Aqui se trata de se nossos clamores, nossas palavras, nossas canções chegam lá em cima. Se ele nos escuta. Ou se nós apenas tagarelamos ao céu, e nossas lágrimas e nossa exultação permanecem sem resposta – em um universo surdo.
A oração faz parte da vida cristã. A gente sempre escuta isso. Ainda me lembro de quando tinha mais ou menos vinte anos. De algum modo, tentava ser cristão, mas não posso dizer que eu realmente rezava. Certo dia, encontrava-me novamente em um banco de igreja. Ajoelhei-me ali; assumi, então, certa postura. Mas eu estava como que de pé, ao meu lado, observando a mim mesmo. Não perdi a calma. Eu simplesmente não conseguia mover-me. Felizmente, mais tarde, pude fazer a maravilhosa experiência de que é possível tocar outra realidade – ou melhor, ser tocado por ela. Este horizonte maior da realidade, eu chamo de presença de Deus.
Fiz uma experiência de oração particularmente profunda em Taizé. Quem ainda não ouviu falar da pequena cidade de Taizé, na Borgonha (França), fique sabendo que ali existe uma comunidade de pessoas hospitaleiras que, ano após ano, nos meses do verão, acolhem milhares de jovens. Eles vêm de toda a Europa, com frequência até mesmo da África, América e Ásia. Eles vêm porque em Taizé, de certa forma, a realidade de Deus pode ser tocada com as mãos. E esta é já a primeira experiência que se faz em Taizé: que ali se encontram pessoas que são movidas pelo mesmo desejo de Deus que eu.
Tudo bem – portanto, não estou sozinho no mundo com meu mais íntimo anseio do coração. O grande Agostinho (354-430) tinha, então, razão quando disse: “És grande, Senhor, e deve ser exaltado acima de todo louvor. E o homem, esta partícula de tua criação, quer louvar-te. Tu mesmo o incitas a isso, pois nos fizeste para ti, e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em ti”.
Em minha opinião, a oração nada mais é do que um diálogo com um amigo com quem gostamos de encontrar-nos frequentemente e a sós, a fim de falar-lhe, porque ele nos ama.
Santa Teresa d’Ávila (1515–1582)
Em Taizé, nada é perfeito. Dorme-se em tendas ou em modestas barracas. Três vezes durante o dia, os sinos chamam. Surgem pessoas de todos os lados. A própria igreja é uma grande “tenda” que pode ser ampliada ou diminuída segundo a necessidade. Antes de entrar nessa igreja, a gente é confrontado com auxiliares jovens que trazem cartazes diante de si; em diversas línguas, lê-se apenas uma única palavra: Stille, Stilte, Silence, Silenzio, Silêncio. Esta é, pois, a regra fundamental da oração: sem o silêncio, não dá. Devemos desligar toda fonte de barulho, devemos também tornar-nos interiormente silenciosos e dar tempo ao tempo, a fim de que algo possa acontecer no silêncio. Então você entra nessa igreja singular em Taizé, na qual não há bancos, apenas carpetes, e você é tomado por uma atmosfera de luz e de silêncio. Senta-se no chão e vê como também os monges vêm e, em silêncio e à espera de Deus, instalam-se no meio do recinto. Em algum momento, alguém entoa um canto singelo: Veni, Sancte Spiritus… – Vem, Espírito Santo. Aparentemente, repete-se o canto infinitamente. Esse apelo orante cala sempre mais profundamente na alma. Então, volta o silêncio. Em seguida, uma palavra de Deus que, como uma gota preciosa, cai na espelhada superfície da água de minha alma e ali produz círculos. Novamente, silêncio. Presença de Deus palpável. Saí da igreja. E poderia ter exultado: eu tinha realmente rezado!
Orar não quer dizer ouvir a própria voz; orar significa tornar-se silencioso e ser silencioso, e esperar, até que o orante ouça a Deus.
Søren Kierkegaard (1813–1855)
Funciona – e você não precisa fazer muita coisa. Deus está aí. E faz…
Mas Taizé me deu ainda muito mais. Nós nos sentávamos juntos em um grupo em que jamais nos tínhamos visto; devíamos primeiramente unir-nos em uma língua comum. Líamos juntos a Sagrada Escritura, conversávamos uns com os outros a respeito, presenteávamo-nos mutuamente com intuições. E em seguida, rezávamos. Livremente, tanto quanto nosso coração nos inspirava. Lá estava novamente aquele “uau”. Sentíamo-nos como na comunidade primitiva dos primeiros cristãos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32).
Orar significa pensar amorosamente em Jesus. A oração é a atenção da alma concentrada em Jesus. Quanto mais se ama a Jesus, tanto melhor se ora.
Charles de Foucauld (1858–1916)
Hoje já não consigo imaginar minha vida sem a oração. Uma e outra vez, busco inspiração na Sagrada Escritura, ou recolho algumas frases que anotei para mim porque me colocam no rumo. A primeira dentre essas frases provém de Santa Teresinha de Lisieux: “Para mim, a oração significa uma elevação do coração, um simples olhar para o céu, uma palavra de gratidão e de amor em meio a toda provação, em meio a toda alegria”. Isso me coloca no rumo, quando me deixo abater novamente e me sinto deprimido. Coração ao alto! Simplesmente, olhar para o alto!
Nós oramos porque temos um desejo completamente infinito e porque Deus nos criou para Si: "O nosso coração está irrequieto até encontrar o descanso em Ti." (Santo Agostinho) Mas também oramos porque temos necessidade; assim disse a Madre Teresa: "Porque não me posso abandonar a mim mesma, abandono-me a Ele 24 horas por dia." [2566-2567, 2591]
Esquecemos Deus frequentemente, afastamo-nos e escondemo-nos d'Ele. Mesmo que evitemos pensar em Deus, mesmo que O neguemos, Ele está sempre disponível para nós. Ele procura-nos, antes de O procurarmos; Ele anseia por nós, Ele chama-nos. Ao falarmos com a nossa consciência, notamos repentinamente que falamos com Deus. Ao sentirmo-nos sós, sem ninguém com quem falarmos, notamos que Deus está sempre disposto a conversar. Quando nos vemos em perigo, notamos que Deus respondeu ao nosso pedido de ajuda. Orar é tão humano como respirar, comer, amar. Orar purifica. Orar possibilita a resistência contra as tentações. Orar fortalece na fraqueza. Orar tira a angústia, duplica as forças, permite uma respiração mais profunda. Orar torna-nos felizes.
O último e maior desejo do ser humano só pode ser Deus. Vê-l'O, o nosso Criador, Senhor e Redentor, seria uma infinita felicidade. [2548-2550, 2557]
Estamos em oração quando o nosso coração se dirige a Deus. Quando uma pessoa ora, entra numa relação viva com Deus. [2558-2565]
A oração é a porta para a fé. Quem ora deixa de viver de si, para si e a partir da própria força. Ele sabe que há um Deus com quem pode falar. Uma pessoa que ora entrega-se cada vez mais a Deus. Ela procura desde já a união com Aquele com quem, cara a cara, se encontrará um dia. Por isso, pertence à vida cristã o esforço pela oração diária. Porém, não se aprende a orar como se aprende uma técnica. Embora isso soe estranho, orar é um dom que se obtém na oração.
A contemplação é amor, silêncio, escuta, presença diante de Deus. [2709-2719, 2724]
Para a contemplação são necessários tempo, determinação e, sobretudo, um coração puro. É a entrega humilde e pobre de uma criatura que, deixando cair todas as máscaras, crê no amor e procura o seu Deus com o coração. A Contemplação é também frequentemente designada por "oração íntima" ou "oração do coração".
Os primeiros cristãos oravam intensamente. A Igreja primitiva era movida pelo Espírito Santo, que desceu sobre os discípulos, ao qual eles deviam a sua difusão: "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações." (At 2,42)
A Bíblia é como uma fonte para a oração. Orar com a Palavra de Deus significa utilizar as palavras e os acontecimentos bíblicos na própria oração. "Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo." (São Jerônimo) [2652-2653]
A Sagrada Escritura, especialmente os salmos e o Novo Testamento, são um tesouro valioso. Lá se encontram as orações mais belas e fortes do mundo judaico-cristão. Orar com elas liga-nos a milhões de pessoas orantes de todos os tempos e de todas as culturas, mas sobretudo ao próprio Cristo, que está presente em todas essas orações.
Os santos são pessoas inflamadas do Espírito Santo; eles mantêm o fogo de Deus aceso na Igreja. Os santos já eram, durante a sua vida terrena, incandescentes e contagiantes pessoas de oração. É fácil orar perto deles. Nunca adoramos os santos do Céu, mas podemos invocá-los para que eles intercedam por nós junto do trono de Deus. [2683-2684]
À volta dos grandes santos surgiram escolas especiais de religiosidade, que, como as cores do espectro, apontam todas para a Luz pura de Deus. Cada uma salienta um aspecto originário da fé, para reabrir uma porta para o íntimo da fé e da entrega a Deus. Por exemplo, a espiritualidade franciscana realça a pobreza em espírito, a beneditina frisa o louvor de Deus e a inaciana sublinha a decisão e a vocação. Se, com o nosso estilo pessoal, nos sentirmos atraídos por uma forma de espiritualidade, ela torna-se para nós uma escola de oração.