09/05/2010 - os missionários das estrelas
Dentro da caverna, o pequeno ser encolhia-se de medo. Lá de dentro dava para ouvir o barulho de naves rasgando os céus tibetanos. Já fazia algum tempo que ele estava ali. Não fazia ideia do que se passava lá fora. Uma dezena de caças da força aérea perseguia uma nave exótica, um objeto não identificado pela tecnologia terrestre, de cor prateada. Voava velozmente, fazendo manobras inacreditáveis entre as montanhas geladas tibetanas para fugir dos seus perseguidores. Alguns caças receberam ordens para disparar, enquanto iam perdendo contato com o objeto. Devido à sua cor, às vezes era confundido com o gelo. O objeto foi avistado tempos antes em outra região do Planeta. A partir de então começou a ser monitorado via satélite. O que parecia ser uma missão de paz daqueles pilotos extraterrestres transformou-se em luta para fugir dos seres terráqueos.
Do interior da caverna o pequeno ser ouvia os sons das explosões ao longe. O objeto prateado conseguia sair do alcance dos tiros com facilidade. Momentos antes a nave o deixara ali, propositalmente. Tudo começou quando a nave entrou na atmosfera terrestre. Foi monitorada ainda no espaço sideral. Sua aproximação foi captada pela estação espacial internacional, pelos astronautas russos. A nave dirigia-se em direção à terra sobre território russo, na Sibéria. A terra passava por momentos de tensão entre as potências da China, EUA, Rússia e Iran. Os testes com artefatos nucleares cresciam sem controle em todo o mundo, a maioria das nações já dominavam a tecnologia do enriquecimento de Urânio. A falta de água e as riquezas descobertas nas florestas e no litoral do Brasil faziam a tensão crescer ainda mais, obrigando o país a adquirir armamentos de ponta para se defender.
O mundo estava prestes a viver o seu maior colapso. O clima estava inteiramente alterado. Terremotos, tsunamis, furacões em escalas cada vez mais freqüentes, espalhavam-se ao redor da terra.
Entre nós haviam seres de outras partes do Universo que não conhecíamos. Foi através deles que partiu o alarme. Primeiro veio aquela pequena nave com alguns seres superiores em seus respectivos mundos. Um número maior de espaçonaves poderia causar um alvoroço muito grande, além de despertar os sistemas de monitoramento espalhados pela terra. Os planos daqueles seres, no entanto, falharam. Eles não contavam com o nível tecnológico que a terra havia chegado. Nem mesmo os próprios seres, vivendo entre os humanos, conseguiram avisá-los.
Havia as chamadas áreas secretas espalhadas pelo mundo. Naqueles lugares eram desenvolvidas armas altamente secretas e com grande poder destrutivo.
Os russos temiam o objeto achando que fosse uma arma secreta vinda de um país inimigo. Imediatamente caças Mig partiram em direção ao suposto ovni para interceptá-lo.
Os seres da nave, percebendo a atitude hostil, fizeram uma manobra incrível e partiram em altíssima velocidade. Os caças Mig já dispunham de um sistema de velocidade Mach 10 vezes superior à velocidade do som. Mesmo assim não era velocidade suficiente para acompanhar o ovni. Possuíam ainda um sistema de invisibilidade, o que lhes permitia não serem detectados pelos satélites.
Após conseguir uma boa margem de distância em relação aos caças, a nave parou em uma montanha do Tibet. Para disfarçar o perigo, os seres maiores simularam um passeio pelas montanhas, deixando que aquele pequeno ser inofensivo, entusiasmado pelas novidades do lugar, se afastasse. Os seres maiores sabiam que ele ficaria bem e que saberia se proteger. A qualquer instante eles poderiam encontrá-lo de novo, pois dispunham de um aparelho o qual poderia ser rastreado de qualquer lugar do Planeta. O único problema é que eles não contavam com um defeito naquele aparelho, que foi desenvolvido através de uma tecnologia diferente.
O pequeno ser, então, ficou ali, enquanto os outros partiam para despistar os caças russos que se aproximavam. O objeto não possuía armas de ataque, apenas um sistema de propulsão que permitia alcançar altíssima velocidade. Era uma nave missionária, não uma nave de guerra. Naquele Planeta de onde vieram não existiam guerras, nem havia motivos para se ter ódio, ganância, leis ou poder. Todos viviam em harmonia. Caso eles fossem ameaçados por outra raça, poderiam desenvolver uma arma eficaz em pouquíssimo tempo.
09/05/2010 - o resgate de Rarhum
Numa região quase deserta o gelo se fazia notar por sua cor dominante e plácida. Mas ele não reinava sozinho, existiam por ali algumas cabanas. E eu precisava encontrá-lo, vê-lo, estar ali. Seguia devagar meu guia, que era bastante desenvolto e ágil, já adaptado àquelas circunstâncias normais para ele. Apesar do peso da mochila que levava e das roupas adequadas, isto é; grossas e pesadas, eu me sentia leve como alguém que retorna ao lar. Aquele lugar não era feito só de gelo, mas também de muita paz. Tentei caminhar mais rápido, pois não podia anoitecer fora de casa. Embora fosse verão e existisse sol, esse não tinha a mesma ‘força’ naquela região do planeta, mesmo assim seu brilho, sua luz em cima do solo branco causava uma paisagem inesquecível! Mais adiante o guia apontou uma cabana próxima, enfim, estávamos chegando, eu ia rever meu Mestre.
Batemos à porta. Demorou pouco, esta se abriu e lá estava o monge Humarran. Recebeu-me com um sorriso e um cumprimento. Não mudara nada desde a última vez que nos vimos, aproximadamente cinco anos quando passei seis meses com ele estudando e meditando em outra região. Despedi-me do guia que me trouxera e entrei na cabana simples, mas aconchegante. Era bem construída, tinha espaço, alguns móveis e uma boa lareira. Logo ele ofereceu-me uma sopa fumegante que aceitei depressa e tomei como um bálsamo curando fome e frio. Nem vimos o anoitecer chegar envolvidos naquela conversa sobre seu incrível hóspede.
O monge me contava que tinha ido à Vila comprar mantimentos e na volta resolveu passar por outro caminho, um pouco mais distante do rotineiro, uma coisa boa na sua vida de meditações. Foi então que ouviu um ruído estranho. Parecia um gemido. Percebeu que estava perto da caverna que conhecia tão bem. Saiu um pouco do caminho e foi até lá. Não precisou adentrar muito. Estava ali num canto alguém que seus olhos jamais viram antes. Tinha mais ou menos um metro, tronco, membros e cabeça, mas não parecia fazer parte dessa humanidade. Seu corpo era róseo, uma cor firme e bonita. Sua cabeça era prateada como um pequeno capacete e seus olhos, um tanto afastados, eram acinzentados e “curiosos”, atentos. Tinha nariz e boca pequenos. O Senhor Humarran estava bastante surpreso com aquela “descoberta”.
Por segundos ficaram se olhando, até que o monge tentou conversar com ele, que respondeu com pequenos sons incompreensíveis. Entendi pelo que me contava, que usou toda sua sabedoria tibetana, sua energia boa e amistosa para convencê-lo a acompanhá-lo e foi o que aconteceu. O serzinho o acompanhou lado a lado até sua cabana. Ele me relatou tudo isso e depois me agradeceu por eu ter “ouvido” seu chamado. O que aconteceu através de um sonho onde eu via meu Mestre, um tanto apreensivo me chamando com urgência e eu sentia onde podia encontrá-lo. Esse tipo de contato era quase comum para mim, principalmente se tratando do Monge Humarran. A esta altura eu estava bastante motivada a conhecer e entender como esse ser veio parar ali. Então ele me convidou a segui-lo, abriu uma porta, entrou primeiro, eu hesitei um pouco, afinal ia me deparar com algo que só o mundo do cinema costuma mostrar.
Enfim, entrei... pensei que estivesse preparada mas a perplexidade tomou conta de mim, não conseguia falar, apenas olhava aquele que também estava imóvel me estudando com aqueles olhinhos vibrantes... seria aquilo um brinquedo fantástico? Mas a energia dele era perene, isso mostrava que era um ser vivo. E da sua fragilidade saltava uma força rara! Meu Deus, ele era uma realidade. Arrisquei um cumprimento, o que ele respondeu com um gesto peculiar. De sua cabeça prateada saiu algo como pequenas espirais brilhantes e de baixa sonorização, que logo voltou a se encaixar e desaparecer. Bem, eu tinha que acreditar, estava bem na minha frente...
Mestre Humarran já havia tentado por vários dias uma comunicação maior com ele sem muito sucesso, mas eis que de repente uma surpresa, ele fez um gesto de cabeça, voltou a mostrar as pontinhas luminosas, dessa vez na região das orelhas. Sentou na cama e devagar começou a falar! Mas que língua era aquela?... O monge surpreso me olhou e disse: ele fala aramaico! Eu tinha apenas noções daquele idioma, mas o mestre dominava perfeitamente. Então ele contou, com sua voz um pouco rouca como tudo tinha acontecido. Falou que seus pais eram seres com atribuições importante dentro do seu Planeta. E que saíram numa grande missão ao redor da Terra. Quando pousaram no Himalaia vários tripulantes desceram, inclusive seu pai. E ele que já ouvira falar daquela região fantástica driblou a mãe e desceu também.
Quando todos voltaram para a nave ele resolveu ficar mais um pouco, pois segundo contou sentia uma sensação maravilhosa de liberdade. Sabia que podia chamar os seus pais de volta a qualquer momento, devido a sua enorme capacidade de comunicação. Só que aconteceu algo inusitado: quando ele resolveu voltar para a nave, seu “equipamento” não funcionou, justamente o que precisava, pois os outros estavam normais. Ele ficou desconcertado e muito assustado. Caminhou bastante até chegar àquela caverna gelada, explicou que embora fosse imune a temperaturas altas ou baixas, quando ficou sozinho sentiu um grande desconforto. Assim caminhou e também deslizou por cima da neve até encontrar aquela caverna onde se sentiu melhor. Depois percebeu que estava realmente em apuros.
Não poderia ser encontrado por qualquer humano, pois sabia que eles poderiam prendê-lo, escondê-lo e até matá-lo. Estava bem assustado quando o monge entrou na caverna. Aquela voz e aquele olhar transmitiram-lhe a tranquilidade e a segurança que precisava, por isso deixou-se levar dali, explicava. Foi então que resolvi perguntar-lhe seu nome. Ele respondeu que eu não entenderia na sua língua original. O mestre, atento à nossa conversa, sugeriu o nome Rharum e ele aceitou. Alguns dias se passaram, nosso "menino conseguira desacoplar seu aparelhinho do seu corpo e passava horas pacientemente tentando entender e consertar, garantindo assim o seu resgate. Seus pais deveriam estar bastante preocupados com o sumiço dele.
Rarhum viera de um planeta muito distante da nossa Galáxia. Um lugar de seres evoluídos, onde não existiam as guerras nem doenças, nem desordens morais. Com o passar dos dias Rarhum foi ficando mais confiante e cedendo às nossas perguntas, contou-nos que seus pais e os outros dirigentes da nave vieram aqui numa tentativa de ajudar nosso planeta a sair do grande caos que se encontra desde o meio ambiente até o "grande ambiente" onde terra, céus e mar reagem violentamente, destruindo tudo e todos, num processo de fúria. Disse que seu povo encontra-se chocado com o abismo no qual os humanos deixaram a terra se envolver, por culpa de centenas de anos de inconsequencia ambiental, moral e espiritual. Da ambição desmedida, da irresponsabilidade econômica e política.
Ele sabia tudo sobre nós! Não sabia se seria possível uma ajuda concreta diante da fragilidade energética que o planeta se encontrava. Devido ao tempo fora de casa, sentindo saudade dos pais, Rarhum começou a ter um sintoma: ficava verde fluorescente por alguns minutos. Perguntamos se queria sair um pouco para espairecer, disse que sim. Apesar do medo que tínhamos dele ser descoberto, nós o vestimos com bastante roupas, de um sobrinho do Senhor Humarram, deixando de fora somente seus olhos. Levamo-lo para um passeio na Vila. Ele parecia apenas uma criança bem vestida, o que era normal por ali e não chamou atenção, apenas olhava tudo com curiosidade e esperteza. Mais tarde voltamos para casa e ele melhorou, voltando à sua cor natural. Por enquanto eu não tinha planos de ir embora, pois apesar do meu mestre ser capaz de lidar com Rarhum sozinho, ele havia me chamado para fazer-lhe compainha naquela situação especial.
Após um mês que eu estava lá, numa madrugada, Rarhum me acordou alegre e animado, seu aparelhinho voltou a funcionar à meia noite e, seus pais já haviam localizado-o e já estavam a caminho. Chamamos o monge Humarran que levantou apressado colocando mais vestimentas. Fomos todos para a sala. Cerca de dez minutos depois o silêncio da noite foi quebrado por um som calmo, mais baixo que de um ar condicionado. Saímos todos correndo porta afora. O mestre mantinha sua calma habitual, mas eu estava tensa. Eles estavam em frente à cabana. Era mesmo uma nave, existiam! Do tamanho de um helicóptero, de forma oval, prateada, com um brilho incrível.
Ao redor haviam luzes, parecidas com os anéis de Saturmo. Aquilo era fantástico e melhor, verdadeiro! Eles não pousaram em terra, ficaram a uns três metros de altura e jogaram duas escadas de um material transparente. Desceram alguns membros com roupas cor de bronze, todos iguais. Rarhum nos olhou e disse: “são meus pais e seus amigos, vou voltar para junto dos meus, mas vocês ficarão para sempre comigo. Obrigado por terem me acolhido tão bem". O monge Humarram o abraçou e ele correspondeu dizendo: "se o senhor precisar de mim, pode me chamar, eu virei vê-lo!" Depois se virou para mim e disse, "adeus, amiga corajosa". Eu o abracei também, não conseguia falar, minha voz ia sair embargada, mas ele sentia minha emoção.
Seu corpinho estava verde, só que dessa feita, de emoção também. Foi ao encontro de seus pais. Eram seres altos e esguios. Eles o aguardavam pacientemente. Tomaram-no pela mão. Um deles veio até nós colocou seu braço na direção das nossas cabeças e corações, fazendo vários sinais luminosos com pequenos sons. Entendemos aquilo como um ato de agradecimento. Não conseguimos ver seu rosto, pois além do uniforme usava também um capacete diferente. Em seguida deu meia volta e se foi. Subiram as escadas até a nave, recolheram tudo, fecharam as portas em silêncio, partindo em alta velocidade. O mestre e eu nos olhamos mudos de emoção, entramos e sentamos junto da lareira, atordoados com a dimensão da realidade, mas logo adormecemos um sono profundo. Pela manhã ao acordarmos, tínhamos a mesma sensação, de uma lembrança longínqua, de um sonho quase esquecido.
O senhor Humarran me disse: “reaja! Eles querem que esqueçamos tudo, mas não vão conseguir. Tudo que vivemos foi maravilhoso e não vão apagar nosso maior e mais belo contato com o cosmos! Demos as mãos e sorrimos felizes, agradecidos a Deus por termos sido nós os escolhidos.
Itarantim, 21 de março de 2010 (Ana Regina)
Tibet: parte 1 (Al Avec)
Tibet: parte 2 (Ana Regina)
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01/11/2009 - o crime realmente não compensa
Na calada da noite, tudo aparentava calmaria naquela pacata cidadezinha do interior baiano. Pelas ruas desertas, apenas cães e ratos davam sinal de vida, revirando o lixo em busca de restos de alimentos. Em algum ponto da cidade, uma luz acesa indicava a presença de uma alma viva.
O silêncio da noite foi cortado de repente pelo barulho de um veículo automotor. Devagar, uma velha caminhonete foi aproximando-se da calçada. Com certa dificuldade a caminhonete subiu na calçada e parou próximo a uma antiga farmácia com a carroceria voltada para a entrada da porta de aço.
Dois homens que estavam dentro da cabine e mais dois que estavam na carroceria, todos vestidos de preto, pularam para fora da caminhonete. Um deles pegou uma mala, da qual retirou algumas ferramentas.
Surgindo por trás de uma nuvem negra, a lua cheia revelou o propósito daqueles quatro vultos vestidos de preto. Estavam se preparando para mais um assalto. O alvo era a antiga farmácia da cidade. Por algum fato inexplicável, o dono do estabelecimento desapareceu sem deixar vestígios após mais de meio século vendendo seus medicamentos à população local.
Corre um boato pela cidade que, na noite antes do farmacêutico desaparecer, os moradores vizinhos da farmácia ouviram gritos alucinantes vindos lá de dentro. Chegando ao local, a esposa do farmacêutico não encontrou ninguém. O homem havia sumido como se tivesse vaporizado no ar.
Vários anos se passaram. Sem condições de manter a farmácia e sem esperanças de ver o marido de volta, a esposa do desaparecido resolveu desfazer-se do negócio. Todos os produtos foram doados para a população. Foi um gesto de muita bondade daquela senhora.
Na antiga farmácia restou apenas uma grande balança. Devia pesar cerca de duzentos quilos. Não se sabe ao certo de onde ela veio. Sabe-se apenas que foi adquirida em uma loja de antiguidades. Era um artefato bem trabalhado, toda banhada em prata. Era esse o alvo dos assaltantes. Derretida, toda aquela prata deveria render um bom dinheiro. Os joalheiros da época poderiam pagar um bom preço pelo material.
Com bastante habilidade os assaltantes destravaram a porta de aço e adentraram o local. Sem perder tempo, ligaram as lanternas para clarear o ambiente. A balança estava logo ali, no meio da farmácia. Com muita dificuldade, os quatro gatunos carregaram o pesado objeto para fora.
Depois de mais um sacrifício enorme para posicionar a balança sobre a carroceria da caminhonete, os homens partiram em fuga. Somente a lua foi testemunha daquela ação.
No dia seguinte, um sujeito esquisito, de paletó e gravata, lia o jornal local, sentado em um banquinho da praça. A notícia principal era sobre um acidente envolvendo uma caminhonete. Os quatro ocupantes não sobreviveram quando o veículo despencou ladeira abaixo.
Em outra parte do jornal havia um anúncio sobre a venda de uma velha balança. O sujeito esquisito ficou interessado e foi conferir. Ao chegar próximo à farmácia, viu o objeto do seu interesse ser levado em cima de um caminhão. O comprador foi um rico fazendeiro das redondezas. Aquele estranho, então, resolveu seguir outro caminho.
Al Avec
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