Motoaventura

Povoado da Raposa - de 25 a 28 de fevereiro de 2017

Rumo à Chapada Diamantina – tombos e derrapadas

O vento açoita o capacete com força dando a impressão de que a qualquer momento ele vai sair voando da cabeça. Já fora da cidade, assim tem início mais uma jornada rumo à Chapada Diamantina, sobre duas rodas. O destino, visitar a cachoeira Queda da Raposa, localizada na fazenda Eco da Chapada, entre os municípios de Ibicoara e Iramaia, no sul da Chapada.

Para minha frustração a cachoeira estava com pouquíssimo volume de água em virtude da falta de chuva dos últimos meses. O melhor período para visitá-la em sua total imponência é no mês de novembro, segundo me informou o dono e guia da fazenda, Flávio Marçal. Apesar disso o local oferece outros atrativos para quem gosta de praticar trilhas. No meu caso, um prato cheio.

Até chegar ao Povoado da Raposa, partindo da cidade de Ibicoara, são dezoito quilômetros de estrada de terra, subindo e descendo morros. Para as motocicletas inapropriadas ao local é um desafio e tanto, pois qualquer movimento errado é chão na certa. Além de muita areia fina em certas partes, há também pequenos e grandes pedregulhos pelo caminho que transformam o percurso em uma verdadeira armadilha.

Por mais cauteloso que tenha sido infelizmente não escapei de levar dois tombos, um na subida de uma ladeira bastante íngreme quando estava voltando para casa. O dia amanheceu garoando. As pedras estavam lisas como quiabo. Ao tentar desviar de um buraco, o pneu dianteiro derrapou em uma pedra.

O outro tombo foi na passagem de um trecho com muita areia que mais parecia o deserto do Saara. Mesmo em segunda marcha a moto derrapou. Porém nada que interferisse no prosseguimento da viagem. Apenas uma pequena avaria no retrovisor direito. Chegando à cidade consegui recuperar a posição original.

Na verdade foram três tombos. O primeiro foi quando saí com Flávio Marçal, montado na garupa de uma Tornado 250. A moto é venenosa para vencer os terrenos acidentados. Subindo o morro para chegar à Cachoeira da Raposa, uma acelerada mais forte para vencer os obstáculos, a moto deu um salto e a força da gravidade me empurrou para trás, perdi o equilíbrio e virei de costas no chão. Mas nada grave também. Seguimos em frente.

Povoado da Raposa – paredões e trilhas

Para quem preza pelo sossego, o Povoado da Raposa é um lugar onde se pode dizer que a vida passa lentamente, sem maiores preocupações. Apesar de ainda não possuir uma infraestrutura ideal com acesso a alimentos, medicamentos e educação. O povoado conta com poucas famílias estabelecidas no local. Pessoas simples e humildes.

Logo no primeiro dia ao chegar, na metade da tarde de sábado, o Flávio indicou um lugarzinho ali perto, um pouco abaixo da fazenda, onde era possível se refrescar nas águas que desciam pelas pedras. Um lugar interessante para passar o dia, meditar, ouvindo o barulho suave da água escorrendo entre as pedras.

Tranquilidade ao ar livre

Paredão rochoso da Raposa

Vista parcial Serra do Sincorá

Do terreiro da casa os paredões da Chapada oferecem um visual deslumbrante. Não fosse o fato de a Cachoeira da Raposa estar praticamente vaporizando a água no ar, vislumbrar aqueles paredões ao longe é uma sensação compensadora após o sacrifício de chegar até ali.

Na época das chuvas os paredões da Raposa formam uma extensa cortina de cachoeiras. São duzentos e quarenta metros de queda, segundo informou o Flávio. Com estas informações dá para imaginar o espetáculo proporcionado pelas águas. O Flávio me conduziu até lá, conforme havíamos combinado, no domingo pela manhã. Apesar da pouca água, foi possível um banho na pequena cortina esfumaçada de água que caía lá do alto.

Nos meses chuvosos o acesso ao local fica restrito, não dando para chegar próximo à queda d´água, uma vez que para chegar até lá, apenas passando por sobre as pedras ao longo do leito do rio.

Um fenômeno pouco comum na Chapada Dimantina é presenciar o deslocamento de um enorme bloco de pedra com centenas de toneladas, caindo do topo até espatifar-se lá embaixo, na base da cachoeira. O impacto mais parece o fenômeno explosivo de uma bomba atômica, levantando um cogumelo de água.

Nos doze anos morando na Raposa, o Flávio contou que teve a oportunidade de perceber o atípico acontecimento por duas vezes. De fato deve ser algo fascinante e assustador ao mesmo tempo.

Animais silvestres – trilha ecológica

O local ainda preserva alguns resquícios de mata nativa, onde há relatos de avistamentos de macacos da espécie Bugio. Há ainda rumores sobre a aparição de uma onça que andava atacando o gado da região, inclusive um caso em que ela decepou a cabeça de um jegue. De acordo com as informações do guia Flávio, provavelmente os habitantes do lugar já teriam dado cabo da onça, o que seria uma pena, visto que é um animal ameaçado de extinção. Tal informação permanece na incerteza.

Na esperança de ver a temida onça, partimos na segunda feira, rumo às pinturas rupestres e o Poço da Vendinha. Juntamos uma turma com outras quatro pessoas que haviam chegado à fazenda no dia anterior. Uma trilha puxada, sem grandes cachoeiras pelo caminho, mas com belas paisagens.

Rumo à Vendinha

Vista parcial da Serra do Sincorá

O fantasma da encruzilhada

Nos quilômetros iniciais a trilha começa suave. Após cruzar um riacho, o nível de dificuldade vai aumentando, cortando por uma trilha bem estreita, onde só é possível passar uma pessoa de cada vez, em fila indiana. Durante a caminhada, sempre dando umas paradas para descansar, tirar fotos e repor a água perdida pelo suor e cansaço.

Até chegar à Vendinha, a caminhada é feita sobre as pedras no leito do rio ao longo do cânion. O primeiro atrativo da região são algumas pinturas rupestres estampadas na rocha calcária. As marcas da depredação aparecem junto com as pinturas, fazendo com que se tornem quase imperceptíveis.

Poço da Vendinha

Não tardou até chegarmos ao poço da Vendinha, uma pequena queda de água num poço com profundidade de cerca de vinte e cinco metros, de acordo com o guia Flávio. Paramos para refrescar a garganta, comer alguma coisa e tomar um delicioso banho, com direito a um salto de cima da pedra. Uma altura de mais ou menos dez metros.

Flávio nos contou que certas pessoas apareciam naquele lugar em busca de diamantes que estavam escondidos nos buracos formados pela água.

Nos tempos do Brasil Imperial, a princesa de Portugal se banhou nas águas da Vendinha, durante visita à região.

Nossa diversão na Vendinha durou cerca de uma hora. Dali retornamos um pouco pelo mesmo caminho por onde havíamos chegado. Pegamos a trilha mais difícil do percurso. Uma subida pelo meio do mato sob o sol escaldante.

Com ajuda dos galhos do cerrado, fomos galgando aos poucos a subida impiedosa, tomando as devidas precauções para não colocar a mão em algum animal peçonhento.

Cobras cruzavam pelo caminho. Elas eram rápidas demais. Até preparar a câmera para um registro elas já haviam desaparecido no meio do mato ou entre as pedras.

Pinturas rupestres

Enfim chegamos ao alto. O esforço foi compensado por um paredão de setenta metros de comprimento, repleto de interessantes pinturas rupestres. Algumas são tão nítidas que aparentam terem sido pintadas recentemente.

Difícil acreditar que tais pinturas tenham ficado intactas naquele local durante milhares de anos, datadas por volta dos cinco mil a trinta e cinco mil anos antes de Cristo. A cobertura natural formada pelas rochas talvez tenha contribuído para a preservação daquele museu a céu aberto.

Fotografei o máximo que pude das pinturas. Escolhi as imagens que achei mais impressionantes. Muitas tem relação com a caça e os animais que outrora habitaram a região. Outras parecem representar o sol, asteroides ou cometas, talvez.

Daquele ponto até retornarmos ao povoado não havia mais atrativos pelo caminho. Só uma extensa caminhada pelo meio do morro. Em certos pontos do caminho foi possível verificar as pegadas de uma raposa impressas na areia. Ela deveria ter passado por ali na noite anterior, período que aproveita para sair à caça da sua presa.

Um vinho gelado para saciar a sede e a volta para casa

Sentir o sabor de um delicioso vinho gelado, após percorrer quilômetros de trilhas, era como sentir o néctar dos deuses descendo pela garganta. Era todo o necessário para encerrar o período de aventuras naquele dia caloroso que já caminhava para o final. O restante foi apenas para descanso.

A terça feira amanheceu com uma camada de nuvens cobrindo a Serra do Sincorá, acompanhada por uma fina garoa. O desafio para subir os morros aumentava consideravelmente, uma vez que as pedras se tornam bastante escorregadias. Mas era preciso encarar a jornada de volta. Por outro lado era bom porque aplainava um pouco as partes com muita areia.

À medida que a manhã avançava, a temperatura subia gradualmente. Apesar de não ter conseguido segurar a moto nos trechos difíceis, a volta para casa foi tranquila, levando na bagagem mais um momento de aventuras em duas rodas. Na memória, as paisagens paradisíacas que só os apreciadores da natureza conseguem enxergar.

* * *

Al Avec

Poço da Vendinha

Pinturas rupestres

Casas Povoado da Raposa

Aventura em Rio de Contas - Bahia

Paisagens deslumbrantes da Chapada Diamantina. De 25 a 27 de março de 2016

Partindo para Rio de Contas

Somos chamados de loucos por alguns, de corajosos por outros. Talvez uma mistura dos dois. Sei apenas que se aventurar por aí sobre uma moto é algo que fica para sempre na memória. Sentir o vento assobiando ao redor traz uma sensação de estar voando.

Mais uma vez lá estava eu, rodando em direção a outra aventura, cruzando com animais estirados pelos cantos da pista. Infelizmente uma dura e triste realidade. Devido ao espaço cada vez mais reduzido das matas, os animais aventuram-se pelas pistas de rodagem. Muitas vezes acabam sendo atropelados. O barulho dos automóveis deixa-os confusos. Na maioria o resultado é fatal.

A viagem continua sossegada para a cidade mais antiga da Chapada Diamantina, Rio de Contas. Raramente um caminhão é avistado no retrovisor. Ainda é possível cruzar com um grupo de ciclistas pelo caminho.

Segundo informações históricas a cidade começou a ser povoada por volta de 1687 por escravos fugitivos da costa baiana.

Distante 581 km da capital Salvador pela BR 242 e a 217 km de Vitória da Conquista pela BA 262, Rio de Contas possui as características de quase todas as cidades localizadas na Chapada Diamantina, com trilhas ecológicas e casarios antigos ao estilo colonial.

Uma das principais atrações na cidade é a belíssima Igreja de Santana, construída no século XIX pelos escravos. A obra não chegou a ser concluída devido ao fim da escravatura.

Depois de um tempo pilotando desde as 6 horas da manhã, horário da partida de Vitória da Conquista, mais uma pausa para descansar, após tomar um delicioso e refrescante caldo de cana. Ao fundo uma bela lagoa para completar a paisagem.

Parada para descanso e uma bela lagoa ao fundo

Logo na chegada em Livramento de Nossa Senhora, cidade que fica a 12 km de Rio de Contas, é possível visualizar a Cachoeira Véu da Noiva, despencando entre as montanhas a cerca de 5 km do centro da cidade. Não parei para fotografar e segui adiante.

Os doze quilômetros seguintes até Rio de Contas são de serra, com mata de ambos os lados. É preciso ficar bem atento nas curvas e subidas perigosas. No caminho percebi uma placa onde estava escrito “Acampamento Sá Zabé”. Foi o local onde havia ligado no dia anterior para informações. Dei a volta na moto, pegando um pequeno trecho de terra até a entrada do acampamento.

Acampamento – Cachoeira do Fraga

À primeira vista parecia ser um bom lugar. Passados alguns minutos fui atendido por um rapaz que mostrou o local onde pudesse acampar. Depois de conhecer os aposentos, montei a barraca.

O lugar é agradável, com luz elétrica no pátio, bastante água e um belíssimo mirante, de onde é possível visualizar a cidade de Livramento. Infelizmente o proprietário informou que não teria alimento naquele dia, sexta-feira 25 de abril e nem no final de semana seguinte. Então fui almoçar na cidade.

Acampamento

Depois do almoço, já ansioso para conhecer alguma cachoeira ou trilha, peguei informações com o dono do restaurante sobre os locais onde poderia ir naquele horário. Ele me falou da Cachoeira do Fraga. Como o tempo era curto, pretendia conhecer o maior número de lugares possível em apenas dois dias, sendo que o primeiro dia foi quando cheguei a Rio de Contas.

Antes de pegar a estrada para a Cachoeira do Fraga fui dar uma volta pela cidade. Fotografei alguns casarios, a Igreja de Santana e uma escultura em alto relevo, representando um bandeirante, de ambos os lados. Procurei saber de quem se tratava, mas ninguém soube informar o nome. Provavelmente trata-se de Raposo Tavares, de acordo com minhas pesquisas.

Praça - Centro Rio de Contas

Igreja Santana

Bandeirante

Peguei a moto que havia deixado embaixo de uma árvore e segui para a Cachoeira do Fraga, passando por um trecho de terra com aproximadamente 3 km. O local é de fácil acesso, proporcionando ao visitante seguir através de qualquer meio de transporte.

No ambiente, várias pessoas já estavam se refrescando na cachoeira, comendo e bebendo às margens do rio. Deixei minhas coisas sob a sombra de uma árvore, enquanto tirava fotos e filmava o belo cenário. Em seguida não resisti ao convite daquela água que despencava de uma altura de 7 a 10 metros no poço, não muito profundo, lá embaixo.

Detalhes da Cachoeira do Fraga

Alguns minutos de um revigorante banho foram suficientes para matar a minha ansiedade e amenizar um pouco os efeitos do sol escaldante. Infelizmente como na maioria dos lugares com frequência maciça de pessoas, há sempre aqueles que deixam restos de sujeira para trás, apagando um pouco o brilho da paisagem.

De volta ao acampamento, ainda estava disposto a conhecer mais algum lugar. O proprietário me falou da Cachoeira do Raposo, pegando uma trilha estreita, passando por uma cerca de arame, não muito distante de onde estava. Sem perder tempo, fui lá conferir. Apesar das tentativas não consegui localizar o caminho indicado. Como já estava cansado e o dia estava chegando ao fim, retornei ao acampamento. Resolvi deixar para o dia seguinte.

Cachoeira do Raposo – Estrada Real

Logo pela manhã, após um café com requeijão, novamente desci em busca da Cachoeira do Raposo. Dessa vez não errei o caminho, seguindo a pequena trilha por dentro de um chalé até sair na Estrada Real, conforme o proprietário do acampamento havia dito.

A Cachoeira do Raposo fica dentro de uma pequena mata. Não é tão volumosa quanto à Cachoeira do Fraga, mas a água que desce lá de cima proporciona um banho e uma massagem nas costas sem igual.

Cachoeira do Raposo

Ao chegar não havia ninguém. Talvez pelo fato de o acesso ser um pouco mais irregular e pela falta de um poço, essa cachoeira seja menos frequentada. Também aparentava ser mais limpa, sem rastros de sujeiras deixados para trás.

Alguns instantes depois, mais quatro pessoas chegavam ao local, um casal de idosos e outro casal mais jovem que estavam hospedados em uma pousada vizinha. Eu já estava me preparando para tomar um banho, os outros ficaram com um pouco de receio, mas não resistiram ao chamado da natureza. Fizemos amizade ali mesmo.

Deixamos o casal mais idoso na cachoeira, enquanto descíamos pela Estrada Real, um trecho de 4 km de pedras lisas da região e belíssimas paisagens. Num certo trecho da Estrada é preciso passar por um pequeno curso de água até retomar o caminho de pedras. A descida foi bem desgastante, pois o impacto das passadas sobrecarrega o joelho.

À medida que se caminha pela Estrada Real é possível visualizar a cidade de Livramento lá embaixo, montanhas rochosas, mata, muito verde e um muro de pedras com cerca de 1 metro de altura.

Estrada Real

O objetivo desse muro não ficou bem claro, ninguém soube explicar e não encontrei registros que o descrevessem. O muro é bem semelhante ao encontrado por Pepe Chaves, na cidade de Itaúna, cidade natal dele, amigo aventureiro que mora atualmente em Belo Horizonte.

Consta nos registros históricos que a Estrada Real de Rio de Contas foi construída por volta de 1726 pelos escravos. A finalidade era o transporte de ouro e suprimentos da região.

Finalizado o percurso, sugeri que fôssemos até a Cachoeira Véu da Noiva ou Cachoeira do Rio Brumado, como alguns costumam chamar, mas os ânimos não eram dos melhores. O pessoal já estava fatigado com a longa caminhada. Decidimos voltar pelo mesmo caminho.

A subida foi ainda mais árdua devido ao cansaço, exigindo mais energia do corpo do que força muscular. Foi preciso paradas mais abreviadas para repousar e recuperar o fôlego. O sol ardente contribuiu consideravelmente para o desgaste.

Ao chegarmos no alto da Estrada Real passamos novamente na Cachoeira do Raposo para recompensar o esforço da subida e revigorar os ânimos. Eu ainda pretendia seguir para outro local naquele mesmo dia, sábado, 26 de abril. O outro casal também estava com horário marcado para outras finalidades, por isto não demoramos muito na cachoeira.

Ponte do Coronel – Açude do Rio Brumado

Eles retornaram à pousada e eu para o acampamento. Em seguida fui à cidade almoçar. Dali fui de moto para um lugar chamado Ponte do Coronel que, segundo informações, era bem interessante. Para chegar ao local é preciso pegar uma estrada de terra com 14 km. Não é uma estrada ruim, mas é preciso ter cuidado nos trechos onde existe muito pó solto, pois a moto dá umas derrapadas podendo jogá-lo no chão. As pedras e as lombadas naturais são outros obstáculos. Apesar de tudo é possível ir numa velocidade até considerável para motos não adequadas a estradas de terra.

Logo no começo da estrada, um belo e imenso açude enfeita a paisagem, o Açude do Rio Brumado. De acordo com informações, a água do açude é usada para irrigação. A região é bem rica no cultivo das mangas. As inúmeras estradas de terra existentes me deixaram confuso até acertar o caminho correto com indicações de moradores das redondezas.

Na Ponte do Coronel havia bastante pessoas acampadas, muito barulho de som automotivo, lixo deixado pelos visitantes e excrementos de animais. O lugar é até bonito, com pequenos lagos onde as pessoas podem se banhar e um curso de água descendo das pedras. Mas a agitação e a sujeira próxima me deixaram desanimado. Tomei apenas uma “gelada” num barzinho próximo, tirei uma foto, pegando o caminho de volta pouco depois.

Arrependi-me por ter deixado de conhecer o Pico das Almas em troca da Ponte do Coronel.

Nas imagens seguintes, detalhes do imenso Açude do Rio Brumado.

Ponte do Coronel

Já era tarde e não dava mais para recuperar o tempo perdido. O jeito foi deixar para outra oportunidade. De qualquer forma é sempre bom estar em contato com a natureza seja onde for. No domingo, dia 27 de abril, data do meu retorno à Vitória da Conquista, ainda dei mais um pulo na Cachoeira do Fraga, pela manhã. Minha intenção era filmar e tirar mais fotos da parte de baixo da cachoeira.

De volta ao acampamento para arrumar a bagagem, durante o desarme da barraca, percebi um salto de um animal de cima da árvore onde eu estava acampado. Peguei a máquina rapidamente para registrar. Não era um, mas uns 5 ou 6 saguis que saíram correndo pelo acampamento para em seguida pularem nas árvores e sumirem no mato. O sagui é uma espécie de macaco com cerca de 30 centímetros da cauda ao corpo. Foi uma ótima despedida.

Saguis no acampamento

Imagens extras - Cachoeira do Fraga

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Al Avec

Aventura na região de Diamantina - Minas Gerais

Nas trilhas dos diamantes, de 26 de dezembro de 2015 a 01 de janeiro de 2016

Primeiros quilômetros percorridos

Minha primeira aventura em uma moto de pequeno porte. Foram cerca de 1500 km de ida e volta percorridos entre a cidade de Vitória da Conquista, situada na Bahia e a localidade de Milho Verde, em Minas Gerais.

Depois de pensar muito sobre essa aventura e o que poderia acontecer no decorrer da viagem, após ler inúmeros relatos de amigos aventureiros com motos de pequena cilindrada, e do incentivo do meu amigo Pepe Chaves, tomei coragem e decidi meter o pé na estrada. Nesse tempo, apenas uma troca de óleo e dois ajustes na corrente, nada mais, encarando buracos, caminhões, chuva e muita poeira.

Agradeço a Deus por ter corrido tudo bem. Voltei intacto, sem nenhum arranhão, nem ao menos um susto. Essa foi apenas a primeira aventura desse porte de outras que virão. Não sei se farei um percurso tão grande novamente, pois o cansaço é enorme, ainda mais quando se encontra um caminho de terra pela frente, cheio de pedras, buracos, costelas de vaca e poeira, intermináveis.

Peguei um trecho na viagem que gastei duas horas para vencer 42 km de estrada de chão. Em certos locais havia tanto pó que a moto derrapava até em primeira marcha. Não poderia extrapolar o limite de velocidade além dos 15 ou 20 km/h, pois senão minha moto poderia ficar pelo meio do caminho.

Para piorar a situação, ao longe vi uma enorme nuvem cinzenta se aproximando, com relâmpagos e trovoadas. Não tardou para que o céu desabasse. Minha salvação foi uma barraca na beira da estrada onde se encontrava um rapaz vendendo abacaxis. Aproveitei para dar uma parada, saborear um suculento fruto, enquanto aguardava a chuva passar. Fiquei ali por volta de trinta minutos já preocupado com o fato de não chegar no horário combinado. Tentei me comunicar com o Pepe, que estava vindo de Belo Horizonte, mas não havia sinal para o meu celular. O jeito era seguir caminho assim que a chuva estiasse.

Passei por Itaobim, onde, para meu alívio, deixei a temida BR 116 para trás. Tomei uns goles de água e comi mais bananas. Descansei um pouco, para não muito, pegar a pista outra vez. A próxima parada foi em Araçuaí, de onde consegui enviar a última mensagem para o Pepe.

Encontro na cidade de Couto de Magalhães

Foi um imprevisto que me fez chegar atrasado à cidade onde combinamos, eu e o Pepe Chaves, que nos encontraríamos: a cidade de Couto de Magalhães de Minas, não muito distante de Diamantina. Caso contrário teria chegado a tempo, conforme meus cálculos.

O calor era infernal. Quando se faz uma viagem assim, não cabe apenas registrar as belas paisagens. A seca que paira às margens do rio Jequitinhonha é notória e preocupante. Parte do rio só se vê bancos de areia.

Após vencer o terrível obstáculo com 42 km de terra entre Virgem da Lapa e Lelivéldia, no Estado de Minas, passei por outros pontos do meu roteiro com pista de melhor qualidade até chegar em Couto, mais ou menos após as 19 horas, imaginando que o Pepe já estaria por lá. Para minha surpresa, ele havia enfrentado o mesmo problema que o meu: chuva e poeira pelo caminho.

Antes eu tentei novamente entrar em contato com o Pepe, mas, sem sucesso. Não havia sinal para o meu celular. Pedi então a um rapaz que estava no bar, o celular dele emprestado, uma vez que era da mesma operadora do Pepe. A princípio não consegui com a primeira ligação. Optei por passar-lhe uma mensagem, dizendo que já havia chegado a Couto. Quando estava saindo do bar, o mesmo rapaz me chamou, dizendo que estava recebendo uma ligação do Pepe. No final deu tudo certo, com ele me informando sobre os problemas enfrentados e que logo estaria chegando ao nosso local marcado.

Passados alguns minutos, finalmente nos encontramos. Pelo fato de já ser noite, decidimos procurar um local para dormirmos, para no dia seguinte, tocar rumo a Diamantina, dali para Milho Verde.

Saída da cidade de Couto de Magalhães, local onde eu e o Pepe nos encontramos

No início, quando o meu amigo Pepe Chaves perguntou se alguém topava ir com ele para Milho Verde, um pequeno e aconchegante povoado turístico de Minas Gerais, onde se encontram algumas belas cachoeiras, comida saborosa e pessoas receptivas, como o dono do acampamento, o senhor Ademar e sua esposa Ângela, logo respondi que topava.

Apesar de não ter sido uma resposta definitiva e das dúvidas que pairavam sobre a viagem, pedi um tempo ao Pepe Chaves para poder refletir. Nunca havia encarado antes um percurso tão longo em uma moto de 125 cilindradas. O meu desejo de participar dessa aventura era imenso, porém sempre ficava imaginando o que poderia encontrar pelo caminho. Uma das principais dúvidas era se a moto aguentaria tamanha jornada. Então comecei a buscar freneticamente relatos de pessoas aventureiras, que encararam enormes distâncias munidos de suas pequenas motocicletas. Num desses relatos que encontrei, um me chamou bastante a atenção: a incrível aventura de um professor, percorrendo aproximadamente 4500 km em uma Hunter de 90 cilindradas. À medida que ia lendo tais relatos, minha coragem aumentava na mesma proporção. O medo não era da viagem, era de ficar pelo meio do caminho, que a moto não suportasse tamanho esforço.

Enfim, o amor pela aventura e a natureza acabaram decidindo a seu favor. Um dia antes de partir, arrumei toda a bagagem na traseira da moto. Roupas, colchonete, barraca, material de primeiros socorros e algumas ferramentas. A carga ficou enorme, mas consegui deixar tudo bem preso usando as cordas de elástico, muito úteis para tal eventualidade. Em outra mochila de menor tamanho, apenas material de uso frequente como água, alimento e outros itens essenciais de uso pessoal.

Parada na ponte sobre o rio Jequitinhonha

Coloquei o celular para despertar às 5 horas, porém acabei levantando mais cedo. Tomei um banho, fiz um café, peguei meu material e parti no sábado, dia 26 de dezembro de 2015. Na saída senti um desconforto por causa da mochila nas costas, então mudei de posição, colocando-a em minha frente. Assim ficou mais confortável durante toda a viagem. O resultado disto foi por causa das duas pencas de bananas que coloquei ali dentro. No final nem comi todas. Ao término da viagem, já não eram mais bananas que eu estava carregando.

Ao sair de Vitória da Conquista, Bahia, o sol ainda estava adormecido. Quando cheguei aos limites da cidade com a BR 116, comecei a pensar no tráfego intenso de caminhões. Respirei fundo e fui em frente, tentando manter a tensão sob controle. Graças a Deus tudo correu bem, sem maiores sustos. A pista muito boa, com acostamentos e trechos de faixas adicionais, contribuiu para a minha segurança. Meu olhar não saia do retrovisor por mais do que 10 segundos. Quando eu avistava um caminhão se aproximando, logo jogava a moto para a direita, procurando manter a maior distância lateral possível. Alguns caminhoneiros até buzinavam em sinal de agradecimento, o que retribuía de imediato.

Cheguei a Cândido Sales, uma das cidades cortadas pela BR 116, por volta das seis e meia. Descansei um tempinho, enviei uma mensagem para o amigo Pepe Chaves, informando sobre a minha localização naquele momento. Segui em frente, passando por Divisa Alegre, cidade na Divisa de Minas com Bahia. Fui tocando adiante quando decidi parar para tirar uma foto de uma placa indicando os limites da divisa entre os dois Estados.

Chegada em Diamantina - Parque do Biribiri

Na manhã seguinte, dia 27 de dezembro de 2015, abastecemos as motos e partimos rumo a Diamantina, cidade onde está localizado o Parque do Biribiri. Chegando lá, na entrada da cidade, tiramos fotos das placas indicadoras de localidades. No caminho para Biribiri, encontramos um personagem simpaticíssimo, o senhor Wandir, dono do Bar da Pedra. Simplesmente uma pessoa humilde e muito atenciosa. Conversamos bastante sobre os locais que pretendíamos visitar, tomando um refrigerante para matar a sede, enquanto o ouvíamos falar.

Placa em Diamantina, indicando o caminho para o Parque Biribiri

Pepe e o Senhor Wandir, no Bar da Pedra

Bar da Pedra

Despedimos do senhor Wandir, agradecendo sua gentileza. Logo acima do Bar da Pedra, na porta de entrada do Parque, fomos orientados sobre os procedimentos a serem seguidos durante nossa estadia por lá. Continuamos por uma estrada de terra até a primeira atração, a Cachoeira dos Cristais. Deixamos as motos estacionadas, passamos sobre uma velha ponte de madeira, provavelmente construída pelos escravos, tiramos fotos e aproveitei para tomar um delicioso banho nas águas geladas dos Cristais.

Placa indicando a Cachoeira dos Cristais e a Vila do Biribiri

Ponte de madeira que dá acesso à Cachoeira dos Cristais

Aqui, a Cachoeira dos Cristais

A segunda atração, a Cachoeira da Sentinela, no caminho para a Vila de Biribiri. Passamos um tempo ali tirando fotos e filmando o local. O único ponto negativo foi uma placa indicando área proibida para banho. Indagamos a um turista que estava no local sobre o porquê de aquela placa estar ali, mas ele não soube responder. O Pepe suspeitou que fosse um esgoto, o que foi confirmado mais tarde pelo senhor Wandir, quando retornamos do parque.

Placa indicativa da Cachoeira da Sentinela

Cachoeira da Sentinela no Parque Biribiri

Vila do Biribiri

Fomos em frente, em direção à antiga fábrica de tecidos que operou tempos atrás no local. A tarde já estava se esvaindo e precisávamos encontrar um ponto onde passar a noite acampados. A questão é que todos os locais estavam proibidos de receber acampamentos. Na Vila de Biribiri perguntamos a um morador local se ele sabia de um lugar onde pudéssemos acampar. Segundo ele, não era permitido dentro dos limites do parque, mas que havia um local próximo onde costumava indicar. Não era da sua responsabilidade, porém ele o fazia.

Eu e o Pepe demos uma vasculhada na área. Infelizmente não encontramos um lugar apropriado para armar as barracas. O Pepe sugeriu um lugar onde havia uma areia no leito do rio que passava ao fundo. Achei pouco apropriado, uma vez que poderia chover e a água nos pegar de surpresa. Sem contar o fato de que répteis como cobras costumam ficar naquele tipo de ambiente.

Detalhes da antiga fábrica de tecidos e a Vila de Biribiri

Enfim, concluímos que deveríamos voltar para a Cachoeira dos Cristais e procurar um lugar onde fosse possível firmar acampamento sem chamar a atenção de ninguém. Separamos-nos para agilizar a busca. Encontrei uma pequena trilha que acabava num local perfeito para acampar. Havia até indícios de que alguém já havia montado acampamento ali antes. Mostrei ao Pepe, esperamos que algumas pessoas que estavam na cachoeira fossem embora para não levantar suspeitas. Pegamos nossas motos e escondemos dentro do mato.

A noite se precipitava. Abreviamos a montagem das barracas, pois além da noite, uma chuva poderia cair a qualquer instante. Não tardou para que isto acontecesse. Foi apenas o tempo necessário para deixar tudo pronto. A chuva veio, com intensidade moderada, porém o suficiente para deixar a minha barraca com gotas de água pingando pelo teto. O Pepe também estava com problemas, mas conseguiu resolver colocando um pedaço de sacola plástica e uma camisa sobre o teto da barraca. Segui a ideia dele, conseguindo estancar a goteira, mas o piso ainda ficou molhado. Passei um pano para secar. Só não foi possível acender uma fogueira, ficamos um tempo conversando, em seguida fui dormir.

Local onde armamos as barracas para passar a noite

Saímos do Biribiri na manhã de domingo, dia 28 de dezembro de 2015. Na volta passamos novamente no Bar da Pedra. O senhor Wandir havia preparado um bolo de milho. Eu e o Pepe não havíamos tomado café até então. Aquele bolo simplesmente caiu do céu. Mais uma vez passamos um bom tempo ali. Impossível deixar de ouvir alguém tão agradável quanto o senhor Wandir. Foi difícil, mas tínhamos que seguir caminho.

As cidades da Estrada Real

Paramos em Diamantina onde almoçamos em um pequeno restaurante. Comida boa, barata e à vontade. Tiramos fotos da Catedral e mais construções antigas. A arquitetura da cidade ainda conserva seus ares do passado. As ruas de pedras e as inúmeras ladeiras incomodam tanto quem anda a pé quanto quem anda de carro ou moto. Manter a originalidade da cidade é, sem dúvida, o mais importante.

A imponente Catedral em Diamantina e detalhes de um dos antigos casarões

Após abastecer as motos, partimos rumo ao Serro. Antes de chegar a Serro, paramos em Datas, outra cidade não muito distante de Diamantina, onde tiramos fotos da Igreja local. Ficamos por pouco tempo. No céu as nuvens cinzentas anunciavam a chegada de outra chuva. Ainda bem que não fomos pegos por ela.

Parada em Datas para mais um registro

Chegamos a Serro recebidos pelas cores da noite. Hospedamos no Dormitório Senhora Aparecida, do senhor Eli e dona Neiva. O senhor Eli era marido da dona Neiva. Infelizmente ficamos sabendo que ele havia partido há poucos dias. Mesmo assim a dona Neiva, outro personagem acolhedor da nossa viagem, nos tratou muito bem.

Dona Neiva e Pepe na Pousada Senhora Aparecida

De Serro até Milho Verde, nosso destino final, passamos por algumas placas indicando cachoeiras. Era segunda feira, dia 29 de dezembro de 2015. No entanto a prioridade era procurar logo um lugar para acampar. Sondamos os arredores, consultando os preços até encontrar o acampamento do senhor Ademar. O Pepe foi o responsável por fazer os acordos financeiros. No final o preço ficou bem atrativo para nós dois.

O Ademar é mais um personagem que merece nosso reconhecimento. Tanto ele quanto a sua esposa, Ângela, responsável pelos afazeres culinários. São pessoas que merecem uma visita sempre que possível.

No acampamento barracas de outros visitantes já estavam instaladas. Montamos as nossas e saímos para conhecer as cachoeiras.

O senhor Ademar

Detalhes do acampamento, em Milho Verde

Atrações em Milho Verde

Milho Verde é um vilarejo próprio para quem procura um lugar para viver sossegado. Foi assim que fez o Nelcir, cidadão que saiu de Serro para ir morar lá. O conhecemos por acaso, quando saímos para comer algo à noite, depois de termos visitado as principais cachoeiras locais. A Cachoeira do Moinho, muito bela, mas que estava com pouco volume de água na ocasião. No caminho encontramos uma aranha caranguejeira passeando pela trilha.

A Cachoeira do Carijó, cerca de 1 km da Cachoeira do Moinho, estava com volume de água bem maior. Aproveitei para tomar um banho. O Pepe preferiu não se aventurar, ficando apenas no banho de gato.

Na terça feira, dia 29 de dezembro de 2015, fomos para a Cachoeira do Piolho, aproximadamente 3 km de distância. O Pepe queria ir de moto, mas preferi ir andando para visualizar melhor as redondezas. O sol e o calor estavam ardendo. Acho que o Pepe sentiu o esforço.

Cachoeira do Moinho

Cachoeira do Carijó

Visitante ilustre na trilha da Cachoeira do Moinho

A Cachoeira do Piolho também estava fraquinha com seu volume de água. Apesar das constantes chuvas na região, parecia que os leitos dos rios não haviam recebido água nenhuma. Nada que impedisse um banho sob um chuveiro natural que despencava lá do alto. Foi até melhor do que os banhos anteriores. Era como a sensação de uma chuva forte. O Pepe preferiu nadar no poço que se forma com a queda d´água.

Abaixo detalhes da Cachoeira do Piolho

Retornamos para Milho Verde. No caminho, resolvemos dar uma parada para descansar sob a sombra de uma árvore. O calor estava intenso e a fadiga era grande. Avistamos um carro que se aproximava e pedimos carona. Como de costume, fomos bem recebidos pelo motorista. Assim chegamos mais aliviados a Milho Verde.

Uma breve despedida - Gruta do Salitre

O Pepe pretendia retornar para a cidade de Serro, de onde pegaria estrada para o Pico de Itambé. De acordo com informações de um visitante que estivera antes por lá, o lugar era muito bonito, que valia a pena uma visita. Gostaria de ter ido junto com o meu amigo, mas teria que mudar meus planos. Estava decidido a voltar para Diamantina pelo caminho mais curto. Acertamos nossas pendências com o senhor Ademar e a esposa dele, levantamos acampamento e nos despedimos de Milho Verde. Ali, eu e o Pepe nos separaríamos.

Enquanto o Pepe partia rumo a Serro, fiquei sabendo por intermédio de um cidadão que o caminho mais curto por onde eu retornaria à Diamantina, era estrada de terra. Resolvi de imediato contatar o Pepe, pois eu não estava nem um pouco animado para encarar outros 42 km de chão, apesar de ser mais curto. Mandei-lhe uma mensagem pedindo para que me aguardasse no caminho. No entanto a mensagem chegou tarde. Cheguei a Serro antes dele e fui direto para o dormitório da dona Neiva onde passaria outra noite. Ao sair para tirar fotos, percebi uma moto estacionada em frente a um bar. Ali, estava o Pepe saboreando um salgado. Foi uma surpresa. Reunimos-nos outra vez.

Na quinta feira, dia 31 de dezembro de 2015, peguei a pista de volta à Diamantina. O Pepe seguiria o seu caminho para o Pico. Foi nosso último momento juntos.

Cheguei a Diamantina entre 10 e 11 horas da manhã. Saí a pé para dar uma volta pela cidade e tirar mais umas fotos. Percorri um pedaço do Caminho dos Escravos, andando a pé por cerca de 7 km. De volta à Pousada, lá pelas 16 horas, vi um cartaz sobre a gruta do Salitre. Perguntei ao Jefferson, filho da dona da pousada, se ele sabia algo a respeito. Ele me disse que era estudante de turismo e que já havia visitado a gruta umas três vezes. Disse que o lugar era maravilhoso. Realmente é.

Meu objetivo era ficar mais um dia em Diamantina para conhecer melhor a cidade, conforme havia dito antes ao Pepe. Foi uma pena eu ter ficado sabendo sobre a gruta quando era tarde. No dia seguinte, sexta feira, dia 01 de janeiro de 2016, decidi visitar a famosa gruta, pois o Jefferson havia dito que ficava há uns 9 km de distância. Ia atrasar um pouco o meu retorno para Vitória da Conquista, mas não poderia deixar de conhecer aquele monumento esculpido ao ar livre. No final acabou valendo a pena, pois a gruta é sensacional. Nunca tinha visto algo comparado àquilo. Ao longe o topo da gruta parece um castelo medieval surgindo no meio do mato. Uma arquitetura fantástica produzida pela natureza. Fiquei imaginando a sensação que o Pepe sentiria ao ver aquela magnífica formação.

Deixei a moto no início da entrada. Aparentemente havia outras pessoas na gruta, visto que um carro estava estacionado por ali. Após contemplar a belíssima arquitetura rochosa, fui descendo os degraus de acesso à gruta. Aos poucos a visão deslumbrante da entrada foi ficando ainda mais impressionante. Uma senhora aguardava sentada em uma pedra, o pessoal que havia entrado há pouco. Apressei os passos para poder alcança-los, porém eles já estavam retornando.

Não consegui localizar um ponto de entrada para o interior da gruta. O Jefferson me dissera antes que o acesso era por uma fenda estreita, que existia um desnível o qual era possível descer apenas usando cordas. Sondei o máximo que o meu tempo permitiu. Em certas partes localizei algumas fendas. Talvez a entrada fosse por uma delas. O bom senso falou mais alto e preferi não me arriscar. Entrar em uma gruta desconhecida, sem equipamentos adequados é suicídio. Para mim já bastava apenas a sensação de estar ali, contemplando aquela obra prima erguida provavelmente em uma era quando a região vivia sob os domínios dos mares.

Imagens da Gruta do Salitre

Aquele foi meu último atrativo. Foi rápido, porém de grande valia. Estar em contato com a natureza, apreciando o som das cachoeiras, a melodia dos pássaros e o abraço do vento, é uma energia que revigora a nossa alma.

Dedico tudo isto às pessoas acolhedoras e inesquecíveis por onde passamos, ao amigo Pepe Chaves em especial, agradecendo a Deus por tudo ter corrido bem no começo, durante e no término dessa esplendorosa viagem no tempo. Viajar por esses lugares é voltar no tempo, conhecendo pessoas que nunca vimos, que jamais veremos neste mundo. Graças a elas pudemos apreciar construções surgidas em épocas marcadas pela busca frenética dos diamantes. Muitos diamantes ainda estão por serem descobertos, mas é melhor que eles continuem em seus locais de origem. A riqueza está dentro de cada um de nós. Um diamante é belo e fascina, então seja como um diamante.

Quem ama a natureza e aventura não deve ter medo de encarar os obstáculos. A poeira, a chuva, são partes dela. Até a próxima.

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Al Avec