Aventura
Viver é uma aventura
Viver é uma aventura
De 26 de dezembro de 2018 a 30 de janeiro de 2019
Os primeiros sinais das montanhas da Chapada Diamantina despontam ao longe, no horizonte. Paisagens planas, protegidas por imensos paredões de rocha calcária.
Visualizadas de dentro do automóvel, percorrendo trechos retos que somem no infinito. A imaginação flui, quase como um sonho, contemplando aquelas paisagens, imaginando os mistérios que poderiam estar escondidos ali.
Naquele momento dá vontade de ter asas. Alçar voo de dentro do carro até alcançar todas aquelas paisagens, revelando lá do alto todo o esplendor da natureza.
Me perco em meus devaneios, fixando o olhar num ponto qualquer. Uma casinha distante, aparentemente abandonada. Teria algum habitante por ali? Pergunto-me.
Assim é a sensação que inunda a minha alma sempre que visito esse lugar. Poderia ser a milésima vez, mas em todas elas é como se fosse apenas a primeira.
Ao chegar nas cidades mais conhecidas fica difícil distinguir os nativos da imensa massa de turistas, vindos de todos os cantos do país e também do exterior. Pessoas que estão apenas de passagem, outras que se estabeleceram no local.
Depois de um longo dia de caminhadas pelas trilhas que levam às principais cachoeiras, à noite as pessoas se aglomeram nas diversas opções gastronômicas que a cidade de Mucugê oferece. Um caldo bem quentinho, um sorvete geladinho ou uma bebida na porta de um dos diversos bares e restaurantes.
Ainda na cidade de Mucugê é possível visitar um pequeno museu onde há um número considerável de peças antigas. Boa parte do material foi adquirido através de doações. São máquinas, instrumentos musicais, móveis e utensílios domésticos, objetos pessoais e vários outros itens interessantes.
Quatro anos atrás, em minha primeira visita à cidade, fazer imagens dos objetos que compunham o acervo do museu era proibido. Hoje essa proibição não existe mais.
Nas paredes encontram-se quadros das antigas personalidades da cidade e do Brasil. São garimpeiros, cidadãos ilustres, músicos, coronéis e poetas.
Dentre as cidades a que se destaca bem nesse quesito é Mucugê. Em Ibicoara as atrações estão voltadas para a Cachoeira do Buracão e da Fumacinha. Esta última estava no roteiro, porém, depois de uma cansativa jornada de 28 quilômetros de carro e mais 3 de caminhada, apenas de ida rumo ao Buracão, foi decidido ficar para a próxima visita.
O caminho para chegar à cachoeira lembra as corridas do rali Paris Dakar. Muita poeira pelo caminho, pedras, buracos, riachos e cascalho. Nos aclives, algumas vezes era difícil subir. Os cascalhos soltos no caminho faziam as rodas do automóvel patinarem.
Com muita habilidade no volante, em um carro não apropriado para os obstáculos da Chapada, o primo Otoniel saiu-se muito bem. Foi uma aventura nova, inesquecível, como ele mesmo disse.
O Buracão é uma cachoeira fantástica. Do alto é possível tirar belas imagens. O entusiasmo foi tanto que o meu celular acabou pulando para dentro do poço.
Após uma filmagem coloquei o celular no bolso da bermuda que estava furado. Quando me abaixei para procurar outro ângulo, percebi algo caindo do bolso. Foi quicando nas pedras e eu acompanhando com o olhar, na esperança que batesse em algo e parasse.
Não deu. Mergulhou para as profundezas do Buracão. Dezenas de imagens da Gruta da Mangabeira, em Ituaçu, se foram junto com o celular. Pelo menos estava com uma máquina reserva para servir de consolo.
A cidade de Ituaçu estava no roteiro. A primeira atração da viagem foi a Gruta da Mangabeira, citada anteriormente em outras aventuras pela região. Difícil esquecer a primeira aventura naquele lugar anos atrás.
Existem outras atrações na Chapada Diamantina além dos imensos paredões com suas cachoeiras imponentes. Há também a fauna e a flora. Tristemente é raro visualizar algum animal de maior porte pelas matas que ainda restam.
No decorrer das caminhadas alguns répteis escalam as pedras com habilidade. Algumas espécies de flores e plantas vão surgindo pelo caminho. Os insetos menores e os grandes besouros da região, vi apenas expostos no Projeto Sempre Viva, em Mucugê. Tudo capturado pelas lentes da minha máquina.
No Museu do Garimpo, ainda em Mucugê, estão expostas algumas réplicas de diamantes e uma pedra verdadeira, além de mais maquinário antigo utilizado da extração e comercialização dos minerais.
Depois de Mucugê subimos mais um pouco até a pequena Igatu, encravada no meio das montanhas. Para chegar é preciso passar por uma estreita estrada de terra bem maltratada pelo tempo. Visitamos o Morro do Cruzeiro, as ruínas da cidade e mais uma trilha que levava a uma pequena cachoeira ali por perto.
À tarde retornamos para Mucugê. No dia seguinte estávamos voltando para casa. Foram 5 dias bem proveitosos, fazendo trilhas, degustando a comida local e apreciando os encantos da natureza que somente a Chapada Diamantina poderia proporcionar.
* * *
Aventura em Mucugê - 19/04/2014
"Andar pelas montanhas nos faz sentir uma espécie de hipnotismo, uma oportunidade que somente a natureza poderia nos proporcionar".
As inúmeras montanhas que formam a Chapada Diamantina escondem lindas cachoeiras, além de diversas espécies de plantas nativas da região que servem para completar as belezas do lugar. As águas negras que brotam das rochas serpenteiam entre os paredões dos canyons. O escuro das águas provoca uma certa sensação de medo e de receio, pois é difícil saber se o lugar é fundo ou raso. Apenas entrando dentro d'água. Às vezes é possível ficar em pé em cima de uma rocha sob a água. Em determinados locais mais profundos, os pés não tocam o chão. Isto provoca um certo temor, uma sensação desagradável. Imagina-se que a qualquer momento alguma criatura existente no fundo das águas negras vão te atacar. Mesmo estando acompanhado é quase impossível não se sentir amedrontado.
Depois de quilômetros de caminhada pelas trilhas da Chapada sob o sol ardente, ouve-se aquele barulho típico da água caindo das rochas. É uma deliciosa cachoeira. Ora passando por lugares íngremes, com subidas exaustivas e incontáveis rochas pelo caminho, ora passando por trilhas bem planas. A satisfação de visualizar uma queda d'água vale a pena o esforço. Melhor ainda quando o calor do corpo, banhado pelo suor, é substituído por um banho nas águas escuras e geladas da Chapada.
Cachoeira do Piabinha
Aquele negro das águas passa a impressão de que existe um enorme buraco no fundo. De fato alguns lugares são muito perigosos devido à profundidade. Uma correnteza passando por baixo das rochas pode oferecer um enorme risco. Mesmo com o auxílio de um guia, saber se não existe uma passagem de água em algum ponto embaixo das rochas é meio duvidoso. O melhor mesmo é não se afastar, não se arriscar. As rochas são escorregadias e cortantes. Qualquer passo em falso pode ser fatal.
Turistas se banhando na Cachoeira do Piabinha
Após longa caminhada sob o sol escaldante, é hora de renovar as energias nas águas negras e geladas da Chapada. Uma linda cachoeira escorrendo por entre gigantescos blocos de pedras é o ponto de parada obrigatória. A poucos centímetros da superfície as pedras adquirem uma tonalidade alaranjada. Uma piscina natural completa o cenário.
Aos poucos o medo de entrar na água vai cedendo lugar ao desejo de um gostoso banho ao ar livre. De braçada em braçada até o meio da piscina natural, indo até o local onde a cachoeira escorre como um grande chuveiro fabricado pela natureza.
A lenda fala da existência de uma criatura que habita as água negras da Chapada, é o Negro D'água. Enquanto andava pelas ruas da cidade de Mucugê, passei em frente a um museu, onde são expostos objetos pertencentes aos antigos habitantes da cidade. Alguns, inclusive, já foram usados por meus pais como o velho ferro à brasa, muito usado naquela época para passar roupas. E o fole, utensílio que era usado para avivar o fogo. Além desses objetos, vários outros artefatos interessantes compunham o mostruário de antiguidades. Quadros de famílias e moradores do passado da região. Infelizmente é proibido fotografar o acervo.
A Tia Val, uma senhora de pele escura, muito simpática, atenciosa e bem humorada, que toma conta do pequeno museu foi quem me contou sobre o Negro D'água. Estava fazendo meu registro no livro de visitantes quando a ouvi mencionando este nome a uma turista que estava no local. Pedi que ela aguardasse um instante, pois estava interessado em saber.
O Negro D'água é uma criatura que vive nos riachos da Chapada. Ele não tem olhos, nem boca, nem ouvidos, mas possui braços e pernas como um ser humano. Ele ataca as pessoas que se arriscam nas águas escuras e as arrastam para o fundo. É tão preto como as próprias águas dos riachos. Segundo Tia Val, os garimpeiros do passado da região já avistaram a criatura. Ela disse que não gosta de contar para não assustar os turistas, mas conta assim mesmo. Sorte minha que só fiquei sabendo quando já estava vindo embora.
Além dessa lenda, Tia Val ainda me falou sobre Téu, um morador que se transformava em lobisomem. E ainda contou sobre Dona Otília, moradora do garimpo, filha de Rufino, que presenciou a história de um lobisomem que teria devorado um menino. Rufino foi quem notou os fiapos de roupas do menino nos dentes da fera, enquanto o lobisomem, já no seu estado humano, dormia embaixo de uma árvore.
Me despedi da Tia Val, apesar de querer continuar com aquela conversa, de preferência até o dia raiar. Difícil não simpatizar com tão receptiva criatura humana. Como estava um pouco cansado devido às caminhadas durante o dia inteiro - das nove horas da manhã até às dezessete horas -, voltei ao lugar de hospedagem para descansar e preparar-me para deixar a cidade no dia seguinte.
Uma surpresa desagradável ao chegar em Mucugê foi a falta de um lugar para hospedagem. Um atraso de três horas me fez chegar na cidade quando já passavam das vinte e uma horas. Um pneu estourado do ônibus já quase na entrada da cidade de Ituaçu foi a causa do atraso.
Com o feriadão da Semana Santa, a cidade estava lotada de turistas, estrangeiros e brasileiros. As pousadas e hotéis estavam sem vagas. Perambulei pelas ruas durante alguns minutos à procura de um lugar já preocupado com a possibilidade de passar a noite ao relento. Finalmente encontrei um lugar com a ajuda de uma moradora que me indicou uma acomodação com aluguel de quartos. A noite estava salva. O lugar é conhecido como a pensão do Gordo, um senhor de baixa estatura, muito gentil e atencioso.
Na manhã de sábado meu pensamento era colocar o pé na estrada, percorrer o maior número possível de trilhas. Os guias me orientaram que eu poderia correr o risco de me perder andando sozinho, mas não encontrei muitas dificuldades, procurando ficar o menos afastado possível. Pedindo informações aos moradores da cidade, peguei o asfalto e me embrenhei na primeira trilha que encontrei, sempre seguindo os rastros para não me perder. Se alguém passou por ali, então deveria ter alguma coisa à frente.
Um pouco mais adiante deparei-me com um senhor que estava enchendo um carrinho de areia. Perguntei se havia alguma cachoeira por perto. Ele me disse que andando cerca de um quilômetro mais para frente eu poderia encontrar uma. Continuei seguindo, agora por uma trilha bem mais estreita. Não tardou a ouvir o barulho da água batendo nas pedras. Não era bem o que se pode chamar de cachoeira, apenas uma pequena cascata. Pelo visto não chovia na região há algum tempo, pois todas as cachoeiras estavam com o volume de água bem abaixo do normal.
De volta ao asfalto, passei pelo museu do garimpo, localizado perto de outro ponto turístico chamado Sempre Viva, nome de uma planta da região que, após anos de exportação para Estados Unidos, Japão e Europa, tornou-se uma espécie rara. O Sempre Viva foi projetado mesclando arquitetura humana e a que foi produzida pela própria natureza. O resultado ficou interessante, apesar de que, gosto das coisas em seu estado natural, sem interferência humana. O objetivo é apenas a exploração turística.
Museu Sempre Viva
A Cachoeira do Piabinha e a Cachoeira do Tiburtino compõem as outras atrações turísticas do Sempre Viva. Ambas são de acesso bem fácil. Estes foram o meu roteiro no primeiro dia de caminhada.
No domingo juntei-me a outros turistas para conhecermos outros pontos mais distantes. Parte do percurso feito de carro, primeiro pelo asfalto, depois um pequeno trecho de estrada de terra. O resto do caminho só é possível percorrer a pé por uma trilha que dá acesso à cachoeira das Sete Quedas.
O obstáculo mais difícil nessa caminhada foi um trecho com aclive bem acentuado, pois é preciso subir uma montanha. Os quilômetros restantes da trilha até a cachoeira é mais suave, passando por pontos onde os garimpeiros costumavam acampar, aproveitando os tetos naturais das rochas.
As Sete Quedas são um conjunto de de sete pequenas cachoeiras em sequência. Para se chegar às demais quedas, somente passando pelas beiradas do rio e por dentro da água, escalando rochas. Como o rio estava baixo, seguir adiante não foi tão difícil. Esta é a última parte da aventura por Mucugê, o resto já foi contado. Tudo isto regado com o bom humor do nosso guia, o Petrônio, vulgo Pety Lovy, segundo ele.
Cachoeira das 7 Quedas
Durante a caminhada, pare por algum instante. Ouça o silêncio. Sinta a brisa batendo suave em seu rosto. Aprecie as belas paisagens que te rodeia. Deixe que a presença daquela força te domine. Você sentirá um desejo enorme de permanecer ali para sempre, parado, contemplando as maravilhas da natureza. Outras imagens da Chapada abaixo.
Até a próxima.
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A Gruta de Ituaçu e suas lendas - 09/02/2011
"Andar pelas montanhas nos faz sentir uma espécie de hipnotismo, uma oportunidade que somente a natureza poderia nos oferecer".
Fazia bastante tempo desde a última vez que andei pelas belezas da Chapada. A saudade era imensa, e não pude desperdiçar a oportunidade de voltar a fazer o que gosto este ano. Diferente de outras páginas, nesta eu não vou escrever muito, pois talvez as imagens digam por si só tudo aquilo que eu gostaria de transmitir.
Nesta imagem apresento o caminho para a entrada da Gruta da Mangabeira, em Ituaçu, local que eu já havia visitado anos atrás. Algumas coisas mudaram. Agora existem mais guias. Foi criado um centro de informações para os turistas e há pelo menos duas pousadas com um certo conforto e um preço bem em conta para quem desejar passear pelo local.
Da cidade de Ituaçu até a Gruta são pelo menos quatro quilômetros de distância. A estrada é asfaltada. Até a parte onde segundo a lenda o vaqueiro que conduzia o gado caiu, descobrindo assim a caverna, é possível entrar e voltar sozinho sem a ajuda de um guia. Mesmo assim é um pouco confuso para quem está fazendo isso pela primeira vez. Eu mesmo fiquei meio perdido ao entrar sozinho no local. Nunca se aventure de maneira alguma em uma caverna sem ter o conhecimento necessário, pois se perder é a coisa mais fácil do mundo.
Esta é uma das escadarias que dá acesso ao interior da gruta. Antes não existiam esses ferros em formato de coração. Não contei os degraus, mas deve ser algo em torno de cem. É bom ter bom preparo físico para subir depois.
A foto saiu um pouco desfocada, coisa de fotógrafo amador.
Logo abaixo, a escadaria principal, bem mais definida, onde podemos notar uma parte da igrejinha lá no fundo. A quantidade de degraus é praticamente a mesma da entrada anterior para chegar ao salão. Repare que as duas escadarias são bem parecidas.
No mês de setembro muitos romeiros visitam a gruta. Segundo um dos guias locais, a demanda de gente é tão grande que eles não conseguem dar conta do trabalho.
Enquanto eu apreciava a arquitetura da gruta a máquina se preparava para disparar o automático. Apesar de ser final de tarde, o calor estava bem forte.
Uma dica para os marinheiros de primeira viagem é levar bastante água. Pessoas que perdem bastante líquido assim como eu precisam de bastante água para repor e hidratar o corpo. Mesmo assim eu quase não bebo água. Sou como os camelos.
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De cima para baixo, o salão (1) e a entrada principal da gruta, vista de baixo (2). Na terceira foto (3), outra entrada não utilizada. Somente pelas escadarias é possível descer. Quem quiser se aventurar pode tentar descer pelo local sem escadas.
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Ainda na parte inicial da gruta, o desenho do Sagrado Sagrado Coração de Jesus com um pequeno presépio ao fundo (4) e a igrejinha (5).
Agora vamos nos aprofundar um pouco mais. Nas imagens seguintes podemos notar o buraco (6 e 7), onde reza a lenda, um vaqueiro ao conduzir o gado acabou caindo e descobrindo acidentalmente a gruta.
Apelando para o Sagrado Coração de Jesus - nome que deu origem ao lugar-, o vaqueiro conseguiu encontrar a saída. Com a ajuda da população dos arredores, conseguiu também salvar os animais que caíram junto com ele.
No local há uma homenagem representada por uma cruz de madeira com alguns dos pertences do vaqueiro pendurados nela (8). Apenas o chapéu não está lá. Foi levado por visitantes. Aliás, a gruta sofreu muita depredação nos últimos anos. Muitos visitantes quebram as formações, que demoraram centenas de milhares de anos para se formarem, para levar para casa como lembrança.
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Desse local onde caiu o vaqueiro em diante, a gruta é fechada, só permitindo o acesso com o auxílio de um guia. A iluminação, apesar de antiga, é boa até certo ponto. Existem muitas lâmpadas queimadas. Apesar de tudo é bom que fique assim, evitando tirar a naturalidade das formações. A parte onde não existe luz artificial é mais interessante. Podemos perceber de verdade qual a sensação de estar no interior da terra.
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Selecionei uma sequência de imagens que achei mais interessante. Na primeira foto (9), o encontro de uma estalactite (de cima para baixo) com uma estalagmite (de baixo para cima) formando uma coluna muito bonita. Na imagem do meio (10), "Os Coqueiros de Pedra". Na terceira imagem (11), a "Torre de Pisa" (este nome eu que inventei).
Seguindo mais para o interior da gruta vamos descobrindo mais formações naturais como a da "boca do tubarão" (12). Eu achei que se parece mais com a boca de um jacaré. A árvore petrificada (13) e a estalagmite com "focinho de foca" (14).
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Após percorrer os três quilômetros e meio de gruta, finalmente chegamos à saída. A subida é através de uma escadaria bem íngreme com dezenas de degraus.
A escadaria (15), o Morro do Chapéu (16) e o Morro do Ouro (17). Aqui termina minha passagem pela cidade de Ituaçu. Agora vamos um pouco mais adiante.
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As paisagens de Ibicoara. Trilhas, montanhas e cachoeiras - 11/02/2011
Depois de Ituaçu, passando por Barra da Estiva, cheguei à cidade de Ibicoara. Um dia para conhecer tanta beleza é pouco, principalmente porque os locais de acesso são bem longe. É preciso ter bastante tempo e um pouco de dinheiro no bolso. Sem a ajuda de um guia ou de alguém conhecido para levar a esses locais, fica difícil, além de ser preciso desembolsar uma graninha. Fora de época, como foi o meu caso, é possível encontrar pousadas com um preço bem acessível. Na verdade eu gosto mesmo é de me aventurar pelo mato da maneira mais rústica possível. Como eu estava sozinho, o jeito foi alugar um quarto com televisão e banheiro.
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De Ituaçu a Ibicoara o percurso é feito em uma hora mais ou menos, de ônibus. No intervalo dessa viagem é possível ir apreciando as belas paisagens. Isto é Chapada. Detalhes ao fundo das montanhas, na cidade de Barra da Estiva. As fotos foram tiradas de dentro do ônibus em movimento (18, 19, 20).
Para visitar os pontos turísticos de Ibicoara o ideal é sempre ir em grupos, pois as despesas com os guias podem ser divididas. Quanto mais gente, mais barato fica. Como eu estava sozinho, o jeito foi aguardar mais algum visitante. Voltei à pousada onde estava, peguei minha mochila e logo quando fui chegando encontrei um casal que estava indo para a Cachoeira do Buracão. Me juntei a eles e partimos pela manhã. Seguimos de carro cerca de vinte e cinco quilômetros de estrada de chão. O Resto do caminho, uns oito quilômetros, percorridos a pé por uma trilha beirando o rio. Confira nas imagens seguintes as belas paisagens da cachoeira (21, 22, 23). Em certos pontos eu me senti dentro do filme Jurassic Park, em outras, no de Indiana Jones (rs).
O acesso à cachoeira possui descidas muito íngremes. De cima das pedras a visão é espantosa, mas é preciso ter um certo cuidado, pois uma queda poderia ocasionar consequências desagradáveis. Não é aconselhável se aproximar muito da beira. Nas primeiras imagens, a Cachoeira do Buraquinho e a Cachoeira do Buracão. A água é totalmente preta, o que dá um certo medo. Na superfície da água, o tom da pele fica alaranjado.
Agora arrume as malas e boa viagem.
Até a próxima.
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Os fascinantes caminhos do mundo subterrâneo
"Alguns acontecimentos em nossas vidas tornam-se marcantes, um deles foi essa incrível aventura que jamais posso esquecer".
A VIAGEM - Este é um pequeno trecho de uma história verdadeira pela qual passamos eu, meu irmão Gilberto e nosso primo Fábio no mês de junho do ano de 1986. Tinha acabado de chegar do trabalho, quando meu irmão me perguntou se queria ir com ele a uma caverna. Na época eu ainda sabia pouco sobre o assunto, apesar de sempre ter gostado da natureza. Como sou louco por aventuras e viagens, respondi imediatamente que ia. Convidamos nosso primo também, pois ele sempre fez parte das nossas viagens aqui por perto, além de ser um bom sujeito. No detalhe, foto de Ibicoara-Bahia, cidade situada na região da Chapada Diamantina. O efeito do céu foi alterado eletronicamente para dar um visual mais bonito ao lugar. A foto foi tirada do alto de uma montanha. Lá embaixo, no meio da clareira, dá para notar o tamanho que ficou a caminhonete vista do alto da montanha. O lugar é uma extensa planície rodeada por montanhas. Segundo uma moradora da cidade, o local constitui um imenso sítio arqueológico. Leia essa aventura na página seguinte.
Era sábado à tarde. Preparamos nossas mochilas com algum material básico para higiene pessoal e lanternas para usarmos no interior da caverna. O Gilberto carregava uma pequena máquina fotográfica com a qual foi possível tirar as fotos aqui mostradas. Eu e o Fábio chegamos ao ponto, onde pegaríamos o ônibus para a cidade de Ituaçu, local onde fica a caverna, cerca de 115 km da nossa cidade, Vitória da Conquista, Bahia. Avistamos o Gilberto com o ar um pouco preocupado, talvez imaginando que não fôssemos, devido à nossa demora para chegarmos ao local do embarque.
- Pensei que não viessem mais! - Disse ele.
- Culpa do Fábio, sabe como ele é enrolado, né? - Respondi.
Fábio deixou a motoca na casa de um colega dele, que morava ali por perto. Depois de um pouco de espera, pegamos o transporte, mais ou menos umas 2 horas da tarde de sábado. A viagem seguia tranqüila por uma estrada de terra, até determinado trecho, onde deparamos com um carro enguiçado, obstruindo a passagem do nosso ônibus. Tivemos que descer e dar uma força. Isto levou um pouco de tempo. Resolvido o problema, o restante da viagem seguiu sem maiores conseqüências.
O DESTINO - Chegamos em Ituaçu à noitinha. Descemos na beira da estrada, enquanto o motorista seguia viagem. Uma fina neblina cobria a cidade naquele instante, típico desta época do ano por aqui. Andamos alguns metros, onde avistamos uma pracinha. Ali havia um punhado de gente comemorando as festas juninas. Fábio foi logo nos chamando para entrarmos no "bolo", porém o Gilberto achou melhor procurarmos um local para passarmos a noite. Havia um hotel por perto, mas o preço era um pouco salgado para as nossas economias no momento. Rodamos alguns minutos à procura de outro lugar mais barato. No entanto, aquele parecia ser o único hotel da cidade. Resolvemos, então, ir direto para a caverna. Perguntamos a uma senhora que passava por perto qual o caminho deveríamos tomar para chegarmos até lá. Cambaleando, possivelmente pelo efeito do álcool, a senhora nos orientou o caminho a seguir. Seguimos por uma estradinha, iluminando com nossas lanternas. Mais adiante, paramos novamente, pois ficamos na dúvida por onde ir.
- Droga! Acho que aquela velha enganou a gente. Também, com aquele bafo de cachaça, tinha era que ensinar o caminho errado mesmo. Olha, lá na frente tem umas luzes. Será que a caverna fica lá? - Perguntou Fábio.
- Ela disse que ficava a uns 4km. Melhor a gente perguntar naquelas casas ali! - Falei.
- Vamos, então! - Confirmou o Gilberto.
Ao nos aproximarmos das casas, os cachorros começaram a latir.
- Vão pensar que somos ladrões! - Disse.
- Ih! É mesmo! - Preocupou-se Gilberto.
- Olha, tá vindo alguém, "Gil"!
Um homem abriu a porta, com um semblante de surpresa. Sem temer qualquer coisa, nos cumprimentou, o qual respondemos educadamente. Dissemos que estávamos indo para a caverna. Perguntamos como faríamos para chegar lá.
Depois das orientações, voltamos para a estrada e seguimos por uma trilha estreita, onde dava para passar somente uma pessoa de cada vez. Os matos estavam molhados pelo orvalho. Gilberto ia na frente, iluminando o caminho com sua lanterninha de pilha, o Fábio logo atrás e eu no final. Mais adiante nossos sapatos começaram a fazer um barulho peculiar, tipo quando se pisa num lamaçal. Parecia um brejo. Estava escuro, mas dava para ouvir o canto dos sapos. Naquele momento deveria ser umas 10 horas ou mais da noite. Nós já estávamos com muita fome e cansados de tanto andar. Para confirmar minhas suspeitas, de repente nossos sapatos se encheram de água e lama. Era um brejo mesmo, e estávamos indo bem pro meio dele.
- Caramba! Bem que reparei que tinha alguma coisa errada. O homem lá falou pra gente ir pra esquerda e não pra direita. Agora vamos ter de voltar e pegar o caminho certo de novo - Gritei.
- É, Fábio, o Alberto tem razão, vamos ter de voltar mesmo. Por aqui não vai dar.
- Que nada, moço! Já estamos pertinho. Olha as luzes lá do outro lado - Insistiu o Fábio, com água e lama até a altura do joelho.
- Que droga, Fábio! Não tá vendo que por aí não vai dar? Vou voltar! Se você quiser vai sozinho - Gritei de novo, dando alguns passos para trás. Como estava sem lanterna, parei no meio do caminho. O céu estava nublado, sem lua. A escuridão era tanta que não dava para ver quase nada à frente do nariz. Fiquei com receio que alguma cobra aparecesse. O local onde estávamos era bem apropriado para esses répteis que saem durante à noite à procura de alimento, o que foi confirmado mais tarde. Nisso, o Gilberto apareceu, iluminando a passagem com sua lanterninha. Fiquei mais calmo e o segui. O Fábio também desistiu, saindo do alagadiço. Finalmente, após horas de tentativas, conseguimos encontrar o caminho certo.
Chegamos a uma pequena vilazinha. Parecia que todos já estavam dormindo, pois não avistamos ninguém por perto. Nossas calças estavam cobertas de lama do joelho para baixo. E agora, onde iríamos ficar? Já estava preocupado com a possibilidade de passarmos a noite na rua quando, para nosso alívio, apareceu alguém. Perguntamos aonde tinha um lugar para dormirmos.
- Tem a casa do "seu Joaquim" ali, ó! Ele é gente boa. Pode ir lá que ele arruma um lugar para vocês - Disse o rapaz, com seu sotaque caipira.
- Esta hora ele deve estar dormindo. Será que poderia chamar ele pra gente? - Perguntamos.
Então o rapaz nos levou até lá, em seguida chamou o seu Joaquim. Um senhor ainda com ar de sono, de quem acabara de levantar-se, nos recebeu muito bondosamente. O rapaz nos deixou lá, agradecemos, e ele se retirou. Após as apresentações e de ter relatado o que nos aconteceu, tomamos um banho, num banheiro modesto, fizemos uma refeição e fomos dormir. Antes, o Gilberto nos chamou para irmos para a caverna, mas achamos melhor deixarmos para o dia seguinte.
Os fascinantes caminhos do mundo subterrâneo
A CAVERNA, o mundo subterrâneo - no dia seguinte acordamos cedo e tomamos um café antes de irmos conhecer a caverna. O Gilberto já tinha acordado. Estava conversando com um rapazinho franzino de 15 anos.
- Este é Genival, filho do seu Joaquim. Ele é o guia aqui da caverna e vai levar a gente lá - Falou.
O Geninho, modo como apelidamos ele, conhecia a caverna como ninguém. Estava bastante acostumado a conduzir os visitantes de outras localidades ao interior da caverna. Era mais uma fonte de renda extra para aquela família humilde e acolhedora, além da singela pensão.
Romeiros e turistas
Á noite, quando chegamos, o seu Joaquim havia contado uma história sobre a caverna antes de irmos dormir. Segundo a lenda da cidade, durante uma perseguição de um vaqueiro a um boi desgarrado, o cavalo caiu dentro de um buraco (mais tarde avistamos esse buraco no interior da gruta). Com medo de ficar preso para sempre no local e morrer, o pobre homem orou para o "Sagrado Coração de Jesus" e foi salvo. A partir de então, foi criada uma pequena capela logo no início da entrada da gruta (veja a foto acima) onde vários romeiros vão pagar suas promessas e fazer orações em busca de milagres.
Entrada da gruta
A entrada da Gruta da Mangabeira (nome da caverna. Foto Gilberto), tem mais ou menos uns 20 metros de largura por 10 de altura. Não me lembro bem, pois já faz bastante tempo. As fotos que tinha do local se perderam. Para se chegar ao interior, é preciso descer uns 90 degraus. Sua extensão total é de 3km e meio.
A primeira visão da entrada me deixou deslumbrado. Nunca tinha visto algo tão bonito em minha vida, e assustador ao mesmo tempo. O Geninho seguia à frente, mostrando os detalhes, como um profundo conhecedor da gruta. Demoramos um pouco na entrada, pois queríamos conhecer o maior número de detalhes possível. Em cada brechinha a gente dava uma olhada para ver aonde ia dar. Após conhecermos milimetricamente a entrada, iniciamos nossa jornada ao interior da caverna. O Geninho seguia sempre à frente nos mostrando os espeleotemas (figuras que se formam no interior da gruta). Ele apontava uma forma e nos perguntava o que representava.
- O que é aquele negócio ali? - Perguntava.
- É um disco! - Respondi.
- É uma mesa! - Respondeu Gilberto.
O Fábio, sem chance de completar sua resposta, disse apenas um "É..."
- É a "Mesa da Santa Ceia!" - Confirmou o Geninho.
Estalagmites
Depois das brincadeiras com os espeleotemas, seguimos adiante. Paramos num lugar cheio de estalagmites (colunas que se formam de baixo para cima. Veja foto). Tiramos mais fotos. Em determinado trecho, o Fábio escorregou em cima de um monte de terra e saiu rolando até embaixo. Nós quase nos acabamos de tanto rir. Em outro local, o Gilberto deixou o óculos cair dentro de um buraco, ao fazer uma pose para a foto. Mas para sua sorte, conseguiu recuperar. Veja a foto abaixo. Da esquerda para a direita: Fábio, Gilberto e eu. O Fábio subiu num ponto mais elevado para parecer mais alto. Ele tem a minha altura, 1,70 cm.
Interior da caverna
Da entrada até o meio da gruta mais ou menos, havia iluminação, pelo menos naquela época. Atualmente não sei como está. Da metade para frente era tudo escuro. O Geninho levava um lampião. As lanternas do Gilberto e do Fábio davam para iluminar pouquinho, quase nada. Quanto mais aprofundávamos nossa caminhada pelo interior da caverna, mais abafado ia ficando, devido à falta de circulação do ar. Ficava um pouco difícil de respirar também. Resolvi tirar minha camisa. O Fábio e o Gilberto fizeram o mesmo. Paramos um pouco e tiramos mais uma foto, os 3 juntos, fazendo pose de super-herói. O Geninho ficou impressionado comigo e disse:
- Ele é cheio de músculos!
Daquele momento em diante ele me apelidou de o "musculoso", passando a me chamar assim durante todo o tempo em que estivemos juntos naquela aventura. Entregou-me o lampião para carregar durante o resto do percurso.
Já estávamos na metade da gruta - Essa era a parte mais difícil, pois havia chovido a poucos dias e o chão estava molhado e escorregadio, tanto que, ao passar por um trecho mais inclinado, escorreguei em uma pedra e bati com o lampião nela, tentando me apoiar. A bucha do lampião quase se solta com o impacto. Ainda bem que deu para continuar até o final. Mais adiante tivemos de passar por dentro de um pequeno rio que corta o meio da gruta. Na verdade era apenas um curso de água. Sem sabermos se era fundo ou não, nós não arriscamos e resolvemos saltar, pois não era muito largo. Um de cada vez, tomamos impulso, dando alguns passos para trás, corremos e saltamos. O espaço era bem estreito para tomar impulso suficiente, assim, batemos com os pés nos limites da margem lamacenta. Ao chegar a minha vez, tive maiores dificuldades, por estar carregando o lampião. Mesmo assim consegui saltar o suficiente para não cair dentro da água, apoiando o lampião de maneira que não soltasse a bucha, único meio de iluminação àquela altura. As lanternas estavam com as pilhas fracas, não dando para iluminar quase nada, e não tínhamos outras de reserva para repor. Nossa água também tinha acabado, nos fazendo parar algumas vezes para bebermos da água que escorria por entre as formações calcárias. De vez em quando apagávamos a luz do lampião, ficando no escuro total, em silêncio. Um surto de medo e êxtase se mesclavam em meus pensamentos, imaginando que o mesmo ocorria com o Fábio e o Gilberto.
Já fazia um bom tempo desde que entramos na gruta. Entramos pela manhã e só fomos sair à tarde. Ao chegarmos perto da pensão do seu Joaquim, ele já estava pronto para ir nos procurar, preocupado com nossa demora.
Na pensão, um bom almoço estava servido à mesa. Comi feito um boi, quase passando mal.
O resto do dia de domingo nós descansamos, contando os momentos que havíamos passado.
A VOLTA - MAIS AVENTURA - Acordamos de madrugada, ainda bastante escuro. Pagamos o seu Joaquim e Dona Dazinha (sua esposa), agradecemos a boa hospedagem e saímos. Ao passarmos perto de uns matos, escutamos alguma coisa vindo de lá. Quando aproximamos para verificar o que era, a "coisa" soltou um rosnado. Saímos em disparada, sem olhar para trás. Eu saltei por cima da cerca de arames farpados, rasgando um pouco a minha calça acima do joelho. O Gilberto, mais magro, passou entre duas estacas. E o Fábio passou por entre os arames farpados. Corremos até ficarmos a uma distância segura, nos perguntando o que seria aquilo. Mas não tivemos tempo para descobrir. Pegamos o ônibus de volta para casa.
Eu voltei outra vez, sozinho, à Gruta da Mangabeira, mas não foi tão emocionante quanto à primeira. Meu irmão Gilberto também esteve lá novamente, sozinho. Infelizmente nossas viagens se tornaram cada vez mais escassas.
Se você também gosta de aventuras lembre-se:
"Da natureza nada se tira a não ser fotos
Nada se mata a não ser o tempo
Nada se leva a não ser a saudade"
Trecho extraído de um livro sobre espeleologia, que estuda as cavernas.
Texto e ilustração: Al Avec.
Fotos: Arquivos de aventuras.
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Um passeio pela Chapada Diamantina
Nessa jornada o Fábio não participou. Dessa vez, o Ricardo (amigo e vizinho nosso), que tem uma casa em Brumado, região próxima à Ibicoara, viajou conosco. Aliás, foi ele quem nos convidou para irmos. Pegamos uma barraca de praia emprestada, pois nosso objetivo era passar um dia acampados no meio do mato da maneira mais primitiva possível. Esta foto acima serve para ilustrar o lugar. A árvore é verdadeira, mas o detalhe do céu foi alterado para dar um visual mais bonito ao lugar. Naquele dia o tempo estava meio nublado.
Até chegarmos em Ibicoara nenhum transtorno durante a viagem. O nome Ibicoara significa Barro Branco para uns e Cova Terra para outros na língua indígena. Está localizada no extremo sul da Chapada Diamantina, próximo à Serra do Sincorá. A região possui diversas cachoeiras e montanhas de encher os olhos. Chegando em Ibicoara fomos para a casa de uns conhecidos do Ricardo. Uma boa casa, confortável e bem ampla. Após almoçarmos o amigo do Ricardo foi nos levar de caminhonete ao local onde iríamos acampar. Passamos por uma estrada de terra com mangueiras carregadas de frutos. A estrada terminou em uma imensa clareira chamada de Campo Redondo. O nome é bastante apropriado para o local, pois é semelhante a um imenso campo de futebol. Daquele ponto em diante existia apenas uma pequena trilha que não dava para passar com o carro, apenas andando. Ali perto tinha um morador local, um senhor de idade entre 60 e 70 anos aproximadamente. É difícil estipular a idade das pessoas quando a pele é bastante maltratada pelo sol implacável da Chapada. Ficamos por ali apreciando a beleza do lugar. Ele nos mostrou a roça onde colhia o seu sustento e também os produtos que levava para vender na cidade, o ananás, fruta típica do local, de aparência e sabor idêntico ao abacaxi. Na verdade é um abacaxi de menores proporções.
Escalando a montanha
Esta outra foto foi tirada durante nossa subida pela montanha. Estávamos mais ou menos na metade da subida. Da esquerda para a direita, mais embaixo, está o senhor de boné (morador do local, me esqueci o nome dele), que nos mostrou a beleza da Chapada e nos contou algumas coisas interessantes. Segundo ele, no alto desta montanha, onde bati a foto, tem uma pedra que brilha durante à noite. É uma enorme pedra de cor esbranquiçada. Talvez seja esta a causa do brilho. Os raios da Lua são refletidos pela pedra dando a impressão que está brilhando. Bom, se era verdade ou não, nós nunca ficamos sabendo, mas fiquei bastante interessado em saber. Pena que o tempo não foi suficiente. Talvez seja apenas mais uma lenda dos mistérios da Chapada. No meio está o Gilberto, de camisa azul e em seguida o Ricardo, de camisa branca.
Vista do alto da montanha
Esta é a mesma foto do local acima, só que de um ponto bem mais elevado da montanha. Lá embaixo, no meio da clareira, dá para ver a caminhonete bem pequenininha. Daquele ponto em diante não dava para seguir de carro.
Esta região é cercada por montanhas, com uma grande planície no centro. Esta clareira parece com a boca de um vulcão extinto. Ainda dá para ver uma pequena lagoa logo abaixo da clareira.
O topo da montanha é cheio de fendas, algumas bem grandes e perigosas. Se alguém caísse dentro de uma delas dificilmente seria encontrado. Encontramos uma entrada parecida com a de uma caverna de pequenas proporções. Gilberto, mais entusiasmado, chamou para irmos lá dentro. "Parece a toca de uma onça", disse. Estávamos sem qualquer equipamento de segurança. O menor descuido poderia ser fatal. Logo na entrada tinha uma fenda no teto de pedra por onde passavam os raios do sol, proporcionando uma visão espetacular. Um enorme buraco no chão despertou nossa curiosidade. Pegamos algumas pedras e jogamos no buraco para ver quanto tempo demorava para chegar no fundo. Pelo tempo que as pedras demoravam para bater no fundo o buraco deveria ter 15 ou 20 metros de profundidade.
Do lado direito da entrada havia um túnel estreito por onde entramos. Não fomos muito além porque era perigoso e não sabíamos o que encontraríamos pela frente. O Gilberto iluminava o local apenas com sua lanterninha de pilha, o que não ajudava muito. Resolvemos sair e voltar. Descemos a montanha, pegamos a barraca e as mochilas que deixamos na caminhonete. Combinamos que no dia seguinte o amigo do Ricardo fosse nos esperar naquele mesmo local. Ele fez a manobra e voltou para Ibicoara. Nós continuamos pela trilha até encontrar um lugar apropriado para armarmos a barraca. Mais à frente achamos um lugar ideal, uma pequena clareira perto de uma cascata e embaixo de um pé de manga. Armamos a barraca ali perto daquela árvore da cachoeira, na primeira foto mostrada acima. Pegamos lenha para fazer uma fogueira, depois fomos para o riacho tomar banho. Meu irmão Gilberto subiu até o alto da cachoeira. Fiquei com medo que ele escorregasse numa pedra e caísse lá de cima. Ainda bem que nada aconteceu. Mais tarde preparamos um pouco de leite em pó misturado com a água do rio, fervemos e tomamos. Foi a nossa refeição antes de ir dormir.
Durante à noite, quando já estávamos deitados, um forte temporal nos pegou de surpresa. A água da chuva começou a fazer poças na lona da barraca. Por muito pouco não desaba em cima das nossas cabeças. Levantamos rápido e suspendemos a lona para que a água escorresse. Passamos o restante da noite praticamente acordados. Logo pela manhã fomos ver um morador das redondezas. Na casa dele ofereceu-nos um delicioso café da manhã com mandioca cozida e leite em pó que levamos. Não lembro bem dos detalhes. Ficamos um tempo por lá e voltamos para o acampamento.
A chuva da noite anterior foi o único sufoco nesta viagem, o resto foi tudo bem. Arrumamos nossas coisas e voltamos para o local onde o amigo do Ricardo nos encontraria para levar de volta à cidade. Cansados de tanto caminhar não quisemos saber de outra coisa a não ser chegar em casa. Chegamos sãos e salvos em mais esta maravilhosa aventura pelas trilhas da Chapada Diamantina.
"Eu sou de todos os lugares por onde já andei,
o espaço será minha última fronteira".
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Texto e ilustração: Al Avec.
Fotos: Arquivos de aventuras.
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