Aqui se trata da notícia tranquilizadora de que, à exceção de uma louca espera, nada mais é preciso para avançar em direção a Deus. O que ele quer é confiança, proximidade, amor, relacionamento…
Como alguém pode aprender tango? Exercitando os passos do tango com um dançarino experiente. Como alguém pode aprender a dirigir? Confiando-se a um bom instrutor e praticando secretamente no estacionamento. Como alguém pode aprender a orar? Alguns referem-se a um método autodidata. Existe até o famoso provérbio: “A necessidade ensina a orar”. Alguém que, durante a Segunda Guerra Mundial, passou noites em abrigos antiaéreos, certa vez, assegurou-me: “Creia-me, não havia ninguém ali que não orava!”. Contudo, a lição não durou muito, evidentemente. Após a guerra, veio o milagre econômico – e muitos dos que haviam escapado com vida parecem ter rapidamente esquecido que, de joelhos, haviam implorado ao Deus onipotente por salvação em extrema necessidade. Pode até ter sido apenas um “acaso”, dizia alguém a si mesmo, que as bombas atingiram apenas a casa vizinha.
Quando alguém aprende de modo autodidata, às vezes, acostuma-se ao erro. Poder-se-ia, por exemplo, confundir Deus com um botão de emergência: em caso de emergência, quebre o vidro! As pessoas gostariam de relacionar-se com Deus tanto quanto com a entrada de emergência no hospital. É ótimo que existe algo assim, mas o melhor é não precisar. Melhor passar pela vida sem Deus. Será? Olhando mais de perto, percebe-se como é distorcida essa visão. Madre Teresa lembrava repetidamente às suas irmãs que Deus nada mais espera de nós senão o amor: “Não é que ele apenas ama vocês, mas ainda mais, ele anseia ardentemente por vocês. Ele sente saudades de vocês quando dele não se aproximam. Ele ama-as continuamente, mesmo quando vocês não se sentem dignas desse amor. Quando vocês não são aceitas pelos outros, ou quando vocês não conseguem aceitar a si mesmas – ele é, pois, aquele que sempre as acolhe”.
O que Deus quer – e para isso é que ele fez a oração – é um relacionamento. Um relacionamento de amizade. Que a pessoa se apresente. Que haja disponibilidade mútua. Que haja mútua comunicação íntima. Que possa haver confiança recíproca (tanto quanto se possa confiar no ser humano). Estar em oração nada mais é do que estar em relação. Em uma relação estável com Deus. Na vida cristã, dá-se o mesmo que no Facebook, onde você coloca seu perfil e pode também revelar seu status de relacionamento. Muitos escrevem aqui e ali: “É complicado”. Sim, realmente é complicado, até mesmo impossível se alguém deseja ser cristão, mas apenas cumpre alguns rituais. Como pode um relacionamento permanecer vivo quando não se tem tempo algum para cuidar do relacionamento e, vale dizer, para a oração?
É preciso lembrar-se de Deus com mais frequência do que se respira.
Gregório Nazianzeno (ca. 329–390)
No YOUCAT, a resposta à pergunta 499 é: “Quem não ora regularmente deixará de orar em pouco tempo”. Na Sagrada Escritura, Paulo chega a dizer: “Orai continuamente!” (1Ts 5,17). Subsequentemente, é claro que não se está dizendo que devamos passar o dia inteiro, desde manhã até à noite, em um por-favor-por-favor-querido-Deus. De fato, devemos clamar a Deus em nossa necessidade, mas existe um tipo de oração que é ainda mais fundamental: “Dai graças em toda e qualquer situação porque esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, a vosso respeito” (1Ts 5,18).
Portanto, mais importante do que importunar a Deus com orações de petição (em perigo de vida, nas tarefas de classe e quando se foi, de novo, completamente substituído profissionalmente) é chegar, evidentemente, a uma permanente atitude fundamental de gratidão. E não deixar passar nenhum momento sem a grande gratidão. Também isso se pode aprender de modo autodidata, na medida em que, de olhos abertos, percorre-se o mundo e acostuma-se a direcionar sua admiração pela maravilhosa natureza ao Autor dela. Diz o Salmo 8: “Javé, nosso Senhor, como é glorioso o teu nome por toda a terra! Quando vejo teus céus, obras de teus dedos, a lua e as estrelas que firmaste, o que é o homem para dele te lembrares, um filho de homem para visitá-lo? Tu o fizeste pouco menos do que um deus, e de glória e esplendor o coroaste. Tu o fizeste reinar sobre as obras de tuas mãos, e tudo colocaste debaixo de seus pés: milhares de rebanhos, todos eles, e também as feras do campo, os pássaros dos céus e os peixes que percorrem os caminhos dos mares. Javé, nosso Deus, como é glorioso o teu nome por toda a terra!”.
Deus, que nos conhece a fundo, sabe de que precisamos. No entanto, Deus quer que "peçamos": que nas necessidades da nossa vida nos viremos para Ele, gritemos por Ele, supliquemos, nos lamentemos, O chamemos e até discutamos com Ele na oração. [2629-2633]
É evidente que Deus, para nos ajudar, não precisa das nossas súplicas. A atitude de pedir deve ser tomada sobretudo por nossa causa, pois quem não pede e não quer pedir fecha-se em si mesmo. Só a pessoa que pede se abre e recorre ao Autor de todo o bem. Quem pede regressa à casa de Deus. Portanto, a oração de súplica leva o ser humano à correta relação com Deus, que respeita a nossa liberdade.
Cada acontecimento, cada encontro pode tornar-se um impulso para a oração, pois quanto mais profundamente vivemos em união com Deus, tanto mais profundamente entendemos o mundo ã nossa volta. [2659-2660]
Quem, logo de manhã, procura a união com Jesus pode tornar-se uma bênção para as pessoas que vai encontrar, mesmo os seus adversários e inimigos. Ao longo do dia, ele lança ao Senhor toda a sua preocupação. Tendo mais paz dentro de si, irradia-a. Ele faz os seus juízos e toma as suas decisões perguntando a si mesmo o que faria Jesus naquele momento. Supera a angústia através da proximidade a Deus e não vacila em situações desesperantes. Ele leva em si a paz do Céu e transmite-a ao mundo. É grato e alegre por aquilo que é belo, mas suporta também as dificuldades que enfrenta. Essa atenção a Deus é possível também no âmbito da escola, da universidade e do trabalho.
Orar é sempre possível. É indispensável para viver. Orar e viver são inseparáveis. [2742-2745, 2757]
Não se trata de contentar Deus com algumas palavras de manhã e à noite. A nossa vida tem de se tornar oração, e a nossa oração tem de se tornar vida. Cada história de vida cristã é também uma história de oração, uma tentativa una e longa de união cada vez mais pro funda com Deus. Porque no coração de muitos cristãos vive o desejo de estar continuamente com Deus, eles recorrem à chamada "oração de Jesus", utilizada desde há muito tempo sobretudo nas Igrejas do Oriente: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem misericórdia de nós, pecadores!" Quem ora procura de tal forma integrar essa simples fórmula de oração, que ela se torna uma constante oração.
Desde os tempos mais remotos, os cristãos oram de manhã, às refeições e à noite. Quem não ora regularmente deixará de orar em pouco tempo. [2697-2698, 2720]
Quem ama uma pessoa e não lhe dá, durante todo o dia, um único sinal do seu amor não a ama a sério. O mesmo acontece com Deus. Quem realmente O busca dá-Lhe sinais constantes do seu desejo de proximidade e amizade. De manhã, levanta-se e oferece o seu dia a Deus, pede a Sua Bênção e solicita a Sua presença para todos os encontros e necessidades do dia. Dá-Lhe graças, sobretudo por ocasião das refeições. E, no fim do dia, coloca-Lhe tudo nas mãos, pede-Lhe perdão e paz para si e para os outros. Um dia belo, cheio de sinais de vida que chegaram a Deus!
Tudo o que somos e temos provém de Deus. São Paulo diz: "Que tens tu que não tenhas recebido?" (1Cor 4,7) Ser grato a Deus, o dador de tudo o que é bom, dá felicidade. [2637-2638, 2648]
A maior oração de ação de graças é a Eucaristia de Jesus (gr. eucharistia = ação de graças), em que Ele toma o pão e o vinho para aí apresentar a Deus toda a Criação transformada. Todo o agradecimento do cristão está em harmonia com a grande ação de graças de Jesus. De fato, também nós somos transformados e redimidos por Jesus; assim, podemos ser gratos do mais profundo do coração, dizendo-o a Deus das mais variadas formas.
Os salmos pertencem, com o Pai Nosso, ao grande tesouro de orações da Igreja. Neles é eternamente cantado o louvor de Deus.
No Antigo Testamento encontram-se 150 salmos. São uma coleção de cânticos e orações, compostos há milhares de anos, que ainda hoje são rezados na Igreja, na chamada Liturgia das Horas. Os salmos pertencem aos mais belos textos da literatura mundial e tocam as pessoas ainda hoje com a sua força espiritual.