transformaríamos em vapor pela luz do sol, preencheríamos as nuvens e depois retornaríamos à terra para poder molhá-la, fazendo com que as esperanças daqueles que perderam sua colheita, se renovassem.
Poderíamos ser uma semente, assim brotaríamos e nossas vidas seriam restauradas pelas águas da chuva.
Não acredito no fim, eu acredito em uma transformação, uma mudança de estado, tal como a água da chuva se evapora pelo calor do sol, tal como uma simples semente se transforma em uma gigantesca árvore. Devemos esperar somente por uma mudança e não pelo fim porque em algum lugar a vida continua, mesmo no mais tórrido deserto.
Hoje eu não sou nem uma semente e nem a água da chuva, eu sou a nuvem. Minhas lágrimas são a água da chuva. Minhas lágrimas não molham a terra, apenas a minha alma. Eu preferia ser a água da chuva para molhar a terra e fazer brotar uma semente.
Eu perdi uma semente, a mesma semente que um dia me fez brotar. Como poderei fazê-la germinar outra vez? Apenas se eu fosse a água da chuva, mas não sou.
Al Avec - 12/05/2013
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21/12/2012, o mundo não acabou?
Manhã de sexta-feira, do dia 21 de dezembro do ano de 2012. Como de costume, levanto cedo e faço ginástica em minha academiazinha caseira, antes de sair.
Enquanto estou fazendo meus exercícios, ouço atentamente um bem-te-vi cantando lá na rua, provavelmente pousado em algum poste, fio de alta tensão ou uma árvore na praça. A minha mãe diz que quando esse pássaro canta é sinal de que vai chover nas próximas horas ou nos próximos dias. Uma chuva nessa ocasião seria de grande conforto, pois o calor está assando a pele.
Em uma casa vizinha ouço os latidos de um cachorro. Ouço também o barulho da condução
passando em frente de casa.
Depois de alguns minutos de ginástica, nada melhor do que uma ducha fria para deixar o corpo preparado para mais uma jornada diária de trabalho, em seguida um café reforçado ajuda a manter a disposição.
Pego minha motoca, observo o tempo... parece que não vai chover. Acho também que o mundo não vai acabar, pelo menos até aquele momento. Se alguém estiver lendo este texto após a meia-noite de hoje, é sinal de que o mundo não acabou.
Isto não é um deboche ou algo do tipo. O mundo já acabou há bastante tempo para certas pessoas. Não estou falando dos que já se foram, mas dos que ainda vivem neste mundo como se ele não mais existisse. O mundo já acabou para quem não tem um teto para viver, para quem não tem o que comer, beber, vestir, aprender... Para essas pessoas todo dia é o fim do mundo.
Os Maias não erraram, nós é que sempre erramos. O mundo acabará de fato quando não existir mais florestas, água potável, comida, animais selvagens.
Não é a primeira vez que o mundo acaba. Está acabando desde que se lançou mão da primeira espada ou da lança, da mais rudimentar arma de agressão até a mais letal arma de guerra.
O mundo sempre acaba quando se lança mão de uma motosserra e uma árvore vai ao chão.
Quando lixo tóxico é depositado na natureza, enegrecendo as águas límpidas dos rios. Quando um caçador empunha o seu rifle e derruba um rinoceronte, apenas por prazer ou para utilizar seus chifres como afrodisíaco. Quando as águas do mar se tornam vermelhas pela ação criminosa de gente sem escrúpulos.
Quem destrói o mundo são os covardes, os gananciosos, os invejosos, os corruptos. Os asteroides, vulcões, terremotos... são apenas fenômenos da criação do universo dos quais não estamos livres e faz parte das nossas vidas aqui neste planeta.
Al Avec - 21/12/2012
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Esperanças
Parado no meio do caminho, contemplo uma velha igrejinha perdida entre as poucas árvores restantes de uma floresta exuberante. Árvores de galhos retorcidos e folhas ressecadas, amareladas pelos raios do sol daquele final de tarde.
Ouço o som perene dos sinos que tocam. Meu olhar se perde no horizonte, para o infinito. Aos poucos as memórias brotam em minha mente como sementes de um passado longínquo.
O badalar dos sinos são como uma canção suave. Eu me perco em minhas memórias, parado no meio do caminho. Quão distante está aquele tempo, onde outrora corria pelos campos ao redor da velha igreja.
Pessoas, animais, tudo se foi. Quem toca os sinos? Talvez não estejam tocando. Talvez seja apenas o badalar das minhas recordações.
Não existe mais ninguém. O mundo inteiro se desintegrou. Apenas resta aquela velha igreja e eu. Como um animal em liberdade sinto vontade de correr pelo campo como nos velhos tempos.
A quem os sinos estariam anunciando? O rebanho de Deus para o paraíso, a salvação, a esperança?
Percebo o som ficando cada vez mais distante. Talvez seja hora de voltar para estrada e caminhar. Os poucos minutos pareceram eternos. Aquele era o meu mundo, agora pareço contemplar a paisagem de outro planeta.
Um dia voltarei para ver a velha igrejinha com sua fachada branca. Nesse dia pode ser que ela não esteja mais naquele lugar. Até eu mesmo posso estar em outro mundo. A esperança é algo que sempre nos acompanha.
Quando nada mais nos mover restará apenas as lágrimas.
Quando nada mais nos mover...
Quando...
Nada mais.
Al Avec - 27/08/2011
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Reencontro
Encontraram-se naquele bosque, onde estiveram mais de uma vez, caminhavam animados, as mãos se tocando. Ouvia-se apenas o barulho dos seus passos nas folhas secas e as pisadas do cavalo de Gladius atrás deles, compreensivo e amigo. Gladius colheu um cacho de flores amarelas e ofereceu-as a Ártemis, olhando-a com amor e desejo. Ela sorria, puxou-o pela camisa e se abraçaram com força, traduzindo o sentimento: "que bom que você voltou". Ele a beijava apaixonado, com a pressa que o amor tem. Falavam a mesma linguagem sempre. Impressionava como tudo entre eles fugia à regra, extrapolava o químico. Eram as brasas mais poderosas de uma fogueira, o vento mais forte da tempestade, a onda mais alta do mar em fúria. Eram únicos e uno.
O sol se punha por trás das árvores e sabiam que uma cabana rústica, mas acolhedora os esperava. Gladius a puxou para cima do seu cavalo e saíram a galope, ela abraçada às suas costas largas, cabelo ao vento... ia tranquila, pois nada tinha a temer junto àquele guerreiro. Viajaram cerca de uma hora até chegarem em casa. Ártemis preparou para seu amado uma comida especial: ervilhas, carneiro assado e arroz com legumes. Ele comia feliz. Para completar, ela foi buscar um vinho que estava guardado esperando seu retorno. Ficaram sentados lá fora, a beira do fogo, saboreando aquela deliciosa bebida, enquanto conversavam olhavam as estrelas enormes que, de tão próximas, pareciam ter descido para um brinde com eles. Uma lua tão cheia quanto sorridente, era uma visão digna do amor daquele gladiador por aquela mulher encantadora. Eram momentos que falavam por si, mas poderiam ser traduzidos por beleza, sintonia, carinho e brilho. Não importava se a época não mostrava isso, mas era o que existia entre eles. Mais tarde entraram na cabana onde uma cama bem cuidada os aguardava. Era impossível não ficar abraçado e adormecer apenas. Não seria um desperdício, mas uma maneira de eternizar aquele convite à felicidade.
Ana Regina (Ártemis) - 15/03/2010
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Vivência
Um coração sem palavras, uma alma revolta, um corpo que não dorme, conflitando com a arte da solidão ou apenas esperando sua presença, seu corpo morno.
Meu empenho foi grande, mas o vento o levou a galope. Mesmo assim vamos aguarda. Você pode estar por perto, mas perto pode ainda estar longe.
Mas enquanto espero vou passando a limpo as emoções, juntando os rascunhos da felicidade. Cultivando o bem viver vou negociando com o passado, saboreando o presente e inventando o futuro; onde rascunhos seriam folhas bem escritas; alma, coração e corpo estariam sincronizados e serenos.
Perto seria aqui e agora. Sua presença se tornaria tão forte que passaria a ser perene. Assim, nessa vibração, o tempo se tornou presente e todos os devaneios se tornaram vida.
Ártemis - 20/02/2010
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Ciclos
Na estrada ensolarada o verde prevalece. A viagem segue movimentada, pessoas entram e saem, cada uma com seu mundo e seus sonhos. Da minha janela uma visão feliz, o gado pasta tranquilo em suas fazendas intermináveis... acima uma linda lua teima em me observar num céu azul! Um capricho ou mais um presente da Natureza?
O tempo passa, cidades aparecem com seus lagos, jardins... Torcedores gritam, cantam, bi colorindo uma cidade eufórica, contagiada. Do por do sol apenas resquícios riscam o horizonte. O entardecer parece bailar com o anoitecer numa linda mistura de cores, onde se poderia ouvir sons... Na terra o verde das fazendas se misturam com o azul escuro das montanhas distantes. Absorvo os últimos minutos do dia, pois a noite já pediu passagem e avança devagar, educada, não querendo assustar.
O céu agora está riscado de amarelo e cinza, até as árvores se preparam para dormir, não se falam mais, combinando um silêncio desconcertante... Mas nem tudo está perdido, eis que reaparece minha amiga Lua, alegre e brilhante. Passamos a conversar; ela me conta sua estória de amor quase impossível com um lindo astro chamado Sol. Diz que se vêem à distância e quando finalmente se encontram, se fundem felizes aproveitando as raras oportunidades de carinho. São incomodados pela humanidade, que além de observar curiosamente ainda dizem que ali acontece um "eclipse"! Eu a consolo dizendo que os amores maiores são regados a distâncias.
Perguntei-lhe se conhecia um guerreiro e uma bruxinha que passaram muitos anos sem se ver, e um dia o destino, com seu jeito peculiar, os presenteou com um reencontro. Eles estavam tímidos e desconcertados, embora felizes. Não se reconheciam, mas no fundo sentiam o impacto de suas fortes presenças... Aquele amor tinha a energia das águas correntes, o calor do verão, a delicadeza das flores, a dor da saudade e o sabor das frutas mais doces... de safras infindáveis.
Ártemis - 29/11/2009
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Harpia ferida - o último voo
O caçador esgueira-se por entre os galhos das árvores com movimentos suaves de um felino. O pulso segura firmemente a arma mortal. O olhar fixo, a respiração contida.
Um feixe dos raios do sol entre as copas das árvores reflete no cano da arma apontada para o alto.
No alto do galho de uma árvore um grande pássaro descansa, imponente, após uma longa jornada pelo céu azul.
De repente um forte estampido ecoa no meio da mata. O grande pássaro deixa escapar um pio de dor. Ferido, ele despenca do alto da árvore.
O caçador aproxima-se rapidamente. O pássaro gigante permanece imóvel. Um filete de sangue escoa por entre as folhagens secas e úmidas da mata.
Quando o caçador prepara-se para arrebatar o seu troféu, o portentoso ser alado esboça alguns movimentos, abre as longas asas e alça voo, cambaleando para o alto.
Surpreso, o caçador aponta novamente a sua arma para deflagrar aquele que seria o projétil fatal. Mas seu intento é freado inesperadamente. O dedo no gatilho fica paralisado. Ele observa atentamente o esforço daquele pássaro para manter-se voando.
Com uma das asas feridas, aquele rei dos céus soltou mais um pio de agonia, lutando para equilibrar-se no ar.
O caçador foi abaixando a arma lentamente. O semblante, frio e ameaçador, agora era de tristeza e arrependimento. Uma lágrima escorreu por sua face.
O fantástico ser alado seguiu voando, sem rumo, sobre lindas paisagens e montanhas cheias de flores. Cada gota de sangue que caía sobre a terra da sua asa ferida nascia uma nova flor.
Em certos momentos o pássaro não era mais um pássaro, era uma mulher com o corpo submerso na água. Apenas seu rosto e os longos cabelos escuros apareciam sobre a água.
O tom da água mudou para vermelho. O grandioso ser alado não existia mais. O caçador chorava suas lágrimas, arrependido.
Al Avec
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O guerreiro e a chuva
Ah! Meus tempos de gladiador, naquela velha cabana no meio das montanhas. A chuva caindo sobre o teto.
Aquele guerreiro postado sobre sua cama, junto com sua mulher Ártemis. Suas vestes de gladiador penduradas na parede.
O fogo queimando na lareira, iluminando aquela cabana. A cabeça da sua esposa descansa em seu tórax robusto.
Seus olhos voltados para o teto, pensativos, ouvindo apenas o barulho da chuva lá fora. Aqueles olhos de águia, escuros como a própria noite, pareciam contemplar o infinito. Dentro daquele corpo de pedra existia um coração que também amava.
Diferente do som das espadas e dos gritos nas batalhas, aquele barulho trazia apenas a serenidade e a ternura. A inexistência de qualquer outra coisa, apenas a chuva, a cabana, o guerreiro e sua esposa.
Não há palavras, nem gestos, apenas o silêncio da noite e o barulho da chuva.
Os trovões ecoando por entre as montanhas escuras lembravam a existência de um ser inigualável. O silêncio, então, era quebrado.
Aquela noite era para não ter fim.
Al Avec
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O retorno de um gladiador
A cor alaranjada no horizonte anunciava o final de mais um dia. Por entre as folhagens verdes da primavera surge a sombra do gladiador. Seu andar é vagaroso; seu semblante, triste e pesaroso. Seus olhos não contemplam o horizonte, apenas a relva fina amassada por seus passos cambaleantes. Seu cavalo, fatigado pela longa jornada, é puxado pelas rédeas. Sua bainha de couro de tigre asiático esconde sua espada de aço reluzente, ainda manchada de sangue pela última batalha.
Os dias de glórias chegaram ao fim. A lâmina afiada da sua espada não precisaria mais cortar a pele dos seus inimigos. Mas as lembranças daqueles que sucumbiram pelos golpes fatais daquela lâmina de aço jamais seriam apagadas da sua memória. Nas costas daquele gladiador, o peso das inúmeras vidas que sua espada esvaiu pareciam os próprios coliseus onde realizara tantas batalhas sangrentas.
Os músculos de aço davam a impressão que iam desabar a qualquer instante. Mesmo assim o sacrifício de estar ali naquele momento parecia valer a pena para aquele pobre homem. Sim! Seu retorno seria recompensado. Havia uma linda esposa de cabelos negros à sua espera, e uma filha. Era uma filha que a luta pela sobrevivência não o deixou ver nascer. Pois, ainda rapaz, ele foi tirado da sua família e da sua jovem noiva para poder lutar nos coliseus.
Agora, o gladiador estava de volta. Sua espessa barba revelava a quantidade de anos longe do seu lar. No céu a cor alaranjada deu lugar ao vermelho sangue, vestígios dos últimos raios de sol sobre a terra. O mesmo vermelho sangue que o açoite da sua espada fez espirrar das suas vítimas.
Como que estivesse adivinhando, aquela mulher de cabelos negros o esperava na varanda da casa, com sua filhinha no colo. Antes mesmo de sentir o fervor do seu abraço e a alegria estampada no rosto da sua amada, os músculos de aço desabaram sobre a relva como um castelo de areia. Aquela foi sua única derrota.
Al Avec
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Cinzas
Estradas estreitas. Subidas, descidas... Precipícios ladeiam. Onde estão as cores? E as dores? Adormecem.
As escolhas se preenchem de vazios. Tentamos a bússola. Conseguiríamos distinguir dentro de nós o Norte e o Sul da vida? Uma má consulta pode derreter os polos.
Observo os loucos. Como são felizes. Não pensam em separar o joio do trigo, nem o ser do ter, nem onde está e nem para onde vai. A vida passa por nós enquanto eles passam pela vida. E ela os admira pelo seu estilo peculiar.
Sigo adiante. Quantas nuvens. Posso alcançá-las daquela montanha. Mas ainda não posso. Estou esperando por você. Por que se atrasa tanto?
Tudo passa velozmente. É preciso se apressar para não se perder do lado de lá.
Ana Regy (Ártemis)
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Que futuro nos aguarda?
Chega de corrida espacial. Já está mais que provado que a busca por um lugar no espaço tem que ser feita de maneira harmoniosa, sem disputas para ver quem chega primeiro a tal lugar. Somos todos iguais aqui neste Planeta e buscamos os mesmos propósitos. Não cabe somente a uma nação ter o poder das coisas em suas mãos.
Em vez de gastar bilhões para financiar as guerras, esse mesmo dinheiro poderia ser investido para tentar amenizar um pouco os problemas pelos quais o mundo anda passando. Não estamos mais na época em que países inteiros eram conquistados pelo fio da espada. A era medieval já ficou para trás. Estamos agora na era da diplomacia.
O dinheiro um dia acaba. Uma grande nação também. Junto com ela, todas as outras. Se um pilar de sustentação desaba, com ele toda uma construção vira destroços. Quando isto ocorre é preciso saber juntar forças para se erguer novamente. Um centurião não ganha uma guerra sozinho. Com ele, uma centena de outros soldados foram responsáveis pela conquista.
É preciso unir os conhecimentos. Ninguém sabe de tudo. Mas o conhecimento em mãos erradas pode ser desastroso. A ambição do homem supera sua capacidade de raciocínio. O conhecimento é uma arma poderosa. Se não for usada da maneira correta pode trazer consequências desagradáveis. A ciência criou as piores armas de destruição em massa. Tomara que os cientistas usem a mesma tecnologia para reverter o processo.
Que um dia possamos levantar nosso olhar para o alto e ver apenas os foguetes subindo para lançar naves rumo ao espaço. Se ao invés disto os foguetes estiverem caindo é porque tudo isto foi em vão. É sinal que o holocausto nuclear terá começado. E o pilar desabou para nunca mais se erguer.
Al Avec
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As faces do futebol
O futebol tem várias faces. A maioria dos garotos já nascem pensando um dia jogar em um grande clube. O futebol pode libertar os garotos da rua, mas também provocar discórdias entre as pessoas. Ao mesmo tempo une e separa. Dá alegrias para quem vence e tristezas e amarguras para quem perde.
O futebol pode unir nações, povos distantes, onde cada língua tem apenas um significado: o desejo de vencer. O futebol é o único esporte que faz um país inteiro parar em frente à televisão para poder seguir cada passe, cada drible dos jogadores.
Pensar no mundo sem o futebol é imaginar o ser humano sem um coração palpitando dentro do peito. O amor por este esporte vem do berço, de gerações que ajudaram este imenso país em conquistas inigualáveis. Veio dos pés daqueles que hoje descansam suas glórias em um lugar distante, longe dos gramados, da torcida apaixonada. Daqueles que ainda vão aos estádios matar a saudade dos tempos em que vestiam a camisa do clube e da Seleção Brasileira como se fosse a sua segunda pele.
O futebol é aquele lance genial, que levanta a torcida, que faz os telespectadores vibrarem em frente à televisão. É o gol de placa, de letra, de bicicleta. É o golaço. É o gol perdido. É a defesa milagrosa do goleiro.
O futebol é a lágrima que escorre vagarosamente pela face de um garoto, vendo o seu time do coração caindo para a segunda divisão. É o pai tentando consolá-lo com um abraço, sentindo no fundo do seu peito o mesmo desejo de chorar. O futebol está em nossa alma.
Al Avec
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Crônicas do Gladiador
Gladiador, levanta-te e empunha a tua espada. Os portões do Coliseu se abrem. A batalha vai começar. Vista a tua armadura e cubra o teu rosto com o elmo. Teu inimigo é grande e poderoso. A vitória pode estar a um golpe certeiro da tua espada. Sinta a glória do povo nas arquibancadas. Repara como gritam o teu nome. Ele ecoará para sempre na eternidade. Golpeia com tua espada e lute com teu bravo coração. Deixe a vibração dos brados invadirem o teu ser. Converta isto tudo em energia para o teu corpo. A batalha será árdua e o teu inimigo tem sede de sangue.
As espadas cruzam o ar ferozmente, refletindo os raios do sol. Por longos e cansativos minutos, a batalha segue implacável, estimulada pelo fervor da plateia. Os gladiadores, exaustos pelo teor da disputa mortal, se entregam ao desejo da vitória iminente. No auge da batalha o gladiador larga a tua espada. Põe-se ao chão de joelhos. Tua cabeça pende para baixo e o teu corpo tomba para o lado. O vencedor recebe as honras da multidão. O destino do perdedor é o sacrifício. O gladiador, vitorioso, atira tua espada para o meio da arena.
Gladiador, esta não é a hora de morreres. Tu és bravo. Mereces morrer ao lado da tua esposa e filhos. Quando não aguentares mais empunhar a espada. Quando as tuas pernas não aguentarem mais sustentar o peso do teu corpo velho e cansado. Esta será a tua hora. Eis, então, que terás realizado a tua última batalha.
Al Avec
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Voando alto
"O aventureiro Al Avec
Da natureza admirador
Sonha um dia viajar
A bordo de um disco voador.
Mundo tão pequeno
Visto de tão vasto Universo
Leve-me disco
Tão alto possas alcançar
Entregue-me nas mãos
Do Criador.
Al Avec
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